Cordel da Argumentação

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Miguel Borba
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1 Cordel da Argumentação Bonfim Valei-me São Rui Barbosa, protetor dos oradores, nesta hora, neste dia, invoco os seus favores: um discurso de encantar os ouvintes e os leitores. João Bosco Bezerra

2 Todo argumentador deve ter sua ciência. Por isso, neste cordel, eu peço sua licença para lembrar os passos dessa arte de excelência.

3 Primeiro de tudo, saiba onde é que quer chegar. Ao final dessa oratória, qual ação se esperar dos ouvintes, decisores, que estão a lhe escutar?

4 Firme bem esse desejo de levar convicção, pois, para se convencer, e fazer persuasão o melhor é ter certeza e não uma indagação.

5 Definida essa meta, agora crie um mapa para chegar ao final, precisa cumprir etapas: fixe um ponto de partida. Andar tonto é pra baratas.

6 Qual é a sua base? No que é que você crê? Você parte de um consenso? Ou só o iluminado vê? É uma ideia universal ou acaba de nascer?

7 Seja um valor social, dogma da filosofia, um princípio do Direito, uma lei da Economia, a sua proposição carece de ter valia.

8 Afirme essa ideia igual a uma premissa com a generalidade; expresse sem ser omisso, em base bem sintética, pense bem, sem preguiça!

9 "Tudo", "todo" ou "nenhum" "Nunca", "sempre", "qualquer um": são palavras bem usadas; não venha com zum zum zum! A premissa inicial impõe-se em um segundo.

10 Pronto, criada a base, passa à argumentação, perguntando bem por quê você tem a opinião: qual a causa, o motivo? Exponha sua razão.

11 Muitos, antes de você, desta e de outra idade, já pensaram no assunto, e fixaram as verdades, por isso, seus argumentos têm toda a autoridade.

12 A ciência não se faz começando de um zero. Por isso, quem veio antes, é referência, isso é vero: a opinião fundada sedimenta uma matéria.

13 Para provar sua tese, além da opinião, precisa de uma pesquisa, baseada na razão: há dados desse assunto? Ponha fundamentação!

14 Estatísticas, de fato, podem ser a sua base: a verdade e a certeza não se contentam com "quase". Apure bem suas fontes, para passar desta fase.

15 Além do número atente para a pessoalidade; por isso, cite um exemplo, visto na realidade, passado aqui neste mundo, pra criar identidade.

16 O exemplo pode ser mais que citado, estendido, com história verossímil, que tenha lido ou ouvido, narrativas de emoção, bem que fixam o sentido.

17 O lugar da quantidade é clássico na Retórica: argumento de verdade, tem sua base na lógica, mas precisa coerência, não de coisa estrambótica.

18 O lugar da qualidade vê o que é singular, que, não tendo outro igual, por ser figura sem par, vence até uma multidão, não se pode comparar..

19 Mona Lisa ficou sendo exemplo de qualidade: única na categoria, não importando a idade, mesmo se reproduzida, tem a originalidade.

20 Tem o lugar da essência, a que busca o vero ser, onde há o fundamento, acima do "parecer": essencial é a vida, esse exemplo é pra valer.

21 Não há nada deste mundo que seja sempre o primeiro. Por isso, o lugar da ordem é argumento certeiro: pra criar prioridades em busca do verdadeiro.

22 Também tem outro lugar, em homenagem à pessoa: mas que coisas e ideias, essa é referência boa: o humano em primeiro é o que mais alto ressoa.

23 Mas, combinado aos outros, há o lugar do existente: primeiro o que aí está; depois o que está pendente; não o que estar por vir; não o passado, o presente.

24 Pois pronto, argumentador, se você fez a lição, ordenando os argumentos, com ordem e precisão agora é hora boa de chegar à conclusão.

25 Mas não basta repetir as ideias anunciadas: deve reforçar a tese para evitar coisa errada: como é que agirá a plateia conquistada?

26 Toda argumentação já ensinavam os gregos dirige-se ao auditório não para guardar segredo, mas para levar à ação, movida pelo enredo

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