DISPONIBILIDADE DE NITROGÊNIO E ADUBAÇÃO NITROGENADA PARA A MACIEIRA
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- Alexandre de Carvalho Casqueira
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1 DISPONIBILIDADE DE NITROGÊNIO E ADUBAÇÃO NITROGENADA PARA A MACIEIRA PAULO ROBERTO ERNANI, Ph.D. Professor das disciplinas de Química do Solo e Fertilidade do Solo da Faculdade de Agronomia da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) desde Pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) desde 1984.
2 AGRADECIMENTOS Ao Grupo Schio e à Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM) pelo suporte econômico na editoração desse livro. Aos diretores da Agropecuária Schio Ltda pelo financiamento de todos nossos experimentos de campo envolvendo a nutrição da cultura da macieira, assim como aos seus funcionários dos pomares e do packing house pelo auxílio na condução dos mesmos. À Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) pelo incentivo à geração de novas tecnologias. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de pesquisa nos últimos vinte anos. As meus orientados de Graduação e de Mestrado pelo auxílio nas análises laboratoriais. 2
3 Dedico esse livro à minha esposa Noilves e a meus filhos Vinícius e Lucas. 3
4 A disponibilidade do nitrogênio às plantas é mais complexa de ser avaliada que a dos demais nutrientes, em função do grande número de reações que ocorrem com esse elemento no solo, da rapidez de algumas dessas transformações, e da inexistência de análises laboratoriais rápidas e simples que quantifiquem com confiança os valores presentes no solo numa determinada época. O nitrogênio tem grande influência na macieira. A deficiência de N prejudica o desenvolvimento das plantas, a produtividade e a frutificação efetiva, além de favorecer a queda prematura das folhas e a alternância anual da produção. O excesso de N, por outro lado, também é prejudicial, pois estimula o desenvolvimento excessivo da vegetação, com reflexos negativos na qualidade das gemas e dos frutos, principalmente na coloração, no aparecimento de distúrbios fisiológicos, e na conservação. O conhecimento da disponibilidade de N no solo e a prescrição de doses adequadas de fertilizantes nitrogenados para a macieira constituem, portanto, desafios a serem perseguidos permanentemente. Nesse livro, são abordados os aspectos relacionados com a disponibilidade de nitrogênio com o objetivo de fornecer subsídios para a manipulação racional da adubação nitrogenada nos pomares de macieira e, com isso, obter altas produtividades de frutos com excelente qualidade e capacidade de armazenamento, sem, contudo, afetar negativamente o meio-ambiente. Inicialmente, são enfocadas as reações que ocorrem com o N no solo e as implicações delas na adubação da macieira, assim como os métodos disponíveis para avaliar a disponibilidade desse nutriente. Posteriormente, são descritas as características dos principais fertilizantes nitrogenados, com indicações dos mais adequados para essa espécie, e os princípios que envolvem a adubação foliar, incluindo eficiência das aplicações e dos produtos a serem utilizados. Finalmente, são apresentados e discutidos os resultados de pesquisa obtidos nos trabalhos conduzidos com nitrogênio em macieira nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. 4
5 ÍNDICE 1. Introdução 2. Aspectos Fisiológicos 2.1 Funções do nitrogênio na planta 2.2 Mecanismos de suprimento do nitrogênio às raízes 2.3 Absorção pelas plantas 2.4 Sintomas de deficiência de nitrogênio na macieira 2.5 Conseqüências do excesso de nitrogênio na macieira 3. Reações do nitrogênio no solo 3.1 Mineralização 3.2 Nitrificação 3.3 Desnitrificação 3.4 Imobilização 3.5 Volatilização de amônia 3.6 Lixiviação 4. Métodos para avaliar a disponibilidade de nitrogênio 4.1 Análise de solo 4.2 Análise foliar 4.3 Análise de frutos 5. Adubos nitrogenados 5.1 Fertilizantes minerais Uréia Nitrato de amônio Nitrato de cálcio Sulfato de amônio Nitrato de potássio Outros fertilizantes contendo nitrogênio Fosfato monoamônio (MAP) Fosfato diamônio (DAP) 5.2 Fertilizantes orgânicos Cama de aves Adubos verdes 6. Adubação foliar 6.1 Processo de absorção e redistribuição 6.2 Fatores que afetam a eficiência da adubação foliar Nutriente Tipo de fertilizante Condições climáticas Idade da folha Composição da solução 7. Resposta da macieira à fertilização com nitrogênio 7.1 Exigência em nitrogênio 7.2 Efeito no rendimento 7.3 Épocas de aplicação 8. Literatura citada 5
6 1. INTRODUÇÃO A cultura da macieira teve uma grande expansão na região sul do Brasil nas últimas duas décadas, tanto na área plantada quanto no desenvolvimento e adoção de novas tecnologias. Na nutrição vegetal, entretanto, a obtenção de resultados experimentais regionais foi mais modesta, principalmente em função da necessidade de serem conduzidos experimentos locais de longa duração e da existência de poucos pesquisadores trabalhando com essa espécie. Mesmo assim, houve avanços significativos no entendimento das dinâmicas do potássio, cálcio, e principalmente do nitrogênio. Paralelamente a isso, entretanto, os produtores têm sido freqüentemente assediados por vendedores de tecnologias e produtos que prometem verdadeiros milagres, normalmente de alto custo, mas que, na realidade, na maioria das vezes, não proporcionam nenhum efeito sobre o rendimento e a qualidade dos frutos. A disponibilidade de nutrientes para as plantas, incluindo a macieira, é muito influenciada pelas condições locais de solo e clima. Como as condições climáticas variam muito de um ano para outro, e também dentro da estação de crescimento, as tecnologias relacionadas com a nutrição devem ser geradas regionalmente e os experimentos necessitam ser conduzidos durante várias safras para que os dados sejam confiáveis e aplicáveis. Além disso, sempre que possível, os trabalhos de pesquisa devem ser conduzidos nos principais tipos de solos existentes na região produtora para que os resultados possam ser extrapolados para outras situações. Quando isso não é possível, os técnicos devem ter muita cautela e usar os conhecimentos teóricos para decidir em que condições podem aplicar os resultados científicos. A maioria das tecnologias nutricionais geradas nos países europeus e norte-americanos não pode ser usada no Brasil. Naqueles países, em função das diferenças de temperatura, os solos são muito mais jovens e apresentam composição mineralógica diferente e ph mais alto que os nossos. Essas diferenças interferem significativamente nas reações dos nutrientes no solo e conseqüentemente na disponibilidade dos mesmos às plantas. A disponibilidade do nitrogênio do solo é mais complexa de ser avaliada que a dos outros nutrientes, em função do grande número de reações que ocorrem com esse elemento, da rapidez de algumas dessas transformações, e da inexistência de análises laboratoriais disponíveis aos produtores que quantifiquem com confiança os valores presentes no solo. 6
