INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA PARA GESTÃO DE PROPRIEDADES RURAIS
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- Rachel Vilaverde César
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1 INDICADORES DE SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA PARA GESTÃO DE PROPRIEDADES RURAIS BIS, Caroline 1 ; CAMERA, Raquel Lorenzoni 2 ; MERA, Claudia Maria Prudêncio de 3 Resumo A presente análise foi desenvolvida para verificar os indicadores econômicos na propriedade rural localizada no Alto do Jacuí/RS com uma família composta por três pessoas. Foram realizadas visitas na propriedade para coleta de dados referentes ao investimento, os custos fixos e variáveis, receita, e todo processo da sua cultura, a soja. O estudo seguiu todos os passos e procedimentos metodológicos previstos na área da elaboração e análise de indicadores econômicos para gestão das propriedades rurais, trazendo se forma simples e de fácil entendimento ao produtor seus resultados. Foi possível perceber através das análises realizadas que a produção apresentou resultados positivos, pode - se concluir que a produção do grão é viável do ponto de vista econômico e financeiro, apresentando por sua vez uma boa rentabilidade sobre o capital investido. Palavras-chave: Propriedade Rural - Indicadores Econômicos - Gestão da Propriedade Abstract This analysis was designed to verify the economic indicators in rural property located in Upper Jacuí with a family consisting of three persons. Visits the property to collect data on investment, fixed and variable costs, revenues, and the whole process of their culture, soybeans were performed. The study followed all the steps and methodological procedures provided in the area of preparation and analysis of economic indicators for management of rural properties, bringing it simple and easy to understand their results to the producer. It could be observed through the analyzes that production had positive results, may - be concluded that the production of grain is viable economically and financially, in turn presenting a good return on invested capital. Keywords: Rural Property - Economic Indicators - Property Management 1 Contadora, Pós-Graduada em Auditoria, Controladoria e Perícia, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural, da Universidade de Cruz Alta - UNICRUZ. carolineobis@bol.com.br 2 Engenheira Ambiental e Engenheira de Segurança do Trabalho, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural, da Universidade de Cruz Alta UNICRUZ. raquecamera@bol.com.br. 3 Economista, docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento Rural, da Universidade de Cruz Alta UNICRUZ. cmera@unicruz.edu.br
2 Introdução As dificuldades que os produtores rurais apresentam referente à suas decisões para o desenvolvimento da propriedade, são muitas, e torna-se muito mais difícil tomar decisões acertadas, se os mesmos estiverem desprovidos de qualquer tipo de informação de sua situação financeira. Com o esforço de uma safra, sempre se espera cobrir os custos e ainda obter lucro, mas nem sempre esta é uma premissa verdadeira (RATKO, 2009). Ainda segundo autor, é comum, na maioria das propriedades rurais, o abandono dos registros contábeis, as informações são guardadas apenas na memoria, não sendo registrado fatos que são de extrema importância para a correta compreensão dos resultados, e que no decorrer do tempo, são esquecidos e deixados de serem computados na hora de comercialização de seus produtos, ou até mesmo na hora de projetar novos investimentos. Assim muitos produtores ficam desprovidos de condições que mensurem os resultados, sem a possibilidade de verificar quais praticas oferecem maior margem no retorno financeiro ou onde os custos de produção deveriam ser minimizados (RATKO, 2008). A gestão financeira (contabilidade rural) tem a finalidade de orientar as operações agrícolas e pecuárias, medir e controlar o desempenho econômico financeiro da propriedade e de cada atividade produtiva, apoiar as tomadas de decisões no planejamento da produção, das vendas e investimentos, auxiliar nas projeções de fluxos de caixas, permitir comparações a desempenho da propriedade com outras, condizer as despesas pessoais do proprietário e de sua família, justificar a liquidez e a capacidade de pagamento junto aos credores, servir de base para seguros, arrendamentos e outros contratos e gerar informações para a declaração de imposto de renda (CREPALDI, 2004). No entanto, de acordo com Canzini (2001), vários são os fatores limitantes ao desenvolvimento da gestão rural no Brasil, entre eles, está à dificuldade de compreensão do quadro teórico e metodológico do processo de gestão rural, tanto por parte dos produtores como por parte dos profissionais que trabalham com assistência técnica e extensão rural. Além disso, desconfiança, por parte dos produtores e até dos técnicos, quanto à necessidade e a eficácia de se usar um processo de gestão mais acurado, envolvendo, por exemplo, o planejamento formal para ações de longo prazo ou o controle individualizado do fluxo de caixa das atividades existentes, gerando dificuldades para gerar e interpretar as informações relevantes ao processo decisório.
