I-056 INDICADORES DE PERDAS DE ÁGUA PARA O SAAE DE ALAGOINHAS/BA
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1 I-056 INDICADORES DE PERDAS DE ÁGUA PARA O SAAE DE ALINHAS/BA Jennifer Conceição Carvalho Teixeira de Matos Engenheira Sanitarista e Ambiental (UFBA); Mestranda em Tecnologia Ambiental e Recursos Hídricos na Universidade de Brasília. Lafayette Dantas da Luz (1) Eng.Civil (UFBA); MSc (UFRS/IPH); PhD (Cornell University, EUA); Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Ambiental e do Mestrado em Engenharia Ambiental Urbana e Coordenador do Curso em Engenahria Sanitária e Ambiental da Universidade Federal da Bahia. Luiz Roberto Santos Moraes Engenheiro Civil (EP/UFBA) e Sanitarista (FSP/USP); M.Sc. em Engenharia Sanitária (IHE/Delft University of Technology); Ph.D. em Saúde Ambiental (LSHTM/University of London), Professor Titular em Saneamento do Departamento de Engenharia Ambiental e do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental Urbana da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia. Maria das Graças de Castro Reis Engenheira Sanitarista (UFBA); Mestranda em Engenharia Ambiental Urbana (MEAU/UFBA); Diretora Geral do Serviço Autônomo de Água e Esgoto-SAAE de Alagoinhas-Bahia; Secretária da Regional Nordeste I da ASSEMAE e Membro do Conselho Diretor Nacional da ASSEMAE Endereço (1) : Rua Aristides Novis, 2, Federação, Salvador, Bahia, Brasil, CEP , Tel.: ; lluz@ufba.br RESUMO A problemática das perdas de água nos sistemas de abastecimento público é um dos assuntos que preocupam os gestores dos serviços de saneamento no Brasil, tanto pelos altos valores destas quanto pela dificuldade em medi-las. No bojo da elaboração do Plano Municipal de Saneamento Ambiental de Alagoinhas, em cumprimento à Lei Municipal 1.460/01, foram calculados alguns dos indicadores básicos propostos pelo Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água PNCDA para os Sitemas de Abastecimento de Água-SAA da sede municipal. Os resultados encontrados apresentaram uma tendência crescente desses índices ao longo de um período de dois anos que pode ser justificada por altas pressões na rede, intermitência, perdas na operação e perdas não físicas (uso clandestino de água), dentre outras causas. O levantamento preliminar destes indicadores, embora baseados em informações-chave pouco confiáveis leva a uma idéia da magnitude das perdas no SAA Sobocó, o maior sistema sede municipal. Tal informação constitui-se num passo inicial no processo de gerenciamento das perdas de água pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto- SAAE de Alagoinhas. PALAVRAS-CHAVE: Perdas de água, indicadores, abastecimento de água, Plano Municipal de Saneamento Ambiental INTRODUÇÃO A preocupação com a água tem sido uma constante nos debates da área de Saneamento pelo mundo afora. A cultura de consumo da sociedade atual tem demonstrado que o desperdício se impregnou nas atividades humanas de forma que em cada uma delas pode ser percebida uma maneira mais racional de utilização dos recursos naturais, inclusive da água. É neste contexto que as perdas de água surgem como um problema de grande importância na operação dos Sistemas de Abastecimento de Água-SAA. Preocupação esta, que se deve tanto ao valor bastante representativo das perdas quanto às dificuldades de sua mensuração mais correta. No Brasil, os SAA têm operado com perdas elevadas, na ordem de 40%, com os maiores valores alcançando 70% e os menores em torno dos 20%. Para o combate às perdas de água nos sistemas de abastecimento público torna-se fundamental, além de identificar suas causas, formular um programa de combate que reverta a situação atual, buscando a minimização dos valores dos indicadores de perdas com uma maior eficiência nos SAA. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1
