Matéria: literatura Assunto: modernismo - jorge amado Prof. IBIRÁ
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- Luzia Carneiro Leão
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1 Matéria: literatura Assunto: modernismo - jorge amado Prof. IBIRÁ
2 Literatura JORGE AMADO ( ) Vida: Nasceu em uma fazenda na cidade de Itabuna, filho de um coronel que experimentou simultaneamente a riqueza e a pobreza e que viveu as lutas pela posse da terra para o plantio do cacau, mais tarde retratadas pelo escritor. A família mudou-se em seguida para Ilhéus. Em 1923, com 11 anos, Jorge foi matriculado como interno no colégio Antônio Vieira, dos jesuítas, em Salvador de onde fugiu três anos depois, atravessando todo o sertão baiano em uma grande aventura. Terminou os estudos secundários no colégio Ipiranga e ingressou na faculdade de Direito no Rio de Janeiro, no ano de Nesta mesma década, vinculou-se ao partido Comunista, tornando-se nos anos subsequentes uma espécie de porta-voz artístico do mesmo. Em 1936 esteve dois meses preso por suspeita de participação na intentona comunista. Em 1937, a proibição e queima pela polícia do romance Capitães de areia transformou-o no escritor mais conhecido no Brasil. O sucesso de suas obras estendeu-se rapidamente por outros países. Durante o Estado Novo, Jorge Amado viajou por toda a América Latina e pelos Estados Unidos e foi preso várias vezes. Entre 1941 e 1942 viveu em Buenos Aires e Montevidéu. Voltou para Salvador, lá permanecendo de 1943 a Neste último ano, já em São Paulo, casou-se com Zélia Gattai. Em 1946, com a redemocratização foi eleito deputado federal pelo P.C.B, recebendo expressiva votação em São Paulo. Como o partido foi declarado ilegal, seu mandato foi cassado em Em 1951, ganhou o prêmio Stálin de Literatura com Seara vermelha. Viajou o mundo inteiro, muitas vezes na companhia de Pablo Neruda, outro intelectual comunista. A publicação de Gabriela, cravo e canela, em 1958, representou uma mudança estético-ideológica em sua obra. A partir de então viveu basicamente em Salvador, passando, no entanto, longas temporadas no exterior. Consolidou-se como o escritor brasileiro mais traduzido e que mais vendeu livros em todos os tempos. Obras principais: I FASE O país do carnaval (1931); Cacau (1933); Suor (1934); Jubiabá (1935); Mar morto (1936); Capitães de areia (1937); Terras do sem fim (1943); São Jorge dos Ilhéus (1944); Seara vermelha (1946); Os subterrâneos da liberdade (1954). II FASE Gabriela, cravo e canela (1958); Os velhos marinheiros (1961); Os pastores da noite (1964); Dona Flor e seus dois maridos (1966); Tenda dos milagres (1969); Tereza Batista cansada de guerra (1972); Tieta do Agreste (1977); Farda, fardão, camisola de dormir (1979); Tocaia Grande (1984); O sumiço da santa (1988); A descoberta da América pelos turcos (1994). Outras obras: ABC de Castro Alves (biografia,1941); O cavaleiro da esperança (biografia,1942); Navegação de cabotagem (memórias, 1992). 2
3 Literatura Prof. Ibirá Costa 1ª Fase Estas narrativas caracterizam-se pela: a) Presença dominante de personagens populares. Já m Cacau, onde fixaria a vida dos trabalhadores nas plantações de cacau, no sul da Bahia, o autor advertia estar criando um romance proletário. Em Suor, trabalhadores e marginais ( limpem ) se organizam. O negro Balduíno exige dignidade e justiça no porto da Bahia, em Jubiabá o soldado vira comunista, em Seara Vermelha, romance sertanejo de Jorge Amado; b) Forte sentido político. Conscientizados da opressão de que vítimas, marginais e trabalhadores passam para a ação política; c) Esquematismo psicológico: os trabalhadores portam o bem; proprietários rurais e burgueses sempre são vilões; d) Linguagens naturalistas, temperadas por imagens de duvidoso