O sector informal em Cabo Verde: construindo o perfil da atividade, uma abordagem de género
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- Mafalda Peres da Fonseca
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1 O sector informal em Cabo Verde: construindo o perfil da atividade, uma abordagem de género Nota Introdutória A construção de um perfil da atividade do sector informal em Cabo Verde com uma abordagem de género permitirá, fazer uma caracterização geral do sector, o que é crucial num contexto que se tem caracterizado especialmente por falta de informação. Neste âmbito o presente artigo pretende dar uma maior visibilidade as mulheres que exercem atividades económicas no sector informal. Para tal realizamos uma análise e leitura de dados do IMC Módulo do Sector Informal 215, com uma abordagem de género. Como resultado elaboramos o presente trabalho, que está composto para alem desta nota introdutória e das conclusões e discussão, do bloco dedicado a contextualização e a caracterização de perfil da atividade com uma abordagem de género em Cabo Verde. Contextualização O aumento da dimensão do sector informal a escala global, contrariamente ao esperado assim como o seu papel no que respeita ao desenvolvimento socio económico dos países e a economia mundial, tem levado a um crescente interesse em estudar e entender as características e complexidades do mesmo. Neste âmbito o Instituto Nacional de Estatísticas de Cabo Verde (INE) realizou em 215 o Inquérito Multiobjectivo Contínuo Módulo Sector Informal em Cabo Verde, o que permitiu obter informações cruciais sobre o sector. Considerando a falta de informações e dados estatísticos sobre o sector a escala global, o exercício levado a cabo pelo INE reveste-se de especial importância, principalmente no contexto atual no qual as indicações procedentes de diversos organismos internacionais apontam a elaboração de estratégias politicas, económicas, sociais e institucionais que facilitem e acelerem o processo de transição do informal para o formal. O Instituto Cabo-Verdiano de Igualdade e Equidade de Género (ICIEG) com o intuito de capitalizar o trabalho realizado pelo INE e aproveitar a oportunidade criada no referente trabalho e na produção de dados sobre o sector informal, realiza um exercício que explora e analisa as informações recolhidas com uma abordagem de 1
2 género sendo que um dos objetivos principais do exercício é a caracterizar e dar visibilidade a situação das mulheres no sector informal (ICIEG; 216). A realização deste exercício permitiu a construção do perfil da atividade no sector informal em Cabo Verde, o que em outras palavras possibilitou a caracterização das pessoas que realizam atividades económicas no sector informal, ao mesmo tempo que permitiu a identificação dos fossos e desigualdades profundas de género a desfavor das mulheres existentes no sector. O trabalho reveste-se de especial importância neste momento em que se considera e se pretende estabelecer a estratégia de transição nacional do informal ao formal em Cabo Verde, sendo que objetivamente subsidia o argumento sobre a importância da inclusão de uma abordagem de género a qualquer escala no que concerne a elaboração de políticas públicas e de práticas institucionais, sendo que a não inclusão destas poderia aprofundar as situações de pobreza e desigualdade social, porque nem a pobreza nem a informalidade afetam a mulheres e homens de igual forma. A cara do sector informal em Cabo Verde A análise e leitura de dados do IMC Módulo do sector informal, no qual se trabalha com Unidades de Produção Informal (UPI), unidades estas que constituem o corpo do sector informal não agrícola cabo-verdiano, possibilitou a caracterização consequentemente maior visibilidade ás pessoas que realizam atividades económicas no sector informal. Em 215 estimou-se a existência de UPI, incluindo as identificadas e não inquiridas. Destas unidades 62,5% das proprietárias ou promotoras são mulheres. O cálculo do ICF 1 para este indicador é de 1,6 o que expõe a sobre representação das mulheres na economia informal, pelo que se identifica o bias de género do sector em Cabo Verde. A sobre representação das mulheres na economia informal em Cabo Verde não é uma coincidência sendo 1 Cada indicador será apresentado com o dado desagregado por sexo e calculando-se o Índice de Condição Feminina (ICF),1. O índice exprime uma relação de proporcionalidade em razão do sexo, ou seja, o fosso entre a posição dos homens e das mulheres. Calcula-se dividindo o numero absoluto ou % do dado relativo às mulheres pelo dos homens, mas se o indicador é negativo, como por exemplo morte de mulheres a operação inverte-se. A escala classificativa do Índice vai de a 1, sendo que 1 significa igualdade e os valores inferior a 1 apontam para uma situação de desigualdade em desfavor das mulheres. Quando o índice é superior a 1 significa que o desequilíbrio é em desfavor aos homens. Para classificar o valor do ICF, pode-se avaliar o índice de acordo com a seguinte escala: (i) Aceitável (entre 1 e,91), (ii) Médio (entre, 9 e,81), (iii)baixo (entre,8 e,61), 2
