UMA PROPOSTA TAXONÔMICA PARA O ESTABELECIMENTO DE RELAÇÕES EM ONTOLOGIAS: contribuições da Ciência da Informação
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- Vasco Sacramento Pereira
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1 VIII ENANCIB Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação 28 a 31 de outubro de 2007 Salvador Bahia Brasil GT 2 Organização e Representação do Conhecimento Comunicação oral UMA PROPOSTA TAXONÔMICA PARA O ESTABELECIMENTO DE RELAÇÕES EM ONTOLOGIAS: contribuições da Ciência da Informação A TAXONOMIC PROPOSAL FOR THE ESTABLISHMENT OF RELATIONSHIPS IN ONTOLOGIES: contributions from the Information Science Julia Aparecida Gonçalves (PPGCI/UFMG, juliaapagon@yahoo.com.br) Renato Rocha Souza (PPGCI/UFMG, rsouza@eci.ufmg.br) Resumo: Pretende-se apresentar os primeiros resultados de pesquisa que visa explorar as estruturas de relacionamento conceituais encontradas principalmente, mas não exclusivamente, na literatura da Ciência da Informação, com o objetivo de criar uma taxonomia de relacionamentos que auxilie na construção de ontologias formais. São explorados esquemas de relacionamentos advindos de linguagens documentárias e as teorias fundamentais dos aportes terminológicos para a Ciência da Informação, como a teoria do conceito e a teoria da terminologia. Busca apresentar um esquema taxonômico que auxilie na proposição de relações para a construção de ontologias. Palavras-chave: ontologias, linguagens documentárias, relações entre conceitos, representação do conhecimento, web semântica. Abstract: This study tries to present the first results of a research that aims to explore the conceptual relationship structures found mainly, but not exclusively, in the information science literature. The goal is to present a taxonomy of relationships that can aid the formal ontology building. It explores relationships schemas used in the indexing languages and those ones that are presented in the linguistic and terminological approaches for the information science, as the concept theory and the terminology theory. It tries to present a taxonomic schema that can aid the proposition of relationships for ontology building. Keywords: ontologies, indexing languages, conceptual relationships, knowledge representation, semantic web.
2 Introdução Dentre as várias estruturas de representação do conhecimento produzidas em pesquisas na Ciência da Informação, temos visto crescer o interesse pelas ontologias formais. Estas podem ser consideradas como formalizações do conhecimento em domínios do conhecimento através de uma estrutura baseada em conceitos e seus relacionamentos, de forma a permitir a manipulação computacional. Estruturalmente, são formadas por conceitos relacionados entre si formando uma rede de definições, cuja fidelidade na representação da realidade é a garantia o seu comprometimento ontológico, e também podem ser populadas com instâncias das classes e objetos representados, como em um banco de dados, agora chamadas de bases de conhecimento. As ontologias definem um vocabulário comum de entendimento compartilhado e formalizado para manipulação pelo computador. Uma das definições clássicas para as ontologias formais é a de Gruber (1993, p. 199), que as definem como sendo an ontology is an explicit specification of a conceptualization 1. É formada essencialmente por uma base conceitual taxonômica, expressa por classes, definições, propriedades das classes e as restrições expressas em linguagem formal para possibilitar a comunicação entre máquinas. E por outras relações, que chamaremos aqui por não taxonômicas. O desenvolvimento de ontologias interessa principalmente à nova web que estamos a assistir. Esta nova web se orienta pela garantia de comunicação entre pessoas e máquinas, trabalhando colaborativamente. E por possibilitar esta comunicação, as ontologias ganham importância ao possibilitar que agentes de software entendam a semântica contida nas definições dos vocabulários de domínios específicos, diminuindo ambigüidades e propiciando o intercâmbio de informações, através de consultas (queries) sobre suas estruturas (SALES, 2006, p. 21). Metodologicamente, apesar da reconhecida importância destas ferramentas, ainda