PROMOÇÃO DA SAÚDE NA ESCOLA: REFLEXÃO SOBRE UMA EXPERIÊNCIA DE APROXIMAÇÂO ENTRE SAÚDE E EDUCAÇÃO 1
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- Estela Tomé Mendes
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1 PROMOÇÃO DA SAÚDE NA ESCOLA: REFLEXÃO SOBRE UMA EXPERIÊNCIA DE APROXIMAÇÂO ENTRE SAÚDE E EDUCAÇÃO 1 TRZECIAK, Luciane Roberta de Oliveira 1 ; SOARES, Maria Cristina Flores 2 RIBEIRO, Cristina Dutra 3 RESUMO A escola pública é considerada como um importante local para o desenvolvimento de iniciativas voltadas para a Promoção da Saúde (PS) já que crianças e adolescentes passam ali vários anos de suas vidas em pleno desenvolvimento de sua estrutura física e intelectual. O objetivo deste trabalho é apresentar a reflexão de uma ação realizada após o desenvolvimento de um programa de extensão universitária em escolas públicas de ensino fundamental. O Programa Vivências em Promoção da Saúde na Escola visa oportunizar a estudantes de cinco escolas municipais de ensino fundamental do município do Rio Grande/RS, espaços de vivências e discussões sobre temas relacionados à PS de forma interdisciplinar. Inicialmente foi realizado um diagnóstico inicial nas cinco escolas participantes do programa para avaliar a percepção dos escolares em relação aos diferentes temas que seriam abordados para elaboração das ações, após foi feita uma avaliação para saber o impacto destas. Constatou-se que grande a maioria dos escolares melhorou sua percepção em relação à adoção de hábitos saudáveis, bem como o trabalho com uma equipe interdisciplinar estimulou à organização integrada do conhecimento no processo de ensino-aprendizagem. Descritores: Promoção da saúde na escola; Extensão universitária; Interdisciplinaridade. 1 Programa de extensão. Universidade Federal do Rio Grande (FURG). 2 Apresentador. Curso de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, RS, Brasil. lu.roliveira@yahoo.com.br 3 Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, RS, Brasil. 4 Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Rio Grande, RS, Brasil. 1
2 1. INTRODUÇÃO O conceito de Promoção da Saúde (PS) surgiu em 1986 com a Carta de Ottawa, definida como a capacitação das pessoas e comunidades para modificarem os determinantes da saúde em benefício da própria qualidade de vida 1. Mas a cada dia tornase mais explícita a preocupação em estabelecer a evidência de êxito da PS bem como elaborar estratégias para seu enriquecimento e adoção pela população 2. A escola pública enquanto meio de articulação social, constitui-se em um local adequado para o desenvolvimento de iniciativas voltadas para a PS 3. É neste ambiente que crianças e adolescentes passam no mínimo 8 anos de suas vidas, durante um período em que encontram em pleno desenvolvimento de sua estrutura física e intelectual 4. Ela também tem apresentado, ao longo do tempo, diversas significações no que diz respeito à sua função social, de modo que, atualmente, apresenta-se como um espaço no qual são desenvolvidos processos de ensino/aprendizagem que articulam ações de natureza diversa. Este avanço possibilitou a incorporação das práticas educativas em saúde, no seu cotidiano didático-pedagógico 5. Junto às transformações nas práticas de saúde e de educação em saúde que vêm ocorrendo nos últimos anos, existe uma pressão da sociedade no sentido de que as universidades busquem maior identificação com as necessidades sociais, tanto em relação à produção de conhecimentos quanto ao perfil dos profissionais que vem sendo formados 6. A universidade deve ser capaz de dar resposta aos anseios da sociedade, e para isso a Extensão Universitária se mostra um caminho muito importante. O objetivo deste trabalho é apresentar a reflexão de uma ação realizada após o desenvolvimento de um programa de extensão universitária em escolas do ensino fundamental, em um município do extremo sul do Brasil, visando oportunizar a estudantes espaços de vivências e discussões sobre temas relacionados à PS a fim de estimular o desenvolvimento de práticas saudáveis e encorajar o exercício da cidadania, aprofundando os laços de cooperação e articulação ético-politica entre universidade e comunidade. 2. METODOLOGIA O Programa Vivências em Promoção da Saúde na Escola, é um projeto de extensão interdisciplinar, e compreende cinco projetos que abordam os temas: cidadania e cultura da paz, alimentação saudável, acidentes na infância, saúde/ambiente e postura, 2