2 Perdas no SAA podem ocorrer tanto na estrutura física, por meio de vazamentos, quanto administrativamente no gerenciamento e na forma de ligações irregulares. Atualmente, a grande maioria das empresas/órgãos de abastecimento de água tem problemas com perdas físicas e de faturamento que comprometem a sua situação financeira e a qualidade da prestação do serviço. Na tentativa de unificar a quantificação das perdas e uniformizar a linguagem com relação a esse assunto, possibilitando a comparação entre os diferentes sistemas, foram criados, por organismos nacionais e internacionais, os indicadores de perdas. Tais indicadores são medidas da eficiência e eficácia na prestação dos serviços de abastecimento de água. Eles são um instrumento gerencial utilizado para controle e suporte na tomada de decisões econômicas e financeiras. O seu objetivo principal é promover uma linguagem de referência adequada para uma gestão do sistema voltada ao desempenho e cumprimento de metas, permitindo a comparação entre países e regiões distintas (ALEGRE e BAPTISTA, 2004). Os indicadores de perdas desenvolvidos pelo Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água (PNCDA) classificam se em três níveis: (1) básicos: que seriam derivados de informações técnicas e gerenciais mínimas, exigíveis de todos os serviços, indistintamente, e as perdas físicas e aparentes que ainda não são separadas completamente; (2) intermediários: que já se apresentam um estágio acima com relação ao conhecimento das perdas físicas com indicadores relacionados a condições operacionais e de desempenho hídrico do sistema; e (3) avançados: que são obtidos por meio de informações-chave mais sofisticadas e que são usados para comparação do desempenho entre serviços (SILVA e outros, 1998 apud MATOS, 2004). Diante da situação de elevadas perdas nos Sistemas de Abastecimento de Água administrados pelo Serviço Autônomo de Água e Esgoto-SAAE do Município de Alagoinhas, Estado da Bahia, o presente trabalho tem como objetivo identificá-las e quantificá-las na forma de indicadores de perdas, com base nas informações disponíveis do sistema, propondo ainda algumas soluções para sua minimização. O trabalho foi desenvolvido no bojo da elaboração do Plano Municipal de Saneamento Ambiental de Alagoinhas, em cumprimento à Lei Municipal 1.460/01, e surgiu da necessidade de analisar os altos índices de perdas no sistema de abastecimento de água da sede municipal (PMA e UFBA, 2004). METODOLOGIA Alagoinhas é uma cidade de médio porte do interior da Bahia, distante 109km de Salvador e tem cerca de 120 mil habitantes. A prestação dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário é feita por meio de uma Autarquia Municipal, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto-SAAE, que opera os 12 SAA da sede do Município. Inicialmente realizou-se uma caracterização dos SAA existentes e agrupou-se informações referentes aos volumes produzidos, faturados e consumidos que são geradas mensalmente pelo SAAE de Alagoinhas, bem como outras informações físicas do SAA Sobocó, o principal sistema que abastece a sede do Município de Alagoinhas para geração de indicadores básicos propostos pelo Programa Nacional de Combate ao Desperdício de Água PNCDA. As informações-chave consideradas na confecção dos indicadores foram: Volume disponibilizado (VD) que é a soma algébrica dos volumes produzido, exportado e importado, disponibilizados para distribuição no sistema de abastecimento de água considerado. Volume utilizado (VU) que é a soma dos volumes micromedido, estimado, recuperado, operacional e especial. Volume faturado (VF) é todo aquele medido, presumido, estimado, contratado, mínimo ou informado, faturados pelo sistema comercial do prestador de serviços. Extensão parcial da rede (EP) corresponde a extensão de adutoras, subadutoras e redes de distribuição de água, não contabilizados os ramais prediais. Número de dias (ND) que é a quantidade de dias correspondente aos volumes trabalhados. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2