7 O nitrogênio tem uma grande influência no desenvolvimento das árvores, na produtividade, e na qualidade dos frutos de macieira. A deficiência de N prejudica o desenvolvimento das plantas, a produtividade e a frutificação efetiva, além de favorecer o desfolhamento precoce e a alternância anual da produção. O excesso de N, por outro lado, também é prejudicial, pois estimula o desenvolvimento vegetativo excessivo, com reflexos negativos na qualidade das gemas e dos frutos, principalmente na coloração e no aparecimento de distúrbios fisiológicos, dentre eles bitter pit, depressão lenticelar e degenerescência interna da polpa. Além disso, quantidades excessivas de N no solo têm forte impacto negativo sobre o meio-ambiente em função da possibilidade de contaminação irreversível das águas subterrâneas com nitrato. O conhecimento da disponibilidade de N no solo e a prescrição de doses adequadas de fertilizantes nitrogenados para a macieira constituem, portanto, desafios a serem perseguidos permanentemente. No presente livro, abordaremos os aspectos relacionados com a disponibilidade de N e com a fertilização nitrogenada, objetivando fornecer subsídios para os técnicos e produtores manipularem racionalmente a adubação nitrogenada nos pomares de macieira e, com isso, obterem altas produtividades de frutos com excelente qualidade e capacidade de armazenamento, sem, contudo, afetar negativamente o meio-ambiente. Inicialmente, o livro aborda alguns aspectos fisiológicos do N, as reações que ocorrem com o N no solo e suas implicações na adubação da macieira, e os métodos para avaliar a disponibilidade desse nutriente. Posteriormente, descreve as características dos principais fertilizantes nitrogenados e os mais adequados para essa espécie e dá uma idéia genérica sobre os princípios da adubação foliar, incluindo eficiência das aplicações e dos produtos a serem utilizados. Finalmente, enfoca a necessidade da aplicação de N para os pomares de macieira localizados no sul do Brasil, com base nos resultados obtidos nos trabalhos de pesquisa conduzidos na região. 7
8 2. ASPECTOS FISIOLÓGICOS 2.1 FUNÇÕES DO NITROGÊNIO NA PLANTA A quase totalidade do nitrogênio está presente nas plantas fazendo parte da estrutura dos aminoácidos e das proteínas. As plantas são capazes de produzir todos os aminoácidos necessários. Uma pequena porcentagem do N, porém não menos importante, integra as moléculas de clorofila, dos nucleotídeos (ATP, ADP, NAD e NADP), dos ácidos nucleicos (ADN e ARN), das purinas, pirimidinas, vitaminas e das coenzimas. 2.2 MECANISMOS DE SUPRIMENTO DO NITROGÊNIO ÀS RAÍZES O N é suprido às raízes basicamente por fluxo de massa, em virtude de que as formas no solo prontamente disponíveis às plantas (amônio e nitrato) se encontram quase que totalmente na solução do solo. Nesse mecanismo, os nutrientes se movimentam em direção às raízes acompanhando o fluxo de água. A transpiração das plantas gera um déficit hídrico interno que faz com que elas absorvam água do solo, que, por sua vez, gera um gradiente hídrico no solo entre a rizosfera e os locais imediatamente distantes dela. Com isso, a água se movimenta em direção às raízes e leva consigo os nutrientes nela dissolvidos. A quantidade de N que chega à planta por esse mecanismo depende, portanto, das condições de transpiração, da concentração do nutriente na solução do solo e do teor de água no solo. Em épocas de estiagem, o movimento é prejudicado e pode ser que a quantidade que chega às raízes não seja suficiente para atender a demanda das plantas, mesmo em situações onde ocorra boa disponibilidade de N no solo. Através desse mecanismo, os nutrientes se movimentam rapidamente no solo, desde que haja umidade. Por isso, os fertilizantes nitrogenados não necessitam ser localizados, e podem ser aplicados em linhas ou a lanço, porém devem ser espalhados próximo das plantas. Em pomares de macieira, o ideal seria aplicá-los na zona de projeção da copa das árvores para que atinjam as raízes mais rapidamente, e isso é mais importante durante a fase de crescimento das árvores. Além disso, devido á alta mobilidade no solo, eles podem ser aplicados sobre a superfície, não havendo necessidade de incorporá-los com o solo. Sabendo que a concentração ideal de N nas folhas de macieira é de aproximadamente 2,0 a 2,5% ( a mg/kg), e supondo que as árvores necessitem absorver aproximadamente 400 litros de solução para formar 1,0 kg de matéria 8
9 seca, haveria a necessidade de 50 a 60 ppm (mg/l) de N na solução do solo durante o período de desenvolvimento vegetativo para que o solo suprisse todo o N às raízes pelo mecanismo de fluxo de massa. Esse valor é alto e somente ocorre em solos recentemente fertilizados com N. Entretanto, grande parte do N é absorvida durante as demais estações do ano e posteriormente é retranslocado dentro da planta. Fazendo-se o mesmo raciocínio para os frutos de macieira, cujo teor médio de N é de 400 mg/kg, e supondo que sejam necessários 40 litros de solução do solo para formar 1,0 kg de frutos, seriam necessários apenas 10 ppm (mg/l) de N na solução durante o período de formação dos mesmos. Essa concentração é facilmente encontrada na maioria dos solos das regiões produtoras de maçã no Brasil, mesmo sem terem sido fertilizados com nitrogênio (Proença et al., 2002). 