não há consenso sobre melhores metodologias para seu desenvolvimento. Dentre as funcionalidades desse instrumento, interessam especialmente a capacidade de representação e recuperação do conhecimento, e mesmo neste recorte, não existe um método único que abarque toda a complexidade envolvida. Esta pesquisa pretende levantar, na literatura da área da Ciência da Informação e das áreas afins, subsídios para a construção de ontologias, através da construção de uma taxonomia de relacionamentos possíveis que permita a construção de ontologias de forma menos empírica. Pretende-se ao final da pesquisa apresentar um esquema de relações básicas à organização do conhecimento, que auxilie quanto ao estabelecimento das relações em ontologias. Para tanto, apresentar-se-á neste artigo, principalmente a Teoria do Conceito (DAHLBERG, 1978), indexação relacional (FARRADANE, 1980), metodologia de construção de tesauros (com a pesquisa sobre relações associativas de Motta, 1987 e norma AMERICAN NATIONAL STANDARDIZATION INSTITUTE - ANSI, 2005) e Teoria da Terminologia (principalmente por Campos, 2001), sendo consolidado ao final um quadro comparativo de relacionamentos para subsídio à construção das ontologias. No universo das relações semânticas conceituais Parte-se do princípio que conceitos e relações são fundamentos do conhecimento e do pensamento, e então necessários para o raciocínio e inferências. Khoo e Na (2006, p. 157) fazem uma analogia em que os conceitos seriam os blocos do conhecimento e as relações seria o cimento que liga os conceitos dentro de estruturas de conhecimento. As pesquisas, de modo geral, ocorrem para o tratamento de conceitos, mas comparativamente, temos poucos trabalhos no processamento de relações. 2
3 Semantic relations are meaningful associations between two or more concepts, entities, or sets of entities. [...] The concepts/entities are an integral part of the relation as a relation cannot exist by itself 2 (KHOO e NA, 2006, p.159). Sabe-se que não são apenas de cunho semântico, mas a literatura não apresenta termo mais geral para o seu tratamento. Ainda segundo Khoo e Na (2006, p.160) as relações semânticas referem-se tanto às relações entre conceitos abstratos, mentais relações conceituais, quanto às relações entre palavras - as relações lexicais. Artigos sobre ontologias, em sua maioria, tratam as relações, sem a devida distinção e limitadas às relações essenciais ao desenvolvimento de taxonomias, as relações is-a (é um) e part-of (é parte de). Como podemos notar, são relações hierárquicas e são responsáveis pela estruturação da taxonomia de conceitos de um domínio As taxonomias, segundo a norma ANSI (2005, p. 9), permitem classificar informações em uma estrutura hierárquica, de árvore, por meio de relacionamentos de generalização ( pai-filho, tipo-de ), não possibilitando expressar outros tipos de relacionamentos. Guarino (1995, p. 12) trata as relações como structuring, que são as relações taxonômicas, que contribuem para a estruturação do domínio e non-structuring 3, as relações não-taxonômicas, que não oferecem informação estrutural, mas informação adicional aos objetos já identificados. Metodologia Para a pesquisa, buscou-se na produção científica a enumeração e a definição para as relações apresentadas. A teoria do conceito (DAHLBERG, 1978) norteou esta primeira fase, pois antes de entrar especificamente na tipologia de relações, verificaram-se os fatores que determinam e interferem na formação e definição dos conceitos. Com a ajuda das linguagens naturais é possível formular enunciados referentes a cada relação, como também levantar os enunciados verdadeiros que, somados, fornecem a definição do conceito. Ao estabelecer uma equação de sentido e colocar limites às interpretações dadas a cada relação, podemos promover a ordenação classificada dos conceitos (das relações) formando os sistemas terminológicos, que como as ontologias, são formados essencialmente de conceitos e de relações. Cada enunciado faz referência a algum dos elementos do conceito, o que implica que, neste artigo, nossas análises se darão no nível da língua, mais abstrato. A parte empírica, de comprovação, se realizará na segunda fase da pesquisa, já aplicada a