3 Dentro deste contexto este estudo objetiva sugerir o uso de indicadores de controle em propriedades rurais, demonstrando que o uso destas ferramentas é simples e de fácil aplicação, contribuindo para o desenvolvimento econômico da propriedade rural. Metodologia e/ou material e métodos Para alcançar os objetivos deste estudo, realizou-se uma pesquisa descritiva, com dados qualitativos e através de estudo de caso. A pesquisa foi realizada em uma propriedade da região noroeste do Alto Jacuí/RS, localizada no município de Ibirubá. que possui 101 hectares, onde 74,07 hectares são áreas cultivadas, 9,08 não estão em produção ou sem cultivo, permanecem limpas, apresenta 15,12 hectares área de mato e o restante área corresponde a sede, conforme a Figura 01. Figura 01: Demarcação da propriedade estudada. A seleção da propriedade deu-se em função da disponibilidade do produtor em fornecer as informações necessárias a pesquisa. Sendo necessário coletar informações como toda a movimentação econômico-financeira, como aquisição de insumos, preparação do solo, plantação e colheita da soja. O levantamento foi do período de Outubro 2013 à Março de 2014, período este que ocorre todas as fases do cultivo da soja.
4 Resultados e discussões Neste item serão discutidos os investimentos, custo de produção, balanço patrimonial e indicadores de balanço que irão possibilitar ao produtor uma visão da situação financeira da sua atividade rural. Investimentos A adoção para um sistema de produção de soja requer a realização de determinados investimentos de capital em ativos e agentes produtivos duráveis. Para produzir o grão em 74,07 hectares, o montante de capital dimensionado foi de R$ ,00 distribuídos entre a construção de galpão, casa, veículo e equipamentos necessários para a plantação conforme podemos observar no Quadro 1. Quadro 1 - Investimentos de capital para o cultivo de soja. Itens de Investimento Unidade Quant. Valor (R$) EDIFICAÇÕES Galpão un ,00 Casa de Alvenaria un ,00 Cerca de Arames un ,00 TOTAL ,00 MÁQUINAS Plantadeira un ,00 Colheitadeira un ,00 Pulverizador un ,00 Trator un ,00 Camionete un ,00 TOTAL ,00 TOTAL (1+2) ,00 Custos de Produção Segundo Martins (2003), custo é todo o gasto relativo à bem ou serviço utilizado na produção de outros bens e serviços. O custo é também um gasto, só que reconhecido como tal, isto é, como um custo, no momento da utilização dos fatores de produção (bens e serviços), para a fabricação de um produto ou execução de um serviço.