3 Com essas informações-chave foi possível chegar a indicadores básicos de perdas e calculá-los para o SAA Sobocó, que é o maior dos sistemas de abastecimento de água, sendo responsável pelo abastecimento de 60% da sede municipal, conforme abaixo: Índice de Perda na Distribuição (IPD) ou Água Não Contabilizada (ANC) Relaciona o volume disponibilizado ao volume utilizado. A água que é disponibilizada e não utilizada constitui uma parcela não contabilizada, que incorpora o conjunto das perdas físicas e não físicas no subsistema de distribuição. IPD = Volume disponibilizado (VD) - Volume utilizado (VU) x 100 Volume disponibilizado (VD) Índice de Perda de Faturamento (IPF) ou Água Não Faturada (ANF) Expressa a relação entre volume disponibilizado e volume faturado. É claramente uma composição de perdas físicas e não físicas que, além daquelas atribuídas a desvios de medição, incorporam volumes utilizados não cobrados. Volume disponibilizado (VD) - Volume faturado (VF) x 100 IPF = Volume disponibilizado (VD) Índice Linear Bruto de Perda (ILB) Relaciona a diferença entre volume disponibilizado e volume utilizado à extensão parcial da rede. As perdas expressas por este indicador incorporam perdas físicas e não físicas. É mais conservador do que seus similares internacionais por que não considera as ligações prediais. ILB = Volume disponibilizado (VD) - Volume utilizado (VU) Extensão parcial da rede (EP) x Número de dias (ND) Índice de Perda por Ligação (IPL) Como o anterior, é também um indicador volumétrico de desempenho, mais preciso que os percentuais. Relaciona a diferença entre volume disponibilizado e volume utilizado ao número de ligações ativas. PL = Volume disponibilizado (VD) - Volume utilizado (VU) Número de ligações ativas (LA) x Número de dias (ND) RESULTADOS Com base nas informações geradas pelo SAAE, referentes ao SAA Sobocó calcularam-se os índices IPD, IPF, ILB, e IPL, apresentados nas figuras 1 e 2. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3
4 Percentual (%) IPD (%) 40 IPF ou ANF (%) ILB IPL MAR MAR ILB (m 3 /km/dia) Linear (IPL) IPL (m 3 /ligações/dia) -20 Meses Figura 1 - Evolução dos Índices de Perda na Distribuição e no Faturamento 0 MA R MA R Meses Figura 2 - Evolução dos índices de perdas por extensão de rede e por ligações 0 Os índices volumétricos de perdas nos anos 2001 e 2002 apresentaram uma tendência crescente nos seus valores (V. Figura 1), o que denota um aumento nas perdas relativas no período. Esse tipo de análise sinaliza ao prestador de serviço a necessidade de intervenções para a detecção da origem do problema e para a sua solução. A figura 2 apresenta os índices que relacionam volumes de perdas com aspectos físicos do SAA, especificamente, a extensão da rede e o número de ligações. Observou-se também uma tendência crescente desses índices ao longo do período, e numa taxa bastante superior ao crescimento dos volumes produzidos e disponibilizados, o que denota um quadro preocupante, requerendo intervenções. A virtual coincidência entre os gráficos com os dois índices, dá-se pela alta correlação, ou correspondência, verificada entre o comprimento de rede e o número de ligações ao longo da mesma. Em um diagnóstico do SAA Sobocó, encontrou-se alguns fatores que podem, em uma análise preliminar, justificar esses valores crescentes de perdas, como o fato da água ser bombeada direto na rede fazendo com que em algumas horas do dia as pressões de operação se elevem, consideravelmente, causando problemas ao SAA na forma de rupturas e vazamentos na rede de distribuição. Intermitências na rede, decorrentes de problemas operacionais também podem afetar as perdas por representarem risco aos valores micromedidos. Outros fatores como uma setorização inadequada, perdas na operação (V. Figura 3), e as perdas não físicas correspondentes ao uso clandestino de água do SAA, contribuem bastante para este resultado. Figura 3 - Vazamentos na tubulação de adução de água bruta em Sobocó. CONCLUSÃO Com a utilização desses índices de desempenho, possibilita-se uma melhoria na qualidade dos serviços prestados pelo SAAE no SAA Sobocó, e no futuro aos demais SAA, além de um maior controle sobre a sua atuação. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4
