Material de apoio para a disciplina Avicultura CAP.2 NOÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS DAS AVES

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1 Material de apoio para a disciplina Avicultura CAP.2 NOÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS DAS AVES Rio Branco AC I/2015 0

2 2.1 Introdução As aves são animais vertebrados homeotérmicos caracterizados por terem o corpo coberto de penas, com membros anteriores transformados em asas e membros posteriores usados para a locomoção bipedial. As penas realizam diversas funções, como isolamento térmico e impermeabilização. Possuem a temperatura corpórea mais alta conhecida entre os animais, com um sistema de sacos aéreos distribuídos pelo corpo e ossos pneumáticos. Apresentam taxa respiratório de 40 a 50 batimentos por minuto, batimento cardíaco de 300 bpm e temperatura corporal de 41 a 42 o C, quando em condições ideais de conforto térmico. Pertencem ao grupo dos animais onívoros de estômago simples e possuem grande capacidade de identificar os alimentos, porém, baixo senso gustativo. Pelo fato de possuírem boa acuidade sonora, são facilmente estressadas com o mínimo de barulho, ocasionando perdas no desempenho produtivo. 2.1 Sentidos Especiais Visão As aves possuem visão binocular e monocular pelo fato dos olhos estarem nas laterais da cabeça. A visão binocular permite uma visão frontal e é responsável pela percepção de profundidade e clareza. A visão monocular é ampla e panorâmica e permite a detecção de movimentos laterais enquanto procuram alimentos. As aves percebem a intensidade luminosa com maior intensidade do que os humanos, sendo mais sensíveis na faixa do vermelho e amarelo e terem sensibilidade ao ultravioleta (FIG. 1). A luz vermelha estimula uma maior movimentação das aves. Bebedouros e comedouros vermelhos são utilizados para atrair as aves, no entanto, preferem alimentos com coloração na faixa do amarelo. Ao contrário do que muitos pensam as aves não são cegas à cor azul, tendo essa cor efeito apenas calmante, fazendo com que apresentem menor movimentação. Isto é desejado quando se realiza o apanhe ou pega das aves. Figura 1. Sensibilidade relativa ao espectro solar (aves linha tracejada). Figura 2. Sensibilidade humana ao espectro solar (400 a 700 nm). Olfação 1

3 As aves são sensíveis à amônia liberada pela cama, apresentando queda no desempenho produtivo quando expostas a altas concentrações. Gustação As aves apresentam apenas 250 a 350 receptores gustativos, com isso não são favorecidas pelo uso de flavorizantes na ração. Como comparação, os humanos apresentam cerca de e os suínos receptores gustativos. Audição As aves não apresentam apêndice exterior do aparelho auditivo (orelha) como os mamíferos. No entanto apresentam boa acuidade sonora, sendo facilmente estressadas com o mínimo de barulho realizado, ocasionando frequentemente perdas no desempenho produtivo. 2.2 Esqueleto 2.3 Aparelho digestório O trato gastrintestinal das aves é um tubo oco formado de tecido fibroso e tecido muscular, iniciando na boca até à cloaca. O processo digestório compreende as seguintes fases: 1. Captação, ingestão e deglutição: respectivamente realizadas pelo bico, língua e faringe; 2. Digestão: A digestão é o conjunto das transformações, mecânicas e químicas, que os alimentos orgânicos sofrem ao longo de um sistema digestivo, para se converterem em compostos menores hidrossolúveis e absorvíveis. 3. Absorção: principalmente no intestino; 4. Excreção dos restos alimentares: pelo reto e cloaca. Nos galináceos, o alimento pode passar por todo o trato digestivo num período relativamente curto, por volta de 2 horas e meia. O frango de corte moderno é hiperfágico, ou seja, come durante todo o tempo e é capaz, em função do seu melhoramento genético, de apresentar a cada ano um incremento de conversão alimentar de pelo menos dois décimos de pontos (MENDES et al., 2004). 2

