Contação de história no espaço não escolar
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- Luiz Henrique Gabeira Fartaria
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1 Contação de história no espaço não escolar Ana Cláudia Tedesco dos Santos 1 Anilda Machado de Souza 2 Resumo: O presente artigo é resultado do trabalho desenvolvido no Estágio Supervisionado em espaço não escolar do curso de Licenciatura em Pedagogia. Tais considerações são oriundas das atividades realizadas no CAPEB - Centro de Apoio Pedagógico da Educação Básica, localizado no município de Imbé, Litoral Norte do Rio Grande do Sul. No desenvolvimento destas atividades buscou-se ressignificar esse espaço como mobilizador de aprendizagens a partir da contação de histórias. Teóricos como Ghon (2006), Gadotti (2005), Abramovich (1997), entre outros, fundamentam esta prática de estágio. Palavras Chaves: educação não formal - contação de histórias - aprendizagem Abstract: This article contains the result of the work developed on Supervised Stage of Pedagogy Degree. This results are provided from realized activities at CAPEB, located at Imbé city, Litoral Norte of RS State. During the development of these activities it was craved reframe this space like mobilizing of learning from stories telling. Keywords: non formal education - stories telling - learning. Introdução O presente artigo apresenta resultados das atividades de Estágio Supervisionado em espaço não escolar desenvolvidas na perspectiva da educação não formal. Ghon (2006) enfatiza que, na educação não formal, o grande educador é o outro, aquele com quem interagimos ou nos integramos. Nos espaços não formais de educação, é possível estabelecer relações, aprender a partir de trocas, de práticas educativas que ultrapassam o ambiente escolar no contexto da realidade vivida por uma determinada comunidade. Considerando um dos aspectos da educação não formal que é o educar para a cidadania, aliado aos objetivos da disciplina de Estágio Supervisionado em espaço não escolar, desenvolvemos o projeto A história de cada um, visando trabalhar com a contação de histórias para um grupo de crianças entre 6 a 8 anos de idade, no espaço CAPEB - Centro de Apoio Pedagógico da Educação Básica, a fim de 1 Acadêmica do curso de licenciatura em pedagogia FACOS/CNEC. 2 Professora orientadora. 21
2 divertir, estimular a imaginação, ler, compartilhar histórias, possibilitar a identificação com personagens e favorecer momentos de trocas sobre a história de cada um. Além disso, atender as expectativas do grupo envolvido, promovendo ações mobilizadoras de leitura. Contações de histórias na educação não formal A educação é um dos requisitos fundamentais para que o sujeito tenha acesso ao conjunto de bens e serviços disponíveis na sociedade. Ela é um direito de todo ser humano como condição necessária para usufruir de outros direitos constituídos numa sociedade democrática, afirma Gadotti (2005). Para Ghon (2006), a educação poderia ser definida em três campos: a educação formal, desenvolvida nas escolas, com conteúdos pré-determinados e horários estipulados; a educação informal, referente à aprendizagem que se dá no processo de socialização com a família, os amigos e que traz consigo valores, características e culturas próprias da ideia de pertencimento; e a educação não formal aquela em que se aprende no mundo da vida, que relaciona educação à cultura. A educação não formal parte do pressuposto da possibilidade do sujeito aprender e ensinar além dos muros da escola, valorizando a formação integral do sujeito, sua inserção na comunidade e posição de cidadão no mundo. Nesse sentido, é necessário olhar o outro como sujeito que experimenta, recria, aprende, compartilha, interage, troca saberes e vivências. Conforme Ghon (2006), a educação não formal contempla o aprendizado das diferenças, pois se aprende a conviver, socializar ideias e experiências, respeitar o outro, construir identidade coletiva, ter contato com regras éticas, relativas às condutas aceitáveis socialmente. A aprendizagem acontece de forma dinâmica e interativa, pois se dá com o outro e em diferentes ambientes. Ghon (2006) ressalta que o método na educação não formal passa pela sistematização dos modos de agir e de pensar o mundo que circunda as pessoas. 22
3 Penetra-se, portanto, no campo do simbólico, das orientações e das representações que conferem sentido e significado às ações humanas. Problematiza a vida cotidiana, trabalha temas que surgem das necessidades e interesses dos principais agentes do processo com o objetivo de educar para a cidadania, para a liberdade, para a igualdade, para a democracia e para o exercício da cultura. A formação de um cidadão em sua integridade pressupõe um sujeito letrado, conhecedor de seus direitos e deveres, livre para ir e vir, que manifesta suas ideias de forma autônoma e convincente. Ouvir histórias é viver um momento de gostosuras, de prazer, de divertimento dos melhores [...] É encantamento, maravilhamento, sedução... O livro da criança que ainda não lê é a história contada (ABRAMOVICH,1997, p.16). Assim, a