Análise dos Aspectos de Desempenho na Natação em Diferentes Condições de Nado: Crawl com Pernada Tradicional e Crawl com Pernada de Borboleta.
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1 81 Relato de Caso Análise dos Aspectos de Desempenho na Natação em Diferentes Condições de Nado: Crawl com Pernada Tradicional e Crawl com Pernada de Borboleta. Analysis of Performance Issues in Different Conditions of Swimming in Swimming: Crawl with Traditional Legs and Crawl with Legs Butterfly. Caio Graco Simoni da Silva (1), Antonio Carlos Mansoldo (1,2), Ivan Wallan Tertuliano (1,3), Hagamenon Francisco de Farias Júnior (1), Stella de Souza Vieira (1), Carlos Alberto Kelencz (1). Resumo Introdução: Ao observar indivíduos peritos praticando esporte supõe-se que estejam repetindo uma série de movimentos iguais. Objetivo: O objetivo deste estudo foi investigar as diferenças entre os nados, Crawl tradicional e Crawl com pernada do Borboleta em relação a medidas de desempenho: comprimento de braçada (Cbr), Tempo Total de Nado (TTN) e Número de Braçadas (NB) em uma distância de 25 metros em homens habilidosos. Método: Foram participantes 7 nadadores, habilidosos entre 20 e 30 anos. A tarefa foi nadar 25 metros em velocidade máxima em duas condições de nado: Crawl tradicional (CR/CR) e Crawl com pernada de Borboleta (CR/BO). Foram realizadas 6 tentativas sendo: 3 CR/CR e 3 CR/BO. Para análise foram consideradas medidas que demonstram o desempenho do nadador em termos de comprimento de braçada (Cbr), Tempo Total de Nado (TTN) e Número de Braçadas (NB) em velocidade máxima para as duas condições do estudo. Foi conduzido um teste de Friedman para análises. Concernente à localização das diferenças, utilizou-se o teste de Wilcoxon. Para controle do erro tipo 1 foi utilizado o procedimento sequencial Holm de Bonferroni. Resultados: Os resultados, referente ao TTN, mostram que a condição CR/CR foi melhor que a condição CR/BO. Os resultados, referente ao CBr, mostram que a condição CR/BO obteve um maior comprimento de braçada. Os resultados, referente ao NB, mostram que a condição CR/BO teve um número menor de braçadas. Conclusão: Os resultados permitem concluir que a condição CR/CR teve um melhor desempenho do que a condição CR/BO, já que obteve um menor tempo de nado para a tarefa e que o NB e CBr não são determinantes para um melhor desempenho. Palavras Chave: desempenho, comprimento de braçada e número de braçadas. Abstract Introduction: By observing individuals practicing sports experts is supposed to be a series of repeating the same movements. Objective: The objective of this study was to investigate the differences between swin, Crawl Traditional and Crawl with Legs butterfly in relation to performance measures: length of stroke (CBr), total time of swimming (TTN) and number of strokes (NB) in a distance of 25 meters in skilled men. Method: The participants were seven swimmers, skilled between 20 and 30 years. The task was to swim 25 meters at full speed in two swimming conditions: Crawl traditional (CR / CR) and Crawl with Legs Butterfly (CR / BO). Attempts were being made 6: CR 3 / CR 3 and CR / BO. For analysis were considered measures that demonstrate the performance of the swimmer in terms of stroke length (CBr), total time of swimming (TTN) and number of strokes (NB) at full speed for the two study conditions. We conducted a Friedman test for analysis. Concerning the location of the differences, we used the Wilcoxon test. To control type 1 error was used Holm sequential Bonferroni procedure. Results: The results, for the TTN, show that the condition CR / CR condition was better than the CR / BO. The results, for the CBr, show that the condition CR / BO got a greater length of stroke. The results for the NB, show that the condition CR / BO had fewer strokes. Conclusion: The results indicate that the condition CR / CR had a better performance than the condition CR / BO, since it got a little time swimming for the task and the NB and CBr are not crucial for a better performance. Keywords: performance, stroke length and number of strokes Recebido em 1. Centro Universitário Ítalo Brasileiro UNIÍTALO, São Paulo-SP. 2. Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo USP, São Paulo-SP. 3. Faculdade Santa Rita de Cássia (FACEAS), São Paulo-SP. Endereço para Correspondência: Avenida João Dias, 2046, CEP: , São Paulo SP. caio.simoni@globo.com.
