JANE TASSINARI FANTINELLI* FABIANA KARLA DE O. M. VARELLA** JOSÉ TOMAZ V. PEREIRA***
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1 AS POLÍTICAS DE FOMENTO E OS CENÁRIOS DE SUBSTITUIÇÃO DO CHUVEIRO ELÉTRICO PELA ENERGIA TERMOSSOLAR PARA AQUECIMENTO DE ÁGUA NA SUBCLASSE RESIDENCIAL DE BAIXA RENDA DO SETOR URBANO BRASILEIRO JANE TASSINARI FANTINELLI* JANE@FEM.UNICAMP.BR FABIANA KARLA DE O. M. VARELLA** FKV@FEM.UNICAMP.BR JOSÉ TOMAZ V. PEREIRA*** TOMAZ@UNICAMP.BR PLANEJAMENTO DE SISTEMAS ENERGÉTICOS, FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA, UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS. *DOUTORANDA ** MESTRANDA *** PROF. DR. TITULAR 1. RESUMO A disseminação do uso da energia solar, como forma de aquecimento de água residencial nos segmentos populares do Brasil, pode trazer o benefício da redução da infraestrutura na geração, transporte e distribuição da eletricidade e ainda a redução de impactos ambientais e sociais causados pelas hidroelétricas. A substituição do uso da energia elétrica por aquecedores solares permite que a eletricidade possa ser ofertada para usos finais mais adequados, com um valor mais competitivo para as companhias energéticas. Este trabalho além de abordar o panorama da energia termossolar nos países em que houve o incremento à substituição do uso da eletricidade para o aquecimento de água residencial por coletores solares, mostra o cenário atual brasileiro. O estudo dos instrumentos legais existentes no Brasil para o seu fomento mostra o quanto ainda são necessários esforços para que venham a se tornar planos públicos de incentivo e de criação de um mercado sólido e competitivo. Por fim, são traçados cenários de substituição do chuveiro pelo aquecimento termossolar, com uma análise de ganhos energéticos e dos custos de implantação de tecnologias de baixo custo com coletores solares existentes no mercado brasileiro. 2. ABSTRACT The dissemination of solar energy uses as residential water heating in the popular segments of Brazil can bring improvement of electricity infrastructure, transport and distribution. In the same way, it brings reduction of environmental and social impacts caused by hydroelectrics. The substitution of electric energy use for solar heaters allows that electricity can be offered for more adequate final uses, with more competitive price for the energy companies. This work approaches the panorama of termossolar energy in countries where it had been incremented in substitution to electricity uses for solar collectors residential water heating, and also, it approaches the Brazilian current scene. The analysis of the Brazilian existing legal instruments related to termossolar energy promotion discloses how much efforts are necessary to make public plans of incentive and creation of a solid and competitive market. Finally, scenes of substitution of shower for heating to termossolar were traced, with analysis of energy profits and technologies implantation costs of low cost with existing solar collectors in the Brazilian market.
