PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº , da Comarca de São Paulo, em que é agravante CRISTIANO DE BRITO BANDEIRA, são agravados CONDOMINIO EDIFICIO PASSAROS E FLORES, RICARDO SOARES CALIXTO e ELY FURLAN AVANZINI CALIXTO. ACORDAM, em de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores HUGO CREPALDI (Presidente), WALTER CESAR EXNER E VANDERCI ÁLVARES. São Paulo, 8 de maio de Hugo Crepaldi RELATOR Assinatura Eletrônica

2 Agravo de Instrumento n Comarca: São Paulo Agravante: Cristiano de Brito Bandeira Agravado: Condomínio Edifício Pássaros e Flores e outros Voto nº 5686 AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE COBRANÇA DE VERBAS CONDOMINIAIS ARREMATAÇÃO DA UNIDADE GERADORA DO DÉBITO Arrematante que requer o ressarcimento das verbas condominiais vencidas após a arrematação do bem e antes da efetiva imissão na posse do imóvel Pedido de levantamento de parte do valor auferido com a alienação judicial Descabimento Não há qualquer indício de que a memória de cálculo apresentada nos autos de origem tenha abrangido as prestações condominiais vencidas após a data da aludida arrematação, ou que estas tenham sido adimplidas em duplicidade, sendo descabido, portanto, descontar-se tais valores do patrimônio conferido ao Condomínio Edilício Arrematante que é parte legítima para responder pela dívida condominial a partir da aquisição da coisa, independentemente da efetiva imissão na posse Eventual pretensão de regresso contra o antigo proprietário que deve ser manejada em ação autônoma Observância aos ditames do devido processo legal e estabilização subjetiva da lide Art. 41 do CPC Manutenção do entendimento adotado em Primeiro Grau - Negado provimento Vistos. Trata-se de Agravo de Instrumento interposto por CRISTIANO DE BRITO BANDEIRA, que figura como arrematante nos 2

3 autos da ação de cobrança movida por CONDOMÍNIO EDIFÍCIO PÁSSAROS E FLORES em face de RICARDO SOARES CALIXTO e ELY FURLAN AVANZINI CALIXTO. Objetiva a reforma de decisão interlocutória que indeferiu o exercício de direito de regresso pelo agravante, nos autos da própria ação de cobrança, referente a prestações condominiais vencidas após a arrematação do imóvel e antes da efetiva imissão do recorrente na posse do bem. Sustenta que tais débitos seriam de responsabilidade do antigo proprietário, estando abrangidos pelo saldo devedor exigido na ação de origem, razão pela qual seria cabível o exercício do direito de regresso, mediante levantamento de parte do saldo obtido com a arrematação do imóvel. Desta feita, requer a revisão da decisão prolatada, para que seja autorizado a ressarcir-se por meio do produto da alienação. acompanhado de documentos. Recurso tempestivo, preparado e Dispensadas informações e contraminuta, foram os autos encaminhados à mesa para julgamento. É o relatório. O Agravo de Instrumento foi interposto em face da decisão proferida pela MM. Juíza da 5ª Vara Cível do Foro Regional de 3

4 Santo Amaro, Dra. Regina de Oliveira Marques, que indeferiu o exercício de direito de regresso, por poarte do arrematante, nos autos da ação de cobrança das verbas condominiais. A decisão atacada não merece reparo. Extrai-se dos autos que, após a realização de penhora e alienação da unidade geradora do débito condominial, esta veio a ser arrematada pelo agravante, que, contudo, não ingressou imediatamente no imóvel, havendo lapso de 6 meses entre a aquisição e a efetiva imissão na posse do bem. Sustenta o adquirente que as verbas condominiais vencidas ao longo deste período, e por ele adimplidas, seriam de responsabilidade do antigo ocupante, razão pela qual requer o reconhecimento do débito e a autorização para que exerça seu direito de regresso imediatamente, nos autos na ação originária. quo, dando ensejo ao presente recurso. Tal pretensão foi afastada pela Magistrada a Primeiramente, não há que se falar em ressarcimento do adquirente a partir do produto da arrematação. Não há qualquer indício de que a memória de cálculo apresentada pelo Condomínio agravado, nos autos de origem, tenha abrangido as prestações condominiais vencidas após a data da aludida arrematação, ou que estas tenham sido adimplidas em duplicidade, sendo descabido, portanto, descontar-se tais valores do patrimônio conferido ao Condomínio Edilício. 4