2 82 Desempenho do Nado Crawl com diferentes formas de pernada. INTRODUÇÃO Ao observar indivíduos peritos praticando esporte supõe-se que estejam repetindo uma série de movimentos iguais. No entanto, de acordo com Bartlett (1) a característica de que o comportamento motor habilidoso é, ao mesmo tempo, consistente e variável, não pode ser desconsiderada. Referindo-se à rebatida do tênis de mesa Bartlett (1) afirmou que ao executarmos movimentos, na realidade não produzimos algo absolutamente novo e nem repetimos algo velho, pois a bola não cai duas vezes no mesmo lugar, com a mesma rotação, com a mesma velocidade e angulação. Sendo assim, para ter sucesso seria insuficiente repetir exatamente o mesmo movimento. Além disso, existe o problema dos inúmeros graus de liberdade existentes nas articulações, músculos e unidades motoras, o qual também torna a repetição de movimentos improvável no nível microscópico (2). Nesse sentido, o que no comportamento motor habilidoso parece idêntico a partir de uma observação geral, macroscópica, quando observado em detalhes, microscopicamente, apresenta variabilidade. Por exemplo, quando um nadador cruza a piscina, utilizando o nado Crawl, aspectos como a sincronização entre os movimentos dos braços e das pernas se mantém relativamente invariantes ao longo do percurso. Nesse sentido, observa-se um padrão consistente de movimentos. Porém, olhando mais detalhadamente, pode-se verificar que aspectos como a velocidade dos movimentos das pernas e dos braços, a amplitude da braçada e a força exercida na puxada variam. A própria ondulação formada pelas braçadas e as marolas formadas pelo corpo do praticante demandam ajustes mesmo em uma habilidade que se caracteriza pela manutenção da consistência dos movimentos. Portanto, o comportamento motor habilidoso apresenta aspectos invariantes que resultam em um padrão característico da habilidade praticada (consistência), e aspectos variantes, quando fatores microscópicos são focalizados (variabilidade). Portanto, qualquer tentativa de compreender o comportamento motor habilidoso deve considerar consistência e variabilidade como características complementares. No entanto, nos estudos de comportamento motor até 1990, a variabilidade foi tida como sinônimo de erro e, portanto, como algo a ser reduzido ou mesmo eliminado (3). Provavelmente esta visão da variabilidade tem origem na tendência de associar o nível de habilidade à consistência do desempenho, muito difundida pela concepção finita do processo de aquisição de habilidades motoras (4,5). Nesta concepção, variabilidade e consistência são tidas como características opostas e mutuamente excludentes (6,7). Mas, se houvesse apenas consistência, o sistema se tornaria rígido, incapaz de se ajustar às variações da tarefa, do ambiente e do organismo, e de mudar em direção a níveis de maior complexidade. Para Anjos, Ferreira, Geiser, Medeiros e Marques (8), nadar é sustentar-se e deslocar-se sobre a água por impulso próprio. O nadar possui características que se aproximam mais de certas habilidades do que de outras. Para reconhecer essas diferenças e semelhanças cabe buscar classificá-lo. Só assim tem-se a possibilidade de compreender seu locus no universo das habilidades motoras. Magill (9) apresenta um sistema de classificação unidimensional de habilidades motoras em função dos seguintes critérios: a) Musculatura envolvida subdividida em habilidades motoras grossas (por exemplo, caminhar, pular, arremessar) e habilidades motoras finas (por exemplo, desenhar a mão livre, digitar, pintar); b) Distinguibilidade de movimentos que se subdivide em habilidade motora discreta, com pontos iniciais e finais bem definidos (por exemplo, ligar e desligar interruptores de luz); habilidades motoras seriais, com movimentos em série ou sequência (por exemplo, dar partida em um carro, tocar piano seguindo uma partitura); e, habilidades motoras contínuas, que se caracterizam