Faculdade Campos Elíseos. Projeto Interdisciplinar (PI): Cinema e Educação

Transcrição

1 Faculdade Campos Elíseos Antônio Siqueira Cleide Godoy Etelvina Bispo Jéssica Gomes Jonathan Angeli Natasha Leandro Projeto Interdisciplinar (PI): Cinema e Educação São Paulo 2018

2 Antônio Siqueira Cleide Godoy Etelvina Bispo Jéssica Gomes Jonathan Angeli Natasha Leandro Projeto Interdisciplinar (PI): Cinema e Educação Projeto Interdisciplinar (PI): Cinema e Educação Resenha crítica do filme: Hoje eu quero voltar sozinho. Orientadora: Prof.ª Ms Renata Valente São Paulo 2018

3 Resenha crítica do filme: Hoje eu quero voltar sozinho. O longa metragem Hoje eu quero voltar sozinho (2014), dirigido e roteirizado por Daniel Ribeiro nos traz a história de Leonardo, estudante do ensino médio, com deficiência visual, que como todo adolescente está passando pela fase de descobertas e curiosidades. Seu objetivo final é a conquista de sua independência. Giovanna, sua melhor amiga tem o protagonista como porto seguro e juntos vivem suas aventuras. No princípio da narrativa, ele se preocupa em relação ao primeiro beijo, desejando ser especial. Na escola, é alvo de brincadeiras maldosas, que na maioria das vezes, são provocadas pelo próprio colega de classe chamado Fábio. Em casa é superprotegido por seus pais. A trama é modificada a partir do momento em que chega Gabriel, aluno novo, fazendo da dupla anterior um trio. Leonardo descobre a cada dia seu verdadeiro eu, chegando à sexualidade por meio da descoberta de novos sentimentos, por Gabriel. Assim, saem da rotina de casa/escola e passam a frequentar lugares diferentes, como acampamentos, festas etc. A obra deixa de ser clichê, ao tratar de assuntos tão comuns, com uma profundidade de prender a atenção dos que a assistem. Foi ganhador de vários prêmios internacionais como o de Berlim e de alguns nacionais, tendo como destaque o Fipresci. Assistindo ao filme, refletimos sobre a linguagem que o cinema proporciona e como ela poderia ser utilizada em sala de aula, como elemento didático. Essa linguagem é o olhar do espectador e sua percepção de enxergar o mundo com outros olhos. Com o cinema, podemos vivenciar um mundo mágico, distinto do cotidiano, que pode ser traduzido por uma trilha sonora, fotográfica fílmica e até mesmo nas abordagens de alguns assuntos como: preconceitos, sexualidade, inclusão social, entre outros. Em sala de aula, é importante que o professor utilize esse recurso, remetendo ao aluno a oportunidade de vivenciar esse mundo. Uma das cenas do filme que melhor retrata o uso cinematográfico é quando o protagonista Leonardo anda de bicicleta durante a noite, em que o cenário já não é o mesmo do anterior, pois a ideia da iluminação amarela expressa liberdade, fazendo com que ele sinta-se pleno, feliz e realizado. Outro aspecto que a trama retrata sobre o personagem Leonardo é que, por ser um deficiente visual, luta para conseguir ter direitos garantidos como um cidadão, assim previstos 2

