Intervenção do Ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, por ocasião da abertura solene do ano letivo do Instituto Universitário Militar
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1 João Gomes Cravinho Ministro da Defesa Nacional Intervenção do Ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, por ocasião da abertura solene do ano letivo do Instituto Universitário Militar Lisboa, 13 de dezembro de 2018
2 Esta é a primeira oportunidade que tenho, enquanto Ministro da Defesa Nacional, de visitar o Instituto Universitário Militar e é com grande satisfação que me associo à abertura solene deste ano académico, num local onde passei várias semanas do meu serviço militar, naquela altura com a incumbência de traduzir de inglês para português partes de um manual de cavalaria. Tendo em conta a expressão italiana, Traduttore, traditore, ou seja, quem traduz trai, portanto resta-me esperar que o trabalho efetuado naquela altura não tenha induzido em erro os nossos oficiais de cavalaria a quem esse trabalho foi passado para efeitos operacionais. Mas virando agora para o presente, esta cerimónia permite-me realçar a importância inequívoca que a qualificação superior na área das ciências militares tem, para o Ministério da Defesa Nacional. O Instituto Universitário Militar cumpre uma função essencial no desenvolvimento de uma formação de excelência na área da defesa, o que por sua vez representa um contributo fundamental para que as nossas Forças Armadas possam ter a qualidade que queremos que elas tenham.
3 Quero também, de dar os meus parabéns a todos os premiados e graduados, hoje aqui homenageados, e deixar o meu estímulo para que outros e outras sigam este exemplo. Ultrapassaram-se já os desafios iniciais à integração da oferta formativa militar neste Instituto, e tendo em conta o espaço disponível para crescer e melhorar, parece-me que os ganhos são amplamente evidentes. Ao longo dos dois últimos anos, o Instituto tem sabido afirmar a especificidade do Ensino Superior Militar, procurando oportunidades que entendo deverem ser continuadas de integração no Sistema de Ensino Superior Português. Disso mesmo são ilustrativas as discussões com vista à inclusão do Instituto Universitário Militar no Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas. Se essa possibilidade reconhece a relevância e excelência do trabalho aqui desenvolvido, ela deve ser vista, também, como um estímulo à crescente cooperação e interligação com o restante universo do ensino superior. Uma outra área em desenvolvimento e que merece toda a nossa atenção é a cooperação com parceiros e congéneres europeias. Esta contribui para o
4 estreitamento de relações entre Portugal e os seus parceiros internacionais, através da mobilidade internacional e da captação de fundos competitivos para a investigação. Quero também fazer aqui referência à formação técnico-profissional, como mais uma área onde o Instituto tem sabido dar resposta às necessidades dos quadros militares portugueses, através da criação da Unidade Politécnica Militar. Esta valência é essencial para formar os Sargentos dos quadros permanentes das Forças Armadas e da GNR, assegurando uma formação que tem em conta as necessidades específicas do contexto de trabalho e do treino militar. Este é um trabalho que continuará a ser desenvolvido com o Instituto, no futuro, esperando-se para breve a aprovação dos respetivos Estatutos em Conselho de Ministros. Gostaria, finalmente, de deixar uma saudação a todos os oficiais a frequentar cursos no atual ano letivo e, em especial, aos oficiais de países parceiros, nomeadamente de Angola, Brasil, Cabo Verde, Espanha e Timor- Leste, que muito nos prestigiam com a vossa presença.
5 A adequação do Ensino Superior Militar às exigências da formação na área da Defesa e a sua estreita articulação com as restantes instituições de ensino superior nacional devem ser vistas como contributos estruturantes do salto qualitativo que a Defesa Nacional é desafiada a dar nas próximas décadas. É meu entendimento que estes passos beneficiarão da existência de canais formais que fomentem uma colaboração regular com outras instituições de ensino superior nacionais, potenciando a formação dos nossos quadros e capitalizando os recursos disponíveis na sociedade portuguesa. Essa colaboração tem também a vantagem de dar a conhecer, de forma mais aprofundada, as características e particularidades da Defesa Nacional, os seus desafios e os contributos valiosos que esta área pode e deve dar para o avanço dos interesses nacionais. A este respeito, quero sublinhar a importância de integrar a perspetiva de género nos Cursos de Formação de Oficiais. Este objetivo deriva das recomendações presentes na Resolução 1325 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que sublinha, entre outros aspetos, a importância de incorporar as perspetivas de género em todas as dimensões da promoção
6 da paz e da segurança. A urgência desta dimensão ficou, mais uma vez bem patente na atribuição do Prémio Nobel da Paz deste ano a Denis Mukwege e Nadia Murad, ambos diretamente envolvidos em questões de violência sobre mulheres em situações de conflito. Para além do ensino, também a investigação científica na área da defesa deverá configurar-se como um alicerce fundamental do desenvolvimento industrial do setor da Defesa, seja na Base Tecnológica e Industrial de Defesa, seja no quadro das organizações internacionais em que Portugal se insere, nomeadamente no âmbito da Cooperação Estruturada Permanente da União Europeia. Na PESCO, a formação de consórcios internacionais será uma oportunidade de aprendizagem e modernização da Defesa Nacional. O trabalho desenvolvido pelo Centro de Investigação e Desenvolvimento do IUM aponta já nesse sentido e deverá ser continuado nos próximos anos.
