RESUMO: Amilton Cabral Jr

Transcrição

1 Relato de caso

2 RESUMO: Relato de caso de paciente de 27 anos com quadro de intoxicação crônica por organofosforado ocupacional causada por ausência de uso de equipamentos de proteção individual (EPI). Evoluiu com quadro de síndrome intermediária, sendo necessária sua internação hospitalar por cerca de 6 meses

3 INTRODUÇÃO: O uso de equipamentos de proteção, individuais ou coletivos é de suma importância para a saúde do trabalhador A gravidade da intoxicação por organofosforado relatada reflete os riscos iminentes do trabalhado não supervisionado adequadamente A síndrome intermediária é rara, porém não é incomum, e considerada o maior contribuinte para a morbimortalidade relacionada à essa intoxicação, dada a freqüente ocorrência de falência respiratória e suas conseqüências A orientação adequada, o fornecimento e a exigência do uso destes equipamentos é importante não só para o empregado e empregador, mas para a sociedade

4 INTRODUÇÃO: Inseticidas organofosforados são compostos anticolinesterásicos que, quando absorvidos, causam inibição da enzima colinesterase, impedindo a inativação da acetilcolina, gerando sintomas nicotínicos e muscarínicos sobre o sistema nervoso, que podem ser resumidos em um quadro denominado síndrome colinérgica. Os principais sintomas são hipersalivação, broncorréia, broncoespasmo, micção, defecação, insuficiência neuromuscular e lacrimejamento

5 INTRODUÇÃO: Segundo dados do SINITOX, houve 6260 casos de intoxicação por agrotóxicos agrícolas em 2007 (225 em Minas Gerais) e 209 óbitos (5 em Minas Gerais) A Unidade de Toxicologia do Hospital João XXIII, em 2008, teve 24 casos presenciais de intoxicação por organofosforados, correspondendo a 6,3% do total de casos de atendimentos de intoxicação por praguicidas e 0,5% do total de casos presenciais atendidos no ano

6 RELATO DE CASO: Paciente masculino, 27 anos História de exposição ocupacional crônica a organofosforados Sem o uso adequado de EPIs 24 a 48 horas após a última exposição ao produto Quadro de tetraparesia assimétrica com predomínio de musculatura proximal, disartria, paresia de face, ptose palpebral bilateral, midríase fixa e redução dos reflexos tendinosos profundos com preservação da sensibilidade Foi encaminhado à Unidade de Toxicologia do Hospital João XXIII, onde evoluiu com insuficiência respiratória aguda e necessidade de assistência ventilatória mecânica

7 RELATO DE CASO: Transferido à UTI, recebeu cuidados intensivos Foi submetido à propedêutica para diagnóstico diferencial com os seguintes achados: duas análises liquóricas normais, dosagem de porfobilinogênio e coproporfirinas normal, tomografia computadorizada de crânio sem alterações, sorologia não-reagente para HIV e pseudo-acetilcolinesterase de 11 UI/ml (VR: 7-19) Não foi detectada epidemiologia para botulismo

8 RELATO DE CASO: Diante da gravidade do quadro, só foi possível realização de eletroneuromiografia com 50 dias de evolução clínica, sendo observada polineuropatia axonal difusa, que se confundiu com polineuropatia do paciente crítico O paciente evoluiu com recuperação lenta da função motora e desmame lento da ventilação mecânica, permanecendo cinco dias na urgência, 130 dias na Unidade de Terapia Intensiva e mais 40 dias em enfermaria Teve alta com quadro de atrofia e fraqueza muscular

9 RELATO DE CASO: Os inseticidas organofosforados são agentes anticolinesterásicos lipossolúveis absorvíveis pelo organismo por via cutânea, respiratória e digestiva A absorção por via respiratória é a mais eficaz, seguida pela via digestiva e a cutânea Por isso são necessários equipamentos de proteção individual que contemplem a via respiratória (máscara com cartucho vapor orgânico e pré-filtro aprovado para pesticidas líquidos), olhos e face (viseira ou óculos contra respingos), mãos e pés (luvas e botas de PVC ou borracha), tronco, membros superiores e inferiores (uniforme de serviço com mangas compridas, avental de PVC ou borracha ou macacão com tecido hidrorrepelente) e cabeça (capacete ou chapéu impermeável com proteção para a nuca) O custo médio dos equipamentos citados em 3 diferentes lojas de equipamentos de proteção foi de R$ 149,92

10 RELATO DE CASO: Segundo dados do Setor de Faturamento do Hospital João XXIII, uma internação pelo SUS paga ao hospital um pacote pela internação na urgência e nos andares no valor de R$ 205,43 e uma diária em unidade de terapia intensiva de R$ 718,08, totalizando um custo para o Sistema Único de Saúde de R$ ,83. Reforçando que esse valor não é o valor real gasto na internação, apenas uma estimativa do valor pago pelo SUS ao Hospital João XXIII O paciente recebeu do INSS o valor de R$ 5.824,38 até maio de 2010

11 CONCLUSÃO: A Síndrome Intermediária é a maior causa de morbimortalidade nos pacientes com intoxicação aguda por organofosforados. Os equipamentos de proteção são obrigatórios e é função do empregador fornecê-los, trocá-los nos intervalos necessários e exigir seu uso. A não utilização de equipamentos de proteção tem sérias consequências para a sociedade como um todo. Além da ausência de um funcionário, a dor de um filho, marido ou pai internado, temos o custo de uma patologia essencialmente evitável, ao Sistema Único de Saúde e à Seguridade Social

12 BIBLIOGRAFIA: 1. World Health Organization. The Impact of Pesticides on Health: Preventing Intentional and Unintentional Deaths from Pesticide Poisoning. Available at: health/prevention/suicide/en/pesticideshealth2.pdf [acessado em 20 de janeiro de 2010] 2. Senanayake N, Karalliedde L. Neurotoxic effects of organophosphorus insecticides: an intermediate syndrome. New England Journal of Medicine 1987;316: Chen-Chang Yang, Jou-Fang Deng. Intermediate Syndrome Following Organophosphate Insecticide Poisoning. J Chin Med Association 2007, Moraes, Ana Claudia Lopes de. Contribuição para o estudo das intoxicações por carbamatos: o caso do chumbinho no Rio de Janeiro. [Mestrado] Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública; p. 5. Andrade Filho, Adebal de; Campolina, Délio; Dias, Mariana Borges. Toxicologia na Prática Clínica Vasilescu C, Florescu A. Clinical and electrophysiological study of neuropathy after organophosphorus compounds poisoning, Arch Toxicol Feb; 43(4) : Mendes, René. Patologia do Trabalho Atualizada e Ampliada 2ª Edição. Atheneu, Ministério do Trabalho e Emprego. Norma regulamentadora 6 (NR6). [acessado em 20 de janeiro de 2010] 9. SINITOX Sistema Nacional de Informações Tóxico-farmacológicas. [acessado em 02 de maio de 2010] 10. Bucaretchi, F.; Bacarat, E.C.E.. Exposições tóxicas agudas em crianças: um panorama - J Pediatr (Rio J). 2005;81(5 Supl):S Epidemiologia dos atendimentos realizados na Unidade de Toxicologia do HJXXIII/CIAT-BH da FHEMIG no ano de 2008, folder elaborado por Délio Campolina e Maria de Fátima Eyer Cabral

13 Belo Horizonte vista do Parque Municipal e do Centro