2 3. INTRODUÇÃO Neste trabalho é avaliado o panorama da União Européia com suas diferentes políticas e conseqüentes resultados. São apresentados e comentados os instrumentos legais para o fomento da utilização da energia solar no Brasil. É mostrada a realidade social e o consumo da energia elétrica das classes populares brasileiras e apresentados alguns cenários de substituição do chuveiro pelos coletores solares, mostrando a economia de energia e os investimentos necessários para a criação de um mercado promissor. 4. O PANORAMA EUROPEU DO AQUECIMENTO TERMOSSOLAR No panorama europeu três países se destacam, entre os demais, pela alta concentração do uso de coletores solares: Alemanha, Grécia e Áustria. Estes países possuem 80% do total de coletores instalados na União Européia (EU), com uma média de área de coletores em operação, entre 203m 2 a 264m 2, para cada habitantes, o que os diferencia da média européia de 26m 2. As diferentes políticas adotadas por cada país tem determinado um maior incremento ou a estagnação dos mercados (ESTIF, 2003). Um comparativo entre alguns países, quanto à área de coletores solares instalados, a produção térmica gerada com a utilização de coletores, a emissão de CO 2 evitada, a fração de participação do setor residencial no mercado, o tamanho médio dos coletores usados e o custo por m 2 é mostrado na Tabela 1. Tabela 1. A GERAÇÃO TERMOSSOLAR NOS PAÍSES DA UNIÃO EUROPÉIA. PAÍSES Área de coletor Instalado m 2 /1000hab Produção total de energia térmica CO 2 evitado em 2001 Tonelada Mercado residencial % Custo do sistema típico euros/ m 2 Tamanho típico m 2 MWh GRÉCIA 264 m t 99% 295 2,4 m 2 ÁUSTRIA 203 m t 50% m 2 ALEMANHA 52 m t m 2 DINAMARCA 55 m % m 2 PORTUGAL 21 m t 67 % m 2 FRANÇA 8 m t ,5 m 2 ITÁLIA 5,9 m m 2 ESPANHA 5,8 m t 95% m 2 FONTE: ASTIG, Montagem dos autores. A Grécia possui 99% de seu mercado voltado para a produção de aquecimento de água residencial, enquanto a Áustria possui 50%. O restante está dividido entre sistemas de aquecimento coletivos (5%), aquecimento ambiental (40%), processos de aquecimento industrial, ar condicionado e aquecimento térmico de piscinas. O sistema típico é para 4 pessoas, com área de coletor que varia conforme a eficiência do sistema, entre 2 a 6m 2 e o volume do reservatório para água quente, entre 200 a 400 litros. Na Alemanha 90% dos coletores instalados em sistemas pequenos de 4 m 2 a 6 m 2 (flat plate) ou 3 m 2 a 4 m 2 (vacuum tube) foram usados em pequenas residências de uma ou duas famílias, com um custo aproximado de euros, dos quais 625 euros são subsidiados. Aproximadamente unidades são instaladas por ano, com um custo de euros. Na Itália o custo de um sistema típico para uma família de 4 pessoas, um coletor de 4 m 2 e um estoque de 200 litros, fica entre 1400 euros (circulação natural) e euros (circulação forçada). O consumo típico de 3.600
3 kwh/ano de eletricidade pode ser reduzido em até 75% com o sistema solar, havendo a recuperação do investimento em quatro anos (ESTIF, 2003). As razões para o sucesso de alguns se sustentam principalmente nos incentivos financeiros, regulações e subsídios fornecidos aos consumidores. Até 2002 o total de área instalada nos 15 países membros da EU era de aproximadamente 10,7 milhões de m 2, para um potencial técnico-econômico estimado de 1,4 bilhões de m 2. Esta capacidade representaria a geração de 682 TWh de energia térmica por ano, ou seja, 6% da energia final consumida na EU. Até o momento, a participação da energia termossolar, em todos os setores do mercado é de apenas 1% (ESTIF, 2003). 5. OS INSTRUMENTOS LEGAIS PARA O FOMENTO NO BRASIL Em 1988 algumas linhas de ações foram propostas dentro do Programa Nacional de Energia Solar Pro-Solar (MME, 1988) para o estímulo ao estabelecimento de legislação que garantisse o uso da energia solar e a redução de custos dos seus equipamentos e sistemas. O Programa já naquela data mostrava o avanço em termos de estratégia energética com relevantes benefícios sociais às populações de baixa renda. O programa, no entanto, nunca foi implantado (Fantinelli, 2002). Em 1996 foi criado o Programa de Incentivos às Energias Renováveis PIER - Projeto de Lei 5210, tendo como justificava a abordagem de que o planejamento centralizado do Brasil, voltado para o atendimento das grandes demandas, tinha falhado em seu aspecto social, deixando milhões de brasileiros sem os benefícios da eletricidade