Tributação e Construção de Estados em África: O papel da sociedade civil

Transcrição

1 Tributação e Construção de Estados em África: O papel da sociedade civil Por Odd-Helge Fjeldstad Chr. Michelsen Institute & International Centre for Tax and Development Centro de Integridade Pública (CIP) Maputo, 1 de Abril de 2011 Tradução de Machado da Graça 1

2 Pontos para debate: I. Perspectivas sobre os impostos e o desenvolvimento II. Mitos e factos sobre os impostos em África III. IV. Forças e fraquezas da actual agenda de reforma tributária Por reformas com foco na governação: construindo o contrato social fiscal V. O papel da sociedade civil

3 I. Perspectivas sobre os impostos e desenvolvimento Os impostos não são um fim em si próprios, mas sim um meio para se conseguir um Estado que funcione bem: Governos dependentes de impostos estarão inclinados para seguir políticas de expansão da economia e, portanto, a base tributária A dependência em relação aos impostos requer que os estados desenvolvam capacidades para a sua cobrança O desenvolvimento de uma administração fiscal efectiva pode estimular o desenvolvimento de instituições em outras partes do sector público O regateio sobre os impostos é um aspecto central na construção de relações de responsabilidade entre o estado e os cidadãos, com base em mútuos direitos e obrigações

4 Muitas vezes estabelece-se relação entre a má governança e uma limitada dependência do Estado em receitas provenientes dos impostos dos seus cidadãos e empresas: Receitas não fiscais tendem a deixar os regimes mais livres para fazer sejam quais forem as despesas que quiserem sem terem que se preocupar com as prováveis reacções dos cidadãos Estados rendeiros têm incentivos limitados para construir instituições para cobrar e administrar os impostos ou para extender o alcance do governo até às regiões mais pobres e remotas Em particular, grandes receitas provenientes do petróleo e de minerais estão associadas com baixos níveis de democracia e estados que não respeitam a lei 4

5 MITO 1: Praticamente não há cobrança de impostos em África

6 16 Africa: Mix de receitas como proporção do PIB Direct taxes Indirect taxes Non tax Resource tax Trade tax

7 Grandes diferenças na relação impostos-pib entre países africanos Tax revenue and other revenue in selected African countries (2006) ,3 38,2 19,6 1,2 21,7 16,6 12,1 3,7 2,7 1,9 5 29,1 12,9 12,2 1,2 0,7 Total tax in % of GDP Other revenue in % of GDP

8 MITO 2: África é completamente dependente da ajuda externa

9 Receitas fiscais e ajuda externa em % do PIB Moçambique, Tanzânia and Zâmbia Aid Tax Tanzania Mozambique Zambia Tanzania Mozambique Zambia

10 MITO 3: A ajuda externa é a única fonte de financiamento para África 1. Ajuda externa (2007): USD 104 biliões (dos países da OCDE) USD 8 biliões (também de países da OCDE) 2. Investimento Directo Estrangeiro em África (2008) USD 88 biliões Maioritariamente para a indústria extractiva Nigéria, Angola, Egipto, África do Sul 3. Remessas de africanos vivendo no estrangeiro (2008) USD 41 biliões 4. Philantropia?

11 MITO 4: As reformas fiscais não fazem parte da agenda em África Na verdade há um certo número de coisas boas a referir: Simplificação do sistema tributário (mas ainda há muito a fazer) Melhoria nas administrações fiscais a nível central Melhoria nas atitudes das administrações fiscias para com (alguns segmentos dos) contribuintes 11

12 Mas há também problemas preocupantes em alguns países 1) Geralmente, a tributação não está no topo da agenda de política doméstica 2) A elite política e económica muitas vezes não faz parte da base tributária 3) Bases tributárias extremamente afuniladas 4) Largos sectores informais não tributados 5) Extensas e crescentes isenções fiscais 6) Muitas receitas dos recursos naturais perdem-se 7) Fluxos ilícitos de capitais, facilitados por paraísos fiscais, reforçam sistemas fiscais ineficientes

13 Os fluxos ilícitos a partir de África são gigantescos Procedimentos relacionados com a evasão fiscal comercial representam 65% GFI (2010)

