Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios - TJDFT

Transcrição

1 Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios - TJDFT Circunscrição : 1 - BRASILIA Processo : Vara : TERCEIRA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL Processo : Classe : Procedimento Ordinário Assunto : Promoção / Ascensão Requerente : SINDICATO DOS ODONTOLOGISTAS DO DF SODF Requerido : DF DISTRITO FEDERAL Sentença Vistos etc. Cuida-se de AÇÃO ORDINÁRIA proposta pelo SINDICATO DOS ODONTOLOGISTAS DO DISTRITO FEDERAL em desfavor do DISTRITO FEDERAL, buscando o reconhecimento de que a avaliação e a promoção funcional dos substituídos observe o interstício legalmente definido de forma isonômica entre todos os odontologistas, computando-se a partir da data que entende correta os efeitos jurídicos e financeiros da promoção funcional. Narra, em síntese, a carreira de Cirurgião-Dentista, no âmbito Distrital, é regida pela Lei nº 3.321/2004, estando previsto no parágrafo 2º do art. 3º do mesmo diploma o direito a progressão, que deverá levar em consideração o tempo de serviço a cada período de 12 (doze) meses de efetivo serviço, enquanto a promoção levará em conta a produtividade, o tempo de serviço e a titularidade do servidor. Alega, no entanto, nos termos do Decreto Distrital nº /93 e da Portaria nº 01 - SEA de 5 de janeiro de 1995, a aferição dos requisitos para promoção do servidor do último padrão da classe inicial ou intermediária reclama a formação anual de Comissão de Avaliação, que analisará apenas os servidores que cumpriram o último período de 12 (doze) meses se serviço até 30 de junho de cada ano. Assim, os servidores que implementam as condições legais previstas após essa data teriam que aguardar o outro exercício para serem avaliados e, dessa forma, conquanto os efeitos jurídicos de tal medida retroajam à data em que o servidor cumpriu os requisitos temporais, os efeitos financeiros seriam contados apenas em 1º de julho do ano seguinte. Aduz que essa medida ocasionaria disparidade entre servidores, tendo em vista a diferença remuneratória verificada entre aqueles que atingem o período de promoção entre janeiro e junho e os demais, que aniversariam entre julho e dezembro de cada exercício. Assevera não ser contra os critérios legais para promoção, todavia, entende que os efeitos pecuniários da mesma devem ser contados da data em que efetivamente

2 cumpriram todos os requisitos da norma. Com fulcro nessas razões, requer a procedência do pedido para que seja reconhecido que a avaliação para promoção funcional observe a data do efetivo cumprimento do interstício de 12 (doze) meses do último padrão da classe inicial ou intermediária, computando-se a partir dessa data os efeitos jurídicos e financeiros. Sucessivamente, pugna pelo reconhecimento de que os efeitos jurídicos e financeiros da promoção funcional retroajam a data do efetivo cumprimento do período indicado no último padrão da classe inicial ou intermediária. Regularmente citado, o DISTRITO FEDERAL apresentou contestação tempestiva. Preliminarmente, aduziu que, nos termos do art. 2-B, parágrafo único, da Lei nº 9.494/97, o ajuizamento da presente demanda reclamaria a juntada da ata da assembleia da entidade associativa que a autorizou, bem como a relação nominal dos seus associados e indicação dos respectivos endereços. Destarte, pugnou pela emenda à inicial para atendimento da referida exigência sob pena de indeferimento da inicial. No mérito propriamente dito, refutou o pedido autoral, sob o prisma de que, além do quesito temporal, a interpretação conjugada das normas de regência exige o cumprimento de todos os requisitos necessários para promoção, ou seja, além do período de trabalho efetivo, a produtividade, o tempo de serviço e a titularidade do servidor. Assim, entende que a aferição de todos os requisitos legais depende de tempo, o que só pode ser realizado na forma prevista, não havendo qualquer prejuízo para os servidores. Em relação aos juros de mora e índice de correção monetária, pugna pela aplicação do art. 1º-F da Lei Federal nº 9.494/97, com a redação conferida pela Lei nº /2009. Requer o acolhimento da preliminar e, ultrapassada, a improcedência do pedido. Réplica apresentada. Instados à produção de provas, as partes postularam pelo julgamento antecipado da lide. Foram apresentadas alegações finais. Os autos vieram conclusos para sentença. É o RELATÓRIO. DECIDO. FUNDAMENTAÇÃO Da Preliminar de Inépcia da Inicial O DISTRITO FEDERAL postula pela juntada de documentos que entende necessários para conhecimento da peça de ingresso, tendo em vista que o Substituto Processual deva apresentar a ata da Assembleia autorizativa, bem como da relação nominal dos associados.