3 atividade física e lazer. A equipe do Programa foi formada por 20 bolsistas de graduação dos seguintes cursos: Medicina, Enfermagem, Psicologia, Educação Física, Ciências Biológicas, Tecnólogo em Construção de Edifícios, Química Industrial, Letras e Administração. Na função de facilitadores contou-se com a participação voluntária de três doutorandas (uma enfermeira, uma fisioterapeuta e uma farmacêutica) e três mestrandos (uma psicóloga, um educador físico e uma nutricionista) do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio Grande. Além disso, na coordenação dos projetos estiveram seis docentes da mesma instituição (dois fisioterapeutas, duas médicas, uma enfermeira e uma bióloga). As atividades foram direcionadas aos escolares do ensino fundamental, professores e pais de crianças e adolescentes de cinco escolas públicas do município do Rio Grande/RS desenvolvidas de maio a dezembro de O tempo de desenvolvimento de cada projeto em cada escola foi de 30 dias. Cada projeto foi executado por uma equipe composta por quatro bolsistas (acadêmicos de graduação) três acadêmicos da área da saúde e um originado de outros cursos de graduação, um facilitador (acadêmico de pós-graduação) e um docente coordenador. Para investigar o conhecimento prévio dos escolares sobre as questões referentes aos temas propostos foram utilizados dois instrumentos, o primeiro aplicado entre os escolares da educação infantil ao 5º ano, e o outro entre as crianças da 5ª série (nas escolas que ainda possuem esta modalidade) à 8ª série com figuras que apresentavam situações positivas e negativas de acordo com cada temática. As crianças deveriam reconhecê-las a partir de seu conhecimento e vivências. Após a aplicação dos instrumentos foi realizado um momento de discussão com os estudantes identificando aquelas imagens que em princípio deveriam ser escolhidas em função do significado que elas continham. Com isso, pode-se fazer um diagnóstico de situação individualizado por escola e definir quais os principais temas a abordar com os escolares. No último mês estes instrumentos foram re-aplicados a fim de verificar se as ações tiveram impacto sobre o conhecimento das crianças quanto aos diferentes temas abordados. A partir desse diagnóstico inicial as ações foram desenvolvidas em uma concepção dialógica em que as vivências dos participantes alimentaram o binômio açãoreflexão e esperando-se que como resultado dessa reflexão fossem adotadas novas práticas de PS. 3
4 3.RESULTADOS E DISCUSSÕES Durante a realização deste programa foram efetivamente atingidos 2010 escolares, mas podemos considerar que estes escolares acabam se tornando multiplicadores dos temas abordados com eles na escola. De acordo com o relato dos pais seus filhos voltavam para casa com novas idéias solicitando deles atitudes mais saudáveis em todos os aspectos abordados. Assim considera-se que direta ou indiretamente 6167 pessoas foram beneficiadas com o Programa ao longo do ano. No diagnóstico realizado entre os estudantes das séries do ensino fundamental das escolas observou-se, de maneira geral, que estes já apresentam conhecimentos críticos em relação aos diversos temas referentes à PS. Acreditando-se, também, que este fato deve-se principalmente à função do professor como transmissor de idéias e valores. Isto representa um papel significativo na vida do escolar, sendo que o contato diário entre o professor e a criança tende a favorecer e facilitar a assimilação de hábitos e conhecimentos, inclusive ao funcionamento do corpo humano 7,8. Para a orientação das ações de saúde é necessário conhecer os indivíduos para os quais se destinam estas ações, incluindo suas crenças, hábitos e papéis, e as condições objetivas em que vivem, também é preciso envolvê-los nas mesmas, o que se contrapõe a sua imposição, pois a participação comunitária é possível assegurar sustentabilidade e efetividade das ações de saúde 9. Estimular entre crianças e adolescentes atitudes mais cidadãs e a cultura da paz, a adoção de hábitos alimentares mais saudáveis, assim como de uma prática de atividade física regular, evitando situações que possam colocar sua integridade física em risco ou ainda mostrar as consequências positivas que o respeito ao ambiente pode gerar sobre a sua saúde é apostar em futuros adultos mais saudáveis. Sendo assim, estimular a promoção da saúde entre essas crianças e adolescentes é reduzir gastos do Estado com a saúde pública. Sob o ponto de vista das práticas educativas, a Educação Popular favorece uma reformulação tanto na sua fundamentação quanto na metodologia 10. Sob essa ótica, o profissional fica consciente de que faz parte das atividades de educação em saúde, ele estimula o empoderamento dos atores sociais na luta por mudanças que favoreçam a saúde, e não apenas, leva orientações a serem seguidas pela população 11. Então, ao invés de depositar conhecimentos sob a forma das tradicionais palestras e aulas, é preciso fazer 4