7 A referência à participação portuguesa na defesa europeia permite-me abrir uma reflexão mais ampla sobre os vetores que considero centrais para a dimensão internacional da Defesa Portuguesa nos próximos anos. O primeiro vetor que gostaria de destacar prende-se com a necessidade, diria mesmo obrigação, de termos umas Forças Armadas modernas, preparadas e equipadas para o contexto em que vivemos. Para esse objetivo concorrem, por um lado, a formação superior dos nossos recursos humanos e, por outro, a proposta de revisão da Lei de Programação Militar em apreciação pela Assembleia da República. É assim que Portugal terá credibilidade e poderá honrar os seus compromissos internacionais, promover ativamente a estabilidade na nossa vizinhança próxima e reforçar a presença nacional no Oceano Atlântico. Neste quadro, é fundamental sublinhar a importância dos esforços nacionais no contexto do desenvolvimento da chamada Europa da Defesa e dos meios, em particular financeiros, que vão ser mobilizados a nível europeu para materializá-la. A definição de áreas prioritárias de cooperação União Europeia-NATO, com destaque para aquelas que dizem respeito à
8 segurança marítima e à cooperação em contexto de crise nas áreas fundamentais da ciberdefesa, ameaças híbridas e comunicações estratégicas, configuram oportunidades importantes que queremos aproveitar. Vale a pena destacar também a formação e treino em ciberdefesa, proporcionados pela Academia NATO de Oeiras, a NATO Communications and Information Academy, cuja operação terá início no próximo ano lectivo. Este projeto pretende potenciar o relacionamento com a academia, indústria e organizações internacionais, na medida em que vai constituir uma instituição de ensino cuja missão abrange a integração num Pólo de Inovação e Conhecimento, as áreas do Comando, Controlo, Comunicações, Computadores, Informação, Vigilância e Reconhecimento. Ao Instituto Universitário Militar deixo o desafio de pensar formas de cooperação institucional com esta Academia da NATO, que permitam ganhos de qualidade para ambas as instituições. O segundo vetor, decorrente do primeiro, é a manutenção dos compromissos internacionais de Portugal, no quadro das organizações
9 multilaterais que integra. É isso que nos leva a manter o nosso empenhamento em regiões distantes dos nossos espaços de interesse imediato ou tradicional, como seja no Afeganistão ou nos países bálticos: porque esse envolvimento reforça o perfil de Portugal no seio da Aliança Atlântica e credibiliza os nossos argumentos para orientar as atenções dos demais aliados para os pontos cardeais nos quais queremos que a capacidade de atuação da NATO e da União Europeia aumente. O parecer favorável conferido pelo Conselho Superior da Defesa Nacional no início desta semana à manutenção das Forças Nacionais Destacadas tem de ser visto, em meu entender, como sinal de um consenso amplo da sociedade portuguesa nesta matéria. A minha visita à República Centro Africana e a São Tomé e Príncipe no último fim de semana reforçou a minha convicção profunda de que a presença portuguesa nestes cenários complexos e difíceis é absolutamente necessária. A presença de Portugal em missões internacionais representa o nosso compromisso inabalável com os princípios de direito internacional humanitário e com a defesa dos mais vulneráveis, face às violentas e
10 complexas ameaças do nosso tempo. Através da intervenção, Portugal eleva também a capacidade operacional das suas Forças Armadas e põe à prova os seus equipamentos e métodos. E não me canso de reptir a forma como a atuação dos nossos militares nesse exigente teatro de operações tem prestigiado Portugal. Através da dissuasão da pirataria no Golfo da Guiné, com a Operação Mar Aberto e outras iniciativas, Portugal promove o desenvolvimento económico da região, cimenta a sua influência em regiões onde historicamente é relevante e fomenta oportunidades para que a cooperação empresarial ou cultural, como a promoção da língua portuguesa, seja levada a cabo. O pensamento estratégico nesta matéria permanece central. Não posso deixar de fazer aqui referência e porque ainda não tive oportunidade de o fazer em funções oficiais ao contributo incontornável do Prof. Adriano Moreira no que se refere ao pensamento estratégico sobre Portugal no mundo. São estes exemplos inspiradores que certamente alavancarão a reflexão crítica e frontal que esta casa saberá desenvolver, nestas matérias.
11 O terceiro vetor que merece particular destaque é a afirmação do Atlântico como um espaço de interesse central para Portugal e para os nossos aliados. A centralidade do Atlântico enquanto espaço de cooperação e paz permanece um objetivo claro da nossa cooperação, quer no âmbito da União Europeia e da NATO, quer noutros formatos mais restritos, como a cooperação bilateral com países da África Ocidental e o Brasil. Os ganhos em termos de segurança e defesa para o espaço da União Europeia e da Aliança Atlântica, derivados de iniciativas como o Centro de Defesa do Atlântico ou a promoção da visão 360 da NATO, são evidentes. A segurança do espaço euro-atlântico tem de ser pensada a partir das pontes que o Atlântico permite criar e para as quais Portugal tem um posicionamento privilegiado para contribuir ativamente. Também aqui contamos com os contributos de todos, no desenho de formas inovadoras de valorizar este património comum, onde Portugal assume, fruto da sua enforme futura Plataforma Continental, uma centralidade reforçada. Minhas senhoras e meus senhores,
12 O ensino superior militar, na sua missão de criar oportunidades de formação e investigação científica de ponta, é um elemento central para que possamos tirar proveito do posicionamento geo-estratégico do nosso País. A valorização dos recursos humanos da Defesa Nacional, a par da aposta no reforço dos meios técnicos também em curso, desempenha um papel decisivo na afirmação da qualidade amplamente reconhecida dos nossos contributos internacionais. É por isso que vejo com grande satisfação que o caminho de um futuro de excelência, inovação e dedicação está a ser aqui trilhado, e faço votos de que o Instituto Universitário Militar possa corresponder às expetativas que a Defesa Nacional nele deposita. Muito obrigado.
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