ontologias existentes. Para fins desta apresentação, as definições para as relações não serão enumeradas. E quando se fizer necessário algumas relações não farão parte da taxonomia proposta, mas servirão para compreender aspectos importantes no entendimento das propriedades das relações. O levantamento da literatura deu-se a partir de trabalhos sobre as relações entre os conceitos em linguagens e métodos de indexação, cuja teoria muito recebeu contribuições de áreas como a Terminologia e a Lingüística; e trabalhos sobre metodologias de construção de ontologias mais recentes da área de Ciência da Informação, que abarcam técnicas e modelos da Ciência da Computação. Pesquisas na literatura de Ciência da Computação não foram avaliadas diretamente nesta etapa, principalmente por estar em fase de levantamento bibliográfico. Pesquisa em Representação do conhecimento na Ciência da Informação Os instrumentos para representação do conhecimento são ferramentas que propiciam a criação de representações registradas e manipuláveis a partir do conhecimento que se tem de um domínio. Há muito que se desenvolvem instrumentos terminológicos para a representação do conhecimento no campo da Ciência da Informação, como os tesauros. Muitas pesquisas no campo das ontologias reconhecem a necessidade de não se reinventar a roda e avançam na 3
4 perspectiva de se utilizar a metodologia de construção de tesauros, como parte do desenvolvimento das ontologias (QIN e PALING, 2001; SOERGEL et al., 2004). Desde as primeiras publicações sobre ontologias que estas são comparadas aos tesauros, mesmo que se saibam dos limites destas comparações. Alguns pesquisadores apontam, inclusive, tesauros como ontologias simples, tais como Jasper e Uschold (1999). Moreira (2003), em trabalho de pesquisa, motivada pelas associações entre ontologias e tesauros, faz um levantamento das definições para os dois termos na literatura, identificando a singularidade de cada instrumento, mesmo se os entendemos ambos sob a perspectiva de instrumentos de representação e recuperação da informação. As contribuições das teorias sobre os relacionamentos que a seguir serão apresentadas foram ordenadas de forma a proporcionar melhor visualização do tratamento às relações, sendo que por vezes pode-se encontrar divergências com as denominações efetivamente utilizadas na literatura pesquisada. Fase de relações sintáticas Muito antes do desenvolvimento dos tesauros, a palavra já era utilizada como unidade de representação do conteúdo dos documentos. O Sistema Unitermo (1951), por exemplo, chegou a trabalhar na perspectiva que uma única palavra era suficiente para a recuperação dos documentos. Nas primeiras teorias, há preocupação com a ordem de citação dos termos para enunciar um assunto, já que é através da sintaxe, que ocorre a enunciação do significado. As relações sintáticas referem-se às relações derivadas da estrutura sintática das sentenças. Como se pode constatar, a preocupação com os relacionamentos entre os conceitos, no sentido de desenvolver um todo coeso é anterior ao aparecimento das ontologias. O auxílio do computador na indexação era parte do Projeto Syntol (Syntagmatic Oriented Language), aonde Cros et al. (1968) visavam uma indexação sintática auxiliada por computador. O SYNTOL trabalha com a distinção explícita entre as relações a priori (relações paradigmáticas) e as relações a posteriori (relações sintagmáticas). A estrutura paradigmática e sintagmática, no entanto, contrasta no uso, dependendo da forma como é estabelecido dentro do sistema, mas não na essência (GARDIN, 1973, p. 14). Devido a isso, a distinção proposta no projeto Syntol não aparece em nossa taxonomia. As relações em sistemas de classificação bibliográficas, ferramenta relacional de metalinguagem mais comum, são estritamente hierárquicas, tendo como única relação a de classe-inclusão ou multidimensional, com vários tipos de relações: parte-todo; instrumentoalvo, etc. Aliás, o mais elementar tipo de referência cruzada (ver, ver também) implica em alguma afinidade semântica entre conceitos (GARDIN, 1973, p. 147). O Sistema Precis (Preserved Context Indexing System), de Austin (1974), segundo Foskett (1973 p. 62) diz respeito à organização