MÉTODO DE CUSTEIO DIRETO: APLICAÇÃO DO SISTEMA DE CUSTEIO EM UMA PROPRIEDADE RURAL PRODUTORA DE SOJA ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

Transcrição

1 MÉTODO DE CUSTEIO DIRETO: APLICAÇÃO DO SISTEMA DE CUSTEIO EM UMA PROPRIEDADE RURAL PRODUTORA DE SOJA ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL ¹MARCHI, Rogério N., ²AREND, Marcio R., ³DE GREGORI, Roberto 1. Contador da Fermaco, Materiais de construção Ltda, Bossoroca/RS, 2. Contador, membro da área de vendas da Bunge Alimentos, Santo Augusto/RS 3. Professor Unipampa/UFPel,Livramento, 1 INTRODUÇÃO A Atividade rural, como um todo, apesar dos avanços tecnológicos e da gama de informações, carece de qualidade gerencial, estando, ainda, arraigada nos processo tradicional com baixíssimo desempenho. Surge, então, um dos maiores problemas na atividade rural, a gestão custos e a qualidade das informações financeiras necessárias ao equilíbrio da saúde financeira e das atividades técnicas desenvolvidas dentro de cada sistema de produção. Assim, cabe aos profissionais responsáveis pelas práticas contábil-gerenciais buscarem formas de adequar a contabilidade as reais necessidades dos produtores rurais, sem que isto seja uma tarefa dispendiosa, e gerar relatórios contábeis que possam dar subsídios suficientes para auxiliá-los na tomada de decisões, a fim de que as empresas rurais possam ter uma administração eficiente. Diante do exposto de que as empresas do setor agrícola necessitam de controles gerenciais, tem-se como objetivo do estudo, verificar qual a estrutura de controles que a propriedade rural possui e propor modelos de relatórios para tomada de decisão. 2. CUSTEIO DIRETO Segundo MARTINS (2003) custeio variável ou direto é o processo segundo o qual apenas os custos variáveis de materiais, mão-de-obra e custos indiretos de fabricação, usados na produção do produto ou no desempenho de um serviço ou atividade, são atribuídos a estes, enquanto que os custos fixos são considerados como custos do período. Para PADOVEZE (2003) a defesa do custeio variável repousa em três argumentos principais: Os custos fixos, por sua natureza, existem independentemente da produção ou não de determinado produto, esses custos podem ser encarados como encargos necessários para que a empresa possa produzir determinado produto; A maioria dos rateios é feita através da utilização de fatores, que, na realidade, não vinculam cada custo a cada produto, com grandes graus de arbitrariedade. Neste, sentido, o custo de um produto pode variar em função da variação de quantidade produzida de outro produto.

2 Na aplicação deste relatório na propriedade do Sr. Afrânio a forma de custeio que mais se adequou foi o custeio direto, por que nesse método de custeio, os custos fixos tem o mesmo tratamento das despesas, pois são consideradas despesas do período independentemente de os produtos terem ou não sido vendidos. 3 METODOLOGIA Foi realizado um estudo de caso, que de acordo com MARTINS e LINTZ (2000), o mesmo tem por objetivo o estudo de uma unidade que se analisa profunda e intensamente, de maneira que permita o seu amplo e detalhado conhecimento. A pesquisa quanto à sua natureza é uma pesquisa aplicada, pois busca soluções de problemas específicos. Quanto a abordagem do problema é tanto quantitativo como qualitativo, quanto aos objetivos da pesquisa, foi utilizado coleta de dados como também um questionário aplicado ao Sr. Afrânio, desse modo os objetivos desta pesquisa está classificado como pesquisa descritiva-exploratória. Conforme COOPER e SCHINDLER (2003), varia desde uma simples observação de um local, até um grande levantamento em uma grande organização multinacional espalhadas por todo o mundo. O método a ser utilizado determina com esses dados serão coletados, como por exemplo, questionários, teses de observação, entrevistas, visitas, etc. Os dados foram coletados através de análises em notas fiscais de compra e venda, documentos existentes na propriedade, visitas a propriedade do Sr. Afrânio e através de um questionário no qual nos deu as respostas necessárias ao desenvolvimento do estudo. 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS A proposta inicial de investigar na prática na propriedade do Sr. Afrânio Batista Marchi, qual a sua estrutura de custo utilizando o custeio direto, bem como, propor modelos de relatórios que auxiliem o mesmo na tomada de decisão, o que possibilitou, a partir da interpretação dos dados, a obtenção de informações que podem nortear empreendimentos deste setor de produção. Para um melhor desempenho do estudo foram coletados dados de duas áreas, uma de 32 há/própria e outra arrendada 42 há. Os dados coletados foram colocados em uma tabela que segue contendo tanto custos fixos como variáveis. Nos custos fixos alguns exemplos como a manutenção de máquinas é realizado de acordo com a necessidade, e os salários foram mensurados no período de novembro a abril, ou seja, do plantio até a colheita, pois o funcionário é fixo, ficando seus custos nos outros meses para ser rateado em outras culturas. Já nos custos variáveis foram utilizados uma média de 150 Kg/há de adubo, totalizando 11,1 Toneladas, já na semente foram usados 125 Kg/há totalizando 154 sacos em toda a área. Na aplicação de Glifosato, foi utilizado uma dosagem de 2 L/há, totalizando 148 litros, foram efetuadas duas aplicações, uma pré-emergente e outra pós-emergente, por se tratar de uma variedade de soja tangênica, não se faz necessário a aplicação de herbicidas. Em sua área própria o Sr. Afrânio fechou com uma média de 21 sc/há com uma rentabilidade de R$ 504,00 e na área arrendada 19 sc/há com uma rentabilidade de