3 que esta tem profundas conexões com a desigualdade de género, a descriminação, as dinâmicas sociais, culturais, institucionais e económicas que configuram a informalidade e fazem com que esta tenha cara de mulher. Isto em um contexto em que os dados analisados confirmam que a sobre representação das mulheres no sector informal em Cabo Verde tem sido uma constante e que tem aumentado ao largo dos últimos 25 anos, sendo que o número de mulheres no sector informal quase duplica o número de homens. Partindo do facto de que existe um claro de bias de género no sector informal em Cabo Verde confirmado pelos dados de sobre representação das mesmas no sector, consideramos fundamental a construção do perfil da atividade tendo como base quatro categorias de análise que interagem entre si, sendo estas: (i) o género; (ii) ramo atividade; (iii) rendimentos; (iv) nível de escolaridade e (v) mão de obra. A exploração e leitura dos dados tendo como base as categorias de análise antes expostas permite entender a complexidade subjacente as dinâmicas a esta questão ao mesmo tempo que permite entender como a informalidade afeta de forma diferente a mulheres e homens em Cabo Verde. As primeiras perguntas que surgem ao realizar este exercício são: e como são estas mulheres? Quais os motivos que as levaram a trabalhar no sector? Seria a falta de oportunidades laborais relacionada com a descriminação estrutural e muitas vezes institucional existentes? Em que ramo trabalham? ou trabalham em igualdade de condições e de remuneração que os homens? Qual a habilitação literária que maioritariamente as caracteriza? O acesso á educação é crucial no acesso a empregos de qualidade e, portanto, a melhores e oportunidades económicas, sendo que devido a descriminação estrutural existente e o não acesso neste caso cria barreiras de entrada das mulheres no mercado de formal de trabalho, principalmente num mundo globalizado em que se torna crucial o capital humano e ferramentas diversas que permitam esta entrada. Um dos caminhos que inevitavelmente levam estas perguntas é a análise dos dados referentes às habilitações literárias que caracterizam de forma geral as mulheres que atuam no sector informal em Cabo Verde. Os dados indicam que 58,5% das mulheres que estão ocupadas no sector informal tem o nível de instrução básico correspondente ao EBI. O perfil identificado relaciona duas categorias 3
4 intersecionais, o género e o nível de instrução, gerando descriminações duplas no referente ao acesso ao trabalho digno. Outra das questões que chamam a atenção relativamente ao emprego no sector informal é que a maioria das mulheres que operam no sector informal são auto empregadas (88,9%), o que indica que as atividades ás quais elas se dedicam não tem grande possibilidade de expansão, e que não se podem permitir a contratação de empregados. A interação entre as categorias género e a educação relegam as mulheres a realização de atividades económicas no sector informal menos produtivas e, portanto, menos rentáveis o que interage com a segregação das atividades por género. Diversos estudos apontam que a segregação das atividades por género e em não Cabo Verde não somos exceção, sendo que 43,8% das mulheres que realizam atividades económicas no sector informal relacionadas com o comércio. Neste contexto outro indicador que nos dá uma perspetiva interessante sobre esta questão é a proporção de mulheres em relação a homens por ramo de atividade. Gráfico 1: Índice da Condição Feminina segundo ramo de atividade, ICM ,3,4 1 3,5 3,8 5,8 1,4 Fonte: INE, IMC 215 O gráfico 1 permite-nos confirmar a segregação de atividades por sexo, vendo que as proporções mais desiguais estão relacionadas com as atividades agroalimentares e comércio a retalho e outros. Esta segregação que relega as mulheres ao exercício de profissões menos rentáveis e menos produtivas, aumenta os fossos relativamente ao rendimento de mulheres e homens no sector informal, e levando a que as mulheres obtenham menores rendimentos, por exemplo um dos indicadores que explicita esta questão são os indicador de produtividade e de valor acrescentado (resultado final), a análise 4