5 No Quadro 2, demostra-se os custos variáveis para a produção de soja em 74,07 hectares cultivados. A análise foi elaborada por hectare, onde o produtor tem um custo de R$ 1.099,50 ha, totalizando R$ ,00 para o cultivo. Destes custos 71,26% são referentes aos insumos e 28,74% representam custos com prestação de serviços. Além destes custos de produção considera-se também a despesa de comercialização com o Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural - FUNRURAL, pago sobre o volume vendido, representando um gasto de R$ 4.755,24. Quadro 2- Custos variáveis para produção de soja em 74,07 ha no município de Ibirubá-RS, na safra de 2013/2014. SOJA AT Qtde Valor Unit. Valor Total % Produtividade NA ,10 186,00 16,92 Derosal Plus 0,12 45,00 5,40 0,49 Gaucho 0,05 245,00 12,25 1, ,10 330,00 30,01 Adubo Foliar 0,1 95,00 9,50 0,86 Glifosato (dessec.) 2,5 11,50 28,75 2,61 Glifosato (2 x) 5 11,50 57,50 5,23 Sphere Max (1º aplic.) 0,15 215,00 32,25 2,93 Sphere Max (2º aplic.) 0,15 215,00 32,25 2,93 Sphere Max (3ª apl.) 0,15 215,00 32,25 2,93 Esp. Ades. Áureo 0,45 9,00 4,05 0,37 Esp. Ades. Áureo 0,45 9,00 4,05 0,37 Esp. Ades. Áureo 0,45 9,00 4,05 0,37 Connect 0,7 40,00 28,00 2,55 Certero (2 x ) 0,1 172,00 17,20 1,56 Total Insumos 783,50 71,26 Dessecação (2x) 0,4 50,00 20,00 1,82
6 Semeadura 1,2 80,00 96,00 8,73 Aplic. Defensivos (2x) 0,4 50,00 20,00 1,82 Colheita 1,2 150,00 180,00 16,37 Total Serviços 316,00 28,74 TOTAL 1.099, Neste estudo, para o cálculo dos custos fixos que a propriedade tem com o Prólabore, foi considerado o salário regional agrícola sugerido pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG que é de R$ 933,36, o número de pessoas residentes na propriedade (03 pessoas) e o período dedicado a produção de soja, totalizando R$ ,48. Considera-se ainda, como custo fixo o Imposto Territorial Rural - ITR que foi de R$ 1.131,20, e a depreciação representando um custo de R$ ,50. Os custos fixos para a produção de soja no período estudado foram de R$ ,10. Após registrados os custos de produção e despesas que totalizaram R$ ,34 e considerando-se uma receita de R$ ,00, o produtor teve um lucro líquido de R$ ,66 ou R$ 1.366,59/ha, o que representa uma lucratividade de 44,66%. Os custos médios da produção de soja totalizaram R$ 1.693,41 por hectare e R$ 0,38 por saca de soja. Destes 64,93% representam os custos variáveis de produção, R$ 1.099,50/ha ou ainda R$ 0,25 por saca. O Quadro 3, mostra que o produtor deve produzir no mínimo 2.457,10 sacas de soja em 74,07 hectares considerando um preço de mercado de R$ 51,00 a saca, para pagar seus custos e despesas de produção, sendo que no período que se realizou o estudo a produção foi de sacas. Quadro 3 - Ponto de nivelamento para produção de soja Fórmula de cálculo: Custos e Despesas Preço de Venda P.N. = ,34 51,00 = 2.457,10
7 Balanço Patrimonial A importância do balanço patrimonial reside na visão que ele dá das aplicações de recursos feitas pela propriedade e quanto desses recursos são devidos a terceiros, evidenciando o nível de endividamento, a sua liquidez, a proporção do capital próprio e análises diversas (FEA/USP, 2010). Coletadas as informações, dados e valores na propriedade citada, permitiram gerar o balanço patrimonial (Quadro 4) como segue: Quadro 4- Balanço patrimonial para a propriedade. ATIVO PASSIVO ATIVO CIRCULANTE R$ PASSIVO CIRCULANTE R$ DISPONÍVEL BANCO DO BRASIL ,12 EMPRÉSTIMOS E FINANCIAMENTOS BANCO DO BRASIL ,00 ESTOQUES SOJA ,24 FORNECEDORES ,00 COMBUSTÍVEL 500,33 ATIVO NÃO CIRCULANTE PASSIVO NÃO CIRCULANTE IMOBILIZADO PATRIMÔNIO LÍQUIDO ,69 TERRAS ÁREA DE EXPLORAÇÃO ,00 ÁREA DE RESERVA LEGAL ,00 EDIFICAÇÕES GALPÃO ,00 CASA DE ALVENARIA ,00 CERCA DE ARAMES 9.000,00 MÁQUINAS PLANTADEIRA ,00 COLHEITADEIRA ,00 PULVERIZADOR ,00 TRATOR ,00 CAMIONETE ,00 TOTAL DO ATIVO ,69 TOTAL DO PASSIVO ,69 Analisando o Balanço Patrimonial da propriedade rural em questão, desenvolveu-se exames isolados das contas, fazendo comparações por números absolutos, números - índices, percentagens e quocientes. Os índices devem ser dispostos em ordem de importância e em sequência conclusiva racional, de modo que a interpretação também se dê nesse sentido