sintática de enunciados de assunto e utiliza operadores relacionais inseridos entre os conceitos. O autor especifica que o verdadeiro avanço que o Precis representa é que ele nos permite ser muito mais precisos quanto ao tipo de relação entre os conceitos e, por conseguinte, possibilita a elaboração de enunciados básicos processáveis por computador, a fim de proporcionar um conjunto completo de cabeçalhos. Coates (1973) afirma que pensar a automatização de sistemas exige a abordagem sintática dos conceitos. Jason Farradane (1952, 1980) desenvolve a indexação relacional, preocupado em preservar a semântica implícita pretendida (pelo indexador) quanto aos pares de conceitos, no momento da recuperação. Assim dois termos preservariam sintaticamente seu contexto (essa é a relação com o sistema PRECIS). Farradane aborda as relações sintaticamente, mas junto à organização sintática (de enunciados de assuntos), Gardin se ocupa com a organização semântica, como tratado anteriormente. Na indexação relacional, Farradane (1980) define relações para associar pares de conceitos (os operadores relacionais 4
5 foram suprimidos no Quadro 01). Baseadas na psicologia do pensamento, as nove relações refletem a combinação dos mecanismos mentais de associação e discriminação no tempo e espaço, que segundo o autor podem expressar relações de aplicação geral em qualquer área de assunto e em qualquer nível de complexidade. Tais combinações podem ser visualizadas no quadro a seguir: Relação não-tempo Temporária Fixa Coincidente (1) Coincidência (4) Comparação e Auto-Atividade Não-distinta (2) Equivalência (5) Dimensional e Estado (7) Associação (8) Pertença Distinta (3) Distinção (6) Reação (9) Causação ou Dependência Funcional Quadro 01: Categorias relacionais Farradane No cabeçalho horizontal do quadro, temos os três estágios de associação que são a consciência (relação não-tempo), a associação temporária e a associação fixa. Verticalmente, com os três estágios de discriminação, que são: a coincidente, a não-distinta e a distinta. As relações são enumeradas a seguir: (1) relação de coincidência: é a consciência ou justaposição mental de uma idéia/objeto com outro. Usado quando dois conceitos são indistinguíveis, independente do tempo. (2) relação de equivalência: dada pela expressão de algum grau de equivalência entre conceitos, como o caso do sinônimo. Trata-se de uma relação permanente e indistinta. (3) relação de distinção: aplicada para expressar relação de imitação ou substituição. É atemporal, mas ao contrário da relação de co-ocorrência, é uma relação que expressa a distinção entre os conceitos. (4) relação de comparação e auto-atividade: está ligada à idéia de associação temporária e associa-se a verbos intransitivos. (5) relação dimensional e estado: expressa posição no espaço ou no tempo. Relaciona os estados ou propriedades temporárias de um conceito ou determinada classe. (6) relação reação: usada para descrever qualquer coisa ou operação agindo sobre algo ou de afetação de uma coisa sobre outra. (7) relação associação: expressa relações não especificadas e deve ser usada também para propriedades abstratas e relações de ações no passado. (8) relação de pertença: expressa relação de todo-parte, de gênero-espécie e toda propriedade física intrínseca de um material ou coisa particular. (9) relação de causação ou dependência funcional: expressa a relação de uma coisa causando ou produzindo algo ou mesmo um produto produzido por outra coisa. Esse método exige trabalho especializado e manual, não respondendo às necessidades atuais de recuperação de grande volume de dados. Mesmo quanto aos tipos de relações propostas, o sistema proposto por Farradane, sofreu críticas devido à generalidade das relações (por exemplo as relações de Equivalência e de Associação) e quanto à dificuldade de consenso entre indexadores (devido a subjetividade das relações) dentro de um mesmo domínio, o que demonstra que o estabelecimento de relações pode não ser tão consensual/cognitivo (MYAENG; McHALE, 1991; FOSKETT, 1973). Moss (1964) relata a similaridade das categorias propostas em Farradane, com as categorias aristotélicas e 5