5 Salário Mensal ECV Damaris R. Lopes da Silva: Assistência técnica ao ICIEG no âmbito do Observatório de género de dos dados nos indica que apesar das mulheres estarem sobre representadas no sector informal, a produção total mensal das mesmas corresponde somente a 48,6% da produção total mensal e o valor acrescentado é de comente 49,8% do total mensal. Estes dados confirmam que as mulheres que realizam atividades, portanto menos produtivas e menos rentáveis. A análise dos dados refentes ao rendimento médio mensal desagregados por sexo no sector informal confirmam o expressado anteriormente. As mulheres recebem 29,5% menos que os homens. O ICF calculado para este indicador é de,72 considerado baixo e indicando altas níveis de desigualdade. Gráfico 2: Salários médios e medianos dos ativos ocupados no sector informal segundo o sexo, IMC 215 (em ECV) Médio mensal Mediano mensal Masculino Feminino Total Fonte: IMC Módulo sobre o Sector Informal Atualmente em Cabo Verde as mulheres que trabalham no sector informal recebem 71,5% do salário médio dos homens na mesma condição laboral, por outras palavras mulheres, a segregação das atividades por género aumentado os fossos relativamente ao rendimento de mulheres e homens no sector informal. A interação entre diferentes dimensões no referente a desigualdade de género neste caso no sector informal em Cabo Verde tem levado a que as mulheres estejam expostas a uma maior vulnerabilidade, de por si característica do sector assim como as coloca numa situação de maior risco de pobreza. Conclusões A construção do perfil da atividade e a caracterização dos indivíduos que operam no sector informal levou a elaboração da seguinte tabela, que contem elementos crucias no relativo a construção do perfil da atividade em especial das mulheres. 5
6 Tabela 1: Perfil da atividade Sector informal em Cabo Verde Categoria de análise Perfil sector informal Percentagem de mulheres Género Feminino -> 62,5%; Mão de obra Nível de Escolaridade Rendimento Médio Mensal (ECV) Ramo de atividade principal Valor acrescentado Produtividade total Autoemprego -> 88,9% (mulheres); Ensino básico EBI -> 58;5% (mulheres); ECV -> as mulheres recebem um 29,5% menos que os homens que atuam no sector Comércio -> 43,8% (mulheres); Inferior ao dos homens apesar das mulheres estarem sobre representadas no sector -> 49,8% Inferior ao dos homens -> 46,8% do total da produção media mensal Uma das conclusões mais significativas a que se chega com a elaboração do perfil de atividade do sector informal em Cabo Verde é que a informalidade afeta efetivamente de forma desigual a mulheres e homens. Os profundos fossos identificados assim como a desigualdade marcante existente, tem a sua origem na desigualdade estrutural perpetuada nas sociedades patriarcais assim como na interação entre diversas dimensões que desenham a complexidade da situação. É neste contexto que esta mesma complexidade deve estar expressa nas interpretações e analises realizadas de forma a que estas possam subsidiar efetivamente e de forma justa e inclusiva o desenho de políticas públicas e exercícios de planificação no referente ao sector informal em Cabo Verde e consequentemente na futura estratégia de transição nacional. Políticas públicas cegas ao género aprofundam os fossos e agudizam as desigualdades socias e de género. 6
7 Bibliografia Charmes, Jacques; Informal sector, poverty and gender a review of empirical evidence background paper for the: World Development Report 21; Marone, Heloisa; Demographic Dividends, Gender Equality, and Economic Growth: The Case of Cabo Verde: IMF working paper 216; Gender Indicators: What, Why and How? Bridge development gender; Sethuraman S.V; Gender, Informality and Poverty: A Global Review: Gender bias in female informal employment and incomes in developing countries: Geneve 1998: Chakrabarti, Satyabrata; Gender Dimensions of the Informal Sector and Informal Employment in India, 29; Pedwell, Sylvia; Women, gender and the informal economy: An assessment of ILO research and suggested ways forward, 28; Amaral, Manoela Women, gender and the informal economy:an assessment of ILO research and suggested ways forward, 22; Measurement of informal economy, OIT; Jones, Khaterine; Intersectionality in Sociology; Browne, Irene; Intersection of gender and race in labor market: Annual review of sociology, 29; Valenzuela, Maria; Informality and gender in Latin America: Geneve OIT 25; Chen, Martha; Women In The Informal Sector: A Global Picture, The Global Movement; United Nations; The world s women 215, Trends and Statistics: 215; INE, IDRF III: Apresentação de resultados preliminaries 215; Colodeti, Vicente; Microcredito, empreendedorismo e trabalho informa: porta de saída da pobreza? Pinar, Raquel; Microcréditos, pobreza y género: consideraciones generales para la elaboración de programas de desarrollo vinculados a las microfinanzas con enfoque de género; OIT; Para Debate Y Orientacion: 27; OIT; Economia informal: aspectos conceituais e teóricos: 21; OIT: Relatório Conferencia Nacional da Economia Informal a Globalização, Praia 215; UN Women; Progresso f the worlds women ; OIT; Formalization of informal economy: Follow-up to the resolution concerning efforts to facilitate the transition from the informal to the formal economy; 9 October 215 7
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