3 Sem razão, ao contrário das Associações comuns, os sindicatos gozam de legitimidade para atuar judicialmente em substituição de seus afiliados na fase de conhecimento, liquidação e execução de sentenças proferidas em ações versando sobre direitos individuais homogêneos, como é o caso dos autos. Nesse sentido, colha-se o seguinte precedente deste eg. TJDFT: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE CONH ECIMENTO. SINDICATO. PRELIMINAR DE INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. REJEIÇÃO. INÉPCIA DA INICIAL. REJEIÇÃO. DECRETO DISTRITAL Nº /2009. ALEGAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE. PRELIMINAR DE INCIDENTE DE INCONSTITUCIONALIDADE. EX OFFICIO. NECESSIDADE DE EXAME PELO EG. CONSELHO ESPECIAL. ART. 97 DA CRFB/88 E ART. 237 DO RITJDFT. SUSPENSÃO DO FEITO ATÉ DECISÃO DO ÓRGÃO ESPECIAL. 1.A legitimidade do sindicato para agir judicialmente em favor de seus filiados não depende de expressa autorização individual, uma vez que age na condição de substituto processual, nos moldes do art. 8º, VIII, da CRFB. (...) 4.Preliminar de incidente de inconstitucionalidade acolhida. Unânime. (Acórdão n , APC, Relator: J.J. COSTA CARVALHO, Revisor: SÉRGIO ROCHA, 2ª Turma Cível, Data de Julgamento: 16/10/2013, Publicado no DJE: 30/10/2013. Pág.: 82 - GRIFEI). Portanto, REJEITO a preliminar de inépcia da inicial. Aparada essa aresta, presentes os pressupostos processuais e condições da ação, o processo está satisfatoriamente instruído, sem mais preliminares e não havendo requerimento de dilação probatória, passo ao julgamento antecipado da lide (art. 330, I, CPC). MERITO A controvérsia em apreço cinge-se na declaração de que os efeitos do cumprimento de todos os requisitos legais para promoção dos odontologistas previstos nos diplomas normativos específicos sejam contados a partir da data de sua efetiva implementação e não do momento da averiguação, ocorrida, em alguns casos, no ano posterior. Emoldurada a questão, é incontroverso nos autos que os Cirurgiões-Dentistas submetidos à Lei 3.321/2014 têm suas promoções reguladas pelo Decreto nº /1993 e, segundo a informação constante à fl. 111, prestada por meio do Ofício 13266/2013, pela Gerência de Carreira, Cargos e Remunerações DIPDEMA/SUGETES/SES, a promoção dos servidores Cirurgiões-Dentistas se dá da seguinte forma: "A promoção funcional ocorrerá em 1º de julho do no em que o servidor completar o interstício (12 meses) no último padrão da classe do cargo da Carreira em que é integrante. O servidor que se encontra com o interstício completo (12 meses) no último padrão da classe ou que irá completar até 30 de junho fará jus a concorrer a promoção funcional e se obter os postos necessários na tabela de mérito fará jus a mudança de classe em 1º de julho do ano em que está concorrendo. Os servidores que completam o interstício no segundo semestre de cada ano, somente concorrerá (sic) à promoção funcional no ano seguinte e se obterem os pontos necessários fazem jus à promoção em