4 no princípio da igualdade, no artigo 5 da Constituição Federal (1988), em que diz que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza e dessa forma, busca ser uma pessoa respeitada, tanto pela sociedade, quanto por seus pais. Por querer ser mais independente, ele enfrenta algumas barreiras com a família, pois eles tentam a todo custo, resguardá-lo de tudo o que acreditam ser demais para ele, pensamento com o qual seus professores não concordam, pois por serem profissionais da educação, também tentam garantir os direitos dele. Mesmo sendo jovem, o protagonista já reivindica a todo o momento seu direito de igualdade, liberdade de pensamento e até mesmo, de locomoção, quando em uma cena, o personagem decide fazer um intercâmbio fora do país, a fim da busca por esses direitos, previstos também no artigo 5º da referida Constituição. Pensar sobre seus próprios sentimentos para indivíduos não é uma matéria fácil, mas para os que conseguem reconhecê-las facilmente, transparecem a conhecida Inteligência Emocional, que consiste no reconhecimento não só das suas emoções, mas também das demais pessoas ao redor. Na narrativa do filme, temos um exemplo de como essa inteligência é aplicada. No enredo, Leonardo vive muitos problemas sociais, contudo, dentro de um contexto escolar, consegue controlar suas emoções e aprender a construí-las, mesmo com um clima de tensão apresentado a cada dia, colocado em cena diversas vezes o menino sofrendo algum tipo de discriminação. Segundo Goleman (1995), em seu livro Inteligência Emocional, redefine o que é ser inteligente, quebrando totalmente o padrão de que somente o QI é uma inteligência, que o protagonista demonstra muito bem, quando se posiciona diante de suas dificuldades e sofrimentos. Podemos perceber que dentro de um contexto escolar, o conhecimento sobre as emoções e como saber aplicá-las no dia a dia é a chave para a convivência dentro das escolas e das situações que nela se apresentam, além da melhoria da relação professor/aluno e principalmente, da relação aluno/aluno. Devemos saber que o conhecimento é para todos. Além disso, precisamos perceber que nossa sociedade é composta de estereótipos, que estão enraizados na nossa formação desde crianças. Crescemos reproduzindo-os, discriminando, inclusive em ambiente escolar. O filme nos leva a adentrar na tela do cinema como numa viagem à adolescência, que é a fase em que mais reproduzimos preconceitos, muitas vezes sem imaginar que estamos causando danos irreversíveis não só às pessoas próximas, mas também à nossa sociedade, de uma maneira geral. Um dos mais comuns desses atos retratados no filme é o pensamento de que pessoas com deficiência são limitadas. 3

5 De acordo com Goffman (2004), essa ideia está ligada à construção social dos significados por meio da interação. A sociedade institui como as pessoas devem ser, em que um estranho não passa despercebido, pois lhe são conferidos atributos que o tornam diferente. Portanto, é essencial refletir sobre o fato de termos empatia para com as diferenças e que as diversidades apresentam positividade na nossa sociedade, que deve garantir um ambiente harmonioso e proporcionar superação diante dos desafios. Na cena final da trama Leonardo e Gabriel se assumem como namorados, fazendo do seu desejo inicial tornar-se verdadeiro, assim, vencendo esse obstáculo. Com isso, poderemos construir uma sociedade justa e com garantias de igualdade. Levando em consideração os fatos apresentados, concluímos que é dever da escola esclarecer aos estudantes, a importância e os fundamentos da igualdade social, promovendo eventos como: debates e seminários com especialistas, abrindo espaço para que os alunos tenham total liberdade de expressão. Assim, como é plausível a postura da professora Ana que em cena, intervém diante da provocação do colega de classe Fábio, tomando a iniciativa de realocá-lo na carteira atrás de Leonardo, e logo em seguida encaminhando-o à diretoria por se recusar. Essa reação imediata do profissional em sala é de extrema importância para resguardar qualquer aluno que sofra discriminação no âmbito escolar, ressaltando como a junção entre administração da escola e seus profissionais promove conscientização de igualdade entre alunos. Será acrescentado muito mais em aula, se aplicarmos os conhecimentos aqui abordados como: o uso cinematográfico em sala de aula, conhecimento de direitos e deveres e inteligência emocional, para agirmos em diversas situações e principalmente, termos a consciência que somos todos iguais. 4

6 Referências BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Artigo 5. GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional A Teoria Revolucionária Que Redefine O Que É O Ser Inteligente. EUA: Objetiva, GOFFMAN, E. Estigma notas sobre manipulação da identidade deteriorada. Tradução: Mathias Lambert. Guanabara: São Paulo, Digitalização: HOJE eu quero voltar sozinho. Direção Daniel Ribeiro. Produção: Daniel Ribeiro e Diana Almeida. Roteiro: Daniel Ribeiro. Brasil: Lacuna Filmes, Duração do filme: 95 minutos. 5