Economia Pública. Cálculo Financeiro
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- Lavínia Amarante Beltrão
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1 Economia Pública 1º Semestre 2010/11 Cálculo Financeiro Só se podem somar valores monetários que se reportem ao mesmo momento do tempo. Para isso deveremos actualizar todos os valores ou capitaliza-los para um momento futuro, antes de os comparar ou somar. O valor actual de receber Π daqui a um ano é Π /(1+r) : quanto seria necessário ter hoje para gerar Π daqui a um ano sabendo que a taxa de juro relevante é r. Por exº: : 1000 daqui a um ano tem o mesmo valor que 952,38 hoje se a taxa de juro for 5% (porque 1,05x 952,38 = 1000) Obs: Se precisar do valor hoje continua indiferente, pois pode endividar-se dando os 1000 no futuro como garantia do pagamento. Se precisar do valor no futuro, capitalizando os 952,38 irá obter
2 No modelo anterior G denotou as despesas do em bens e serviços. As despesas públicas totais, G t +i t B t-1, incluem as despesas primárias, G t, e os juros da dívida pública, i t B t-1. Na expressão anterior i t representa a taxa de juroeb t-1 o stock de dívida no final do período anterior. Para financiar as despesas públicas totais, o recorre a três grandes tipos de receitas: Impostos, criação de moeda e emissão de dívida pública. G t +i t B t-1 =T t + H+ B com H=H t -H t-1 e B=B t -B t-1 designando respectivamente a diferença entre o stock final e inicial de moeda e de dívida. Esta é a restrição orçamental de curto prazo. 2
3 Define-se saldo global (ou efectivo) à diferença entre as receitas dos impostos e as despesas púbicas totais: T t -G t -ib t-1. O défice global será G t +ib t-1 -T t. O saldo primário (ou excedente primário) é dado por T t -G t. O défice primário é dado por G t -T t. Da restrição de curto prazo decorre que: i) Quando se altera um dos 4 instrumentos, pelo menos outro tem de se alterar. Como os efeitos são diferentes consoante aquele que se altera, é necessária uma especificação completa de uma intervenção. ii) Há, no máximo, liberdade para fixar 3 instrumentos. O 4º é fixado automaticamente. 3
4 Considere-sese o caso de dois períodos, sem emissão de moeda, dívida inicial e final. G 1 -T 1 =B 1 G 2 +ib 1 +B 1 =T 2 Substituindo a segunda expressão na primeira obtemos: G 2 +(1+i)(G 1 -T 1 )=T 2 G 1 +G 2 /(1+i)=T 1 +T 2 /(1+i) Esta é a restrição orçamental intertemporal ou de longo prazo: G 1 +G 2 /(1+i)=T 1 +T 2 /(1+i) Se considerarmos mais períodos e dívida inicial e final: B 0 +G 1 /(1+i) +G 2 /(1+i) =T 1 /(1+i) +T 2 /(1+i) B n /(1+i) n 4
5 Exemplo: 4 formas alternativas de financiar G 1 =100 e G 2 =100, com juro de 5% (2 períodos) Opção T 1 B 1 T 2 VA T 1 + T , , ,5 195, ,24 Equivalência Ricardiana: A dívida pública não é mais do que impostos diferidos para o futuro. O contribuinte Ricardiano considera irrelevante a forma como a despesa pública é financiada. O impacto sobre a procura de financiar a despesa com impostos ou dívida é o mesmo. 5
6 Equivalência Ricardiana: O contribuinte Ricardiano: i) tem expectativas racionais ii) não tem restrições de liquidez iii) preocupa-se com as gerações futuras iv) A taxa de juro activa e passiva é igual. Análise do saldo orçamental: A. Perspectiva microeconómica: 1. Peso do 2. Suavização Fiscal 3. Equidade intertemporal 4. Mobilidade Espacial de Factores 6
7 1. Peso do Como medir o peso do na economia? 2010 Pressão fiscal: T t /Y t Dia livre de impostos: 13 de Maio de G t +i t B t-1 =T t + H+ B Do lado direito temos Tributação convencional + Tributação implícita pois: Moeda = Imposto da inflação Dívida = Impostos futuros Os verdadeiros impostos, afinal, são as despesas. (G t +i t B t-1 )/Y t mede de forma mais adequada o peso do na economia. 7
8 Porém, o diferimento dos impostos e a menor percepção dos mesmos pode criar uma ilusão ou anestesia fiscal. Esta percepção pode levar os agentes as solicitar uma quantidade acrescida do sector público (promovendo a ineficiência). Pelos mesmos motivos há vantagens políticas em utilizar a tributação implicita. 2. Suavização fiscal Recorrer ao défice pode ter um efeito positivo na economia, pois pode evitar-se 2500 uma carga 2000 excedentária elevada 1500 ao distribuir a carga fiscal por um maior 0 número de bases Carga Excedentária