por compreender movimentos cíclicos (por exemplo: andar, pedalar, correr), sem início e fim reconhecíveis; e c) Estabilidade do ambiente, que se subdivide em habilidades motoras abertas e fechadas. Habilidades abertas são aquelas executadas em ambiente em constante mudança, de forma que o executante não pode planejar todo o movimento antecipadamente (por exemplo, bloquear no voleibol, atravessar uma rua movimentada). Habilidades Fechadas são as executadas em ambiente estáveis, previsíveis (por exemplo, boliche, arco e flecha). Vale ressaltar que as habilidades devem ser classificadas dentro do contínuo formado entre estes extremos. Por exemplo, o nadar no mar pode ser considerado uma habilidade mais próxima da extremidade aberta, pois o ambiente (correntezas, marolas, temperatura da água) é pouco previsível. Já o nadar na raia de uma piscina, é efetuado em um ambiente mais previsível. Mesmo assim não pode ser considerada uma habilidade totalmente fechada, pois, as marolas provocadas pelos nadadores incidem sobre todo o corpo, caracterizando um ambiente semi-previsível, que demanda ajustes constantes dos movimentos dos nadadores. Em síntese, segundo os critérios de classificação citados acima, a habilidade nadar na piscina, delimitada por raias, é classificada como sendo uma habilidade motora grossa (musculatura), contínua (distinguibilidade) e semi-fechada (ambiente). O nado Crawl é atualmente o nado mais veloz que se conhece dentro do cenário competitivo. Atletas de elite da natação conseguem percorrer, em nado Crawl, a prova dos 100 metros em piscina de 25 metros em menos de 48 segundos. Sendo em 45 segundos o atual recorde mundial em piscina curta. O nado Crawl possui cinco componentes importantes: ações dos braços, sin-
3 Caio G. S. Silva, Antonio C. Mansoldo, Ivan W. Tertuliano, et al. 83 cronização entre os braços e respiração, ação do tronco, ações das pernas e sincronização entre braços e pernas. Na ação dos braços existem duas fases, denominadas de aérea e aquática (10). A fase aérea é subdividida em duas fases, a primeira corresponde à saída das mãos no final da fase aquática, quebrando a superfície da água, até que as mãos passem por cima do ombro, e a segunda parte inicia-se na passagem da mão por cima do ombro até a imersão da mão na água. A fase aquática é subdividida em três partes, sendo duas delas propulsivas. Essas duas fases propulsivas da fase aquática são responsáveis por até 90% da propulsão do nadador (11) e tornam a braçada um componente essencial do nado Crawl. O movimento de pernas no nado Crawl compreende duas fases, para cima e para baixo, com leves movimentos laterais. Esses movimentos laterais estabilizam o corpo enquanto ele oscila de um lado para o outro. Esse alinhamento lateral será mantido se as pernas baterem na mesma direção dos movimentos dos quadris. Para manter a sincronização e angulações perfeitas, a pernada para baixo começa antes que a perna tenha terminado a pernada para cima no movimento anterior da outra perna. O pé deve estar a uma profundidade de, aproximadamente, 30 a 35 cm para tornar-se eficiente (12). Como visto anteriormente, as pernas movimentam-se num ritmo alternado. A pernada para baixo é um movimento parecido com uma chicotada, que começa com a flexão do quadril, seguida pela extensão do joelho. Já a pernada para cima tem o seu início quando a mesma se sobrepõe ao final da pernada para baixo precedente, para que seja superada a inércia da mudança de direção das pernas de baixo para cima. Em relação à sincronização dos braços e pernas, um ritmo de pernadas refere-se ao número de pernadas por ciclo de braçada que é feito pelo atleta. Um ciclo de braçada no nado Crawl é definido pela entrada de uma das mãos na água, realização da fase aquática, saída da água, entrada da mão novamente na água, todo esse percurso tem que ser realizado pelos dois braços. Essa sincronização deve variar em função das provas a serem