romantismo. Exceção na primeira fase é Terras do Sem Fim. Eliminando o panfletarismo e o esquematismo psicológico, Jorge Amado construiu um belo texto sobre a vida dos fazendeiros do cacau, os coronéis, pela posse das terras ainda devolutas no sul baiano. O conflito sintetizado na violência entre duas famílias oligárquicas, a Badaró e a Silveira, confere ao livro um sopro quase épico. O ROMANCE PROLETÁRIO É como legítimo «engenheiro de almas» que o jovem ficcionista, a partir de Cacau, estabelece um modelo de estrutura narrativa repetida em quase toda a sua primeira fase: a) O herói, oriundo das camadas populares, deve ter sempre um caráter positivo, ou seja, precisa apresentar uma postura reivindicatória ou revolucionária. Porém, no início dos relatos, ele invariavelmente, encontra-se em estado de alienação de sua própria miséria, desconhecendo-lhe as causas. b) No transcorrer da ação, o herói adquire consciência da opressão que o vitima. Os opressores serão genericamente o latifundiário, o burguês e o agente do imperialismo ianque. (Com isso, o autor estabelece uma esquematização psicológica caricatural: os trabalhadores são necessariamente generosos e justos, enquanto os ricos sempre são pérfidos e exploradores). c) A partir da conscientização dos males sociais que o afligem, o herói parte para a ação política e, no caso de São Jorge dos Ilhéus e Seara Vermelha, para uma explícita ação ideológico-partidária, conforme os preceitos do partido Comunista. 2ª Fase A partir de Gabriela, os romances mudam as características: a) Destruição do panfletarismo; b) Uma ironia debochada; c) A utilização de elementos da cultura afro-brasileira e do folclore popular; d) Uma nova visão sobre as camadas populares. Vistas antes como miseráveis só através de uma ordem socialista suas vidas melhorariam. Agora, ao contrário, são exaltadas dentro 3
4 do sistema, como as últimas depositárias da liberdade humana da capacidade de viver a existência sem preconceitos e acabam sendo felizes na medida exata do seu marginalismo. e) Personagens vindos do povo, como já ocorria na 1ª fase, continuarão sendo o eixo básico de suas ficções. Basta lembrar Tieta do Agreste, Tereza Batista e Dona Flor. Só que agora sob outra perspectiva. Estes personagens não são mais os promotores da ordem socialista e sim os representantes da única classe capaz de assumir as agruras da vida com fibra, alegria, autenticidade e solidariedade. São também os últimos depositários da liberdade humana. Portanto, há nestes romances uma louvação quase anarquista do individualismo popular. f) O principal enfrentamento desses indivíduos é contra os valores morais arcaicos, os preconceitos sociais e raciais, a hipocrisia sexual, o fanatismo e a presunção, sobretudo da pequena burguesia. Ao assumir os seus dois maridos (o vivo e o morto), Dona Flor, em 1966, traduz, a exemplo de Gabriela, a abertura de comportamento que estava em curso no Brasil. g) O esforço pela liberação dos instintos e pelo triunfo do amor livre e espontâneo dá-se, antes de tudo, com mulheres, muitas das quais prostitutas (Tieta do Agreste e Tereza Batista). Como já ocorrera na 1ª Fase, essas personagens primitivas, desenhadas com dois ou três traços básicos, são as mais duradouras do escritor. h) Todos os relatos de 2ª fase apresentam uma perspectiva humorística da realidade. O riso nos é mostrado como uma forma de resistência popular. Entretanto, em certas obras, como Tocaia Grande, (retorno do autor à sociedade cacaueira), a pretendida dimensão épica é corrompida pelo próprio humor grosseiro, já que o romance não se define entre a seriedade e o deboche. i) Jorge Amado continua utilizando elementos do folclore e da tradição religiosa negra. A mitologia dos candomblés é valorizada. Em Tenda dos