6 ranganathianas. Para a taxonomia proposta, nessa primeira fase apenas as relações propostas por Farradane foram selecionadas. Fase de relações semânticas A partir deste momento, nossa análise se volta para os trabalhos que se ocupam eminentemente com a natureza da relação (DAHLBERG, 1978; ANSI, 2005; MOTTA, 1987). Essa análise faz-se necessária para o melhor enquadramento em uma estrutura taxonômica de relacionamentos. Voltando à Teoria do Conceito, desenvolvida pela filósofa I. Dahlberg (1978), explicita as seguintes relações, a partir da comparação entre as características do conceito: Relações hierárquicas quando dois conceitos diferentes possuem características e um deles possui uma característica a mais. Relações hierárquicas ou relação de gênero (genérico, superior, mais amplo) e espécie (específico, inferior, mais restrito). Relações partitivas é a relação entre um todo e suas partes (ou um produto e os elementos que o constituem). Relação de oposição pode ser de contradição ou de contrariedade e aplicam-se principalmente a conceitos que expressam propriedades. Relações funcionais aplicam-se principalmente a conceitos que expressam processos. Pode-se conhecer o caráter semântico de tais relações tendo por base as chamadas valências semânticas dos verbos: soma dos lugares a serem preenchidos de acordo com a ligação deste conceito com outros. Em trabalho posterior, Dalhberg (1979) fazer um levantamento das pesquisas sobre as relações entre conceitos, e constata que com o aumento da literatura documentada e a insatisfação com a qualidade da recuperação da informação reabriram o interesse sobre este campo na Ciência da Informação. E que, inclusive os tesauros, muito se desenvolveram graças à necessidade real de representação de assuntos mais específicos que as notações dos sistemas de classificações tradicionais. Através do exercício intelectual de tentar identificar as relações entre termos que foi criada uma nova compreensão da estrutura conceptual do conhecimento, uma vez que um thesaurus é definido como uma lista de conceitos e termos correspondentes numa determinada área do conhecimento, com a indicação das relações entre os conceitos e os termos que denotam (DALHBERG 1979). As teorias para o desenvolvimento de tesauros, envolvem diversos campos do conhecimento, devido a sua natureza multidisciplinar e herança de sua área de pesquisa, a Ciência da Informação. A estrutura de um tesauro diz respeito aos relacionamentos, às ligações e às vinculações existentes entre os conceitos, de forma que nenhum termo exista em um tesauro sem ligação com outro, sempre determinada por seu significado (SVENONIUS, 2000). Interessa-nos a pesquisa de Motta (1987) por considerar a problemática envolvida no embasamento teórico para a determinação das relações. Nas palavras da autora: mesmo se tratando de relações de gênero/espécie, de todo/parte, que podem ser mais facilmente identificadas, geralmente o estabelecimento dessas relações assume cunho altamente pessoal, opinativo, quer pela falta de definições conceituais corretas, quer pela falta de conhecimento que os conceptores de tesauros têm a respeito da área de assunto coberta pelo sistema (MOTTA, 1987, p. 39). 6
7 Em seu trabalho, Motta revê a literatura pertinente às relações semânticas, já que o objetivo de seu trabalho é a construção de vocabulários. O resultado foi apresentado pela autora associando a cada par de conceitos (de um tesauro de Economia), o esclarecimento do tipo de relação associativa. Chega às possíveis formas para as relações associativas: de causalidade; instrumental; de influência; de oposição; interfaceta; atributiva/atribuição; de associação; coordenação lógica e implícita. Nota-se que a relação de associação permanece. Além das relações entre dois conceitos, a autora verifica relações entre três ou mais conceitos, abordadas na próxima fase desta pesquisa (MOTTA, 1987, p. 47). A norma proposta pela organização norte-americana National Information Standards Organization (ANSI, 2005), propõe as linhas gerais para a construção, formatação e manutenção de vocabulários controlados monolíngües e define vocabulário controlado, segundo uma ordem conhecida e estruturada com o intuito de disponibilizar claramente os relacionamentos de equivalência, associativos e