para a satisfação das necessidades mínimas de uma vida digna. O programa estabelecia normas para assegurar a distribuição e comercialização da energia produzida, além de prever a aplicação de recursos sob a regulamentação de um conselho diretor, e sua execução, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ou pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Com objetivos similares ao PIER, em maio de 2002, a Comissão da Câmara dos Deputados junto com a Comissão do Ministério de Minas e Energia aprovou o Projeto de Lei 4138/01, criando uma lei que estabelecia um fundo que garantisse o financiamento para a instalação de coletores solares em imóveis comerciais e residenciais em todo o país. O projeto, chamado PROSOL, contaria com um Fundo Nacional de Fomento ao Uso de Energia Solar FUNSOL - que seria formado por recursos provenientes da cobrança de uma taxa sobre o faturamento bruto anual de cada uma das concessionárias dos serviços públicos de energia elétrica em operação no Brasil. A Caixa Econômica Federal (banco público federal), já em maio de 2001, disponibilizou um crédito de R$ 100 milhões para financiar a compra de aparelhos residências de aquecimento solar, com programas de financiamento distintos, atendendo às diversas camadas de renda da população. Nenhum, no entanto, capaz de atingir as classes populares. No programa de financiamento de Compra de Materiais de Construção, que poderia ser usado para a compra de coletores solares, o recurso passa a ser utilizado pelas classes populares, para as necessidades mais prementes que são as melhorias na moradia. Em relatório apresentado no II Fórum de Energia Limpa, ocorrido entre 29 e 30 de julho de 2002, a CEF mostrou que 601 unidades tinham sido financiadas, em todo o Brasil, com coletores compactos (de 2m 2 de placa e 200 litros) valor médio de R$ 987,00.
4 Isto demonstra a inexistência de políticas públicas voltadas a atingir, em larga escala, o universo de consumidores de baixa renda. 6. A REALIDADE SOCIAL E O CONSUMO DE ELETRICIDADE DAS CLASSES POPULARES NO BRASIL O Brasil, segundo os dados do IBGE de 2001, possui 27,6% de sua população vivendo com até dois salários mínimos e 32,2 % com renda entre 2 e 5 salários mínimos. As famílias que vivem com este valor 1 de R$ 400,00 (US$ 140) possuem uma renda diária de 4,6 dólares 2. Estima-se que 53 milhões vivam abaixo da linha de pobreza, e destes, 22 milhões em condições de miséria. Dados que constam de estudos de Roméro (1998) e França (1999) mostram o consumo médio de eletricidade do segmento de baixa renda na cidade de São Paulo. Nos conjuntos habitacionais 3 o consumo médio é de 180 kwh/mês. A parcela que consome entre 101 a 200 kwh/mês é de 43% 4. Existe um potencial de consumo de 26%, que se encontram entre os que consomem entre 0 a 100 kwh/mês. Para consumos maiores de 300 kwh/mês estão 32% dos moradores. No ano de 2000 a Agência Nacional de Energia Elétrica ANEEL dispunha de dados de consumo e número de consumidores residenciais por região brasileira, seguindo os critérios para consumidor de baixa renda, definidos pelas próprias empresas concessionárias. Do total de 40,5 milhões de famílias, 13 milhões (Figura 1) pertenciam aos segmentos de baixa renda, com um consumo médio de 147 kwh/mês. Incorporadas as variáveis climáticas e culturais a média de consumo ficava entre 92 e 185 kwh/mês, num total estimado para o ano de 2000 de 19.6 MWh 5 (Fantinelli, 2002). Sul 123 kwh/mês cons. Centro-Oeste Sudeste Nordeste Norte 185 kwh/mês cons. 92 kwh/mês cons. 129 kwh/mês cons kwh/mês número consumidores consumo MWh/mês Figura 1. CONSUMO MÉDIO (kwh/mês) E NÚMERO DE CONSUMIDORES DE BAIXA RENDA NO BRASIL, EM 2001, POR REGIÃO. Fonte: Aneel, 2001 in Fantinelli, Salário mínimo em 2003 é de R$ 200,00 e o dólar, em 8 de junho de 2003, vale R$ 2,98. 2 Dividindo este valor pelo número médio de habitantes por domicílio - 4,35 (Kowaltowski et al. 1995), o ganho diário por pessoa será de US$ 1,07. Valor que se aproxima da caracterização de ganho para um indivíduo ser considerando pertencente à categoria de pobre, para o Banco Mundial. 3 Pesquisa realizada por Roméro em 27 conjuntos habitacionais de baixa renda na cidade de São Paulo. 4 Dados da Empresa Bandeirantes de Energia para o segmento de baixa renda na cidade de São Paulo. 5 O consumo residencial convencional brasileiro (excluindo a baixa renda) foi de 63.8 MWh no ano de 2000 (ANEEL, 2002).
