NOTA DE IMPRENSA. Em reacção à publicação do CIP sobre as actividades da mineradora em Moçambique

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1 NOTA DE IMPRENSA Em reacção à publicação do CIP sobre as actividades da mineradora em Moçambique MONTEPUEZ RUBY MINING APRESENTA JUSTIFICAÇÕES LACUNOSAS E DADOS QUESTIONÁVEIS O Centro de Integridade Pública (CIP), no âmbito do seu trabalho de monitoria da governação do sector extractivo e exploração dos recursos minerais, publicou recentemente uma nota intitulada Exploração de Rubi pela Montepuez Ruby Mining Um Negócio Milionário com Fraco Contributo para Moçambique 1, na qual conclui que a exploração de rubi pela Montepuez Ruby Mining apresenta um fraco contributo para Moçambique. Em reacção à referida nota, a Montepuez Ruby Mining (MRM) enviou uma carta datada de 03 de Maio de 2018 onde diz que o relatório não era preciso em certas informações muito relevantes que levam o leitor a inferências ambíguas. No mesmo documento a MRM argumenta que, sendo uma empresa do grupo Gemfields, ela se orienta por valores centrais de transparência, integridade e legitimidade. Para acompanhar a publicação da carta de reacção da MRM, o CIP produz esta nota complementar que visa responder os pontos levantados pelo MRM e esclarecer o público, pois a carta da mineradora apresenta uma justificação lacunosa e dados questionáveis. Ora vejamos: Transparência dos valores da receita a nota publicada pelo CIP explica que com a aquisição da Gemfields pela holding Pallinghurst Resources Limited, em Setembro de 2017, a Gemfields foi retirada da Bolsa de Valores de Londres (LSE, sigla inglesa) onde estava cotada desde Com esta decisão perde-se um dos canais pelos quais foi possível monitorar o volume de recursos que iam a leilão e os respectivos valores de venda. 1https://cipmoz.org/index.php/pt/industria-extractiva/869-montepuez-ruby-mining-um-negocio-milionario-com-escassas-ligacoes-nodesenvolvimento-do-pais

2 Pese embora a Pallinghurst esteja listada na Bolsa de Valores de Johannesburg (JSE, sigla inglesa), onde publica os seus dados de venda, os detalhes sobre a MRM, conforme apresentados no relatório anual da Pallinghurst, referentes ao ano de , são simplesmente agregados. A Pallinghurst detém a Gemfields que, por sua vez, detém outros projectos para além da MRM. A informação sobre a MRM é simplesmente integrada nas somas globais da Pallinghurst, perdendo-se os detalhes sobre o volume de produção e os valores de venda dos recursos da MRM que estavam incluídos nos relatórios anteriores da Gemfields. O link indicado pela MRM ( com/news-and-announcements/) não oferece os detalhes sobre vendas e volumes de produção supostamente lá incluídos. Outro aspecto que merece destaque é o nível de transparência da LSE versus JSE. O facto de a empresa Gemfields ter sido retirada da LSE implica que ela fica isenta de cumprir as imposições do Bribery Act do Reino Unido e da fiscalização do Serious Fraud Office (SFO 4 ). Estas leis visam garantir que empresas que estejam listadas na LSE não se envolvam em negócios pouco transparentes a nível internacional, inclusive com pessoas expostas politicamente (PEP). No caso da JSE, os instrumentos legais (leis e decretos) contra a corrupção e subornos na África do Sul não são tão eficientes, evidenciado pela frequência de state capture que se observa naquele país. 1. Pagamento do imposto sobre a produção a nota publicada pelo CIP referencia que, de acordo com as Leis n o 11 e 13/2007 de 27 de Junho (Legislação tributária relativa a actividade mineira e Regime dos incentivos fiscais das áreas mineiras e petrolíferas, respectivamente, na base das quais foi estabelecido o regime fiscal do projecto da MRM), a MRM está sujeita ao pagamento do imposto sobre a produção à taxa de 10%. A MRM reivindica, através da referida carta, ter pago Meticais em impostos sobre a produção durante Porém, de acordo com os dados publicados nos relatórios da Iniciativa de Transparência para a Indústria Extractiva 5 no período de 2014 a 2016, o Governo declarou ter recebido apenas Meticais (vide tabela abaixo). O valor que o Governo declarou ter recebido (2014 a 2016) situa-se em Meticais abaixo do montante que consta na carta de descontentamento enviada pela MRM. É importante referenciar que a Iniciativa de Transparência para a Indústria Extractiva em Moçambique (ITIE) é uma iniciativa tripartida envolvendo o Governo, as empresas do sector extractivo e a sociedade civil. A ITIE publica relatórios periódicos com vista a contribuir para a transparência no sector mineiro e de hidrocarbonetos desde 2012, representando, assim, para a sociedade civil e outras partes interessadas uma ferramenta crucial de monitoria (acessado a 15 de Maio de 2018) 3 Bribery Act é uma lei do Parlamento do Reino Unido que abrange o direito penal relativo a suborno. 4 Serious Fraud Office é um departamento governamental não ministerial do Departamento do Governo do Reino Unido que investiga e processa fraudes e corrupção graves ou complexas. 5 (acessado a 5 de Maio de 2018)