5 uma abordagem numa perspectiva dialógica que pode ser enriquecida numa associação com atividades sócias-educativas. Sendo assim, a extensão deve ter como foco o atendimento das necessidades sociais emergentes, sendo vista não apenas como uma mera transferência de saberes e tecnologia, mas como um modo de integração entre sociedade e universidade que permite um aprendizado mútuo. Logo, a extensão não busca só o conhecimento das realidades sociais, mas sua transformação, devido a isso, sua prática vem a ser um elemento fundamental na construção de um saber crítico e participativo, que possibilite a verificação e a análise de problemas, e proposição de ações necessárias para a sua superação 12. Ela ainda tem a possibilidade de se concretizar como uma prática acadêmica essencial e se coloca como um espaço estratégico para promover práticas integradas entre várias áreas do conhecimento. Isso favorece a interdisciplinaridade, estimulando à organização integrada do conhecimento no processo de ensino-aprendizagem, e objetivando a ampliação do repertório mental do aprendiz mediante associações pertinentes 13. Este processo de interdisciplinaridade exige uma grande disponibilidade para diálogo por parte dos profissionais e estudantes das diferentes áreas, devendo eles ser capazes de reconhecer aquilo que lhes falta e o que podem ou devem receber dos outros. Essa atitude de abertura só é adquirida a partir da convicção de que esse caminho é necessário, exigindo um exercício constante de sua proposta no decorrer do trabalho CONCLUSÃO O conjunto de ações desenvolvidas durante este Programa pode ter um impacto duradouro. Os resultados destas intervenções conduziram a transformações, seja na vida daqueles que dele fizeram parte, seja na vida de outros que não estavam envolvidos diretamente no programa. Sem dúvida as ações desenvolvidas mudam o olhar de todos os atores envolvidos que passam a visualizar a escola como um efetivo espaço promotor da saúde. Além disso, a aproximação entre os setores da saúde e da educação, estimulada pelo desenvolvimento do Programa, significa um ganho social adicional, pois serve de referência para outros componentes desses dois setores que ainda não conseguem identificar mecanismos de aproximação e de estabelecimento de parcerias. 5
6 5. REFERÊNCIAS 1 Ministério da Saúde (Brasil), Secretaria de Políticas de Saúde. Projeto Promoção da Saúde. As Cartas da Promoção da Saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde, Projeto Promoção da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, De Salazar L. Evaluación de efectividad en promoción de La salud: guía de evaluación rápida. Santiago de Cali: CEDETES/CDC/ OPAS, p.23 3 Gadotti M. Perspectivas atuais da educação. São Paulo Perspec [online] Jun [acesso em 2012 Abr 10]; 14(2): [aproximadamente 8p.]. Disponível em:< 4 Ministério da Saúde (Brasil). Escolas promotoras de saúde: experiências do Brasil / Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, Ministério da Saúde (Brasil). Secretaria de Vigilância em Saúde. Política nacional de promoção da saúde / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, Feurwerker L, Costa H, Rangel ML. Diversificação de cenários de ensino e trabalho sobre necessidades/problemas da comunidade. Divulgação em Saúde para Debate 2000; 22: Margarey AM, Daniels LA, Boulton TJ. Predicting obesity in early adulthood from childhood and parenteral obesity. J Obes Relat Metab Disord 2003; 27: Cole TJ, Bellizzi MC, Flegal KM. Establishing a standard definition for child overweight and obesity worldwide: international survey. BMJ 2000; 320: Alves VS. Um modelo de educação em saúde para o Programa Saúde da Família: pela integralidade da atenção e reorientação do modelo assistencial. Interface-Comunic, Saúde, Educ 2005; 9(16): Souza EM, Grundy E. Promoção da saúde, epidemiologia social e capital social: interrelações e perspectivas para a saúde pública. Cad Saúde Pública 2004; 20 (5): Carvalho SR. Os múltiplos sentidos da categoria empowerment no projeto de Promoção à Saúde. Cad Saúde Pública 2004; 20(4):
7 12 Castro LMC. A universidade, a extensão universitária e a produção de conhecimentos emancipadores. (Ainda existem utopias realistas). Rio de Janeiro; Doutorado [Tese] - Universidade Federal do Rio de Janeiro. 13 Hupffer HM, Bemvenuti VLS. Refletindo sobre a extensão universitária: novos caminhos de abertura da universidade à sociedade. In: Hupffer HM, organizador. Cadernos de Extensão UNISINOS III. São Leopoldo: Editora Unisinos; p Hennington EA. Acolhimento como prática interdisciplinar num programa de extensão universitária. Cad Saúde Pública 2005; 21(1):
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