ISSN O corpo é discurso. Vitória da Conquista, nº 15

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1 ISSN Vitória da Conquista, nº 15 EXPEDIENTE DE O CORPO Coordenação geral Nilton Milanez Editores responsáveis Nilton Milanez e Ciro Prates (CAPES) Revisão Tyrone Chaves (UESB) e Victor Pereira Sousa (CAPES) Editoração eletrônica (MARCA DE FANTASIA) Henrique Magalhães CONSELHO EDITORIAL Prof. Dr. Elmo José dos Santos (UFBA) Profa. Dra. Flávia Zanutto (UEM) Profa. Dra. Ivone Tavares Lucena (UFPB) Profa. Dra. Maria das Graças Fonseca Andrade (UESB) Profa. Dra. Mônica da Silva Cruz (UFMA) Prof. Dr. Nilton Milanez (UESB) Profa. Dra. Simone Hashiguti (UFU) Colaboradores: O corpo é discurso Nesta edição, O corpo é discurso publica dois textos sobre corpo: Um corpo na fotografia, de Simone Tiemi Hashiguti, escrito por Jaciane Martins Ferreira; e Passeio entre lambidas em corpos de textos: resenha de corporeidades em minidesfile, de Luiz Orlandi, por Leonardo Araújo Oliveira. Também neste número, informações sobre o III Colóquio Internacional de Análise do Discurso III CIAD.

2 UM CORPO NA FOTOGRAFIA, DE SIMONE TIEMI HASHIGUTI espaço não seria um espaço de significação para um corpo humano. A pesquisadora nos convida a refletir sobre os espaços historicamente e Jaciane Martins Ferreira (PPGEL/UFU CAPES) institucionalmente possíveis de significação para o corpo. Assim, o carrinho de supermercado se faz como um espaço institucionalmente impossível para o O texto Um corpo na fotografia, escrito por Simone Tiemi Hashiguti aparecimento de um corpo, levando-nos a pensar sobre a violência e a (2012) e publicado na revista Redisco, tem como objetivo discutir, por uma via exposição do ser humano por meio de fotografias e notícias. discursiva, o efeito do olhar, a sensação de horror e o efeito de Hashiguti nos convida a refletir sobre o olhar do analista, ao deparar-se estranhamento ante a uma foto de violência, publicada em um jornal em São com uma No foto Brasil, como a analisada, o mundo o é leitor canibal: pode ou não se surpreender, Paulo. Tal foto mostra um corpo de um homem dentro o humor de um negro carrinho e de o horror dependendo na dos animação discursos que o atravessam e as condições de produção de supermercado jogado perto de uma calçada. seu aparecimento, bem como sua relação com a história. Assim, o leitor dessa Partindo da teoria pecheutiana sobre o discurso, a autora, imagem, uma vez afetado por determinada posição discursiva, verticalizará sua primeiramente, pontua que discorrerá sobre um sujeito que é constituído leitura a partir dos saberes que o cercam, podendo sentir horror, desdém ou pela/na linguagem; ou seja, fala de um sujeito que é de linguagem, desejo e surpresa. Nessa fotografia, o horror, segundo a autora, se dá por meio da inconsciente. Com isso, os sentidos só podem ser apreendidos por uma associação do corpo a objetos descartáveis, substituíveis que giram no mercado interpretação que leva em consideração as relações extralinguísticas, guiadas industrial diariamente. pelas condições de produção e efeitos de memória que aparecem na tessitura Hashiguti nos mostra que esse horror ou choque causado pela foto tem de um texto/imagem a ser interpretado. A autora salienta que, por mais que a um tempo para passar, sendo um prazo discursivo, pois se o leitor dessa Análise do Discurso se ocupe de textos verbais, há uma abertura para que se imagem presencia esses atos de violência constantemente, ele se torna faça análise de textos não-verbais. habituado a esse tipo de violência; daí, poderá fazer associações e ver que a Nessa discussão sobre o não verbal, Hashiguti pensa o corpo como um violência é um ato comum. Então, esse discurso se torna historicamente espaço de memória. É um corpo físico, com existência empírica, que possível para esse sujeito. possibilita a existência de um sujeito, mas também se faz como discurso e - estabelece relações de memória. Com relação ao corpo na foto em destaque, REFERÊNCIA a autora ressalta a necessidade de pensar o deslocamento de significação HASHIGUTI, Simone Tiemi. Um corpo na Fotografia do Jornal. Redisco. Vitória trazido por seu aparecimento dentro de um carrinho de supermercado. Esse da Conquista, v. 1, n.1, 2012, p

