HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO SÉCULO XII: A VISÃO DE BERNARDO DE CLARAVAL A RESPEITO DA AQUISIÇÃO DO CONHECIMENTO
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1 HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO SÉCULO XII: A VISÃO DE BERNARDO DE CLARAVAL A RESPEITO DA AQUISIÇÃO DO CONHECIMENTO doi: /XIIjeam2013.goncalves.pizoli24 GONÇALVES, Marize Mota 1 PIZOLI, Rita de Cássia INTRODUÇÃO O presente trabalho situado na área da história da educação tem como objeto de estudo o Sermão 36 Sobre o conhecimento e a ignorância de autoria de Bernardo de Claraval, monge beneditino considerado um dos grandes mestres do Ocidente Cristão. Por meio deste, pretendemos analisar e discutir algumas características sociais e educacionais do período Medieval, bem como as obras de São Bernardo, responsável pela fama da Ordem Cisterciense. OBJETIVOS Estudar alguns aspectos da sociedade medieval bem como o conceito de Bernardo de Claraval a respeito da aquisição do conhecimento. MATERIAIS E MÉTODOS O método utilizado para a realização do estudo é a investigação bibliográfica tendo como fonte primária o Sermão 36 Sobre o conhecimento e a ignorância. Tratamos inicialmente de contextualizar o discurso, ou seja, situá-lo social, religioso e politicamente de modo que nos permita ir a fundo nas condições que levou Bernardo a 1 Programa Institucional de Bolsas para Iniciação Científica PIBIC Fundação Araucária 1
2 escrever sobre o assunto. Além de discorrer sobre o próprio sermão e as influências do autor. RESULTADOS E DISCUSSÃO Bernardo de Claraval se apresenta como um personagem de grande influência sobre religião do século XII sendo que foi sob sua direção que a Ordem Cisterciense alcançou toda sua fama. Além de monge influente foi também evangelizador que falava e, sobretudo, escrevia cartas e sermões que se tornaram clássicos referentes à vida monástica, porém, não restringia-se ao espaço monástico, ou seja, como evangelizador, deixa de falar apenas para religiosos espalhando sua palavra tanto falada quanto escrita. Vive em um contexto de mudanças sociais, políticas, econômicas e religiosas, dentre elas o renascimento da sociedade europeia em geral como as cidades, o comércio e uma relativa pacificação. Pontos estes que colaboraram para a intensa migração do campo para as cidades provocando uma inflação populacional. Foi um período de ganho instável em que na mesma velocidade que se ganhava dinheiro também perdia-se. São fatos que tornam a pobreza cada vez mais aparente e sugere uma postura diferenciada por parte do monacato. Esse novo contexto despertou uma série de questionamentos quanto à postura dos mosteiros, exigia-se uma caridade diferente da que vinha sendo praticada. É diante desse cenário de pobreza e desigualdade que tem início as heresias, que vinham questionar a postura do monacato, bem como a hierarquia religiosa da época reivindicando o fim da sociedade das três ordens e retorno da igualdade entre os homens. Esse movimento provocado pelos hereges gerou uma reflexão aprofundada em torno do cristianismo e um retorno dos religiosos aos textos sagrados questionando-se quanto às práticas e estimulando o desejo de viver como haviam vivido os discípulos de Jesus (DUBY, 1990, p. 48). Desse desejo de vida desapegada de qualquer materialidade ou hierarquia surgiram os primeiros eremitas com uma forma de vida exageradamente ascética cujo objetivo era a aproximação de Deus por meio de mortificações exacerbadas, uma vez que, os leigos não tinham acesso à vida religiosa, o que deu mais coragem aos homens de fé que desejavam voltar às origens, que enxergavam os defeitos na instituição. Como um desejo de viver melhor, conforme às fontes, reatando com a pureza original do 2
3 cristianismo. Foram as heresias que deram um maior impulso aos empreendimentos de reforma, cuja ações ficaram conhecidas como reforma gregoriana já que aconteceram a partir de um conjunto de ações desenvolvidas por Nicolau II e Gregório VII para a libertação da igreja em relação ao poder imperial e pelo direito de julgar a sociedade cristã. A partir desses empreendimentos de reforma, exigiu-se também uma reformulação no monacato buscando uma maior autenticidade em relação ao claustro e à moralidade dos clérigos, exigia-se por exemplo, uma vida casta. O mosteiro de Cister foi fundado em 1098 por Roberto, abade de Molesmes e foi fruto do mesmo desejo de retorno às fontes e vida mais austera seguindo rigidamente o que pregava a Regra de São Bento em relação ao monacato, à subsistência do mosteiro, ao trabalho, à salmodia. E em nome dessa austeridade, rompe com a sociedade civil isolando-se e afirmando-se como uma Ordem sóbria. Bernardo ingressou em Cister em 1112 