5 A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), na Resolução n 485 da ANEEL, de 28 de agosto de 2002 (ANEEL, 2003), mudou esta classificação e estabeleceu uma nova diretriz para classificação de consumidor residencial de baixa renda. Os descontos passaram a ser escalonados: até 30 kwh, redução de 60%; de 31 a 100kWh, 40%. Terão direito a estes descontos na tarifa (tarifa subsidiada) de energia elétrica apenas aos inscritos nos programas sociais do governo federal como Auxílio-Gás, Bolsa-Escola e Bolsa-Alimentação. Condicionado também a uma renda per-capita de, no máximo meio salário mínimo por pessoa (R$ 110 ou US$ 37,8) e consumo monofásico. Não existe ainda um número definido de consumidores que estão sendo atendidos por este critério, visto os prazos de inscrição terem sido sucessivamente estendidos. 7. OS CENÁRIOS DE SUBSTITUIÇÃO DO CHUVEIRO POR COLETORES SOLARES: A ECONOMIA DE ENERGIA E OS INVESTIMENTOS NECESSÁRIOS A presença de chuveiros nas residências brasileiras é estimada em 97%, com uma potência instalada normalmente variando de 4,4 a 6,5 KW. Os chuveiros elétricos são responsáveis por 25% do consumo residencial e 34% do consumo total do horário de ponta 6. No Brasil o desenvolvimento de coletores solares de baixo custo ainda é recente. Os mais econômicos possuem uma placa coletora de aproximadamente 1,35m 2 e atendem o aquecimento de água para uma família de 4 a 5 pessoas, com 160 litros de água aquecida/dia. A eficiência energética média destes coletores é de 47% (fator solar), com uma produção média mensal de energia de 117 kwh/mês. Coletores de menor custo como coletores compactos e o coletor ASBC possuem um retorno financeiro menor que os comercializados para a classe média brasileira. O coletor compacto (Marca Soletrol) mostrado na Figura 3 possui uma eficiência de 109 a 137 kwh/mês/família e custo de R$ 1000 (US$ 336). Estudos feitos por Luna (2001), para Santa Catarina, mostram um retorno financeiro em torno de 4 a 5 anos, para coletores compactos, conforme a irradiação média solar de cada região do estado. O coletor chamado Aquecedor Solar de Baixo Custo ASBC, mostrado na Figura 4, possui um retorno financeiro estimado em torno de 9 meses. Proporciona uma economia de 52 kwh/mês/família e custo de R$120 (US$ 40,5). Pode ser construído pelo próprio morador ou pela comunidade através de especificações distribuídas livremente pela internet. 6 Horário compreendido entre 18 e 21 horas, com demanda máxima às 19horas.