3 PASSEIO ENTRE LAMBIDAS EM CORPOS DE TEXTO: RESENHA DE CORPOREIDADES EM MINIDESFILE, DE LUIZ ORLANDI Leonardo Araújo Oliveira (UESB) O texto de Luiz Orlandi comporta menos o tom de produto de uma pesquisa acadêmica do que de um plano de aula ou mesmo de uma conversa. Como aponta logo no início de seu texto: o possível leitor encontrará abaixo o resultado de lambidas de textos e não de exaustivas pesquisas (ORLANDI, 2004, p.43). O autor trabalha, em seu artigo, com seis grandes linhas de indagação. Na primeira delas, tem-se uma investigação da dinâmica funcional do corpo, a partir de autores como Aristóteles, Descartes e Leibniz. Na segunda, tratando do pensamento antigo, o autor menciona a subordinação teórica do corpo em relação à alma em Platão (que chega a afirmar que o corpo é o túmulo da alma). Novamente, em Aristóteles, tratando do pensamento moderno, ressalta que Descartes, embora busque refutar a teoria aristotélica, no que diz respeito à instrumentação do corpo pela alma, repõe a instrumentalização do corpo em novas bases: o corpo não mais tratado como um navio do qual a alma é o piloto, mas como um conjunto de ferramentas controladas por um artesão (alma). As teorias trabalhadas a partir da terceira linha de indagação são as que Orlandi privilegia. Espinosa é o nome apontado como responsável por um pensamento diferencial acerca das relações entre alma e corpo. O autor holandês, para quem é inconcebível a ideia de uma hierarquia na relação entre corpo e alma, afirma que ninguém, até o seu tempo, determinou o que pode um corpo. Segundo Orlandi, essa afirmação provocou um grande susto na prepotência das almas (ORLANDI, 2004, p.46) susto que repercutiu em uma série de pensadores, mais notadamente em Deleuze. Outro pensador, em que teria ressoado o susto provocado por Espinosa, é Foucault, autor tratado na quinta linha de investigação. O corpo aparece, aqui, como superfície de investimento de práticas discursivas e não discursivas, onde incidem redes de saber e poder que também o constituem, enquanto estrutura heterogênea. Heterogêneas são também duas linhas de saber mencionadas por Orlandi: do visível e do enunciável, que não se compõem segundo uma conformidade natural, mas segundo um encontro forçado de fora (por uma concepção foucaultiana) pelo poder, ou (segundo uma concepção nietzschiana) pelas relações de forças: Quebra-se entre ver e dizer qualquer intrínseca afinidade mútua (ORLANDI, 2004, p.50), o que complica uma série de teorias anteriores acerca do corpo, inclusive a fenomenológica, trabalhada na quinta linha de investigação, onde Merlau-Ponty destaca a relação imanente entre sentido e reflexividade do corpo próprio. Na sexta linha de investigação, tem-se o conceito de Corpo sem Orgãos (CsO), que Deleuze e Guattari tomam de empréstimo de Antonin Artaud. Tal conceito surge no texto como um ponto em consonância com uma éticapolítica do corpo que Foucault já apontava. Os CsO ocorrem em nós como a face improdutiva do desejo, potencializa uma conectividade desejosa ausente de finalidade. REFERÊNCIA ORLANDI, Luiz Benedicto Lacerda. Corporeidades em minidesfile. Montes Claros: Unimontes Científica, v. 6, nº 1 jan.-jun./2004, p