2.3 ABSORÇÃO PELAS PLANTAS O N é absorvido pelas raízes principalmente nas formas de amônio (NH + 4 ) e nitrato (NO - 3 ), mais ou menos na proporção em que elas se encontram na rizosfera. A forma amoniacal é incorporada às proteínas sem nenhum gasto energético, diferentemente da forma nítrica que tem que ser reduzida antes de ser incorporada ao metabolismo vegetal. A redução do nitrato envolve um gasto energético de duas moléculas de NADH para cada molécula de nitrato. Sendo assim, plantas debilitadas, com poucas reservas, têm dificuldade de utilizar o nitrogênio absorvido. Essa redução é intermediada pela enzima redutase do nitrato, que é muito exigente em molibdênio. Por isso, quando houver deficiência de Mo, as plantas poderão mostrar sintomas de deficiência de N mesmo em condições onde haja boa disponibilidade desse nutriente no solo. Algumas espécies vegetais se desenvolvem melhor quando absorvem o amônio; outras, quando absorvem o nitrato; e para muitas delas, o desenvolvimento não é influenciado pela forma com que o N é absorvido. As razões para essas preferências ainda não estão bem conhecidas, mas podem estar relacionadas com o ph da rizosfera. A absorção de amônio provoca a acidificação da rizosfera porque as plantas liberam átomos de hidrogênio, enquanto que a absorção de nitrato eleva o ph ao redor das raízes porque as plantas liberam moléculas de hidroxila ou de bicarbonato. A existência de altas quantidades de amônio pode ocasionar toxidez às plantas, além de diminuir a absorção de nutrientes 9
10 catiônicos como K, Ca, e Mg por competição. Em solos arejados, o amônio se converte rapidamente em nitrato, como será visto posteriormente. 2.4 SINTOMAS DE DEFICIÊNCIA DE NITROGÊNIO NA MACIEIRA Como o N faz parte da molécula de clorofila, o sintoma mais visível de sua deficiência é o amarelecimento das folhas, que começa pelas mais velhas, uma vez que ele é móvel nos vasos condutores do floema. Dependendo da severidade da deficiência, a clorose pode atingir a planta toda. Quando a deficiência se torna severa, todo o metabolismo vegetal passa a ser prejudicado e as plantas apresentam desenvolvimento e vigor insatisfatórios. A deficiência de N ainda prejudica a frutificação efetiva, o tamanho dos frutos, induz ao desfolhamento precoce no outono, e aumenta a susceptibilidade das plantas a danos causados pela ocorrência de temperaturas extremamente baixas no inverno. Como conseqüência final, a deficiência de N provoca queda no rendimento e no tamanho dos frutos. 2.5 CONSEQUENCIAS DO EXCESSO DE NITROGÊNIO NA MACIEIRA O excesso de N pode provocar várias conseqüências negativas tanto na produtividade quanto na qualidade e conservação dos frutos de macieira. Quando a quantidade de N disponível é excessiva, as plantas tornam-se muito vigorosas e com vegetação abundante o que dificulta a penetração de luminosidade no interior das árvores. Por isso, relativamente às plantas com boa penetração de sol, árvores demasiadamente sombreadas normalmente têm menores produtividades e frutos pequenos, com baixa coloração e menor firmeza de polpa, e são mais susceptíveis ao aparecimento de vários distúrbios fisiológicos que incluem bitter pit, cork spot, depressão lenticelar e degenerescência interna da polpa (Stiles, 1994; Raese et al., 1997; Fallahi & Mohan, 2000). A aplicação de doses moderadas de Não solo, entretanto, não provoca efeitos negativos na qualidade e na conservação dos frutos (Wolk et al., 1998). Meheriuk et al. (1996) também não observaram nenhum efeito negativo na qualidade dos frutos de quatro cultivares de macieira ( Granny Smith, Mutsu, Newtown, e Shamrock ), ao aumentarem a dose de N de 80 para 160 kg/ha/ano, no Canadá. 10
11 3. REAÇÕES DO NITROGÊNIO NO SOLO Para que se possa entender a dinâmica do N no sistema solo-planta e a necessidade da aplicação de fertilizantes nitrogenados, é necessário conhecer todas as reações que ocorrem com esse nutriente no solo. O nitrogênio é o nutriente mais difícil de ser manejado nos solos de regiões tropicais e subtropicais, em virtude do grande número de reações a que está sujeito, da inexistência de análises laboratoriais de fácil execução, e das variações climáticas. A seguir serão abordadas, genericamente, cada uma dessas reações, sempre tentando enfocar o lado prático das mesmas sobre a disponibilidade desse nutriente aos vegetais, com ênfase à cultura da macieira MINERALIZAÇÃO Mineralização consiste na transformação do N orgânico, que está fazendo parte da estrutura dos materiais de origem animal ou vegetal, para a forma mineral. Essa reação é efetuada pelos microrganismos, principalmente fungos e bactérias, e ocorre em duas etapas (aminização e amonificação), ambas muito influenciadas por vários fatores climáticos e de solo. A mineralização é extremamente importante para a disponibilidade de N, pois aproximadamente 98% do N total do solo se encontram na forma orgânica, o qual tem que ser mineralizado para ser absorvido pelas plantas. O N constitui aproximadamente 5% da matéria orgânica humificada do solo. Sendo assim, um solo que tenha 4% de matéria orgânica, o que é muito comum nas regiões onde se cultivam macieiras, teria aproximadamente kg de N orgânico na camada superficial de 0 a 30 cm de profundidade. No processo de mineralização, inicialmente são atacadas as proteínas, havendo a liberação de aminas e aminoácidos, conforme a seguinte representação esquemática: Proteínas R-NH 2 + CO 2 + Energia + outros produtos A seguir, ocorre a amonificação, onde existe o consumo de átomos de hidrogênio, como pode ser visualizado na reação abaixo: R-NH 2 + 2H + + NH 4 A velocidade da mineralização depende da fração em que o N se encontra. O N presente nos estercos animais e em resíduos vegetais que se encontram em estádios iniciais 11