nadadas (13). Ritmos de pernadas de 2 e 4 tempos são mais utilizados por nadadores que participam de provas de longa distância (800 metros, 1500 metros, travessias), enquanto que para as provas curtas, 50, 100 e 200 metros, o ritmo mais preconizado é a pernada de 6 tempos. O nado Borboleta é o segundo nado mais veloz (14), só perdendo para o nado Crawl. Durante o nado Borboleta, o corpo fica na posição horizontal em decúbito ventral. Toda a cabeça submersa (a não ser no momento da respiração) e queixo próximo ao peito (osso externo). Na ação dos braços existem duas fases, denominadas de aérea e aquática (10). A fase aérea é subdividida em duas fases, a primeira corresponde à saída das mãos no final da fase aquática, quebrando a superfície da água, até que as mãos passem por cima do ombro, e a segunda parte inicia-se na passagem da mão por cima do ombro até a imersão da mão na água. A fase aquática é subdividida em três partes, sendo duas delas propulsivas. Os braços entram simultaneamente na água, bem à frente da cabeça na linha dos ombros. As mãos ficam a mais ou menos 45º do nível da água, com sua palma voltada para fora, entrando na água primeiramente com o polegar (10). A Puxada tem o padrão da braçada do nado Crawl, com uma única diferença, os braços realizam o movimento simultaneamente. A Finalização ocorre quando as mãos passam próximos às coxas, com a palma voltada para dentro, rompendo a linha da água primeiramente com o cotovelo. Durante a Recuperação dos braços, primeiramente coloca-se a cabeça na água após a respiração, depois os braços passam pela lateral do corpo por cima da água, flexionados e os cotovelos altos, entrando novamente bem à frente da cabeça para iniciar a fase da aquática. A pernada no nado Borboleta é fundamental, pois além da propulsão, também ajuda na sustentação do corpo no momento da respiração (15). Elas realizam movimentos simultâneos, a partir da articulação coxofemoral (com reflexo no restante do corpo - movimento ondulatório), num ritmo ascendente/descendente (14). As pernas e os pés encontram-se para trás no movimento descendente e ligeiramente flexionados no movimento ascendente (até que os tornozelos atinjam o nível da água). O iniciante deve manter o quadril relaxado e concentrar a força no peito dos pés. Estudos mostram que a pernada do nado Borboleta, onde as pernas trabalham de maneira simultânea chamada de pernada de Golfinho (14), gera mais propulsão e consequentemente maior deslocamento no meio líquido que a pernada do nado Crawl (16), que é realizada com as pernas trabalhando de maneira alternada. Quanto à coordenação braço/perna/respiração, inicia-se a braçada com uma pernada, e durante a aproximação das mãos (na altura do quadril), realiza-se outra pernada e a elevação da cabeça para respiração. A respiração ocorre quando as mãos estão próximas do abdome e execução de uma pernada (14). Sendo assim, pode-se questionar que associando a braçada do nado Crawl, considerado o nado mais veloz, com a pernada do Nado Borboleta, considerada a pernada com maior geração de propulsão, fará com que os atletas consigam atingir comprimento de braçada maior e consequentemente explorarem uma nova técnica de nado e um melhor rendimento de resultado. Assim, o objetivo do presente estudo foi investigar as diferenças entre os nados, Crawl tradicional e Crawl com pernada do nado Borboleta em relação a medidas de desempenho: comprimento de braçada (Cbr), Tempo