5 Ressalta-se que tais indicadores contam com grandes incertezas, uma vez que os volumes produzidos têm sido estimados de acordo com a vazão de placa das bombas e embora exista no SAA micromedição em 95% das ligações domiciliares, este número elevado ainda não oferece grande controle dos volumes consumidos. A falta de um cadastro atualizado também influencia a precisão das características físicas do sistema. Entretanto, melhorias em todos esses aspectos estão sendo realizadas pelo SAAE Alagoinhas, como campanhas de pitometria, substituição de hidrômetros e instalação de macromedidores (V. Figura 4), no sentido de melhorar a qualidade das informações-chave e, conseqüentemente, dos indicadores gerados. Figura 4 Melhorias na aquisição de informações-chave Implantação de novo padrão de ligação Ponto de Pitometria em Sobocó. FONTE: SAAE, Sabe-se que indicadores percentuais, embora fáceis de calcular, não são muito significativos e são melhor empregados para análise de desempenho financeiro. Eles não avaliam a administração do sistema de distribuição e sofrem influência da variação de consumo e da intermitência. Entretanto, como o SAAE está apenas começando a geração desses indicadores e possui poucas informações, optou-se por calculá-los mesmo sabedores das limitações. Indicadores confiáveis exigiriam maiores avanços operacionais e identificação do caminho percorrido pela água no sistema. Para isso, sugere-se alguns procedimentos como: qualidade da macro e micromedição, monitorização, rotinas para cálculo e análise dos indicadores, informatização do processo e leituras bem feitas. A expansão para indicadores intermediários, no futuro, necessitará de informações mais precisas e específicas, com incorporação dos fatores, efetivamente, apurados e considerações dos desvios de macro e micromedição, bem como a utilização de fatores de correção para confiabilidade dos dados e o devido tratamento estatístico. Ressalta-se aqui que apenas um indicador não é suficiente para representar o problema das perdas de água no sistema. O ideal é que vários indicadores sejam combinados para que forneçam uma idéia mais real do desempenho. Deve-se ainda estar sempre buscando uma melhor qualidade nas informações para que indicadores intermediários e avançados possam, aos poucos, ir sendo construídos. O SAAE Alagoinhas é uma entidade com grande potencial de crescimento que não deseja mais negligenciar a questão das perdas no sistema que gerencia. A forma como o saneamento vem sendo conduzido nesse município faz crer que um Programa de Controle e Redução das Perdas de Água seria aceito e bem sucedido. No âmbito do Plano Municipal de Saneamento Ambiental de Alagoinhas, a confecção dos indicadores apresentados visa conhecer um pouco sobre o perfil das perdas no SAA para embasar outros processos de grande magnitude como a implementação de uma política sólida de gerenciamento de perdas (PMA e UFBA, 2004). A incorporação dos indicadores nas atividades do SAAE Alagoinhas é também um processo a ser construído. Mais que uma prática técnica rotineira, constitui-se numa nova cultura de tratar a prestação dos serviços de abastecimento de água. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ALEGRE, H.; BAPTISTA, J. M. O Sistema de Indicadores de Desempenho da IWA Para Serviços de Abastecimento de Água. Portugal: 199X. Disponível em: <http//members.fortunecity.com/perdasdagua/links.html >. Acesso em: 25 mar MATOS, Jennifer C. C. T. Gerenciamento de perdas nos sistemas de abastecimento de água: uma ferramenta de controle para o SAAE de Alagoinhas f. Monografia (Trabalho Final da Disciplina ENG 281- Organização e Administração de Serviços de Saneamento do Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental) Departamento de Engenharia Ambiental, Escola Politécnica, Universidade Federal da Bahia, Salvador. 3. Prefeitura Municipal de Alagoinhas; Universidade Federal da Bahia. Plano Municipal de Saneamento Ambiental de Alagoinhas. Alagoinhas, Tomos I e II. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 6
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