12 de decomposição mineraliza quase que completamente nos primeiros dois a três meses após a adição desses materiais ao solo. Por outro lado, a mineralização do N que está integrando a fração húmica da matéria orgânica do solo é bem mais lenta e a taxa dificilmente ultrapassa valores de 5% ao ano. Ernani et al. (2002a) verificaram que aproximadamente 60% do N contido na palha de aveia passaram para a forma mineral nos primeiros três meses após a aplicação desse material ao solo. Em se tratando de estercos, estima-se que a mineralização da fração nitrogenada seja superior a 60% nos primeiros dois meses após a adição ao solo, mesmo porque grande parte do N desses materiais já se encontra na forma mineral. Verifica-se, portanto, que após a aplicação de herbicidas, prática comum em pomares de macieira, grande parte do N absorvido pelas plantas invasoras será devolvido ao solo nos próximos dois meses, o qual poderá ser absorvido pelas árvores. Sendo assim, é importante que a dessecação das plantas invasoras preceda os períodos de máxima demanda por N pela macieira, fenômeno que ocorre principalmente no início da brotação e nos períodos iniciais subseqüentes à colheita. Isso também ocorre com os estercos, nos quais a maior parte do N é liberado nos primeiros dois meses após a adição desses materiais ao solo. Deve-se, portanto, evitar aplicá-los durante os meses de inverno, quando a absorção de nutrientes pelas plantas é pequena e o risco de perdas de N por lixiviação é grande. A maioria dos pomares de macieira no Brasil está implantada sobre solos que possuem médios a altos teores de matéria orgânica. Sendo assim, não havendo excesso de chuvas ou falta de umidade no solo, a quantidade de N liberada pela mineralização da matéria orgânica nativa é alta e, muitas vezes, supre as necessidades dessa cultura (Ernani et al., 1997; 2000; Ernani & Dias, 1999). Ernani et al. (1997) estimaram que aproximadamente 110 kg/ha de N são mineralizados da camada superficial com 30 cm de profundidade, no período compreendido entre a primavera e o outono, num solo com 4,0 % de matéria orgânica. A exportação de N pelos frutos, numa produtividade de 50 t/ha, é de aproximadamente 20 kg/ha. A quantidade de N mineralizada do solo aumenta com o aumento do teor de matéria orgânica e com o ph do solo, e é muito influenciada pela temperatura e umidade do solo, e pela atividade dos microrganismos. Havendo umidade no solo, a liberação de N é, portanto, maior no verão e na primavera do que nas demais estações, principalmente nos solos que 12
13 tenham ph maior que 5,5; nos meses de inverno, nos solos muito ácidos, e nos períodos de seca, ela diminui substancialmente. Sendo assim, em períodos prolongados de estiagem, ou em situações de pomares plantados sobre solos com baixos teores de matéria orgânica, ou pouco profundos, ou com grande quantidade de pedras na camada explorada pelas raízes, a quantidade de N mineralizada é pequena, e normalmente é necessária a adição de fertilizantes nitrogenados NITRIFICAÇÃO A nitrificação consiste na transformação do N amoniacal (N-NH + 4 ) em N nítrico (N- NO - 3 ). Essa reação é espontânea em solos oxigenados e todo amônio existente é convertido em nitrato em aproximadamente duas a três semanas. Ela é efetuada em duas etapas, respectivamente por bactérias dos gêneros Nitrosomonas e Nitrobacter, conforme pode ser visualizado abaixo: 2NH O 2 2NO H 2 O + 4H NO 2 + 3O 2 2NO 3 A nitrificação é indesejável porque os solos brasileiros possuem carga elétrica líquida negativa nos valores de ph utilizados para a produção vegetal. O amônio (N-NH + 4 ), por ter carga positiva, é retido pelas cargas negativas do solo, diferentemente do nitrato (N- NO - 3 ) que por ter o mesmo tipo de carga do solo e não se ligar às partículas sólidas por complexos de esfera interna permanece totalmente na solução do solo, podendo se perder por lixiviação. Devido a isso, dependendo da dose a ser aplicada ao solo, recomenda-se parcelar os fertilizantes nitrogenados, inclusive para a macieira. A nitrificação pode diminuir o ph do solo, como demonstra a reação acima, pois há a liberação de dois átomos de hidrogênio para cada molécula de amônio nitrificada. Sendo assim, a aplicação contínua de adubos amoniacais ou de adubos que produzam amônio, por muitos anos, pode contribuir para a diminuição do ph, principalmente em solos que tenham baixos teores de argila e matéria orgânica. Nos solos altamente tamponados que existem nas regiões produtoras de maçã do sul do Brasil, esse fenômeno é pouco expressivo DESNITRIFICAÇÃO 13
14 A desnitrificação consiste na transformação do N nítrico (N-NO - 3 ) em formas gasosas (N 2 e N 2 O), que se perdem para a atmosfera. Essa reação de redução somente ocorre em solos com baixo suprimento de oxigênio, porque os microrganismos anaeróbios facultativos usam o oxigênio existente no nitrato como receptor de elétrons na cadeia respiratória, como pode ser demonstrado esquematicamente abaixo: 4(CH 2 O) + 4NO H + 4CO 2 + 2N 2 O + 6H 2 O 5(CH 2 O) + 4NO H + 5CO 2 + 2N 2 + 7H 2 O Solos alagados, mesmo que temporariamente, solos compactados, e solos aos quais se incorporaram grandes quantidades de estercos, podem proporcionar desnitrificação. Nessas situações, deve-se evitar a aplicação de adubos nitrogenados que contenham nitrato, como nitrato de potássio, nitrato de cálcio, e nitrato de amônio; deve-se aplicar fertilizantes que contenham a forma amoniacal, como o sulfato de amônio, ou a amídica, como a uréia. Em pomares bem drenados, não ocorre perda de N por desnitrificação IMOBILIZAÇÃO A imobilização consiste na assimilação do N mineral do solo pela população microbiana com o objetivo de satisfazer suas necessidades metabólicas. Nessa reação, o N passa de uma forma prontamente assimilável pelos vegetais para a forma orgânica, temporariamente indisponível. Essa reação somente ocorre quando se adicionam ao solo materiais orgânicos com relações carbono/nitrogênio (C/N) maior que 25:1 a 30:1, ou após a morte de plantas invasoras que contenham relação C/N superior a esses valores, seja através da aplicação de herbicidas ou da senescência natural. A relação C/N dos microrganismos é de aproximadamente 10 a 12:1. Quando algum material orgânico com relação C/N maior do que esse valor é aplicado ao solo, a população de decompositores aumenta e eles necessitam de C e N. Como aproximadamente 2/3 do C orgânico se perde na forma de CO 2 durante o processo de decomposição, um material que possuía relação C/N de 30:1 passará a ter, no final do processo, relação de 10:1, e atenderá integralmente as necessidades de C e N dos microrganismos. Quando a relação C/N for maior que 30:1, os microrganismos buscarão N mineral do solo, competindo com as plantas; quando a relação for menor que 30:1, ocorrerá o inverso, e o processo de decomposição irá liberar N mineral para o solo. A imobilização de N é uma reação 14