3 R$ 456,00. Nota-se que o arrendamento se torna um custo bem elevado, pois não havendo produção, ou até mesmo quebra de produção, este custo é fixo e inalterável, então sugere-se ao produtor que seja repensado o investimento em áreas arrendadas. Tabela 1 Custos de Produção CUSTOS DE PRODUÇÃO Descrição R$ / unid Área Própria 32 há Área Arrendada 42 há Quant. R$ / há Quant. R$ / há Arrenadamento R$ R$ Adubo ( Ton ) R$ R$ R$ Adubo R$ R$ R$ Semente ( sc ) R$ R$ R$ Soja - semente Anta 8080 R$ R$ R$ Dessecação ( Lt ) R$ R$ R$ aplicação Glifosato R$ R$ R$ aplicação Glifosato R$ R$ R$ Fungicida ( Lt ) R$ R$ R$ 8.00 Aplicação Methaminofós R$ R$ R$ 8.00 Inseticida ( Lt ) R$ R$ R$ Aplicação Talcord R$ R$ R$ Aplicação Dimilim R$ R$ R$ Serviços mecânicos (h/m - diesel ) R$ R$ R$ Dessecação R$ R$ R$ 5.43 Plantio R$ R$ R$ Aplicação defensivos R$ R$ R$ 8.14 Colheita R$ R$ R$ Transporte R$ R$ R$ 1.09 Manutenção máquinas R$ R$ R evisão máquinas R$ R$ Folha de pagamento R$ R$ Salários e ordenados ( nov. a abr. ) R$ R$ TOTAL R$ R$ Fonte: Os autores (2006) Já na Tabela 2 a demonstração do resultado pelo custeio variável obtém-se então a margem de contribuição que é a diferença entre a receita e os custos e despesas variáveis. O custo fixo de produção e as despesas fixas, fatores de complexidade de alocação aos produtos, pertencem a propriedade. A análise por esse método concentra-se na avaliação da capacidade do produto vendido contribuir individualmente para a cobertura dos custos fixos e despesas fixas, através da margem de contribuição que eventualmente em virtude da frustração de safra ficou negativo trazendo um prejuízo no período.

4 Tabela 2 - Margem de contribuição e resultado líquido MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO E RESULTADO LÍQUIDO ÁREA PRÓPRIA ( 32 há ) ÁREA ARRENDADA ( 42 HÁ ) Quantidade (sc ) Preço de venda R$ R$ Receita total R$ R$ Custos / Despesas variáveis R$ R$ (=) Margem de contribuição líquida -R$ R$ (-) Custos / Despesas fixas R$ R$ (=) Resultado Líquido -R$ R$ Fonte: os autores (2006) Nessas condições, para haver um equilíbrio na atividade o produtor necessitaria vender o seu produto obtido na área própria a um preço de R$ 26,60 e na área arrendada a um valor de R$ 35,98. Verifica-se então, que só de arrendamento o produtor paga R$ 9,37, reforçando assim a análise mais detalhada de investimento em uma área arrendada. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O município de Bossoroca sofreu mais um ano com a estiagem, o que dificultou o desenvolvimento das lavouras na fase de enchimento dos grãos, resultando numa produção média do município entre 15 a 20 sc/há. A propriedade estudada fechou uma média de 19 sc/há em sua área arrendada e 21 sc/há na área própria. Os fatores que culminaram este baixo desempenho deve-se além do clima desfavorável, ao o preço da oleaginosa, que baseado no mercado externo teve uma queda considerável por causa da baixa cotação do dólar. Um exemplo disto é que na época do plantio, utilizou-se para o cálculo um dólar com cotação em torno de R$ 2,80 a R$ 3,00, e com os preços da soja fixados entre R$30,00 a R$35,00, tendo a região com uma produção média histórica de aproximadamente de 30 sc/há. Com esses números, os produtores poderiam recuperar os últimos dois anos de quebra de safra já ocorridos na região. Finalizando, já na construção dos dados notou-se que uma das principais dificuldades encontradas pelo dono da propriedade é a falta de uma ferramenta precisa onde se possa levantar com mais precisão os custos e resultados na safra. Assim é indispensável a adoção de um sistema de relatórios gerenciais, que seja adaptado às variáveis do ambiente e às peculiaridades da propriedade rural. 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COOPER, R. D.; SCHINDLER, P. S. Métodos de Pesquisa em Administração. 7ª ed. São Paulo: Bookman, MARTINS, G. A; LINTZ, A Guia para elaboração de monografias e trabalhos de conclusão de curso. São Paulo: Atlas, MARTINS, E. Contabilidade de custos. 9ª ed. São Paulo: Atlas 2003.

5 PADOVEZE, C. L. Contabilidade gerencial. 3ª ed. São Paulo: Atlas 2000.