RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº / DF

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1 Procuradoria Geral da República Nº 8809 RJMB / pc RECURSO EXTRAORDINÁRIO Nº / DF RELATOR : Ministro CELSO DE MELLO RECORRENTE : Distrito Federal RECORRIDO : Wilson de Souza Oliveira RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ PERMANENTE POR ACIDENTE DE TRABALHO. CF, ART. 40, 1º, I: PROVENTOS INTEGRAIS. EXCEÇÃO À NOVA FORMA DE CÁLCULO INTRODUZIDA PELA EC Nº 41/2003 (CF, ART. 40, 2º E 3º) E REGULAMENTADA PELA LEI Nº / A EC 41/03 alterou a fórmula de cálculo dos proventos de aposentadoria dos servidores públicos, não mais aferidos pela totalidade da remuneração do cargo em que se der a aposentadoria, mas a partir das remunerações utilizadas como base para as contribuições do servidor. CF, art. 40, 3º, e Lei nº /04, art. 1º. 2. A forma de cálculo dos proventos de aposentadoria ditada pelo 3º do art. 40 da CF (com a redação da EC 41/03) e regulamentada pelo art. 1º da Lei /04, diz respeito à regra geral do cálculo dos proventos, não alcançando a exceção contida no inc. I do 1º do art. 40 da CF, no que concerne aos proventos integrais para aqueles que se aposentarem por invalidez permanente decorrente de acidente em serviço. 3. O Supremo Tribunal Federal possui firme jurisprudência no sentido de serem devidos os proventos integrais no caso de aposentadoria por invalidez permanente decorrente de acidente em serviço, tanto sob a égide da EC nº 20/1998 quanto da EC nº 41/2003. Precedentes. 4. Parecer pelo desprovimento do recurso extraordinário. Trata-se de recurso extraordinário interposto pelo Distrito Federal, com fundamento no art. 102, III, a, da CF, contra o acórdão proferido pela Quinta Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (fls ), assim ementado: Procuradoria Geral da República SAF Sul Quadra 4 Lote 3 CEP Brasília/DF

2 CONSTITUCIONAL ADMINISTRATIVO PROCESSO CIVIL JULGAMENTO EXTRA PETITA APOSENTADORIA INTEGRAL POR INVALIDEZ PERMANENTE APÓS A EDIÇÃO DA EMENDA CONSTITUCIIONAL 41/2003, DE 31 DE DEZEMBRO DE 2003 PROVENTOS INTEGRAIS ACIDENTE DE TRABALHO IN ITINERE HONORÁRIOS RAZOABILIDADE. 1. Não há se falar em julgamento extra petita quando o juiz julga nos exatos limites do pedido, aplicando as normas e princípios constantes do ordenamento jurídico positivo e solucionando a lide em conformidade com o seu convencimento, tendo o magistrado se limitado a proferir decisão nos limites do pedido, guardando, portanto, congruência com o pedido consignado na petição inicial. 2. Restando comprovado que o acidente sofrido pelo autor ocorreu no percurso entre o local de trabalho e sua residência, in itinere, portanto, quando o mesmo teve uma queda no momento em que se utilizava de transporte coletivo, resta configurado o acidente laboral, nos termos do Art. 212, II, da Lei nº 8112/90, segundo o qual 'configura acidente em serviço o dano físico ou mental sofrido pelo servidor, que se relacione, mediata ou imediatamente, com as atribuições do cargo exercido. Parágrafo único. Equipara-se ao acidente em serviço o dano: I - omissis; II - sofrido no percurso da residência para o trabalho e vice-versa' (sic), tendo assim concluído sindicância realizada pela Administração (a relação do acidente sofrido com a invalidez permanente do apelado). 3. Neste caso e agora na dicção do art. 186 do mesmo diploma legal, "o servidor será aposentado: I - por invalidez permanente, sendo os proventos integrais quando decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificada em lei, e proporcionais nos demais casos". 3.1 É dizer ainda: "art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. I - por invalidez permanente, sendo os proventos proporcionais ao tempo de contribuição, exceto se decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, na forma da lei" (CF/88). 4. A Lei nº /04, a qual trata da aplicação das disposições da Emenda Constitucional nº 41, de 19 de dezembro de 2003, não dispôs sobre a exceção da aposentadoria por invalidez permanente causada por acidente de trabalho. 4.1 Assim, aplicável é a regra pretérita, do artigo 186, inciso I, da Lei nº 8.112/1990 e da Emenda Constitucional nº 20/1998, atribuindose ao servidor o direito à aposentação por invalidez permanente com proventos integrais. 5. Precedentes da Casa. 5.1 "A Lei /04, tratando sobre a aplicabilidade de dispositivos da EC 41/2003, nada dispôs sobre a aposentadoria por invalidez. Logo, incide a Lei 8.112/90, cujo diploma prevê a integralidade de 2