8 (SAVYTZKY, 2006). Dados de indicadores econômicos do balanço da propriedade rural estão demonstrados no Quadro a seguir: Quadro 5 - Indicadores econômicos do balanço patrimonial LIQUIDEZ CORRENTE ENDIVIDAMENTO Ativo circulante Fórmula de cálculo: Fórmula de cálculo: Capitais de terceiros Patrimônio líquido Passivo circulante LC = , ,00 = 1, , ,69 = 0,061 A Liquidez Corrente indica que a propriedade rural conta com R$ 1,29 em valores disponíveis e realizáveis a curto prazo, incluindo-se o estoque, para cada R$1,00 de exigibilidades também a curto prazo (SAVYTZKY,2006). O índice apresenta um bom equilíbrio ou estado financeiro, mas não de folga. Consiste em disponibilidade para pagamento de suas obrigações. Esta interpretação pode assim ser considerada, desde que as entradas e estoques ocorram normalmente, pois a irregularidade nas entradas e estoques quando significativas alteram a interpretação dos índices de liquidez. O grau de endividamento refere-se ao quanto a propriedade tomou de capitais de terceiros para cada R$ 1,00 de capital próprio investido. Nesta propriedade rural estudada nos apresenta que cada R$1,00 de capital de terceiro a empresa concorre com R$ 0,06 de capital próprio, apresentando uma folga boa na contratação de empréstimos. Como referência, o indicador deve sempre ser sempre inferior a 1,00. Quando superior, pode sugerir excesso de endividamento através de empréstimos. Este quociente é também denominado de índice de Garantia de Capitais de Terceiros (SAVYTZKY,2006). Considerações finais Ao avaliar os resultados obtidos foi possível analisar o retorno da propriedade, os custos para a produção de soja na safra 2013/2014, o balanço patrimonial, o índice de nivelamento e o índice de endividamento da propriedade, onde confirma que a situação
9 econômica financeira é satisfatória. Proporcionando ao produtor o conhecimento do seu lucro, que neste caso foi de 44,66%, sendo que necessitava produzir no mínimo 2.457,10 sacas de soja em um preço de mercado de R$ 51,00, para pagar seus custos e despesas de produção, onde obteve uma produção de sacas. Assim levando ao agricultor o quanto ele pode investir em futuras instalações, novas áreas, maquinários, entre outros. Contudo este estudo demonstra-se de forma clara a importância de uma boa gestão econômica da propriedade, onde com uma ferramenta simples pode-se ter resultados significantes. Ulrich (2009), relata que com a competitividade do mercado brasileiro e mundial exige cada vez mais que o produtor se recicle, reorganize suas estratégias contábeis, inove em suas estratégias de produção e de gerenciamento da propriedade, buscando um maior desempenho como gestor, onde consequentemente melhorará a qualidade de seus produtos, maximiza os lucros, potencializa seu crescimento e impulsiona a agroindústria brasileira. Assim a partir deste trabalho, sugerem-se novas analises de viabilidade econômica para a diversificação de atividades nesta propriedade. Referências bibliográficas CREPALDI. S. A.; Contabilidade gerencial: teoria e pratica. 3. Ed. São Paulo: Atlas, FEA/USP; Contabilidade introdutória/ equipe de professores da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP; coordenação Sérgio Iudícibus Ed. - São Paulo: Atlas, MARTINS, Eliseu. Contabilidade de custos. 9. Ed. São Paulo: Atlas, RATKO, A. T.; Contribuição da contabilidade rural para propriedade agrícola de pequeno porte. Universidade Tecnológica Federal do Paraná SAVYTZKY, Taras. Análise de balanços./ 3ª ed. (ano 2005), 2ª tir./taras Savytzky./ Curitiba: Juruá, ULRICH. E.R.; Contabilidade Rural e perspectivas da gestão no agronegócio. Revista de Administração e Ciências Contábeis do IDEAU RACI. Dezembro de 2009.
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