DISCURSOS AFINADOS ENTRE MÉDICOS E FILÓSOFOS GREGOS
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- Júlio César Faro de Sá
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1 DISCURSOS AFINADOS ENTRE MÉDICOS E FILÓSOFOS GREGOS Prof.Dr.HC João Bosco Botelho Médicos e filósofos gregos do século 4, acordavam em muitos aspectos das práticas da Medicina. Por exemplo, tanto Platão (Banquete, 186,187) quanto Hipócrates reconheceram como insubstituível obrigação do médico esclarecer ao doente de todos os aspectos eriscos envolvidos com a doença. Aristóteles (Política I, 11, 1282) vai mais longe e chega a distinguir o médico do homem culto em Medicina, estabelecendo o espaço que cada um pode ocupar nas suas funções específicas. A relação da Medicina com a natureza que os gregos tão bem assimilaram culminou em sistemas de valores e respostas claramente configurados, reforçando a Medicina como paidéia. Este testemunho pode ser evocado em Sólon ao descrever a conexão das doenças pessoais e coletivas com a totalidade da organização social. Baseado nesta relação, esse legislador fundamentou parte do seu pensamento político-filosófico afirmando que as crises políticas interferiam na qualidade da saúde de uma população. Platão e Aristóteles, de igual modo, estabeleceram padrões comparativos entre a atividade do médico e a sociedade bem estruturada. Deste modo, o sistema médico grego interagindo a saúde e a doença com a natureza contribuiu na busca de modelos de gerência social. Platão (Górgias 464 B, 465 A e 501) se ligou à Medicina utilizando-a como instrumento para compor algumas linhas mestras da sua concepção ético-filosófica. Estabeleceu o significado da verdadeira tékhne, como forma de conhecimento
2 na natureza do objeto destinado a servir ao homem. De acordo com os conceitos platônicos, o médico é a pessoa que baseada no que sabe sobre a natureza do homem sadio, conhece também o contrário, o homem doente e pode encontrar os meios para restituí-lo à saúde. Foi baseado neste modelo que Platão traçou a imagem do filósofo que teria a mesma função no tratamento da alma do homem. Existiu, neste ponto do pensamento grego, uma relação concreta entre o médico e o filósofo, que se completavam na busca da harmonia plena do homem com a natureza. Os diálogos platônicos sugerem, efetivamente, que o método utilizado na Medicina -¾ identificar em primeiro lugar se a natureza do objeto acerca do qual queremos adquirir verdadeiro conhecimento é simples ou apresenta múltiplas formas ¾ é semelhante ao utilizado pelo insubstituível filósofo. Nessa fase, a Medicina grega reconhecera o problema da multiplicidade das formas das doenças e a possibilidade de teorizar com divisões para estabelecer o número exato dos tipos patológicos. Este método é identificado por Platão como dissecação ou divisão dos conceitos universais nas suas diferentes classes. Provavelmente, esta foi uma das razões que Platão comparou a Medicina à Filosofia, ambas como paidéia, baseado no caráter normativo de ambas: elaboração das normas para conservação da saúde no homem e na mulher. Esse conjunto da produção médica, principalmente dos séculos IV e III a.c., contribuiu para que Platão reconhecesse as três virtudes do corpo: saúde, beleza e força, que se interligariam às quatro virtudes da alma: piedade, valentia, moderação e justiça. Esse pensamento platônico influenciou os séculos seguintes na formação do conceito da saúde física e psíquica do homem ocidental. A massagem, os remédios tirados da natureza, a prática dos esportes, a música, a dança, o teatro e os banhos coletivos
3 foram utilizados como formas de tratamento que induziam aos saberes da natureza e do homem DEUSES GREGOS E A SERPENTE NA MEDICINA Prof.Dr.HC João Bosco Botelho É necessário tentar explicar porque o Centauro Quiron foi o preceptor de Asclépio, o grande deus curador grego, de Jason e Dionísio. É provável que tenha existido razão no pensamento mítico grego para justificar a ligação entre as qualidades necessárias para exercer a prática médica, encontradas em Asclépio, com a epopéia épica do Velo de Ouro, de Jason, e com o conhecimento dos mistérios da religião e da vegetação de Dionísio. Apesar de tratarem-se de pontos aparentemente discrepantes e sem qualquer relação entre eles, é possível estabelecer o elo coerente a partir da compreensão de como era a prática médica naquela época. O entendimento fica mais fácil se aderirmos à medicina aos dois cortes epistemológicos: o pensamento celular, a micrologia (microscópio ótico), e o pensamento molecular, a ultra-microscopia (microscópio eletrônico). Dessa forma, sem esses conhecimentos, a ação médica atual ficaria desprovida dos principais suportes para identificar as doenças e os objetivos da prática ficariam intransponíveis. Para o exercício da prática médica sem o apoio da micrologia (biopsia) e da genética torna-se necessário possuir a
4 determinação de Jason em vender incríveis obstáculos e o conhecimento da vegetação e da religião de Dionísio. Talvez tenham sido essas as bases complexas das relações do centauro Quiron, com Asclépio, Jason e Dionísio. Para os gregos daquela época o deus Asclépio deificava a medicina na mitologia: era celebrado em grandes festas públicas, no dia 18 de outubro, data em que o cristianismo estabeleceu como o dia do nascimento de Lucas, o Evangelista médico, e, até hoje, se comemora o dia do médico no Ocidente. Asclépio conquistou uma fama inimaginável tinha delicadeza do tocador de harpa e a habilidade agressivo do cirurgião. Todos os doentes que não obtinham cura em outros lugares, procuravam os serviços médicos desse deus. Mais cirurgião do que médico, ele criou as tiras as ligaduras e as tentas para drenar as feridas. Chegou a ressuscitar os mortos e, imediatamente, foi morto por Zeus, com os raios dos Cíclopes. Zeus matou Asclépio por temer que a ordem do mundo fosse transtornada. Asclépio deixou duas filhas, Hígia e Panacéia, a primeira celebrada como a deusa da medicina e a Segunda, curava todos os doentes com os segredos das plantas medicinais. Além delas, teve dois filhos, Macaão e Podalírio, médicos guerreiros, que se destacaram na guerra de Tróia. Existem muitas comprovações arqueológicas das dádivas de agradecimentos dos doentes à Asclépio. No hospital de Epidauro, na ilha de Cós, na Grécia, foram encontradas várias esculturas com o nome do doente a descrição da doente e da cura obtida. Esses objetos artísticos simbolizando Asclépio, datados entre os séculos 6 e 2 a.c, contém a serpente enrolada no bastão. A relação entre a serpente e a medicina já estava presente na civilização babilônica, dez séculos antes da formação da polis grega. No Louvre, existe um vaso de cerâmica encontrado na região de Lagash, representando o deus da cura babilônico
5 Ningishzida segurando um bastão com duas serpentes entrelaçadas É possível compreender a relação da medicina com a serpente sob dois aspectos míticos: pode viver em cima e embaixo da terra e tem a capacidade de mudar a pele, de tempos em tempos, encenando o renascimento. A última interpretação está relatada no Rig Veda (1.79,1), no qual os Adityas são descritos como os descendentes das serpentes e ao perderem a pele velha, eles venceram a morte e adquiriram a imortalidade.
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