6 Figura 3. Coletor solar compacto. Fonte: Figura 4. Coletor solar ASBC. Fonte: Atualmente o alto custo inicial do coletor solar se deve à inexistência de uma política pública voltada para o incentivo e disseminação deste tipo de tecnologia. A ausência da produção em escala e financiamentos para implementar o setor, faz com que os preços de mercado e os equipamentos produzidos contemplem apenas os setores com rendas elevadas. Trabalhando com cenários exploratórios da substituição do chuveiro por estes coletores de baixo custo, tomou-se como população alvo a subclasse residencial de baixa renda, cujo número de consumidores e consumo de eletricidade a ANEEL dispunha em 2001 (Tabela 2). Analisou-se três hipóteses: a substituição em 30%, 50% e 70 % dos consumidores das regiões sudeste, centrooeste e sul, devido às suas condições climáticas de maior incidência de dias frios e também por ser nestas regiões onde o uso de chuveiro elétrico está mais concentrado. A Tabela 2 mostra o número de consumidores residenciais de baixa renda existente por região brasileira e os que seriam beneficiados com a inserção de coletores solares nas moradias, nos cenários apresentados: em torno de 3 milhões para um cenário de 30%, 5 milhões para 50% e 7 milhões para 70%. Tabela 2. NÚMERO DE CONSUMIDORES RESIDENCIAIS DE BAIXA RENDA EXISTENTES POR REGIÃO BRASILEIRA e NÚMEROS PROJETADOS COM OS CENÁRIOS DE SUBTITUIÇÃO DE CHUVEIROS EM 30%, 50% e 70% DESTE UNIVERSO Baixa renda * NORTE NORDESTE SUDESTE CENTRO-OESTE SUL TOTAL % N CONSUMIDORES baixa tensão 7 Cenário A - 30% Cenário B - 50% Cenário C- 70% Fonte: *MME-ANEEL, Histórico de 1996 e 1999-Plante/Mercado; dados verificados de SISEN/AMP; dados estimados para 2000 com base nos dados de 1996; in Fantinelli, A Tabela 3 reúne o consumo de eletricidade em MWh/ano desta população, por região brasileira, e os cenários de consumo a serem explorados na análise: aproximadamente 5 milhões de MWh/ano para 30%, 8,4 milhões para 50% e 11,7 milhões para 70%.
7 Tabela 3. CENÁRIOS DE SUBSTITUIÇÃO DO AQUECIMENTO DE ÁGUA COM CHUVEIRO ELÉTRICO POR COLETORES SOLARES NO CONSUMO RESIDENCIAL DE BAIXA RENDA NO BRASIL MWh/ano Baixa Renda* NORTE NORDESTE SUDESTE CENTRO- OESTE SUL TOTAL % N CONSUMIDORES Consumo MWh Cenário A - 30% Cenário B - 50% Cenário C - 70% Fonte: *MME-ANEEL, Histórico de 1996 e Plante/Mercado; dados verificados de SISEN/AMP; dados estimados para 2000 com base nos dados de 1996; Fantinelli, A Tabela 4 mostra os cenários de economia de energia com a substituição do chuveiro elétrico por coletores solares compactos. Para cenários distintos de 30%, 50% e 70% nas regiões sudeste, centro-oeste e sul, tem-se a economia de energia elétrica que vai de aproximadamente 1,4 milhões a 3,3 milhões MWh por ano, para um consumo que vai de 2,8 milhões a 6,5 milhões MWh/ano gastos somente com o aquecimento de água. Tabela 4. CENÁRIOS DA ECONOMIA DE ENERGIA ELÉTRICA COM A SUBSTITUIÇÃO DE 30% - 50% E 70% DO CHUVEIRO POR COLETORES SOLARES NO SEGMENTO DE BAIXA RENDA NO BRASIL Cenário A 30% Cenário B 50% Cenário C 70% Número consumidores baixa renda Consumo MWh/ano % Energia gasta chuveiro* MWh/ano ,0% Economia de energia * MWh/ano % Redução de demanda na ponta* MW *Para chuveiro com potência 4,4 kw, vazão de 7 litros por/min, média de 4,35 pessoas por domicílio e um banho quente de 8 minutos por pessoa (Anexo 1). Analisando a substituição, somente em 30 % dos domicílios, há economia de energia de 1,4 milhões de MWh/ano, para um consumo de 2,8 milhões de MWh/ano gastos para o aquecimento de água. Estes valores se referem a uma eficiência (fator solar) dos coletores de 50%. A redução de demanda na ponta fica em 1 mil MW. Estes cenários mostram a possibilidade da diminuição de gastos com eletricidade para estes setores de baixa renda na ordem de 50%, principalmente nas regiões sudeste, sul e centro-oeste. Deve-se levar em conta que o aumento da eficiência dos coletores poderá aumentar