4 01 de julho e progressão funcional no mesmo ano." Da simples leitura do excerto acima, depreende-se, a guisa exemplificativa, caso um servidor complete o interstício de 12 (doze) meses no mês de julho do ano de 2012 somente poderá verificar se obteve os pontos necessários para a promoção em julho de 2013, nesse caso, caso a resposta da Comissão seja positiva, os efeitos pecuniários serão devidos a partir de julho de Ora, essa situação enseja a ilação da ocorrência de tratamento desigual entre iguais, isso porque, noutro caso, um servidor que complete o prazo previsto (12 - doze - meses) em junho de 2012, ou seja, com no máximo um mês de diferença para o colega na hipótese anterior, terá direito à promoção, com todos os seus consectários, em julho de 2012, no mesmo ano, portanto. Destarte, conquanto a norma de regência exija a conjugação dos aspectos temporais e meritórios para obtenção ao direito de promoção, o certo é que a averiguação posterior apenas atesta, ou não, um fato já ocorrido. Em outras palavras, a demora evidenciada para aferição das condições legais para promoção não podem afetar o direito do Cirgurgião-Dentista de obter o benefício funcional na época em que, de fato, implementou TODAS as condições legais para tanto isso porque a natureza da decisão administrativa é declaratória e não constitutiva. Ademais, como referenciado, a hipótese tratada nos autos consubstancia tratamento antiisonômico entre servidores que estão em posições bastante similares, implicando no fato de que os Cirurgiões-Dentistas que comprovem o cumprimento dos requisitos legais no primeiro semestre de cada ano serão promovidos no mesmo exercício, enquanto os demais somente no posterior. Veja-se o disposto nas alegações finais do Distrito Federal: "(...) No caso, a norma específica - repita-se, Decreto Distrital nº /1993, Decreto Distrital nº /2006 e Portaria nº 01 de 05/01/ determinam que a avaliação de desempenho para fins de promoção seja realizada a cada ano, tendo por público os servidores que completaram o interstício de 12 (doze) meses no último padrão da classe inicial ou intermediária, até o dia 30 de junho do mesmo exercício (...)" - GRIFEI. Como ressaltado por ambas as partes, o prazo estipulado para aferição dos requisitos leva em consideração o tempo hábil para formação da Comissão de Avaliação, que, como indicado, tem o prazo até a primeira quinzena de outubro para deliberação acerca do cumprimento dos requisitos legais para promoção. Caso a referida Comissão abarcasse os processos dos servidores que completaram o ciclo no segundo semestre de cada ano, não conseguiriam verificar tempestivamente todos os casos postos a apreciação. Por outro lado, não há determinação nas normas referenciadas de que o pagamento das diferenças pecuniárias referentes à promoção tenha que se dar no mesmo ano da análise, esta interpretação não se coaduna com o objetivo da Lei, que é conferir a ascensão profissional daquele que cumpra todas as condições no prazo estabelecido no diploma - 12 (doze) meses no último padrão na classe inicial ou na classe intermediária, não no ano posterior. Forte nessas razões, o acolhimento do pleito autoral é medida que se impõe.

5 DISPOSITIVO Ante o exposto, julgo PROCEDENTE o pedido para declarar que os efeitos jurídicos e financeiros da decisão administrativa que reconheceu o cumprimento de todas as exigências legais previstas no 2º do art. 3º da Lei Distrital nº 3.321/2004 (a produtividade, o tempo de serviço e a titularidade do servidor), daqueles servidores que cumprirem o requisito temporal no segundo semestre de cada ano, verificado no exercício posterior, retroajam ao mês em que efetivamente se implementaram. Extingo o feito com resolução do mérito (art. 269, I, CPC). Condeno a parte requerida ao pagamento dos honorários advocatícios, que arbitro em R$ 1.000,00 (mil reais). Custas "ex lege". Sentença sujeita ao reexame necessário (art. 475,I, CPC). Decorridos os prazos legais, arquivem-se os autos. Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Brasília - DF, quarta-feira, 30/04/2014 às 17h46. Jansen Fialho de Almeida Juiz de Direito