15 temporária, com duração normalmente de algumas semanas, e o N incorporado às células dos microrganismos será liberado assim que a relação C/N do material que está sendo decomposto diminua e atinja valores menores que 30:1. Deve-se procurar evitar que a imobilização coincida com o período de alta demanda de N pelas macieiras. Quando isso não for possível, a adição de uns 15 a 20 kg/ha de N mineral evitará que falte N para as plantas. Ernani et al. (2002a), avaliaram a imobilização de N causada pela aplicação de 4,0 t/ha de palha de aveia, com relação C/N de 40:1, a um Nitossolo argiloso, e verificaram que ela é pequena e ocorre principalmente nos primeiros trinta dias após a adição do material ao solo. Proença et al. (2002), aplicaram folhas de macieira em senescência a amostras de um Latossolo Bruno, em quantidades de até 80 t/ha, e verificaram que nas doses de 5 e 10 t/ha não houve imobilização de N VOLATILIZAÇÃO DE AMÔNIA A volatilização de amônia é uma reação na qual o N migra do solo, na forma de gás, para a atmosfera. Essa reação pode assumir grande importância, principalmente quando se adicionam adubos nitrogenados amoniacais a solos com ph maior que 7,0, e também em algumas situações quando a uréia é aplicada sobre a superfície do solo, sem incorporação. Por isso, em solos com valores de ph acima de 7,0, deve-se aplicar o N na forma nítrica e evitar a aplicação de fertilizantes amoniacais ou de uréia porque em presença de grande quantidade de hidroxilas, o amônio reage com elas e libera amônia, conforme a reação abaixo: NH OH - = NH 3 + H 2 O Essa reação é importante para os solos alcalinos, que se encontram com freqüência nos países europeus e norte-americanos, mas é de menor significância para os solos brasileiros, que são naturalmente ácidos. A uréia é o fertilizante nitrogenado mais utilizado no Brasil, pois tem uma boa combinação entre eficiência agronômica e preço, relativamente aos demais fertilizantes nitrogenados. Muitas inverdades têm sido atribuídas a ela, como será discutido posteriormente, no capítulo destinado aos fertilizantes nitrogenados. A uréia, quando aplicada sobre a superfície do solo, pode ocasionar volatilização de amônia, desde valores insignificantes até quantidades extremamente altas, dependendo das condições de solo e 15
16 clima, mas normalmente as perdas são compensadas pelo baixo custo desse fertilizante em relação aos demais. Baixa umidade no solo, baixa capacidade de troca de cátions (CTC), temperaturas altas, e aplicação de calcário sem incorporação com o solo, são fatores que acentuam as perdas de amônia a partir da aplicação de uréia não incorporada ao solo. A hidrólise da uréia [CO(NH 2 ) 2 ] no solo resulta na formação de carbonato de amônio, conforme a seguinte reação: CO(NH 2 ) 2 + 2H 2 O (NH 4 ) 2CO 3 O carbonato de amônio formado, por outro lado, é instável e se decompõe rapidamente, originando amônio, bicarbonato e hidroxila, de acordo com a reação abaixo: (NH 4 ) 2CO 3 + H 2 O 2NH OH HCO 3 As moléculas de hidroxila e bicarbonato reagem com átomos de hidrogênio e elevam o ph ao redor dos grânulos do fertilizante, conforme as seguintes reações, respectivamente: OH - + H + = H 2 O HCO 3 + H + H 2 CO 3 CO 2 + H 2 O Dessa forma, parte do amônio se converte em amônia, conforme exemplificado abaixo, que, sendo um gás, pode se perder para a atmosfera, caso a uréia não seja incorporada com o solo: NH OH - = NH 3 + H 2 O Quando a uréia é incorporada ao solo, essas perdas praticamente não ocorrem porque a amônia, ao difundir para a atmosfera, encontra regiões de solo com ph menor que 7,0 e a reação acima ocorre no sentido contrário, com a formação de amônio. Tabela 1. Efeitos do método de aplicação da uréia e da palha de aveia preta na quantidade de amônia volatilizada durante trinta dias num Nitossolo Vermelho. (Fonte: Sangoi et al., 2003). Manejo da palha Métodos de aplicação da uréia Sem uréia Incorporada Na superfície NH 3 volatilizada (mg coluna -1 ) Ausência 0,3 b B * 0,5 b B 32,1 b A Incorporada 0,4 b B 0,6 b B 38,9 a A 16
17 Na superfície 7,2 a B 5,6 a B 15,1 c A Média 2,6 B 2,2 B 28,7 A * Médias sucedidas por mesma letra, minúscula na coluna ou maiúscula na linha, não diferem pelo teste de Duncan, ao nível de 5% de significância. Tabela 2. Efeitos do método de aplicação da uréia e da palha de aveia preta na quantidade de amônia volatilizada durante trinta dias num Neossolo Quartzarênico. (Fonte: Sangoi et al., 2003). Métodos de aplicação da uréia Manejo da palha Sem uréia Incorporada Na superfície NH 3 volatilizada (mg/coluna) Ausência 0,2 5,4 107,1 Incorporada 0,6 7,3 92,3 Na superfície 13,7 16,9 124,8 Média 4,8 B 9,9 B 108,1 A * Médias sucedidas por mesma letra, minúscula na coluna ou maiúscula na linha, não diferem pelo teste de Duncan, ao nível de 5% de significância. As tabelas acima, obtidas por Sangoi et al. (2003), comparam as perdas de amônia em função do método de aplicação de uréia, na superfície ou incorporada, em dois solos catarinenses, em combinações com métodos de aplicação de palha de aveia. Os resultados mostram que a adição da uréia sobre a superfície do solo aumenta as perdas de N por volatilização de amônia relativamente à uréia incorporada, independentemente do sistema de manejo da palha de aveia e da textura do solo. Mostram ainda que a volatilização de amônia foi maior e mais rápida no solo arenoso, com baixa capacidade de troca de cátions (CTC), do que no solo argiloso, principalmente quando a uréia e os restos culturais de aveia foram mantidos sobre a superfície do solo. No solo argiloso, apenas 14% do N adicionado se perdeu na forma de amônia, na média dos três sistemas de manejo dos restos culturais de aveia, quando a uréia foi aplicada sobre a superfície do solo; quando ela foi incorporada, entretanto, as perdas foram insignificantes e não diferiram do tratamento sem uréia. No solo arenoso, aproximadamente 54% do N adicionado volatilizou quando a uréia foi aplicada 17
