Superior Tribunal de Justiça

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1 SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA Nº EX (2009/ ) RELATORA REQUERENTE REQUERIDO : MINISTRA ELIANA CALMON : F S P : MARCELO PELEGRINI BARBOSA E OUTRO(S) : A S P : ALEXANDRE GINDLER DE OLIVEIRA E OUTRO(S) EMENTA HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA DIVÓRCIO POR MÚTUO CONSENTIMENTO REQUISITOS LEGAIS PREENCHIDOS LIMITES DO CONTRADITÓRIO ART. 9 DA RESOLUÇÃO N 09/2005 DO STJ. 1. Sentença que decretou divórcio e homologou acordo que fixou a prestação de alimentos devidos aos filhos menores preenche os requisitos da Resolução n 09/2005 do STJ. 2. O STJ tem adotado o entendimento de que a regra do art. 226, 6, da CF/88 prevalece sobre o comando do art. 7, 6, da LICC, sendo cabível o reconhecimento do divórcio realizado no exterior nos casos em que restar comprovado o prazo de 02 (dois) anos da separação de fato do casal. Precedentes. 3. Homologação deferida. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça A Corte Especial, por unanimidade, deferiu o pedido de homologação, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Francisco Falcão, Nancy Andrighi, Laurita Vaz, Luiz Fux, João Otávio de Noronha, Teori Albino Zavascki, Castro Meira, Ari Pargendler, Felix Fischer, Aldir Passarinho Junior e Hamilton Carvalhido votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Gilson Dipp e Arnaldo Esteves Lima. Brasília-DF, 29 de junho de 2010(Data do Julgamento). MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA Presidente MINISTRA ELIANA CALMON Relatora Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/08/2010 Página 1 de 8

2 SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA Nº US (2009/ ) REQUERENTE REQUERIDO : F S P : MARCELO PELEGRINI BARBOSA E OUTRO(S) : A S P : ALEXANDRE GINDLER DE OLIVEIRA E OUTRO(S) RELATÓRIO A EXMA. SRA. MINISTRA ELIANA CALMON: Trata-se de pedido de homologação de sentença estrangeira que decretou divórcio consensual e homologou acordo de guarda e alimentos, proferida pela Vara de Família do Condado de Greenville, Estado da Carolina do Sul - Estados Unidos da América, em que foram partes FRANZ SIQUEIRA PUNTIGAM e ANAT MAGNANI SACHS. O requerente alega que as partes contraíram matrimônio em 20/12/2000 em Porto Rico, tendo dessa união nascido 02 (dois) filhos. Ante a inviabilidade de manutenção do vínculo conjugal, o requerente ajuizou ação de divórcio perante a Vara de Família do Condado de Greenville em 24/10/2007, tendo ambas as partes entrado em acordo quanto à guarda e alimentos devidos aos filhos, sentença proferida pelo Poder Judiciário norte-americano em 07/01/2009. O requerente afirma que as partes resolveram regressar ao Brasil, tendo fixado domicílio neste país, ocasião em que o autor cumpriu com as exigências fixadas na Resolução n 09/2005 do STJ, providenciando a tradução da sentença de divórcio e do acordo homologado. Assevera que as partes foram devidamente citadas no processo cuja homologação se requer, que foram representadas por advogados, que houve o trânsito em julgado da sentença e que esta foi devidamente autenticada pelo Consulado-Geral do Brasil em Atlanta - EUA. Citada por carta de ordem, a requerida apresentou contestação na qual alega que a sentença que homologou o acordo de alimentos foi proferida com vício do consentimento da ré, sob o argumento de que, à época em que o processo de divórcio tramitava, a requerida encontrava-se desempregada e sem condições financeiras de insurgir-se contra a pretensão do requerente, razão pela qual sentiu-se coagida a aquiescer com o que foi proposto pelo autor. Afirma que, após retornar ao Brasil, ajuizou perante a Vara de Família e Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/08/2010 Página 2 de 8