acompanhado de cerca de trinta companheiros, dentre esses, tios e irmãos. Dois anos depois assume a direção da abadia de Clairvaux, filial de Cister de onde foi responsável por cerca de Dez anos. Bernardo acreditava que dentro da sociedade das três ordens, o mosteiro não deveria assumir outra função que não fosse a que lhe cabia, rezar os pecados do mundo, dessa forma retira as escolas do mosteiro, admitindo apenas sujeitos em plena consciência de si, de seu desejo e de sua vocação. Após esse período sob a direção da abadia de Clairvaux Bernardo decide tornar-se prolífico e sai em evangelização não restringindo-se ao espaço monástico, escreve cartas e sermões dirigindo-se aos homens de fé. Sua obra esta diretamente relacionada à procura mútua de Deus e do Homem. Sua influência educativa se deu por meio dos escritos, sermões e ação política, agindo na defesa da austeridade no seguimento cristão. Dentre as obras de Bernardo, Selecionamos o Sermão 36 Sobre o conhecimento e a ignorância. Baseando-se na máxima socrática conhece-te a ti mesmo prega a necessidade de um conhecimento interior das virtudes humanas para se traçar um caminho reto. Bernardo de Claraval em sua pregação propõe uma elevação do ser baseada em uma busca de restauração da semelhança entre Deus e o Homem, para que haja uma reaproximação. Em seu Sermão sobre o conhecimento e a ignorância ressalta a importância do autoconhecimento, ou seja, um conhecimento do ser pelo próprio ser que, 3
4 conhecendo-se, tornara consciente de sua inferioridade diante do Senhor, pois [...] Para se humilhar, a alma não poderia encontrar meio mais eficaz do que o conhecimento verídico de si mesma (DUBY, 1990, p. 58). Somente através do autoconhecimento e da humildade e que podemos chegar até o mais alto grau de união com Deus (SANTOS, 2001, p. 102). E é dentro desse conceito que o autor desenvolve seu sermão discursando sobre as ignorâncias capazes de produzir perdição. O conhecimento de si próprio torna-se pré-requisito para o conhecimento de Deus porque é a partir dele que a alma toma conhecimento de sua insignificância e se humilha diante do Senhor. Atenta ao fato de nem todas as ignorâncias produzirem perdição, pois o que agrada a Deus não é a erudição, mas a fé e benignidade. Não é a ignorância ou o saber em si que ele condena, mas sim a saberes que não edificam ou ignorâncias que afastam do caminho de Deus. De acordo com Bernardo o saber só é valido se tomado para edificação do ser, e não por curiosidade ou vaidade. Para ele o saber digno é aquele tomado por amor, capaz de construir e inclinar à prática do bem. É no pensamento de Santo Agostinho que Bernardo se inspira para discursar sobre o conhecimento. Agostinho acredita que o home como sujeito racional tende inicialmente à procura pelo conhecimento sobre o mundo pela ânsia do desvendamento de mistérios, o que o leva a ignorar a própria alma em detrimento desse conhecimento incapaz de edificar. A partir do momento que o homem conhece a si mesmo e sua alma torna-se humilde, humildade esta que em nada se compara à recusa ou menosprezo às letras ou á ciência, mas sim o oposto da soberba, pois [...] que desconhece a si mesma e à Deus. Pois, se a ciência, por grande que seja, for precedida desse duplo conhecimento, não nos inchará (BERNARDO DE CLARAVAL apud LAUAND, 1998, p. 261). Fazendo analogia ao corpo, Bernardo explica que, do mesmo modo que um alimento, se ingerido sem necessidade ou depois de satisfeito, incha, também ocorre quando o conhecimento, considerado alimento à alma é adquirido sem critério ou inutilmente, inchando como o corpo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Como monge e evangelizador profundamente influenciado pela filosofia de Santo Agostinho, Bernardo se mostra importante à medida que impõe seus valores religiosos, 4
5 impulsiona uma reforma nas bases do monacato e leva sua Ordem à fama, propondo acima de tudo uma Educação baseada em valores austeros. REFERÊNCIAS BERNARDO DE CLARAVAL. Sermão sobre o conhecimento e a ignorância. LAUAND, Luiz Jean. Cultura e Educação na Idade Média. São Paulo. Martins Fontes, DUBY, G. São Bernardo e a Arte Cisterciense. São Paulo. Martins Fontes, INÁCIO, Inês C.; LUCA, Tânia Regina de. O Pensamento Medieval. São Paulo. Editora Ática, LOYN, Henry R. Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed., SANTO AGOSTINHO, A trindade. São Paulo. Paulus, SANTOS, Luis Alberto Ruas. Um monge que se impôs ao seu tempo: pequena introdução com antologia à vida e obra de São Bernardo de Claraval. São Paulo. Musa Editora, VAUCHEZ, André. A espiritualidade na Idade Média ocidental. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Ed.,
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