contação de histórias revela-se como um instrumento comprometido com a formação humana, a fim de contemplar aprendizagens interessantes e significativas num espaço de educação não formal., Muitas vezes, o ler e o ouvir histórias é visto pelos alunos como algo enfadonho e sem sentido. No contexto da educação não formal, cabe ao professor demonstrar que a leitura e o ouvir histórias pode ser algo divertido, que abre as portas para a cultura letrada, para o prazer em aprender algo novo; incita a imaginação, a fantasia; amplia o conhecimento de mundo, de lugares, de pessoas. As histórias enriquecem a vida das crianças e auxiliam no processo de alfabetização, de letramento e ajudam, também, na formação do leitor, como ressalta Abramovich (1993, p.16): Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo [...]. Essa é a maior riqueza da literatura infantil. Para Carvalho (2005), o importante é que a leitura dê prazer, estimule a imaginação e o pensamento crítico. Ao ouvir histórias, as crianças vão se familiarizando com as características da língua escrita, cuja sintaxe e o léxico não são os mesmos da língua oral. Não só o conhecimento 23
4 da língua pode ser enriquecido no contato com a literatura, por intermédio da voz daquele que lê, mas também a fantasia, a imaginação, a experiência indireta como mundo. As histórias são excelentes ferramentas na ação de educar, a partir delas, segundo Dohme (2011), é possível trabalhar aspectos internos da criança como o caráter, o raciocínio, a imaginação, a criatividade, o senso crítico e a disciplina, pois as crianças, ao viajarem na leitura e imaginarem o cenário, se colocam no lugar das personagens. Ao mobilizar práticas de leituras, promovemos aprendizagens, tanto de leitura como de escrita, proporcionamos a inserção da criança no mundo letrado, pois quanto mais se lê, melhor se entende o mundo. Metodologia A História de cada um, projeto desenvolvido no CAPEB - Centro de Apoio Pedagógico da Educação Básica I, compondo trinta horas, foi dividido em encontros semanais. Em cada encontro, foi apresentada uma história infantil, envolvendo temas como natureza, diversidade, família, lugares e animais, contados de maneira criativa, com recursos variados como avental, dramatização, varal literário, uso de notebook e dos próprios livros. Houve momentos em que as crianças fizeram suas leituras e recontaram as histórias, ilustraram a sua maneira, socializaram com o grupo o que leram e o que compreenderam, a partir das imagens das histórias. Na exploração da temática das histórias, também fizeram autorretratos, massinha de modelar, desenhos, releituras com tinta têmpera, tiraram fotos com máquinas fotográficas uns dos outros, construíram brinquedos com garrafas pet, etc. Nos momentos de sensibilização, utilizamos músicas, objetos, conversas, desenhos e dinâmicas para que assim despertassem nas crianças o desejo e a curiosidade pela proposta. 24
5 No momento da construção do conhecimento, as crianças realizaram atividades lúdicas e dinâmicas, tendo em vista a compreensão do significado concreto da história. Leram, releram, contaram e recontaram as histórias, dramatizaram, fizeram massinha de modelar e confeccionaram personagens, jogaram, brincaram, entre outras. Para o registro das atividades, as crianças confeccionaram painel, livros, desenharam, recontaram histórias, contaram suas histórias, produziram brinquedos a partir de garrafas pet, entre outros materiais. A elaboração de um portfólio com descrição dos encontros, fotografias, vídeos contribuiu para análise das atividades realizadas de cada encontro. Possibilidade da educação não formal O projeto a História de cada um proporcionou grandes e boas surpresas ao propiciar novas vivências, fora das limitações e do enquadramento formal da escola. Produziu-se uma série de aprendizagens significativas e válidas que permitiram ampliar o olhar de professor e acreditar na educação não formal como uma possibilidade real. O fato de o CAPEB ser um local onde as crianças ficam no turno inverso ao da escola, faz com que esses espaços se assemelhem. Entretanto, as propostas e atividades desenvolvidas no CAPEB possibilitam brincar trocar experiências, conversar livremente, fazer os deveres, respeitar regras, aprender na relação com o outro, dando assim significado à aprendizagem e a este espaço, que não é o da escola, mas que também ensina. Conforme Abromovich (1997), o contato com o ler e o ouvir histórias infantis permite às crianças aguçar a sua curiosidade, responder suas questões. É a possibilidade de encontrar outras ideias para solucionar questões, desvendar o mundo imenso dos conflitos e dos impasses vividos, defrontados pelos personagens de cada história. 25