18 sobre a superfície do solo, na média dos sistemas de manejo da palha; quando a uréia foi incorporada ao solo, a perda diminuiu para 4,9 % do N aplicado Nitossolo vermelho Neossolo quartzarênico mg de NH 3 volatilizada Tempo (dias) Figura 1. Quantidade de amônia volatilizada após a aplicação de uréia sobre a superfície de dois solos catarinenses. Média de três sistemas de manejo da palha de aveia preta e de três repetições (Fonte: Sangoi et al., 2003). Os resultados do gráfico acima, obtidos por Sangoi et al. (2003), mostram que a perda de amônia por volatilização ocorre essencialmente na primeira semana após a aplicação da uréia sobre a superfície do solo LIXIVIAÇÃO A lixiviação consiste no movimento vertical do nitrogênio no perfil do solo para profundidades abaixo daquelas exploradas pelas raízes. Ela é a reação mais importante que ocorre com o nitrogênio nos solos brasileiros em áreas com alta precipitação pluviométrica. A lixiviação depende da existência do nutriente em quantidades significativas na solução do solo e da percolação de água, seja da chuva ou de irrigação. A lixiviação de N é extremamente preocupante porque ele é o nutriente exigido em maior quantidade pelas 18
19 plantas, porque os solos brasileiros possuem essencialmente cargas elétricas negativas na camada arável, e porque a quase totalidade do N mineral do solo se encontra na solução e na forma de nitrato (NO - 3 ). Como o nitrato possui o mesmo tipo de carga que as partículas de solo e ele não é adsorvido à fase sólida por nenhum mecanismo além do eletrostático, a lixiviação de N ocorrerá sempre que houver percolação de água no perfil. A lixiviação é também responsável pela inexistência de efeito residual de N no solo, diferentemente do que ocorre com outros nutrientes que podem se acumular no solo. Sendo assim, quando as quantidades aplicadas superam a exigência das plantas, o excesso se perde por lixiviação antes do início da próxima estação de crescimento. Em anos com precipitação pluviométrica bem distribuída, a lixiviação pode não ser um grande problema, porém quando as chuvas são de grande intensidade, ela é preocupante e, para minimizá-la, os fertilizantes nitrogenados têm que aplicados em várias vezes. Em pomares adultos, a lixiviação é menos problemática do que em lavouras de culturas anuais, em função da presença de raízes da macieira até camadas de solo mais profundas, inclusive no subsolo, as quais podem absorver o N lá localizado. Mesmo para essa frutífera, dependendo da dose a ser aplicada na primavera e do tipo de solo, recomenda-se parcelar os fertilizantes nitrogenados em duas ou três vezes. Em pomares que se encontram em fase de crescimento e que precisem de N, recomenda-se o parcelamento do nitrogênio em até três ou quatro vezes, dependendo da quantidade a ser aplicada, do tipo de solo, e da distribuição do regime de chuvas, pois o sistema radicular ainda não explora um grande volume de solo. O N lixiviado pode atingir o lençol freático e contaminar as águas subterrâneas, tornando-se um grave problema ambiental e de saúde pública. Águas contendo mais de 10 mg/l (10 ppm) de nitrato são consideradas impróprias para o consumo humano e animal pela Organização Mundial da Saúde. Dentro do corpo, o nitrato pode ser reduzido a nitrito, o qual se combina com a hemoglobina na corrente sangüínea, produzindo a metahemoglobina, que por não atuar na oxigenação celular, pode provocar deficiência de oxigênio aos seres vivos animais. 19
20 30 Uréia incorporada Uréia superficial 25 ph 5,5 N lixiviado (mg/coluna) y = 8,06 + 5,94x - 0,60x 2 r 2 = 0,75 ph 7,0 y = 2,57 + 2,69x - 0,15x 2 r 2 = 0,79 y = 3,66 + 4,56x - 0,29x 2 r 2 = 0,85 y = 6,14 + 3,20x - 0,19x 2 r 2 = 0, Percolações Figura 2. Lixiviação de nitrogênio em função do ph e da forma de aplicação da uréia ao solo. (Fonte: Ernani et al., 2002a). Os dados do gráfico acima, obtidos por Ernani et al. (2002a), mostram que quando há percolação de água no solo, as perdas de N por lixiviação são altas independentemente do manejo da adubação nitrogenada. Quando o ph do solo é baixo e quando o fertilizante nitrogenado é aplicado sobre a superfície do solo, a lixiviação é retardada, e isso facilita a absorção do N pelas plantas. Mostram ainda que a lixiviação não é um fenômeno imediato, pois a máxima intensidade foi atingida após seis a oito chuvas simuladas, dependendo do ph do solo e do método de aplicação da uréia. A disponibilidade de N no solo depende, portanto, de todos os fatores que afetam as reações descritas anteriormente. Eles incluem: quantidades de N aplicadas, teor de matéria orgânica do solo, condições de mineralização, desenvolvimento das raízes, fatores climáticos, e movimento do nutriente em direção às raízes o qual é afetado principalmente pela umidade do solo. 20
21 4. MÉTODOS PARA AVALIAR A DISPONIBILIDADE DE NITROGÊNIO A disponibilidade de N para a cultura da macieira pode ser avaliada por meio de análises de solo, folhas e frutos, e pela diagnose visual. Para esse nutriente, a análise foliar e a experiência ao nível de campo têm sido as mais utilizadas. 4.1 ANÁLISE DE SOLO A análise de solo tem sido muito pouco usada para avaliar a disponibilidade de N para a macieira e também para as demais espécies vegetais, principalmente em função do grande número de reações que ocorrem com esse nutriente no solo, mesmo num curto espaço de tempo. Essas reações podem alterar significativamente os valores existentes, os quais, por ocasião do término das análises, já não mais representam o que existia no solo na época da coleta das amostras. O teor de matéria orgânica existente no solo dá uma idéia da quantidade de N potencialmente mineralizável a médio e longo prazo, porém não prediz valores disponíveis para períodos curtos, como uma estação de crescimento ou um ano agrícola. Os valores de N mineral do solo, que incluem fundamentalmente amônio e nitrato, são fáceis de serem obtidos e poderão dar uma boa idéia sobre a disponibilidade de N, desde que não ocorram precipitações pluviométricas de grande intensidade a ponto de provocar perdas significativas por lixiviação. A partir de 2003, iniciamos um projeto visando correlacionar os valores de N mineral do solo, em amostras coletadas em diferentes épocas, com o rendimento de frutos e com o teor de N nas folhas e nos frutos. Esperamos obter resultados promissores já nas próximas safras. A determinação da concentração de clorofila nas folhas e sua relação com a absorção de N pelas plantas também será testada neste projeto. 4.2 ANÁLISE FOLIAR A análise foliar é uma técnica importante para se avaliar a disponibilidade de nutrientes na cultura da macieira, principalmente quando acompanhada de análise de solo e de dados relativos à produtividade e ao histórico de manejo da área do pomar. Ela é fundamental quando não se conhece bem o histórico de uma dada área. À medida que as áreas passam a ser conhecidas pelos técnicos, a análise de folhas deixa de ser importante. 21