4 84 Desempenho do Nado Crawl com diferentes formas de pernada. Total de Nado (TTN) e Número de Braçadas (NB) em uma distância de 25 metros em homens habilidosos. MÉTODO O desenvolvimento da investigação proposta foi realizado por um estudo comparativo e descritivo, com enfoque dentro da abordagem da análise quantitativa. Participaram do estudo, mediante assinatura do termo de consentimento, 7 atletas masculinos na faixa etária entre 20 e 30 anos com larga experiência em natação, os mesmos são filiados a Federação Paulista de Natação. A coleta de dados foi realizada na piscina descoberta e aquecida, com dimensões de 25 metros de comprimento por 10 metros de largura, sem quebra ondas laterais do Centro Universitário Ítalo Brasileiro (UNIÍTALO). A saída foi realizada na parte mais profunda da mesma, sem a utilização do bloco de partida para a saída nas tentativas. Foram descritos os tempos totais dos atletas no seu desempenho de cada tentativa, assim como análise biomecânica do nado Crawl, contendo, número de braçadas e comprimento da braçada. A tarefa solicitada foi a de nadar 6 x 25 metros (3 x 25 metros de nado Crawl com pernada do nado Crawl e 3 x 25 metros de nado Crawl com pernada do nado borboleta) em trajetória retilínea, delimitada por uma raia lateral. Mais especificamente, partindo de uma posição de auto-sustentação no meio líquido, os atletas deram impulso na parede, após um sinal sonoro, iniciavam a tarefa. Os sujeitos realizaram a tarefa em esforço máximo. A sequência das tentativas foi estabelecida de forma aleatória, definida por sorteio. A coleta de dados ocorreu em duas etapas. Na primeira etapa os atletas recebiam as informações sobre o estudo e eram convidados a assinar o termo de consentimento após esclarecimentos. A segunda etapa compreendeu a execução da tarefa, ou seja, nadar 25 metros nas duas condições distintas (nado Crawl com pernada do nado Crawl e nado Crawl com pernada do nado borboleta). Para tal, os atletas foram conduzidos ao recinto da piscina. Foi feita uma familiarização com o ambiente (piscina), na qual todos os atletas realizaram um aquecimento individualizado de acordo com especificações de seu técnico de, no mínimo, 15 minutos. A instrução da tarefa na piscina foi dada logo após o aquecimento. Foi lhes informado que, de uma posição de auto-sustentação no meio líquido, deveriam realizar o impulso na parede e iniciar a tarefa. Após cada tentativa, os atletas descansaram de cinco a oito minutos (descanso utilizado para recompor o atleta após velocidade intensa de treinamento, utilizado pelo técnico da equipe participante) e continuaram as tentativas. Foi-lhes informado também que a duração dos intervalos ficaria na dependência do batimento cardíaco de cada atleta, sendo assim, a execução em cada condição estava condicionada ao retorno prévio do batimento cardíaco a no mínimo 50% do esforço máximo que foi obtido na sua primeira tentativa. O tempo de execução de cada tentativa foi cronometrado e fornecido, após cada tentativa, aos atletas. Vale ressaltar que para a realização do experimento contamos com a presença de 8 experimentadores, alunos de educação física do Centro Universitário Ítalo Brasileiro (UNIÍTALO) com experiência em coleta de dados. Um experimentador recebeu os atletas e explicou o experimento. Outro experimentador forneceu os termos de consentimento. Um experimentador controlou o tempo de aquecimento junto com o técnico dos atletas; 3 cronometristas, sendo que um deles deu a partida para a realização da tarefa anotaram o tempo em cada tentativa 2 outros experimentadores marcaram a quantidade de braçada utilizada para realização da tarefa e, posteriormente, calculou o comprimento das braçadas. Vale esclarecer que o presente estudo foi aprovado pela Comissão de Ética e Pesquisa Centro Universitário Ítalo Brasileiro (UNIÍTALO). O experimento constitui-se para todos os sujeitos, na execução da tarefa, percorrer 25 metros nadando Crawl em duas condições: nadar braço de Crawl com pernadas de Crawl (alternadas) e nadar braçadas de Crawl com pernadas de golfinho (simultâneas). Todos os estímulos foram dados a 100% de seu esforço máximo. Importante ressaltar que os atletas não treinaram essa nova técnica. A sequência das tentativas foi estabelecida de forma aleatória, definida por sorteio. Após a execução em cada uma das condições, houve um intervalo de recuperação de 5 a 8 minutos. A duração dos intervalos