hierárquicos, determinando desde níveis de relacionamentos simples até estruturas mais complexas. Divide, então, as relações em três: relação de equivalência, hierárquica e associativa. A relação de equivalência é dividida em: relações de sinonímia; as variações lexicais entre conceitos e a quase-sinonímia. São aquelas que representam os sinônimos ou quase sinônimos de um termo. Os sinônimos aparecem com a indicação de USE ou UP (use para), nos tesauros, mas não há distinção sintática para sinônimos e quase-sinônimos. A relação hierárquica engloba a relação do tipo genérica (gênero-espécie); instância (é um) e relação do tipo partitiva (todo-parte), ou seja, o todo com suas partes e do tipo enumerativa e as polihierárquicas, onde um termo pode depender de mais de um termo genérico. A relação associativa pode ocorrer como causa/efeito, processo/agente, processo/contra-agente, ação/produto, ação/propriedade, ação/alvo, conceito ou objeto/propriedade, conceito ou objeto/origem, conceito ou objeto/ unidade ou mecanismo de medida, matéria bruta/produto e disciplina ou campo/objeto ou profissional. As relações associativas são estabelecidas por pontos distintos de associação, dependendo do domínio do tesauro e de seu objetivo. Deve ser analisada, visto que não raro é considerada relação associativa tudo o que não é possível enquadrar como relação hierárquica ou equivalente. Para a construção de tesauros esta postura é viável, mas não nos auxilia a entender a natureza da relação para o desenvolvimento de ontologias. A ausência de fundamentos explícitos leva à presença de relações incompreensíveis e, por vezes, inúteis, principalmente ao tratar-se de ontologias, cujas relações devem ser inteligíveis para a máquina. Em um nível mais teórico, as relações presentes nos tesauros são tratadas por relações lógicas, ontológicas e de efeito em Gomes (1990) e Campos (2001). Sendo que, - Relacionamentos lógicos, oriundos da comparação de dois conceitos, podem se dividir em: genérico-específico; relacionamento analítico (relações associativas) e relacionamento de oposição; - Relacionamentos ontológicos, reunindo as relações partitivas, relacionamentos de sucessão ou contigüidade e o relacionamento material-produto; - Relacionamentos de efeito, constituído pelos relacionamentos de causalidade ou causa efeito, instrumentalidade e os relacionamentos de descendência (relações genealógicas entre os termos). Na Teoria Geral da Terminologia - TGT (WUESTER, apud CAMPOS, 2001, p. 74), as relações tratadas em nível conceitual se dividem em relações lógicas (relação de abstração, de semelhança) e ontológicas (entre o conceito e a realidade). Sendo que as relações lógicas são: relação de determinação, de conjunção e disjunção; e as relações ontológicas são as relações de contato (relações de coordenação e de encadeamento) e de causalidade (geral, filogênico, ontogênico, substâncias). Para melhor adequação à taxonomia 7
8 já desenvolvida e devido ao fato de a TGT envolver aspectos como contigüidade no tempo, trabalhar-se-á apenas as relações enquanto lógicas e ontológicas, aplicadas no Quadro Geral apresentado ao final deste artigo. Pesquisas em ontologias Em publicação recente, Khoo e Na (2006), em capítulo de revisão sobre as relações semânticas na Ciência da Informação, apresentam as relações da seguinte forma: 05 (cinco) relações paradigmáticas e 01 (uma) relação sintagmática. Como relações paradigmáticas temos: relação de Hiponímia-hiperonímia: equivalente ao conceito específico e geral (ocorrência como: is-a/é um, a-kind-of/é um tipo de, Taxonymic, Superordinatesubordinate, Genus-species ou Class-subclass); relação de Troponímia (do inglês Troponymy), que trata da relação de hiponímiahiperonímia, mas quando da ocorrência entre verbos 5 ; relação Meronímia-Holonímia: relação de partonímia, que pode se dividir em diferentes categorias de parte-todo (detalhadas pelos autores, no artigo original); relação de Sinonímia 6, que pode ser: o senso-sinônimo: quando os termos compartilham um ou mais sentidos; o quase-sinonímia, quando os termos compartilham sentidos diferentes, mas próximos no significado, e o sinonímia-parcial: quando os termos compartilham sentidos, mas se diferem em algum