3 Tabela 1: Imposto sobre Produção de Rubis pela MRM (em MZM) Ano Valores declarados pela MRM 1 Valores declarados pelo Governo Total Remanescente da venda a nota do CIP chama atenção para o facto de que nem todo o rubi leiloado é efectivamente vendido. Porém, não há informação sobre o tratamento que se dá a este saldo de rubis pós-leilão. Dados contidos na nota mostram que em todos os leilões de rubi houve um remanescente que ronda a quantidade média de 102 mil quilates, o que corresponde a dólares 6. A MRM, através da carta, refere que os itens não vendidos são rastreados de forma transparente e declarados publicamente no encerramento de cada leilão. Porém, não explica qual é o tratamento que é dado a estes itens, se são incluídos no lote seguinte de produção ou vendidos em outras ocasiões. 3. Legitimidade do contrato de acordo com as informações às quais o CIP teve acesso, as actividades da MRM são desenvolvidas ao abrigo de uma concessão mineira (nº. 4703C) e não de um contrato mineiro. A concessão 4703C foi atribuída pelo Ministério dos Recursos Minerais e Energia (MIREME) e Instituto Nacional de Minas (INAMI) em 2015 como resultado de amalgamação das duas anteriores concessões (4702C e 4703C) cedidas à MRM em 2011 pelo então MIREM Ministério dos Recursos Minerais (vide figura abaixo). 6 Calculado tendo como base o preço médio dos leilões efectuados. 3

4 Figura 1: Concessão Mineira para Exploração de Rubis pela MRM Em termos de obrigações, a concessão apresenta requisitos que se traduzem em baixa responsabilidade do empreendimento em relação à sua contribuição ao desenvolvimento local e da economia, no geral. Ainda que a MRM cumpra integralmente as leis de mineração de Moçambique (conforme mencionou na sua carta), o facto de explorar minérios ao abrigo de uma concessão mineira reduz a obrigatoriedade para aspectos que podem consubstanciar maior contributo para o País e estes aspectos podem ser melhor explorados num contrato mineiro (conforme detalhado devidamente na nota original do CIP) Parcerias entre Governo e MRM em projectos a MRM, na carta dirigida ao CIP, declara ter entrado em parcerias com os Governos local e provincial, como meio de subsistência da comunidade. Porém, a empresa não refere em que âmbitos tais parcerias foram firmadas, se no âmbito da Responsabilidade Social Corporativa ou no quadro dos planos de desenvolvimento comunitário. Estes últimos devem resultar de consultas com as comunidades, enquanto beneficiárias, com o apadrinhamento do Governo ou, ainda, no quadro do plano de reassentamento, que deve prever a forma de garantia dos meios de subsistência da comunidade

5 A empresa sequer avança os montantes e muito menos detalha a duração e nem a data de assinatura do referido acordo. A conclusão é que a MRM não é transparente na medida em que omite estes detalhes importantes. Portanto, o conteúdo destes acordos não é de domínio público, o que torna impossível a análise das actividades levadas a cabo no âmbito destes acordos tanto por parte da sociedade civil como de outros grupos interessados. Assim, conforme demonstramos nos parágrafos anteriores, a MRM não conseguiu trazer dados que pudessem esclarecer o público em relação a este negócio lucrativo de rubis. Também, de acordo com os dados da MRM, estes contradizem a informação do Governo quanto ao volume de receitas que arrecada deste negócio. Maputo, aos 22 de Maio de 2018 Rua Fernão Melo e Castro nº 124, Bairro da Sommerschield Tel: (+258) Fax: (+258) Cel: (+258) Maputo - Moçambique (Footnotes) 1 Carta dirigida ao CIP, 3 de Maio de Relatórios da ITIE (2014 a 2016) 5