3 Sucessões da Comarca de Campinas ação revisional do acordo homologado nos Estados Unidos da América, na qual pretende majorar o valor fixado a título de alimentos e obter autorização judicial para alterar o colégio em que os seus filhos encontram-se matriculados. Por fim, afirma que a sentença estrangeira não pode ser homologada, aduzindo, para tanto, que não houve o transcurso do prazo de 03 (três) anos da sentença que decretou o divórcio, requisito exigido pelo art. 7, 6, da LICC. Ouvido, opinou o MPF pela homologação da sentença estrangeira (fl. 144/145). Às fl. 159/167, o autor apresentou réplica, pugnando pelo acolhimento do parecer ofertado pelo MPF e pela consequente homologação da sentença estrangeira. É o relatório. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/08/2010 Página 3 de 8

4 SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA Nº US (2009/ ) RELATORA REQUERENTE REQUERIDO : MINISTRA ELIANA CALMON : F S P : MARCELO PELEGRINI BARBOSA E OUTRO(S) : A S P : ALEXANDRE GINDLER DE OLIVEIRA E OUTRO(S) VOTO A EXMA. SRA. MINISTRA ELIANA CALMON (RELATORA): Verifica-se que a sentença oriunda da Vara de Família do Condado de Greenville, Estado da Carolina do Sul, foi proferida por autoridade competente, reconhecida pelo Consulado brasileiro às fl. 11 e traduzida para o vernáculo por tradutora pública (fl. 39/64; 75/79). Consta que a requerida foi citada regularmente e que a sentença decretou o divórcio das partes e homologou o acordo referente à guarda e ao sustento dos menores (fl. 46/62; 79), termo que foi assinado por ambas as partes de livre e espontânea vontade. A requerida insurge-se contra a pretendida homologação, aduzindo que durante a celebração do acordo que fixou a guarda e os alimentos devidos aos menores sua vontade foi manifestada com vício do consentimento, sob o argumento de que, à época, a ré passava por dificuldades financeiras, fato que a levou a aquiescer com a proposta feita pelo autor. Entendo, contudo, que tal afirmação não obsta a homologação da sentença estrangeira ora examinada. Conforme frisado no parecer oferecido pelo parquet, o alegado vício do consentimento deve ser suscitado perante o Juízo competente para processar a sentença homologanda, cabendo ao STJ, nesta via, examinar tão-somente o preenchimento dos requisitos constantes da Resolução n 09/2005. É importante ressaltar, ainda, que a sentença que dispõe sobre a guarda e os alimentos devidos a filhos menores não é imutável, podendo ser revista a qualquer tempo, desde que tenha havido alteração nas condições fáticas e no binômio necessidade-possibilidade das partes obrigadas, providência que já foi levada a termo pela requerida por meio do ajuizamento de ação revisional perante a Vara de Família da Comarca de Campinas/SP. Sobre o tema, colho os seguintes precedentes desta Corte: HOMOLOGAÇÃO DE SENTENÇA ESTRANGEIRA. AÇÃO DE COBRANÇA. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. REQUISITOS FORMAIS PARA O Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/08/2010 Página 4 de 8