5 Por sua vez, também descabido falar-se em ilegitimidade do recorrente para responder por tais dívidas, visto que, ao tornar-se proprietário do imóvel, torna-se também devedor das prestações condominiais advindas da coisa, dado o caráter propter rem da obrigação, independentemente da efetiva imissão na posse. DESPESAS DE CONDOMÍNIO - Unidade devedora que foi penhorada e arrematada, por preço certo e determinado Ação proposta contra o arrematante - Pagamento de outros débitos, que ficaram a cargo da arrematante, até, porque, além da condição legal, havia previsão no edital publicado Imissão de posse ocorrida após a data dos débitos vencidos Obrigação legal do arrematante, desde que aperfeiçoada a arrematação Arrematação que se aperfeiçoou antes do vencimento da primeira parcela cobrada Honorários sucumbenciais que foram bem fixados, e devem ser mantidos no percentual de 15%, posto que bem remunera os trabalhos, frente ao valor do débito - Recurso improvido. LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ Pedido formulado na resposta ao recurso Recurso interposto que não leva ao reconhecimento de deslealdade processual, pois suas razões estão dentro do contexto da controvérsia Direito constitucional de recorrer Pedido desacolhido. (TJSP, Apelação nº , Rel. Des. Carlos Nunes, 33ª Câmara de Direito Privado, j. 02/04/2012) DESPESAS DE CONDOMÍNIO COBRANÇA OBRIGAÇÃO PROPTER REM ARREMATAÇÃO SEM IMISSÃO NA POSSE IRRELEVÂNCIA LEGITIMIDADE DO ARREMATANTE MANTIDA RECURSO NÃO PROVIDO. (TJSP, Apelação nº , Rel. Des. Ferraz Felisardo, 29ª Câmara de Direito Privado, j. 14/12/2011) Não se desconhece a corrente jurisprudencial que atribui ao antigo proprietário a responsabilidade pelo pagamento das prestações condominiais vencidas entre a arrematação do imóvel e o efetivo 5

6 ingresso do novo dono, contudo tal discussão não apresenta maior relevância para o desate da questão ventilada no presente recurso. Note-se que, mesmo havendo direito de regresso do arrematante em face dos requeridos, a exigência coercitiva de tal pretensão requer a prévia formação de título executivo judicial, após a regular propositura de ação de conhecimento e tramitação do feito à luz do contraditório e devido processo legal, não havendo qualquer previsão no ordenamento vigente que autorize o aproveitamento da relação jurídica processual formada entre Condomínio e devedores para que o adquirente execute, de imediato, sua pretensão. Admitir tal situação, com a consequente inserção do agravante na ação de origem na condição de exequente, implicaria não só em notório atentado aos ditames da segurança jurídica, mas também violação ao princípio de estabilização subjetiva da lide, insculpido pelo artigo 41 do Código de Processo Civil. Nesse sentido, leciona Nelson Nery Jr.: O princípio da estabilidade subjetiva da lide (perpetuatio legitimationis) se aplica a todos os tipos de processo. Quando a lei fala em vedação da sucessão processual no curso do processo, quer significar que esta proibição atinge os processos de conhecimento, de execução e cautelar. Quanto à ação de execução, isto ocorre porque para ele são partes legítimas aquela que figuram no título executivo (sentença condenatória transitada em julgado) como credor e devedor. Se não pôde ser alterada a relação subjetiva no processo de conhecimento, as partes daquele processo, as partes daquele processo serão as mesmas do futuro processo de execução. (in Código de Processo Civil Comentado, 11ª Ed., Editora Revista dos Tribunais, p. 265) 6

7 ser exercida por meio de ação própria. Assim, eventual pretensão de regresso deverá Sobre o tema, destaca-se a jurisprudência desta Corte e do Colendo Superior Tribunal de Justiça: DESPESAS DE CONDOMÍNIO - EXECUÇÃO -PRESTAÇÕES CONDOMINIAIS PAGAS APÓS A ARREMATAÇÃO E ANTES DA IMISSÃO NA POSSE - PRETENSÃO DE RESSARCIMENTO FORMULADA PELO ARREMATANTE NA PRÓPRIA EXECUÇÃO - PEDIDO DE RESERVA DO SALDO REMANESCENTE DO PRODUTO DA ARREMATAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE. Eventual direito de regresso quanto às cotas condominiais pagas pelo arrematante, entre a arrematação e imissão na posse, deve ser exercido através de ação própria, sendo inviável exigi-las no processo de execução AGRA VO DESPROVIDO (TJSP, Agravo de Instrumento nº , Rel. Des. Andrade Neto, 30ª Câmara de Direito Privado, j. 29/09/2010) CONDOMÍNIO. DESPESAS. ARREMATAÇÃO DO IMÓVEL. OCUPAÇÃO PELA ANTIGA PROPRIETÁRIA. DÍVIDA POSTERIOR À AQUISIÇÃO. ÔNUS DA ARREMATANTE. - A arrematante do imóvel é a responsável pelo pagamento das cotas condominiais vencidas posteriormente à aquisição, sendo desinfluente a circunstância de a antiga proprietária ter permanecido no imóvel, como mera ocupante. Ressalva do direito de regresso contra esta última. Recurso especial não conhecido. (REsp /RS, Rel. Ministro BARROS MONTEIRO, QUARTA TURMA, julgado em 17/05/2005, DJ 27/06/2005, p. 399) Na ausência de motivos de que justifiquem a reforma da decisão combatida, imperiosa a manutenção do entendimento adotado em Primeiro Grau. 7

8 provimento. Ante o exposto, conheço do recurso e nego-lhe HUGO CREPALDI Relator 8