esta economia, principalmente se as temperaturas de uso da água se situarem em torno de 38 a 40 o C. A substituição gradual de 50% e 70% do uso do chuveiro acentua a economia de energia elétrica e reduz em MW a demanda na ponta. Os investimentos necessários para a substituição do chuveiro elétrico por tecnologia com coletores solares de baixo custo existentes atualmente no mercado brasileiro estão explicitados na Tabela 5. No Cenário B em que se propõe a intervenção em 50 % dos consumidores, os investimentos são da ordem de 5 milhões de reais ou 1,7 milhões de dólares, chegando a 2,4 milhões de dólares para a inserção em 70% das moradias. Estes valores podem ser reduzidos quando toda a cadeia produtiva de coletores solares possuir um mercado capaz de proporcionar produção em escala e competitividade entre as indústrias fabricantes.
8 Tabela 5 INVESTIMENTOS NECESSÁRIOS PARA A SUBSTITUIÇÃO DO CHUVEIRO ELÉTRICO POR COLETORES SOLARES CENÁRIO A (30%) CENÁRIO B (50%) CENÁRIO C (70%) R$ US$* R$ US$ R$ US$ Coletor compacto R$ 1.000,00 3 milhões 1 milhão 5.1 milhões 1,7 milhões 7.1 milhões 2,4 milhões Coletor ASBC R$ 120, mil 124 mil 613 mil 206 mil 858 mil 288 mil * Dólar em fev R$ CONCLUSÃO O uso de coletores solares para o aquecimento de água requer um investimento inicial razoável. Políticas públicas orientadas em especial para os segmentos de baixa renda, como em alguns países desenvolvidos, poderiam constar de planos nacionais de incentivo e fomento. Com um dimensionamento adequado os coletores de baixo custo podem se tornar competitivos com as tarifas de energia elétrica. A substituição dos chuveiros elétricos por coletores representa economia de energia, com um superávit de eletricidade que poderia ser redirecionada para outros investimentos, permitindo a diminuição do pico máximo de demanda de energia, com a oferta da eletricidade sendo efetuada para outros usos finais mais adequados e mais rentáveis, além da geração de empregos com a ativação da indústria de coletores. Paralelo a estas questões os setores populares poderiam redimensionar seus gastos com energia elétrica, com o incremento de iluminação à moradia ou uso dos equipamentos eletroeletrônicos que venham melhorar a sua qualidade de vida dentro da habitação. Os cenários apresentados com a substituição do chuveiro por sistemas de coletores de baixo custo mostram os montantes de recursos que deverão ser alocados para a implementação das diversas tecnologias existentes. Os investimentos poderão variar de 350 mil dólares a 2 milhões de dólares, conforme os cenários de incorporação de moradias ao uso de coletores e da tecnologia apropriada para cada comunidade, região e clima. Estes dados, no entanto, referem-se aos usuários que já estão atendidos pelos serviços de eletricidade. Existe ainda um enorme déficit de consumidores que deverão, ainda, serem contemplados pelo programa da universalização dos serviços de energia. A inexistência de planejamento e políticas públicas voltadas para a substituição da eletricidade por tecnologias que venham reduzir o seu consumo, e conseqüentemente, diminuir o impacto das tarifas sobre a renda das camadas populares faz com que 13 milhões de consumidores estejam alijados de benefícios que claramente podem ser incorporados a estes setores. O PROINFA ao não incluir o incentivo ao uso da energia termossolar, deixa para que sejam desenvolvidos em outros programas os fomentos destas tecnologias. O PIER e o PROSOL ainda precisam ser aprimorados para que venham a se tornar instrumentos políticos e regulatórios para a disseminação do uso da energia solar, como forma de economia de eletricidade, e incorporação dos segmentos pobres brasileiros num planejamento energético que contemple esta realidade social. 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica. Disponível na internet: ESTIF European Solar Thermal Industry Federation. Ed. Brechlin, Pilgard & Piria; Bruxela, Vol I e II. Abr 2003.