3 proventos em caso de doença grave listada no 1º do art. 186" (in ( APC, Rel. Romeu Gonzaga Neiva, DJ 07/01/2010). 5.2 "A Lei /04, que regulou a aplicação da EC 41/2003, ficou silente no que diz respeito à fórmula de cálculo na aposentadoria por invalidez permanente, tratando somente dos critérios relacionados à aposentadoria por tempo de contribuição, cuja utilização é inviabilizada nas situações em que o indivíduo se aposenta por não ter mais condições, físicas ou psíquicas, de exercer a atividade pública. Desse modo, em face da ausência de norma posterior à aludida emenda constitucional disciplinando a matéria, aplica-se o disposto na Lei 8.112/90, que garante proventos integrais ao aposentado por invalidez em decorrência de moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável, especificada em lei." ( APC, Rel. Lecir Manoel da Luz, DJ 15/03/2010 p. 125). 6. Razoável é o arbitramento de honorários advocatícios de forma equitativa, adequando-se ao mandamento inserto no 4º, do artigo 20, do Código de Processo Civil. RECURSO IMPROVIDO. O Tribunal a quo decidiu que o servidor público aposentado por invalidez decorrente de acidente de trabalho faz jus aos proventos integrais, ainda quando a aposentado na vigência da EC nº 41/2003. Os embargos de declaração foram rejeitados. (Fls ) O recurso extraordinário, com preliminar formal e fundamentada de repercussão geral, aponta violação ao art. 40, 1º e 3º, da CF (com a redação da EC nº 41/2003), ao argumento de ser indevida a concessão dos proventos integrais ao servidor que se aposentou por invalidez permanente decorrente de acidente de trabalho após o advento da EC nº 41/2003, dada a alteração da forma de cálculo dos proventos de aposentadoria, que não mais considera a última remuneração do cargo, mas sim as remunerações sobre as quais incidiram contribuição previdenciária. Recurso tempestivo. Contrarrazões às fls Juízo positivo de admissibilidade às fls Em síntese, os fatos de interesse. A questão relativa ao direito do servidor público aposentado por invalidez permanente decorrente de acidente de trabalho aos proventos integrais, 3

4 consideradas as alterações na forma de cálculo dos proventos de aposentadoria operadas pela EC nº 41/03, é matéria dotada de relevância social e econômica que ultrapassa os interesses subjetivos das partes, motivo pelo qual se impõe o reconhecimento da repercussão geral do tema constitucional. 1 Passo ao exame da questão constitucional. O Supremo Tribunal Federal firmou jurisprudência no sentido de serem devidos os proventos integrais no caso de aposentadoria por invalidez permanente decorrente de acidente em serviço tanto sob a vigência da EC 20/98 quanto da EC 41/03. É que a forma de cálculo dos proventos ditada pela EC nº 41/03 e regulamentada pelo art. 1º da Lei /04 trata da regra geral de cálculo dos proventos de aposentadoria, o que não afasta as exceções do inciso I do 1º do art. 40 da CF (aposentadoria por invalidez permanente decorrente de acidente em serviço, moléstia profissional ou doença grave, contagiosa ou incurável), para as quais o texto constitucional, mesmo após a EC 41/03, assegurou os proventos integrais (ARE , Rel. Min. Rosa Weber, DJe de ; RE , Rel. Min. Ricardo Lewandowski, DJe de ; AI , Rel. Min. Gilmar Mendes, DJe de , inter plures ). É o que se depreende da ementa do seguinte julgado: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. PREVIDENCIÁRIO. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. ART. 40, 1º, INC. I, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, COM A ALTERAÇÃO DA EMENDA CONSTITUCIONAL 41/2003. DOENÇA PREVISTA EM LEI. INTEGRALIDADE DOS PROVENTOS. AGRAVO REGIMENTAL AO QUAL SE NEGA PROVIMENTO. (ARE AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe de ). Ademais, para se concluir pela ocorrência do acidente de serviço e das patologias que levaram à aposentadoria por invalidez antes ou após o advento da EC nº 41/2003, seria necessário o reexame de fatos e provas, 1 Não se presume a ausência de repercussão geral quando o recurso extraordinário impugnar decisão que esteja de acordo com a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (RE RG, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe de ). 4

5 providência descabida em recurso extraordinário, a teor da Súmula nº 279 do Supremo Tribunal Federal. Diante de todo o exposto, opina o Ministério Público Federal pelo desprovimento do recurso extraordinário. Brasília, 15 de maio de Rodrigo Janot Monteiro de Barros Subprocurador-Geral da República 5