estava na dependência do batimento cardíaco de cada atleta, sendo assim, a execução em cada condição estava condicionada ao retorno prévio do batimento cardíaco a no mínimo 50% do esforço máximo que foi obtido na sua primeira tentativa. Após cada tentativa durante a coleta, o atleta foi informado do seu tempo de percurso em cada uma das condições, bem como do número de braçadas e frequência cardíaca. RESULTADOS Considerando que todas as medidas utilizadas são de natureza intervalar e que continha sete participantes, foram realizados testes de normalidade e homogeneidade de variância (teste de Levine) para verificar se os pressupostos da análise paramétrica seriam atendidos. Não foi encontrada normalidade e homogeneidade de variância para todas as condições envolvidas na análise (p 0,05). Neste caso, foram realizados testes não-paramétricos. Mais especificamente, o teste de Friedman foi utilizado para encontrar diferenças entre as condições. Concernente à localização das diferenças, utilizou-se o teste
5 Caio G. S. Silva, Antonio C. Mansoldo, Ivan W. Tertuliano, et al. 85 Tabela 1. Tempo total (em segundos e centésimo de segundos) de nado em cada tentativa, para cada atleta, Média e Desvio Padrão (SD). Sujeitos Cr/Cr Cr/Bo Cr/Cr Cr/Bo Cr/Cr Cr/Bo 1 16,65 16,28 15,48 16,31 15,31 16, ,59 16,17 15,16 16,70 15,18 16, ,03 14,06 12,73 13,22 12,65 13, ,54 11,98 11,74 12,21 11,69 11, ,45 12,71 12,45 12,62 12,25 12, ,93 16,66 15,77 16,49 16,44 17, ,86 16,54 14,92 17,02 15,38 16,59 Média 14,15 14,91 14,03 14,94 14,12 15,03 SD 1,87 1,97 1,66 2,14 1,87 2,28 de Wilcoxon. Para controle do erro tipo 1 foi utilizado o procedimento sequencial Holm de Bonferroni (17). Esse procedimento requer a divisão do nível de significância adotado (0,05) pelo número de comparações realizadas. No caso desse estudo, o valor adotado para localizar diferenças foi p > 0, (valor ajustado). Pode-se observar, através da média e desvio padrão (SD), que o tempo total de nado (TTN) em velocidade máxima, para as duas condições foi próximo (Tabela 1), no entanto a condição CR/CR foi melhor que a condição CR/BO (Figura 1), ou seja, as condições CR/CR Figura 1. Média do Tempo total (em segundos e centésimo de segundos) de nado nas condições CR/CR e CR/BO. Figura 2. Média do Comprimento de Braçada (em metros) nas condições CR/CR e CR/BO. foram mais eficientes em termos temporais, já que tiveram um tempo de nado menor que as condições em CR/BO. Essa observação foi confirmada pelo teste de Friedman, visto que foi detectada diferença significante [x 2.(5, n=7)=21,008, p=0,001]. O teste de Wilcoxon com o procedimento sequencial Holm de Bonferroni não identificou as diferenças entre os blocos (p>0, , valor ajustado). Porém, quando se analisa pelos postos de maior e menor valor (Friedman), verificou-se que a diferença está entre as tentativas 1, 2 e 3 de CR/CR e as tentativa 1, 2 e 3 CR/BO. Esses resultados indicam Tabela 2. Comprimento de Braçada (em metros) em cada tentativa, para cada atleta, Média e Desvio Padrão (SD). Sujeitos Cr/Cr Cr/Bo Cr/Cr Cr/Bo Cr/Cr Cr/Bo 1 0,81 1,04 0,80 1,00 0,83 0,96 2 1,04 1,20 1,00 1,00 0,96 0,96 3 1,14 1,39 1,07 1,25 1,14 1,14 4 1,39 1,47 1,39 1,39 1,39 1,47 5 1,09 1,14 1,14 1,04 1,09 1,04 6 0,96 1,09 1,04 1,25 1,09 1,09 7 1,00 1,14 1,00 1,14 0,92 1,09 Média 1,060 1,20 1,066 1,15 1,05 1,11 SD 0,180 0,160 0,176 0,149 0,180 0,173