5 DEFERIMENTO DO PEDIDO DE HOMOLOGAÇÃO OBSERVADOS. AUSÊNCIA, IN CASU, DE AFRONTA A PRINCÍPIOS DE ORDEM PÚBLICA E DA SOBERANIA. I - A alegativa de não ter "qualquer relação jurídica com o contrato firmado entre a empresa Trek do Brasil e a empresa requerente" advinda de uma das requeridas consubstancia-se, claramente, em argumentos relativos ao mérito da controvérsia, a qual foi dirimida pela jurisdição estrangeira. II - Caberia a esta colenda Corte, neste momento, negar a homologação pretendida, somente se houvesse qualquer problema relativo à autenticidade dos documentos apresentados, à inteligência da decisão, aos requisitos formais constantes da Resolução nº 9/STJ, de 4/5/2005, ou à ofensa à soberania ou à ordem pública, o que não ocorrente, in casu. III - Sentença estrangeira homologada. (SEC.286/US, Rel. Ministro PAULO GALLOTTI, Rel. p/ Acórdão Ministro FRANCISCO FALCÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em 16/09/2009, DJe 12/11/2009) SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. ALIMENTOS. HOMOLOGAÇÃO. NULIDADE DA CITAÇÃO. INOCORRÊNCIA. LIMITES DO CONTRADITÓRIO. ARTIGO 9º DA RESOLUÇÃO STJ Nº 9/2005. CHANCELA CONSULAR. DESNECESSIDADE. 1. Citado regularmente o requerido, não há falar em impedimento ou prejuízo da sua defesa, cujo prazo se constitui, como é da letra do artigo 241 do Código de Processo Civil, somente a partir da juntada da carta de ordem aos autos do processo, que é a sede dos elementos que hão de informar a impugnação que se pretende oferecer. 2. O destinatário do prazo de dez dias de que cuida o artigo 212 do Código de Processo Civil é a autoridade deprecada e, não, a parte no pleito homologatório. 3. Competente a autoridade que prolatou a sentença, citada regularmente a parte e transitado em julgado o decisum homologando, que prescinde de chancela consular brasileira, uma vez que teve trânsito direto entre as autoridades diplomáticas, acolhe-se o pedido, por atendidos os requisitos indispensáveis à homologação da sentença estrangeira que não ofende a soberania ou a ordem pública. 4. As alegações relativas ao valor fixado a título de alimentos são estranhas às exceções de defesa, enumeradas no artigo 9º da Resolução STJ nº 9, de 4 de maio de Pedido de homologação de sentença estrangeira deferido. (SEC.946/DE, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, CORTE ESPECIAL, julgado em 19/11/2008, DJe 05/02/2009) Por fim, consigno que o ajuizamento da referida ação revisional em nada inviabiliza a homologação da sentença que fixou o valor devido a título de alimentos, provimento que poderá ter seus termos modificados pela sentença que vier a ser decretada no território nacional. No que tange ao decurso do prazo exigido para homologação da sentença estrangeira de divórcio, verifica-se primeiramente que o art. 7, 6, da LICC foi modificado pela Lei /2009, sendo exigido como requisito para homologação da sentença estrangeira de divórcio o prazo de 01 (um) ano da data da sentença e não mais de 03 (três) anos como alegado pela requerida. Todavia, o óbice suscitado pela ré não encontra aplicação in casu, visto que esta Corte tem adotado o entendimento de que a regra do art. 226, 6, da CF/88 ( 6º - O Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/08/2010 Página 5 de 8