9 3. Equidade intertemporal. As despesas e receitas do estado podem dividir-se em: Despesas Correntes, são as que o faz em bens consumíveis; as Despesas de Capital, são as realizadas em bens duradouros e no reembolso de empréstimos. i) despesas correntes: proporcionam benefícios no próprio período ii) despesas de capital: proporcionam benefícios nos períodos futuros. Receitas Correntes, são as que provêm do rendimento do próprio período; as Receitas de Capital, são as que resultam de empréstimos. iii) receitas correntes: representam uma diminuição de benefícios que ocorreriam no próprio p período. iv) receitas de capital: as que diminuem benefícios futuros. 9
10 OGE 2010 (mil milhões de euros): Total das receitas correntes: 34 Total das receitas de capital: 119 Total das despesas correntes: 47 Total das despesas de capital: 106 Total geral: Capital Correntes 0 Receitas Despesas G c +G k = R c +R k ou G c -R c = R k -G k Se o orçamento corrente é deficitário, o de capital será superavitário e vice-versa. Se as receitas de capital excedem as despesas de capital há uma transferência de benefícios do futuro para o presente. O equilíbrio do orçamento corrente (regra de ouro orçamental) garante a neutralidade em termos redistributivos. O equilíbrio do orçamento global (violando a regra de ouro) beneficia as gerações futuras. 10
11 Críticas à regra de ouro: - Difícil distinção entre algumas despesas correntes e de capital. - Dificil suavizar o consumo público (despesas correntes) na presença de ciclos económicos que fazem oscilar os impostos (receitas correntes). A regra de ouro poder-se-ia aplicar em média ao longo do ciclo. 4. Mobilidade Espacial de Factores (economias abertas) Há um perigo adicional associado a défices que violem a regra de ouro. Quando uma despesa corrente é financiada por dívida ocorre um resíduo fiscal positivo: excesso de benefícios em relação aos custos. No futuro seguir-se-á um resíduo negativo (impostos para pagar a dívida: receitas correntes a financiar despesas de capital). 11
12 Consequência: Influxo de factores no presente e emigração no futuro para tirar proveito dos resíduos positivos evitando os negativos. A emigração futura poderá por em causa a solvabilidade da dívida. Análise do saldo orçamental: B. Perspectiva macroeconómica: O deficit é muitas vezes apresentado como indicador do impulso dado à economia. Um deficit significaria que o está a injectar mais fundos na economia do que a retirar. Porém, esta interpretação não está necessariamente correcta. 12
13 1. Tributação implicita e equivalência Ricardiana 2. Multiplicadores diferenciados 3. Endogeneidade do saldo/défice 1. Tributação implicita e equivalência Ricardiana Se os agentes forem Ricardianos antecipam que um deficit presente corresponderá a impostos futuros e deverão contrair a despesa no presente para fazer face aos pagamentos futuros. 13
14 2. Multiplicadores diferenciados - Os gastos públicos têm um efeito directo sobre a despesa agregada. -Os impostos têm um efeito indirecto, através do rendimento disponível que reduz consumo e poupança Para variações do mesmo montante, os gastos terão, em valor absoluto, um maior impacto sobre o produto do que o impostos. 2. Multiplicadores diferenciados Variação de G 100 Nesta área, o defice diminui embora as políticas tenham um efeito expansionista Recomenda-se 80 aqui o uso do saldo ponderado. 100 Variação de T 14
15 3. Endogeneidade do saldo/défice G, T T(Y) G O defice pode agravar-se mesmo na ausência de qualquer tipo de intervenção deliberada. Ciclos económicos Y Crescimento económico 3. Endogeneidade do saldo/défice O defice não se altera, apesar de G, T T(Y) G Y uma política delibrada de aumento dos gastos (se, por exemplo, aumentar ao mesmo tempo o consumo ou investimento) 15
16 3. Endogeneidade do saldo/défice Para superar este problema avalia-se o saldo num valor fixo para as variáveis endógenas. Por exemplo, fixa-se o produto no nível de pleno emprego saldo estrutural ou de pleno emprego ou ao nível do ano anterior saldo estandardizado. SAL = SALn+SALc Saldo e sustentabilidade dinâmica O grau de endividamento de um país é geralmente medido pelo peso da dívida pública no PIB: β =B/Y. 16
17 EU (27 countries) Euro area Portugal
18 De que depende a evolução deste indicador? B t =B t-1 +i t B t-1 +G t -T t B t /Y t =(1+i t )B t-1 /Y t +(G t -T t )/Y t β t - β t-1 = (i t -y)/(1+y) β t-1 +(G t -T t )/Y t Se o produto crescer a uma taxa superior à taxa de juro é possível ter defices primários sem que o peso da dívida no produto se agrave. Mas, mesmo com G t =T t, se i=7% e y=0.5% DIVIDA PIB Rácio 18
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