6 A exploração da temática A História de Cada Um tinha como objetivo que as crianças se identificassem com as histórias, que estabelecessem relações com o cotidiano, sentissem vontade de participar da contação de histórias, mostrando ao grupo um pouco de sua vida, de sua realidade para que a história de cada um pudesse ser de alguma forma compartilhada. Nesse contexto, as histórias de cada um se revelaram marcadas por diferenças e semelhanças, como diz Mantoan (2004), ensinar é marcar um encontro com o outro. Entre os participantes desta proposta havia uma criança surda, por isso foi necessário mudança de atitude. O processo de inclusão nos coloca diante de sujeito que não é um sujeito qualquer, com o qual topamos simplesmente na nossa existência e com o qual convivemos num certo tempo de nossas vidas, mas alguém que se coloca como essencial para a nossa constituição como pessoa e como profissional, que mostra nossos limites e nos faz ir além. Contudo, a oportunidade de interagir com uma criança com necessidades especiais, num espaço não escolar e sem experiência alguma, propõe reflexões sobre a própria formação, sobre a dificuldade de lidar com as limitações. Limitação que não se refere somente à necessidade especial identificada, mas a do professor por carência de experiência na área, da dificuldade de mobilizar recursos na urgência da situação para criar um laço, de encontrar meios de se fazer compreender. O projeto a História de cada um despertou nas crianças envolvidas o gosto por ouvir e contar histórias. Possibilitou a identificação com as histórias ouvidas, ressignificando suas vivências e a compreensão do quanto esse universo pode proporcionar descobertas e novos conhecimentos. A criança lê o mundo que a rodeia muito antes de um aprendizado sistemático da leitura e da escrita, enfatiza Silva (1995). Este aspecto é percebido facilmente quando contamos histórias, pois as crianças contextualizaram as histórias ouvidas com acontecimentos de seu cotidiano e os personagens ganharam sentido. Além disso, manifestaram opiniões e críticas sobre as histórias e, também, identificaram 26
7 letras e sons, sendo assim a imaginação, a criatividade e a relação com a realidade foram aguçadas. Dessa forma, para que a criança se torne uma leitora, é preciso que alguém leia para ela enquanto não o consegue fazer sozinha, pois ao ler mobiliza atitudes, desejos, pensamentos, opiniões sobre o que está lendo. A educação não formal localiza-se em territórios que acompanham as trajetórias de vida dos grupos e indivíduos, fora das escolas, em locais informais, locais onde há processos interativos intencionais, reafirma Gohn (2006). É possível aprender e ressignificar outros ambientes, que não a instituição escolar, como capazes de promover aprendizagens e conhecimentos válidos para a formação integral do sujeito, que tanto almejamos. Considerações O desenvolvimento deste projeto permitiu significar, na prática aspectos importantes sobre a educação não formal como espaço de aprendizagem cidadã, considerando a abordagem de autores como Ghon (2006) e Gadotti (2005). No decorrer da contação de histórias, o espaço do CAPEB ganhou mais vida, mobilizando as crianças da turma envolvida e todas as outras. As crianças, em processo de alfabetização, aprenderam ludicamente, construíram conhecimentos a cada história ouvida, ampliaram o nível de leitura e de escrita, perguntaram e responderam, confirmando o espírito curioso, questionador e a insaciável mobilização para descobertas, ações essas, instigadas e reafirmadas pelo projeto. Além disso, ficou perceptível que as atividades desenvolvidas no espaço não escolar devem contemplar os fundamentos de uma educação cidadã, principalmente, no que diz respeito à identificação das potencialidades dos sujeitos. 27
8 Ao vislumbrar uma criança que apresenta surdez, participar ativamente das atividades deste projeto, atenta aos detalhes visuais no momento da contação de histórias, nos coloca na condição de uma pessoa melhor, por compreender que as limitações para conhecer, aprender e viver bem, não estão no corpo físico, nem tão pouco nas quatro paredes da escola. As ações que valorizam a cultura, nos diferentes espaços não formais de educação, podem auxiliar na promoção de momentos valiosos de interação, de possibilidades de construção de conhecimentos, de aprendizagens fundamentais que envolvem o outro em suas diferenças. Referências AMBROMOVICH, Fanny. Literatura Infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Spicione, CARVALHO, Marlene. Alfabetizar e letrar: Um diálogo entre teoria e a prática. Petrópolis/RJ: Vozes, DOHME, Vânia D Angelo. Técnicas de contas histórias: um guia para desenvolver as suas habilidades e obter sucesso na apresentação de uma história. Petrópolis/RJ: Vozes, GADOTTI, M. A questão da Educação formal/ não formal. institutinternationaldesdroits de l enfant (ide) Droit à l éducation:solution à touslesproblèmes ou problèmesans solution? Sion (Suisse),18 au 22 octobre GHON, G. Maria. Educação não formal, participação da sociedade civil e estruturas colegiadas nas escola. Disponível em: < Acesso em: abr
9 MANTOAN, Maria Teresa Egler. Uma escola de todos, para todos e com todos: o mote da inclusão. Revista Humanidades. Letras (FEOB), São João da Boa Vista, v. 3, n.6, p , SILVA, Maria Alice S. Souza. Construindo a leitura e a escrita: reflexões sobre uma prática alternativa em alfabetização. São Paulo: Ática,
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