22 Especificamente para a macieira, quando não se tem disponível os dados relativos à produtividade e uma análise de solo recente, o conhecimento da composição das folhas tem muito pouco valor, principalmente para nitrogênio, potássio, cálcio e magnésio. A concentração dos nutrientes nas folhas é conseqüência da disponibilidade deles no solo, das condições de absorção pelas raízes, e da translocação dos mesmos para os frutos. Muitas vezes, os nutrientes existem em quantidades suficientes no solo, mas por alguma razão qualquer, como seca, excesso de água, ou mesmo impedimento físico do solo ao desenvolvimento das raízes, eles não são absorvidos em quantidades suficientes. Noutras vezes, mesmo tendo sido absorvidos, eles são translocados preferencialmente para os frutos e permanecem em baixas concentrações nas folhas. Ernani et al. (2002b), avaliaram a resposta da macieira à aplicação de potássio (K) ao solo e determinaram anualmente o rendimento de frutos e os teores de K nas folhas e no solo. Apesar de o K trocável ter atingido valores extremamente altos na camada de 0 a 20 cm de profundidade, maiores do que 600 mg/kg nas doses mais elevadas, a concentração de K nas folhas foi sempre inferior a 1,1% (Tabela 3), o que seria considerado insuficiente pelos padrões comparativos atualmente existentes. Os valores baixos de K nas folhas se deveram, entretanto, às altas produtividades de frutos obtidas. Como a concentração dos nutrientes nas folhas é afetada pela existência ou não de translocação deles para os frutos em quantidades significativas, assim como pela massa aérea vegetativa produzida, à medida que a produtividade de frutos aumenta há uma diminuição acentuada dos teores de K nas folhas, pois grandes quantidades migram das folhas para os frutos durante o período de desenvolvimento desses. Com o cálcio, com o magnésio e o nitrogênio ocorre o contrário: como eles migram em pequenas quantidades para os frutos, e o excesso de frutos inibe o desenvolvimento excessivo da parte vegetativa, a quantidade de massa foliar é menor em anos de altas produtividades e esses nutrientes têm suas concentrações aumentadas nas folhas. Em anos com pouca quantidade de frutos, o desenvolvimento vegetativo é favorecido e isso provoca uma diluição desses nutrientes nas folhas. Pode ocorrer também que, por alguma razão qualquer, as plantas tenham o desenvolvimento vegetativo prejudicado. Nesse caso, os nutrientes tendem a se concentrar nas folhas e superestimam os valores reais. Uma das maneiras de corrigir esses problemas 22
23 seria a coleta antecipada das folhas, fenômeno que estamos avaliando desde a safra 2001/2002, para a cultivar Royal Gala, desenvolvida sobre porta-enxerto M-9. Tabela 3. Concentração de K, Ca, Mg e N nas folhas da cultivar Fuji, em cinco safras, em função da aplicação anual de cloreto de potássio ao solo. Média de quatro repetições. (Fonte: Ernani et al., 2002b). K 2 O Safra kg ha -1 92/93 93/94 94/95 97/98 98/99 Média K (%) Média Ca (%) Média Mg (%) Média N (%) Média
24 4.3 ANÁLISE DE FRUTOS A análise de frutos ainda é uma técnica utilizada por poucos produtores de macieira. Ela tem fundamentalmente as mesmas potencialidades e limitações que a análise de folhas, acrescida do problema de amostragem. Normalmente são utilizados poucos frutos por amostra, que nem sempre refletem com fidelidade a composição da população real de frutos do pomar. A época de coleta e o tamanho dos frutos também têm que ser padronizados. Existem algumas técnicas que têm que ser padronizadas entre os laboratórios para que os resultados oriundos de diferentes regiões possam ser comparados, tais como: lavagem dos frutos com água destilada antes da análise para retirar os resíduos das pulverizações ou de poeira que se depositaram sobre a casca, parte do fruto a ser amostrada, e o método de digestão orgânica. Nós verificamos, num experimento onde estamos avaliando o efeito de aplicações foliares de cálcio na qualidade dos frutos, que amostras que não haviam sido lavadas apresentavam, em média, 10 mg/kg de cálcio a mais do que aquelas previamente lavadas com água destilada. A partir de 2001, começamos a avaliar partes do fruto que melhor estimam a composição dos mesmos, associado com metodologias práticas para uso em laboratório de rotina, e acreditamos poder publicar os resultados em Os teores de nitrogênio, cálcio e potássio nos frutos, associados ao tamanho dos mesmos, são bons indicativos para predizer a incidência de distúrbios fisiológicos e, por isso, uma diagnose precoce permite ao produtor decidir quais lotes de frutos deverão ser armazenados e quais deverão ser vendidos imediatamente. 24
25 5. ADUBOS NITROGENADOS Existem vários fertilizantes nitrogenados disponíveis no mercado, tanto de origem mineral como orgânica. A seguir serão abordadas algumas características daqueles mais importantes, envolvendo origem, fórmula química, e alguns aspectos relacionados com a eficiência agronômica FERTILIZANTES MINERAIS Todos os fertilizantes nitrogenados minerais existentes são completamente solúveis em água e, portanto, dissolvem imediatamente na solução do solo. Eles diferem na forma química em que o N se encontra (amoniacal, nítrica, ou amídica), na concentração, e nos demais cátions e ânions presentes em suas fórmulas. Quase todos são produzidos a partir da amônia (NH 3 ), a qual é obtida através da fixação do nitrogênio atmosférico, em presença de um catalisador e de altas quantidades de energia e pressão, conforme a seguinte reação: 3H 2 + N 2 + 6e - 2NH URÉIA [CO(NH 2 ) 2 ] A uréia é o fertilizante nitrogenado mais usado no Brasil, principalmente em função do baixo custo por unidade de nitrogênio e da alta concentração em N (45%) o que diminui os custos com transporte. A uréia foi inicialmente isolada a partir da urina, em 1773, e, por isso, é um componente de vários estercos animais. A uréia é um composto orgânico [CO(NH 2 ) 2 ], sintetizado a partir da combinação de amônia (NH 3 ) com gás-carbônico (CO 2 ), em duas etapas: 2NH 3 + CO 2 NH 2 COONH 4 NH 2 COONH 4 NH 2 CONH 2 + H 2 O As principais características desejáveis da uréia incluem: baixo custo por unidade de N, alta concentração de N, facilidade de ser encontrada no comércio, e necessidade de duas reações até atingir a forma de nitrato (hidrólise e nitrificação). Essa última característica tende a retardar o início do processo de lixiviação, uma vez que o amônio (NH + 4 ) é retido pelas cargas elétricas negativas do solo antes de ser nitrificado. Temos vários projetos de pesquisa em andamento estudando esse fenômeno e os resultados parciais são animadores. 25