6 86 Desempenho do Nado Crawl com diferentes formas de pernada. Tabela 3. Número de braçadas em cada tentativa, para cada atleta, Média e Desvio Padrão (SD). Sujeitos Cr/Cr Cr/Bo Cr/Cr Cr/Bo Cr/Cr Cr/Bo Média 24, SD 3,97 2,58 3,91 2,77 3,89 3,05 uma tendência de melhor desempenho para as tentativas de CR/CR, visto que os tempos das 3 tentativas de CR/CR forma menores que os tempos das 3 tentativas de CR/BO. Referente às Medidas de Comprimento de Braçadas, pode-se observar, através da média e desvio padrão (SD), que o Comprimento de Braçada (Cbr) para a condição CR/BO foi maior que a condição CR/CR (Tabela 2) (Figura 2). Essa observação foi confirmada pelo teste de Friedman, visto que foi detectada diferença significante [x2.(5, n=7)=14,656, p=0,012]. O teste de Wilcoxon com o procedimento sequencial Holm de Bonferroni não identificou as diferenças entre os blocos (p>0, , valor ajustado). Porém, quando se analisa pelos postos de maior e menor valor (Friedman), verificou-se que a diferença está entre as tentativas 1, 2 e 3 de CR/CR e as tentativa 1 e 3 CR/BO. Esses resultados indicam uma tendência de melhor desempenho para as tentativas de CR/BO, visto que o comprimento de braçada das 3 tentativas de CR/BO forma maiores que o CRb das 3 tentativas de CR/CR. Referente às Medidas de Número de Braçadas, pode-se observar que a condição CR/BO utilizou menos braçadas para realizar a tarefa do que a condição CR/ CR (Tabela 3) (Figura 3). Essa observação foi confirmada pelo teste de Friedman, visto que foi detectada diferença significante [x2.(5, n=7)=14,656, p=0,012]. O teste de Wilcoxon com o procedimento sequencial Holm de Bonferroni não identificou as diferenças entre os blocos (p>0, , valor ajustado). Porém, quando se analisa pelos postos de maior e menor valor (Friedman), verificou-se que a diferença está entre as tentativas 1 e 2 de CR/BO e as tentativa 1, 2 e 3 CR/CR. Esses resultados indicam uma tendência de melhor desempenho para as tentativas de CR/BO, visto que o número de braçadas das 2 tentativas de CR/BO forma menores que as 3 tentativas de CR/CR. DISCUSSÃO Pode-se dizer que há certo consenso entre pesquisadores de Aprendizagem Motora que a prática é um dos Figura 3. Média do número de braçadas nas condições CR/CR e CR/BO. fatores essenciais para a aprendizagem de habilidades motoras. O objetivo do presente estudo foi investigar as diferenças entre os nados, Crawl tradicional e Crawl com pernada do nado Borboleta em relação ao comprimento de braçada (Cbr), Tempo Total de Nado (TTN) e Número de Braçadas (NB) em uma distância de 25 metros em homens habilidosos. Para análise foram consideradas medidas que demonstram o desempenho do nadador em termos de comprimento de braçada (Cbr), Tempo Total de Nado (TTN) e Número de Braçadas (NB) em velocidade máxima para as duas condições do estudo: nado Crawl com pernada do nado Crawl e nado Crawl com pernada do nado borboleta. Considerando os resultados obtidos quanto ao tempo total de nado (TTN), resultado que reflete o desempenho dos atletas, para a distância de 25 metros nas duas condições, os resultados demonstram que as condições em que foram realizadas com CR/CR foram mais eficientes que as condições CR/BO. Esse resultado reflete a maior quantidade de prática pelos nadadores na condição CR/CR, haja vista eles sempre treinarem em velocidade máxima essa condição e menos a condição CR/BO. No entanto o post hoc sem o procedimento sequencial de Bonferroni não foi capaz de localizar as diferenças, isso nos leva a crer que a introdução de práti-
7 Caio G. S. Silva, Antonio C. Mansoldo, Ivan W. Tertuliano, et al. 87 ca na condição CR/BO pode levar a uma equiparação de desempenho, ou até mesmo uma superação. Retornando a hipótese de falta de prática da condição CR/BO podemos pensar na prática como um elemento essencial para qualquer aprendizagem. Isso porque sem a prática não há ocorrência de aprendizagem. Mas o que é prática? Ela pode ser vista como um esforço consciente de organização, execução, avaliação e modificação das ações motoras a cada execução (18), ou seja, a falta de uma maior quantidade de tentativas na condição CR/BO e a prática desta anteriormente ao experimento podem ser os motivos de seu pior desempenho. Sendo assim, o resultado apresentado não difere do esperado. Visando compreender os recursos utilizados pelos atletas para se adaptar as diferentes condições da tarefa, foram utilizadas medidas de desempenho auxiliares, como, comprimento da braçada e número da braçada. Na