4 Boca: possui a função de escolha, apreensão e ingestão do alimento. A cavidade bucal compreende o bico, língua, glândulas salivares e faringe. O bico é composto de queratina (proteína rígida) e é responsável pela seleção dos alimentos. Os sentidos de gosto e de olfato são menos desenvolvidos nas aves do que nos mamíferos. As aves têm na boca somente 12 papilas gustativas rudimentares. Segundo GOTTSCHALDT e LAUSMANN (1974), a falta de habilidade destes sentidos é compensada por mecanoreceptores localizados no bico das aves. O tamanho e a consistência das partículas do alimento afetam as respostas sensoriais que estabelecem a alteração no comportamento de consumo (SAVORY, 1979). A saliva secretada pelas glândulas salivares, contem água, muco, lisozimas (enzima bactericida), anticorpos e íons inorgânicos que não possuem função digestiva, mas que são importantes para proteção. A saliva das aves difere dos mamíferos, pois possuem poucas enzimas digestivas (ptialina e amilase). Esôfago: é um tubo relativamente longo por onde passa o alimento. Possui glândulas mucosas para lubrificar o alimento. Contrações (movimentos peristálticos) fazem com que o bolo alimentar avance até o papo, mesmo que esteja de cabeça para baixo. Papo: também chamado de inglúvio ou divertículo, é uma dilatação do esôfago, onde os alimentos são armazenados e amolecidos. No papo os alimentos são umedecidos com muco, preparando-os para a digestão feita no estômago. Proventrículo ou estômago glandular: possui a função de secretar muco através das glândulas tubulares simples e ácido clorídrico e pepsina através das glândulas tubulares complexas. O HCl atua acidificando o meio para favorecer digestão enzimática e o pepsinogênio a quebra das proteínas. Moela ou estômago muscular: formado por dois pares de músculos, cujas contrações rítmicas realizam a trituração e maceração do alimento. O tamanho da partícula regula a passagem pela região pilórica, ou seja, o bolo alimentar permanecerá na moela até ser suficientemente reduzido a um tamanho entre 15-40µm. Intestino delgado: composto pelo duodeno, jejuno e íleo. Corresponde à região que se inicia após a moela e termina na região da bifurcação do ceco. Tem a função de realizar a digestão final do alimento e absorção dos nutrientes. Recebe secreções liberadas pelo fígado e pâncreas. Intestino grosso: é um tubo curto presente na última seção do trato digestivo e é dividido em cecos, com cerca de 14 a 23,5cm e cólon ou reto com cerca de 8 a 10cm. O reto desemboca na cloaca. As aves possuem dois cecos, que atuam na absorção de água e na digestão de aminoácidos por uma microbiota cecal. Cloaca: estrutura dilatada em forma de bolsa comum aos aparelhos digestivo, urinário e reprodutor; Glândulas anexas: fígado e pâncreas; - Fígado: sintetiza a bile a qual fica armazenada na vesícula biliar, chegando ao duodeno pelo ducto biliar. A bile facilita a absorção das gorduras e a digestão dos carboidratos. - Pâncreas: glândula com função endócrina e exócrina ligada ao sistema digestivo. O pâncreas lança no duodeno enzimas para digestão de carboidrato, proteínas e lipídeos. Libera no duodeno ainda a quimotripsina e a tripsina que são responsáveis pela continuação da digestão das proteínas no jejuno. O suco pancreático contem bicarbonato de sódio, responsável pelo aumento do ph de 2 a 3 do bolo alimentar da moela para um ph de 5 a 6 no duodeno e 7,5 no jejuno. 3

5 As aves não possuem bexiga, sendo os produtos finais do metabolismo armazenados nos rins e eliminados, pelos ureteres, diretamente para a cloaca. A urina (ácido úrico) e eliminada junto com as fezes. Do ponto de vista patológico, deve-se considerar: Diarréia: resultado de uma excreção fecal anormal que pode ser manifestada com a excreção de fezes com as seguintes características: aumento da quantidade, frequência e conteúdo de fluidos; Aumento de fluídos nas fezes devido a: - hipersecreção intestinal (ex: Clostridium perfringes); - má absorção em consequência de doenças que comprometem as vilosidades; - alteração da motilidade; - combinação de processos. A flora bacterina dos frangos de corte pode desempenhar efeito positivo, tais como metabolismo dos carboidratos, proteínas, lipidos e minerais e síntese de vitaminas. Entretanto, a flora bacteriana formadas por bactérias Gram positiva anaeróbicas facultativas, como Lactobacillus sp, Bacteróides sp, Bifidobacterium sp, Streptococus sp, e Enterococcus sp, competem com os nutrientes disponíveis para as aves. A emergência do uso de promotores de crescimento, principalmente de antibióticos efetivos contra Gram positivos, foi decorrente dos conhecimentos de que a flora bacteriana normal de frangos de corte pode causar comprometimento do desempenho zootécnico Aparelho respiratório O aparelho respiratório das aves é composto por boca, orifícios nasais, faringe, traqueia, pulmões e sacos aéreos. Não ocorre a expansão ou contração do pulmão nas aves durante a respiração. Possuem quatro pares de sacos aéreos, situados na cavidade torácica. As funções dos sacos aéreos são a de tornar as aves mais leves para o voo, diminuir a fricção entre os músculos em movimento, auxiliar na respiração e permitir que o corpo fique em equilíbrio durante o voo, além de ajudar a manter a temperatura corporal pela difusão do vapor e da água pelos pulmões Aparelho reprodutor 4