26 O principal aspecto negativo da uréia como fonte de N para a macieira é a possibilidade de parte do nutriente se perder por volatilização quando ela é aplicada sobre a superfície do solo, sem incorporação. Para culturas anuais, existe também a possibilidade dela prejudicar a germinação das sementes e o desenvolvimento inicial das plântulas, quando aplicada em grandes quantidades próxima das sementes, em conseqüência da liberação de amônia (NH 3 ) e de nitrito (NO - 2 ) (Horn et al., 2003). Para se entender porque parte do N aplicado pela uréia se perde por volatilização quando ela não é incorporada ao solo, é necessário descrever as reações dela no solo, já apresentadas quando foi abordada a volatilização de N. Logo após a aplicação da uréia, ocorre sua hidrólise, que é efetuada por uma enzima, a urease, conforme a seguinte reação: CO(NH 2 ) 2 + 2H 2 O (NH 4 ) 2CO 3 O carbonato de amônio produzido na reação acima é instável e se decompõe rapidamente, produzindo amônio, hidroxila e o ânion bicarbonato, como pode ser visualizado a seguir: (NH 4 ) 2CO 3 + H 2 O 2NH OH HCO 3 Tanto a hidroxila quanto o bicarbonato reagem com átomos de hidrogênio e, como conseqüência, elevam o ph do solo nas regiões que circundam os grânulos de uréia, conforme as próximas duas reações: OH - + H + = H 2 O HCO H + H 2 CO 3 CO 2 + H 2 O O ph dessas regiões atinge valores maiores que 7,0, conforme se observa no gráfico a seguir, obtido por Ernani et al. (2001), e proporciona condições para que o amônio se converta em amônia, conforme a reação abaixo, a qual, sendo um gás, pode se perder para a atmosfera terrestre: NH OH - = NH 3 + H 2 O Os autores acima mencionados aplicaram vários fertilizantes químicos em quantidades equivalentes a 20% da massa de solo com o objetivo de simular o que ocorre nas regiões adjacentes aos grânulos de adubos quando eles reagem no solo. Os dados obtidos mostram que a uréia e o fosfato diamônio (DAP) elevaram o ph do solo, de aproximadamente 5,0 para valores próximos a 7,0, enquanto que o superfosfato triplo diminui o ph (Figura 3). Essas alterações no ph se mantiveram durante todo o período avaliado, que foi de trinta dias. 26
27 Quando a uréia é incorporada ao solo, as mesmas reações ocorrem, porém, durante a difusão da amônia em direção à superfície do solo, ela encontra partículas de solo com valores de ph mais baixos que aqueles existentes ao redor dos grânulos e se transforma em amônio novamente, revertendo a reação de volatilização. O amônio, por sua vez, pode ser adsorvido às cargas negativas do solo ou ser transformado em nitrato. 8 TEST SFT DAP URÉIA 7 ph do solo Dias após a adubação Figura 3. Valores de ph de um Latossolo Bruno em diferentes épocas após a aplicação de fertilizantes minerais em quantidades equivalentes a 20% da massa do solo. (Fonte: Ernani et al. 2001). Considerações sobre o uso de uréia no solo e em aplicações foliares As perdas de N através da volatilização de amônia após a aplicação de uréia sobre a superfície do solo variam desde valores insignificantes (menores que 5%) até quantidades extremamente altas (próximo de 50% ou mesmo mais), dependendo das características específicas de cada solo e das condições climáticas no dia da aplicação. Baixa umidade no solo, temperaturas atmosféricas altas, dias ventosos, e solos com baixa capacidade de troca 27
28 de cátions (CTC) e ph próximo de 7,0, favorecem as perdas. Sendo assim, a aplicação de uréia sobre a superfície, sem incorporação com o solo, deveria ser programada para dias com temperatura amena, sem muito vento, e com presença de umidade no solo, pois resultaria na diminuição das perdas por volatilização. Dias nublados, antecedendo chuvas, seriam os mais indicados. Em períodos prolongados de seca, principalmente no verão, os fertilizantes nitrogenados não deveriam ser aplicados, principalmente a uréia, caso ela não seja incorporada ao solo. A maioria dos solos onde se cultiva macieira na região sul do Brasil possui altos teores de argila e matéria orgânica, o que lhes confere uma alta CTC e um alto tamponamento. Essas características contribuem para a diminuição das perdas por volatilização, principalmente nas aplicações em pós-colheita, quando a temperatura atmosférica já não está tão elevada. A uréia é o fertilizante nitrogenado mais indicado para ser aplicado via foliar, por ser uma molécula não iônica e por apresentar um certo caráter hidrofóbico. Com isso, o N da uréia é absorvido mais rapidamente que o N dos demais fertilizantes nitrogenados, não sendo retido pelas cargas negativas das membranas plasmáticas. Vários trabalhos existentes na literatura alertam para a possibilidade de fitotoxidez quando a uréia possui teores de biureto acima de 0,2%. Nós temos feito pulverizações com soluções de uréia nos últimos treze anos em pomares de macieira, quando necessário, em concentrações que variam de 0,4 a 1,0%, e nunca constatamos nenhuma toxidez às plantas NITRATO DE AMÔNIO (NH 4 NO 3 ) O nitrato de amônio (NH 4 NO 3 ) é um fertilizante nitrogenado que vem ganhando mercado ultimamente no Brasil, principalmente em função do custo. Ele possui 33% de N, sendo metade na forma amoniacal e metade na forma nítrica, e é obtido pela mistura de amônia (NH 3 ) com ácido nítrico (HNO 3 ), conforme a seguinte reação: NH 3 + HNO 3 NH 4 NO 3 A parte amoniacal desse fertilizante pode se ligar às cargas elétricas negativas do solo, ser absorvida pelas raízes ou ser nitrificada. O nitrato, aplicado pelo fertilizante ou resultante da nitrificação, migra diretamente para a solução do solo, de onde pode ser absorvido pelas plantas ou ser lixiviado. A vantagem do nitrato de amônio em relação à 28
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