medida de desempenho, relativa ao comprimento da braçada, os resultados demonstram que as condições CR/BO tiveram um comprimento de braçada maior que as condições CR/CR. Esses resultados refletem uma braçada denominada na literatura de braçada por agarre ou deslizamento (13), ou seja, um atraso no tempo entre as fases propulsivas dos dois braços. Esses resultados não corroboram com a literatura, que demonstra um menor comprimento de braçada em velocidade máxima (19, 20, 21). No entanto os resultados desses estudos supracitados fora obtidos com a manipulação apenas do nado Crawl com pernada alternada e não com pernada simultânea, o que nos leva a crer que os resultados obtidos vão de encontro aos resultados da literatura. Uma das hipóteses levantadas para o aumento do comprimento de braçada da condição CR/BO foi o ritmo de pernada. No nado Borboleta o ritmo de pernada é menor do que no nado Crawl, o que pode ter levado a um intervalo maior entre as braçadas. Para diminuir o comprimento de braçada da condição CR/BO deve-se aumentar do ritmo de nado levando a um maior grau de coordenação entre braços e pernas, pois diminui os intervalos de tempo entre os braços e as pernas (16, 22,23). Na medida de desempenho, relativa ao número de braçadas, os resultados demonstram que as CR/BO tiveram um número de braçada menor que as condições CR/ CR. Esses resultados eram de se esperar, já que o comprimento de braçada para a condição CR/BO foi maior que a condição CR/CR, corroborando com a literatura (19, 20, 21). A hipótese levantada nesta medida, número de braçadas, é a mesma levantada na medida comprimento de braçada. No que diz respeito ao aproveitamento da fase aquática do nado, era esperado que o grupo com menor quantidade de número de braçadas e maior comprimento de braçada tivesse um melhor desempenho na medida TTN (21), no entanto isso não ocorreu. O fator que não levou a um melhor desempenho na medida TTN foi o não aproveitamento da fase aquática nas condições CR/BO, além de a literatura mostrar que em velocidade máxima, o comprimento de braçada é diminuído em prol do número de braçadas aumentado (13, 24, 25, 22). Em suma, no que diz respeito à forma do corpo no meio líquido, em termos de velocidade e tempo, é mais vantajosa a condição de nadar CR/CR. Esses resultados podem ser explicados em função do arrasto ativo causado pela movimentação da coluna em função da ação ondulatória da pernada simultânea da condição CR/BO. Fortalece este argumento o fato de que nadar Crawl resulta numa oscilação ondulatória do tronco menor que a oscilação ondulatória de tronco no nado Borboleta (10). CONCLUSÃO Com base nos resultados encontrados pode-se concluir que: A condição CR/CR teve um melhor desempenho do que a condição CR/BO, já que obteve um menor tempo de nado para a tarefa. O número de braçadas não é determinante para o desempenho temporal da tarefa. O nado CR/BO leva a um maior comprimento de braçada, o que não reflete em melhor desempenho temporal. A falta de prática dos atletas na condição CR/BO pode ter levado a um pior desempenho dos atletas nesta condição. Deve-se re-investigar o presente objetivo, porém, utilizando uma quantidade maior de tentativas, seguindo os preditos da definição de prática de Tani (18). REFERÊNCIAS Bibliográficas 1. Bartlett Fc. Remembering: A study in experimental and social psychology. Cambridge: Cambridge University Press Bernstein N. The coordination and regulation of movements. New York: Pergamon Newell Km, CORCOS DM. Variability and motor control. Champaign, IL: Human Kinetics Fitts Pm, Posner Mi. Human performance. Belmont, Califórnia: Brooks/Cole Adams JAA. closed-loop theory of motor learning. Washington: JMB. 1971; 3: Freudenheim AM. Organização hierárquica de um programa de ação e a estabilização de habilidades motoras. Tese (Doutorado) Escola de Educação Física da Universidade de São Paulo
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