4 PRESENÇA E CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO DE FOUCAULT PARA A ANÁLISE DO DISCURSO Entre os dias 24 e 26 de setembro, foi realizado o III Colóquio Internacional de Análise do Discurso III CIAD na Universidade Federal de São Carlos UFSCar, evento que se configura como um dos mais importantes no campo da Análise do Discurso no Brasil. Durante esse período, diversos grupos de pesquisa da AD puderam divulgar suas produções acadêmicas e estabelecer um profícuo diálogo com os demais participantes. mesas-redondas os professores Sírio Possenti (Unicamp), Maria do Rosário Gregolin (Unesp), Pedro de Souza (UFSC), Maria José Coracini (Unicamp), Cleudemar Alves Fernandes (UFU) e Nilton Milanez (UESB). Profa. Dra. Maria do Rosário Gregolin (UNESP Araraquara) e o Prof. Dr. Nilton Milanez (Labedisco/UESB). Profa. Dnda. Jaciane Martins Ferreira (PPGEL/UFU CAPES) e o Prof. Dr. Cleudemar Alves Fernandes (UFU). Prof. Dr. Roger Chartier (Collège de France) e Profa. Dra. Luzmara Curcino (UFSCar). Profa. Dra. Marlène Coulomb-Gully (Université de Toulouse) e Profa. Dra. Vanice Sargentini (UFSCar). Além das sessões de apresentação dos grupos de pesquisa e de exposição de pôsteres, o III CIAD contou com conferências ministradas pelos professores Roger Chartier (Collège de France) e Marlène Coulomb-Gully (Université de Toulouse) e com três mesas-redondas. Fizeram parte das O seleto conjunto de pesquisadores convidados dessa terceira edição do CIAD discutiu a presença e as contribuições do pensamento de Michel Foucault na Análise do discurso. O objetivo do evento era continuar e aprofundar esses debates por meio das sessões, conferências e mesasredondas realizadas. Para tanto, as discussões ocorridas durante III CIAD contemplaram, ainda, a emergência da noção de discurso nos anos 1960 na França, considerando as diferentes propostas que ali surgiram, tais como as de Jean Dubois, Michel Pêcheux e Michel Foucault, dentre outras.

5 CÍRCULO DE DISCUSSÕES EM ANÁLISE DO DISCURSO ATOS DE PAIXÃO, DE TÚLIO HENRIQUE PEREIRA O Círculo de Discussões em Análise do Discurso CIDADI, coordenado pela Profa. Dra. Regina Baracuhy (CCHLA/PROLING/UFPB), é composto por professores, pesquisadores e estudantes que subsidiam suas pesquisas com a teoria da Análise do Discurso, articulando propostas de Pêcheux, Foucault e Bakhtin a fim de analisar a rede de discursos que circulam na sociedade, interrelacionando o sujeito, a linguagem e a história. Os trabalhos desenvolvidos pelo grupo visam discutir a produção de identidades na esfera midiática, tomando, como corpus de análise, um conjunto de textos em sua materialidade verbal e não-verbal; objetivam, também, analisar como ocorre a produção discursiva de sentidos no espaço urbano da cidade de João Pessoa, através dos mais diversos lugares de textualização como placas, ruas, praças e, até mesmo, o corpo humano, no caso da tatuagem. Além disso, o grupo se interessa por aprofundar os diálogos entre Pêcheux e Foucault sobretudo no tocante à relação sujeitopoder, estendendo a Bakhtin, através dos estudos da enunciação, propostos por Jacqueline Authier-Revuz. As investigações do grupo têm repercussão na produção de conhecimentos na área da Linguística, principalmente, para a compreensão dos mecanismos de produção de sentidos dos discursos sociais. Endereço eletrônico do grupo: A partir da interpretação histórica de Ronaldo Vainfas acerca do cotidiano da vida privada na América Portuguesa, em seu artigo Moralidades brasílicas: deleites sexuais e linguagem erótica na sociedade escravista, Túlio Henrique Pereira escreve seu livro de dramaturgia Atos de Paixão, contextualizando as relações homoafetivas do início do século XX, no Brasil, especialmente no município de Rio Pardo, no Estado do Rio Grande do Sul.

6 II COLÓQUIO NACIONAL E I COLÓQUIO INTERNACIONAL DO GRUPO DE PESQUISA O CORPO E A IMAGEM NO DISCURSO CORPO, ARTE, CINEMA E OUTRAS MÍDIAS CADERNO DE ESTUDOS DO DISCURSO E DO CORPO (CEDISCO)

7 Dica de O corpo: Dica de O corpo: Leitura do livro Análise do discurso e semiologia: problematizações contemporâneas, organizado por Maria do Rosário F. V. Gregolin e João Marcos Mateus Kogawa (2012). Leitura do livro Legados de Michel Pêcheux, organizado por Carlos Piovezani e Vanice Sargentini (2012).