milagres, exalta-se a luta de Pedro Arcanjo pela defesa desses valores quando os mesmos eram uma questão de polícia. Em certos romances, como Tereza Batista, até entidades míticas aparecem para lutar ao lado do povo. j) Depois da publicação do ainda interessante Tereza Batista cansada de guerra, em 1972, o autor começou a dar sinais de esgotamento. A obscenidade libertadora das obras anteriores - frente à profunda revolução sexual da década - transformava-se pouco a pouco em pornografia. Tanto o universo cacaueiro quanto o de Salvador estavam exauridos em seu valor documental. Além disso, o estilo irreverente e preciso de Gabriela e de Os velhos marinheiros modificava--se para pior, sobrecarregado pelo excesso, pelo descuido e por uma ironia cada vez mais rasteira. Assim, as narrativas dos anos 70 e 80, pouco ou nada acrescentaram à carreira de Jorge Amado. O romance de maior sucesso da 2ª fase, Gabriela, cravo e canela, tem sua ambientação em Ilhéus, década de 20, época do progresso e cimentação da sociedade cacaueira e se constitui uma fluente crônica de costumes. Das narrativas mais recentes, sobressai-se Os velhos marinheiros. Dividida em duas novelas, uma delas é considerada uma verdadeira obra-prima de deboche ao mundo pequeno burguês: A morte e a morte de Quincas Berro D Água, os demais romances que se seguiram, invariavelmente caíram no apimentado superficial, no folclórico e no pitoresco, ainda que momentos narrativos de Dona Flor, Tereza Batista e Tenda dos Milagres mostrem a sobrevivência de um escritor talentoso em meio a tanta prolixidade e macumba para turistas. Em Tocaia Grande, Amado voltou a temática dos tempos heroicos e bárbaros de formação da sociedade cacaueira. Apesar do descuido formal, a narrativa tem certa força dramática, lembrando Terras do Sem Fim. 4
5 Literatura Prof. Ibirá Costa Bibliografia de Literatura BOSI, Alfredo História Concisa da Literatura Brasileira, 40.ª ed., S. Paulo, Cultrix, CANDIDO, Antonio Formação da Literatura Brasileira, 7.ª ed., 2 vols., Belo Horizonte / Rio de Janeiro, Itatiaia, CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. Momentos decisivos. 10ª ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, CARPEAUX, Otto Maria Pequena Bibliografia Crítica da Literatura Brasileira, nova ed., Rio de Janeiro, Ed. do Ouro, CASTRO, Sílvio História da Literatura Brasileira, 3 vols., Lisboa, Publicações Alfa, COUTINHO, Afrânio A Literatura no Brasil, 5ª ed.,6 vols., S. Paulo, Global, GONZAGA, Sergius Curso de Literatura Brasileira, 1ª ed, Porto Alegre, Leitura XXI, JUNQUEIRA, Ivan Escolas Literárias no Brasil, Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras,2004. MOISÉS, Massaud História da Literatura Brasileira, 3 vols., S. Paulo, Cultrix, MOISÉS, Massaud A Literatura Brasileira Através dos Textos, 19.ª ed., S. Paulo, Cultrix, NICOLA, José de Painel da Literatura em Língua Portuguesa, 2ª ed, S. Paulo, Scipione, PICCHIO, Luciana Stegagno História da Literatura Brasileira, 2ª ed., Rio de Janeiro, Lacerda Editores, PROENÇA, Domício Estilos de Época na Literatura, 5.ª ed., S. Paulo, Ática, VERÍSSIMO, José História da Literatura Brasileira: de Bento Teixeira (1601) a Machado de Assis (1908), 7ª ed., Rio de Janeiro: Topbooks, Bibliografia de Música e Artes Plásticas ACQUARONE, Francisco. Mestres da Pintura no Brasil, Editora Paulo Azevedo, Rio de Janeiro, s/d. BARDI, Pietro Maria. História da Arte Brasileira, Editora Melhoramentos, São Paulo, CASTRO, Sílvio Rangel de. A Arte no Brasil: Pintura e Escultura, Leite Ribeiro, Rio de Janeiro, DAMASCENO, Athos. Artes Plásticas no Rio Grande do Sul, Editora Globo, Porto Alegre, SEVERIANO, Jairo Uma História da Música Popular Brasileira, 3ª Ed., Editora 34,
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