6 Figura 3. Aparelho reprodutor masculino Figura 3. Aparelho reprodutor feminino. No macho nota-se a inexistência de um pênis verdadeiro. A localização dos testículos é intracavitária e cranioventral aos rins. O sêmem apresenta pequeno volume (0,5 a 1,0 ml) e alta concentração (3,5 milhões/mm 3 ). O volume é pequeno devido à inexistência de glândulas bulbouretrais, próstata ou glândulas vesiculares. A maturidade sexual é atingida entre 5 a 9 meses de idade. O aparelho reprodutor da galinha é formado por uma glândula secretora de gema (ovário) e um órgão excretor (oviduto). Aproximadamente 26 horas decorrem entre a ovulação e a postura do ovo. A galinha começa a botar ovos entre a 17ª e 18ª semana de idade. Uma ave que já iniciou postura apresenta, em seu ovário, ovócitos em várias fases de maturação, desde os microscópicos até os que já estão próximos a se romperem dos folículos (GARCIA e FERNÁNDEZ, 2001). O oviduto é formado pelo infundíbulo, magno, istmo, útero e vagina. 5

7 Infundíbulo - tecido membranoso com músculo liso escasso. Envolve o ovo (gema) no momento de sua liberação no ovário. Magno - região espiralada secretora de albúmen (clara do ovo). Istmo - pequena região próxima ao útero, menos espiralada, em que se depositam as fibras de queratina, as quais entrarão na composição das membranas da casca. Útero - porção dilatada, onde o ovo se completa e a casca é formada. Vagina - região terminal, desemboca na cloaca juntamente com a porção terminal do tubo digestório e o rudimento do oviduto direito. A fertilização ocorre na extremidade cranial do oviduto, ou às vezes na bolsa ovariana. Fonte: Freitas et al. (2003) 3 Referências bibliográficas ALBINO, L. F. T.; TAVERNARI, F. C. Produção e manejo de frangos de corte. Viçosa, MG: Editora UFV, BERTECHINI, A. G. Fisiologia da digestão de suínos e aves. Lavras, MG: ESAL/ FAEPE, FREITAS, E.B. et al. Estudo anatomo-fisiológico do sistema reprodutivo feminino das aves na formação dos ovos revisão de literatura. Revista científica eletrônica de medicina veterinária. Número 17 Julho de GARCIA, S. M. L.; FERNÁNDEZ, C. G. Embriologia. 2ª ed. Editora Artmed São Paulo Brasil p. GOTTSCHALDT, K. M., S. LAUSMANN. Cell Tissue Res. 153: (1974). MACARI, M.; FURLAN, R.L.; GONZALES, E. Fisiologia aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal: FUNEP, p. MAIORKA, E. SANTIN, F. DAHLKE, I. C. BOLELI, R. L. FURLAN, M. MACARI. Posthatching Water and Feed Deprivation Affect the Gastrointestinal Tract and Intestinal Mucosa Development of Broiler Chicks. Journal of Applied Poultry Research, v.12, p , MENDES, A.A.; NÄÄS, I.A.; MACARI, M. Produção de frangos de corte. FACTA, p. 6

8 SAVORY, C. J. Feedinç Behavior. pp in: Food intake regulation in Poultry. k. n. Boorman e B. M. Freeman, British Poultry Sci. LTD, Edinburgh, Scotland. 7