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15 Fluxos financeiros ilícitos a partir de e ajuda ao desenvolvimento para África entre 2001 e 2008 (milh. US$) Total ODA Total capital flight

16 Fuga de capitais estimada, da Tanzania, Moçambique e Zâmbia ( Units: mill USD Tanzânia Moçambique Zâmbia África sub-saharian

17 Evasão fiscal facilitada por paraísos fiscais mina os sistemas nacionais de tributação e acresce os custos desta Os paraísos fiscais (jurisdições secretas) dificultam a vida das empresas fiscais As empresas multinacionais usam, normalmente, preços de transferência Os impostos sobre transacções comerciais e sobre os lucros são as bases fiscais mais importantes em muitos países em desenvolvimento Consequentemente, as receitas dos impostos caem ou, para compensar isso os impostos são colocados demasiado alto para as bases tributárias que restam: isto põe em causa o crescimento. Em alguns países a fuga de capitais pode também ter reduzido o interesse da elite política no crescimento económico local e no desenvolvimento

18 IV. POR REFORMAS FISCAIS VIRADAS PARA A BOA GOVERNAÇÃO Construindo o contrato social fiscal Consideráveis oportunidades para desenvolver a agenda existente de reformas fiscais com vista a: Fazer com que respondam melhor às necessidades dos países africanos Colocar o foco em reformas que facilitem, simultaneamente: O crescimento das receitas O crescimento da capacidade do Estado O crescimento da responsabilidade

19 Construindo a capacidade do Estado: Fazer da reforma fiscal um motor de mudança 1. Pôr o foco na recolha de dados e transparência 2. Reduzir/eliminar as isenções fiscais 3. Reforçar as administrações fiscais Redes profissionais de saber Outreach) (ATAF, OCDE Capacidade/peritagem especializada em taxar a extracção de recursos naturais 4. Encontrar formas mais efectivas de cobrar impostosno sector informal 5. Melhorar a cobrança de impostos pelos governos locais

20 Fazer crescer a responsabilidade: Encorajar o envolvimento Estado-sociedade à volta dos impostos 1. Mobilizar os cidadãos pela cobrança de impostos 2. Construir uma cultura de transparência e responsabilidade Trazer o sector privado e os CDO para o processo da reforma fiscal Monitoria permanente dos indicadores do desempenho das administrações fiscais 3. Os impostos tão consensualmente e tão transparentemente quanto seja possível 4. Estabelecer melhores ligações entre os impostos pagos e os serviços prestados

21 V. O PAPEL DA SOCIEDADE CIVIL 1. Encorajar o envolvimento construtivo Estado-sociedade à volta dos impostos Aproximação baseada em Conhecimento e Factos Educação Órgãos de informação Coligações internacionais 2. Transformar as questões fiscais num assunto quente da agenda política doméstica Documentar a extensão dos incentivos fiscais ( a quem, por quanto tempo e custo devido a não entrarem receitas) Confrontar o regime extensivo/crescente de isenções fiscais Documentar e informar sobre a extensão e impactos de fluxos ilicitos de capital 3. Envolvimento na cobrança de impostos sobre os recursos naturais e receitas ITIE: recursos não renovaveis (indústria extractiva) Renovaveis

22 Processo de Validação da ITIE

23 Indústria Extractiva Mozambique Tanzania Zambia Receitas da indústria extractiva (% de receitas fiscais & não fiscais) 5% (2010/11) 3.6% (2007/08) 12.7% (2009) Primeiro relatório da ITIE Resultados Data limite de Validação 18 de Fevereiro 2011 Empresas: MT Gov: MT Disc: de Maio de Fev 2011 Empresas: $ 84.4m Gov: $ 48.3m 15 de Maio de Fev 2011 Empresas: $ 463m Gov: $ 460m Discrep: $ 66m 14 de Maio 2011 Empresas Mineração: 6 grandes Oil/gas: 3 Mineração: 8 grandes Oil/gas: 7 Mineração: 9 grandes

24 Conclusão: A importância política dos impostos vai muito para além do fornecimento de fundos para financiar o sector público, os investimentos e as necessidades básicas da população; Os impostos podem contribuir para um governo mais representativo e responsável estimulando o diálogo entre o Estado e a sociedade civil sobre a cobrança de impostos.

25 MUITO OBRIGADO!!!