9 FANTINELLI, J. T. Tecnologia solar de interesse social e baixo custo para aquecimento de água na moradia. Dissertação (Mestrado), Faculdade de Engenharia Mecânica, Universidade Estadual de Campinas, p. FRANÇA, C. R. A. Programas sociais de eletrificação em empresa estatal de serviço público: análise dos projetos de eletrificação de áreas residenciais urbanas de baixa renda na Eletropaulo S. A. e de suas perspectivas sob gestão privada. São Paulo: USP, Tese (mestrado) Programa Interunidades de Pósgraduação em Energia, Universidade de São Paulo, p. IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Indicadores Sociais Mínimos Disponível na internet: Disponível na internet: Visitado em: jun 2001 LUNA, S. L. Coletor solar integrado a chuveiro elétrico. Disponível na internet: jun 2003 MME Ministério de Minas e Energia. PRO-SOLAR programa Nacional de Energia Solar-Plano Diretor. Brasília: MME. 1988, 78p. ROMÉRO, M. A. Consumo de energia elétrica e padrões de uso em conjuntos habitacionais para populações de baixa renda. In: lv Encontro Nacional do Conforto no Ambiente Construído. Anais. Salvador, nov 1997, p ANEXO 1 PLANILHAS DE CÁLCULOS* DA ENERGIA GASTA, ECONOMIZADA E REDUÇÃO DE DEMANDA NA PONTA, DA SUBCLASSE RESIDENCIAL DE BAIXA RENDA NO BRASIL ANO 2001 (1) Energia gasta (MWh/ano) = PC x NB x T/60 x 365 x 10-6 x NR PC= potência máxima típica dos chuveiros utilizados (W) NB= número médio de banhos por residência T/60=tempo de duração do banho NR = número de residências atendidas (1) Energia gasta =4.400W x (4,35x 8min/60x30dias) = 76,5 kwh/mês x 12 meses = 918,7 kwh/ano x moradias (2) Energia Economizada (MWh/ano) = FS x PC x NB x T/60 x 365 x 10-6 x NR FS= fração solar PC= potência máxima típica dos chuveiros utilizados (W) NB= número médio de banhos por residência T/60=tempo de duração do banho NR = número de residências atendidas (2) Energia economizada = 50% x 4.400W x 4,35 x 8min/60min x 365 x 10-6 x número de moradias (3) Redução de Demanda na Ponta (MW) = NR x NC x (PC- P aux ) x FD x 10-6 NR = número de residências atendidas NC=número médio de chuveiros por residência PC=potência máxima típica dos chuveiros utilizados (W) P aux = potência média do aquecimento auxiliar por residência (W) (ver anexo) FD= fator de diversidade de demanda do chuveiro na ponta ( FD=0,10) (3) Redução de demanda na ponta = x 1 (4.400W 1000W) x 0,10 x10-6 =1.041MWh/dia x 365= MWh/ano
10 * Manual para elaboração do programa anual de combate ao desperdício de energia elétrica: ciclo 1999/2000. Brasília: Agência Nacional de Energia, p.
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