6 casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos.) prevalece sobre o comando do art. 7, 6, da LICC, sendo cabível o reconhecimento do divórcio nos casos em que restar comprovado o prazo de 02 (dois) anos da separação de fato do casal. Nesse diapasão, confira-se os seguintes julgados do STJ: SENTENÇA ESTRANGEIRA CONTESTADA. DIREITO CIVIL. DIVÓRCIO. DECISÃO JUDICIAL PROFERIDA NOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. LOCAL DE DOMICÍLIO DAS PARTES. COMPETÊNCIA RECONHECIDA. ART. 7º, 6º, DA LEI DE INTRODUÇÃO AO CÓDIGO CIVIL. INAPLICABILIDADE. INCOMPATIBILIDADE COM O ART. 226, 6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. EXIGÊNCIA DE PRAZO DE APENAS UM ANO PARA A EFETIVAÇÃO DO DIVÓRCIO. INEXISTÊNCIA DE IMPEDIMENTO INSTRUMENTAL OU SUBSTANCIAL PARA A CONCESSÃO DO PEDIDO. I - Residindo os cônjuges, à época do pedido de divórcio, nos Estados Unidos da América, não há argüir-se a incompetência de sua Justiça para a respectiva decisão (art. 7º, caput, da LICC). II - A exigência de três anos, para fins de se reconhecer o divórcio no Brasil, consoante o art. 7º, 6º, da Lei de Introdução do Código Civil, é incompatível com a Constituição Federal que, em seu art. 226, 6º, assim dispõe: "O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos". III - In casu, ainda que se considere que a separação se deu apenas com a decisão judicial estrangeira definitiva, esta ocorreu em 10 de agosto de 2004, estando, portanto, superado o prazo de um ano exigido pela norma constitucional. (SEC 7782/EU, Rel. Min. Marco Aurélio, in DJ de 17/12/2004). IV - Sentença estrangeira homologada. (SEC.746/US, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em 05/11/2008, DJe 04/12/2008) SENTENÇA ESTRANGEIRA. DIVÓRCIO. HOMOLOGAÇÃO. DEFERIMENTO. PARTILHA DE BENS. IMÓVEL SITUADO NO BRASIL. OFENSA À SOBERANIA NACIONAL. INEXISTÊNCIA. SEPARAÇÃO DE FATO. NOME. ALTERAÇÃO. QUESTÃO NÃO DECIDIDA NA DECISÃO HOMOLOGAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO. I - Impõe-se a homologação da sentença estrangeira quando atendidos todos os requisitos indispensáveis ao pedido, bem como constatada a ausência de ofensa à soberania nacional, à ordem pública e aos bons costumes. II - Não contraria a ordem pública a sentença estrangeira que ratifica acordo das partes acerca de imóvel localizado em território brasileiro. Precedentes. III - A sentença homologanda informa que as partes estavam separadas de fato há mais de dois anos, sem terem retornado à vida comum, o que atende ao disposto no art. 226, 6º, da Constituição Federal de IV - Impossibilidade de se apreciar a questão referente à eventual conservação do nome de casada da requerente, uma vez que a homologação da sentença estrangeira não pode abranger e nem estender-se a tópicos, acordos ou cláusulas que não se achem formalmente incorporados ao texto da decisão homologanda. Precedentes do c. Supremo Tribunal Federal. Homologação deferida. (SEC.421/BO, Rel. Ministro FELIX FISCHER, CORTE ESPECIAL, julgado em 16/05/2007, DJ 03/09/2007 p. 110) Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/08/2010 Página 6 de 8

7 No caso dos autos, depreende-se da sentença de divórcio que as partes encontram-se separadas de fato desde 31/10/2007 (fl. 45), viabilizando, portanto, o acolhimento da pretensão formulada pelo autor. Com essas considerações, atendidas as exigências formais dos arts. 5 e 6 da Resolução n 09/2005, defiro o pedido de homologação da presente sentença estrangeira, sem prejuízo da ação revisional de alimentos ajuizada no foro competente. Sem custas, ex vi do art. 1, parágrafo único, da Resolução/STJ n 9, de 4/5/2005. É o voto. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/08/2010 Página 7 de 8

8 CERTIDÃO DE JULGAMENTO CORTE ESPECIAL Número Registro: 2009/ SEC / US Número Origem: PAUTA: 16/06/2010 JULGADO: 29/06/2010 SEGREDO DE JUSTIÇA Relatora Exma. Sra. Ministra ELIANA CALMON Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro CESAR ASFOR ROCHA Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. JOSÉ BONIFÁCIO BORGES DE ANDRADA Secretária Bela. VANIA MARIA SOARES ROCHA REQUERENTE REQUERIDO AUTUAÇÃO : F S P : MARCELO PELEGRINI BARBOSA E OUTRO(S) : A S P : ALEXANDRE GINDLER DE OLIVEIRA E OUTRO(S) ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Família - Casamento - Dissolução CERTIDÃO Certifico que a egrégia CORTE ESPECIAL, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Corte Especial, por unanimidade, deferiu o pedido de homologação, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Francisco Falcão, Nancy Andrighi, Laurita Vaz, Luiz Fux, João Otávio de Noronha, Teori Albino Zavascki, Castro Meira, Ari Pargendler, Felix Fischer, Aldir Passarinho Junior e Hamilton Carvalhido votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausentes, justificadamente, os Srs. Ministros Gilson Dipp e Arnaldo Esteves Lima. Brasília, 29 de junho de 2010 VANIA MARIA SOARES ROCHA Secretária Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/08/2010 Página 8 de 8