aspecto e a relação de Antonímia. E como relação sintagmática, a relação de causa e efeito. Almeida (2006, p. 137) em trabalho de pesquisa para o desenvolvimento de ontologias organizacionais afirma que na primeira versão, optou por inserir relações genéricas, ou seja, as relações deveriam atender a abstrações utilizadas em modelos de dados semânticos. Essa primeira versão pareceu adequada, em função de algumas constatações: (a) foram criadas super-relações para organizar as relações; (b) obteve-se um número reduzido de relações, através de relações genéricas que buscavam similaridade com as abstrações definidas; (c) foi possível definir as relações inversas correspondentes (ALMEIDA, 2006, p. 180). Importa ressaltar a diferença entre relações unárias (a relação entre um conceito e outro conceito, que é seu atributo, uma característica do conceito) e relação binárias (relação entre dois conceitos). Esse modelo de abstração de dados é utilizado em modelagem de bancos de dados, na representação de conhecimento também para a criação de ontologias em Elmasri e Navathe (2005, p. 77) e também por Sayão (2001) que destaca as abstrações semânticas mais utilizadas: - generalização ( é-um ), que diz respeito ao agrupamento de objetos em níveis hierárquicos; - agregação ( é-parte-de ), que ocorre quando objetos são agrupados em um relacionamento de composição, para formar um objeto maior; - classificação ( é-instância-de ), que ocorre quando objetos são agrupados por serem exemplos particulares de um tipo mais geral; - associação ( é-membro-de ), que ocorre quando os objetos são agrupados por sua capacidade de satisfazer algum critério. Essas relações muito se assemelham com as relações taxonômicas, que já citamos anteriormente e que podemos observar no segundo quadro geral ao final. Parece-nos apropriado que para a formalização e axiomalização dos enunciados destas ontologias, maior 8
9 refinamento se faça necessário. Faz-se necessário o estudo de linguagens para construção de ontologias para verificação do nível de refinamento possível. Conclusões Dentre o que podemos verificar, falta uma metodologia unificada que compreenda o universo de relações, algumas das quais, apresentadas neste trabalho. Fica claro, também, a necessidade da análise interdisciplinar dado ao estudo dos tipos de relações entre os conceitos, sobre nosso objeto, visto que o estudo em ontologias exige essa postura. Considera-se que o reconhecimento da natureza das possíveis relações, deve atender a fatores mais gerais, como a temporalidade da relação, as propriedades de cada relação, a determinação da relação enquanto permanentes ou não e sua relação a um único ou a vários domínios de conhecimento. A pesquisa de Farradane foi uma das poucas até o presente momento, que associou diretamente a questão tempo e espaço na forma de relacionamento entre dois conceitos. Como ontologias refletem a dinâmica conceitual dentro de um contexto, o próximo passo será o de aprofundamento dessas variáveis nas relações elencadas. 9
10 Taxonomia de relações proposta Farradane (1980) Dahlberg (1978) Quadro 02 Teorias sintetizadas por autor quadro comparativo Teorias sintetizadas (por autor) Tesauros Motta (1987) ANSI (2005) Terminologia (WUESTER, 1981 apud CAMPOS, 2001) Equivalência Equivalência Rel. Lógica Sinônimos idênticos Variação lexical Quase sinônimo Equivalência USE e UP (Usado para) Sinonímia Variações lexicais Quase Sinonímia Antonímia Distinção Relação de oposição TO - Termo oposto Relação de oposição KHOO e NA (2006) Sinonímia Senso-sinônimo; Quase-sinonímia; Sinonímia-parcial. Rel. Lógica Antonímia Modelagem de Banco de Dados (ELMASRI e NAVATHE, 2005; SAYÃO, 2001; ALMEIDA, 2006) Hierárquica Gênero-espécie Pertença Hierárquicas gênero-espécie TG Termo genérico TE Termo específico Formas de associação explícita Associação Associação TR -Termo Relacionado Hierárquica Gênero-espécie Rel. Lógica Generalização Associação Associativa Rel. Ontológica Associação Hiponímiahiperonímia Co-ocorrentes Coordenação Rel. Ontológica lógica Instância Instância (é um) Rel. Lógica Classificação Todo-Parte Relações Todo-Parte Rel. Lógica Meronímia-holonímia Agregação partitivas Relação entre verbos Atividade Troponímia própria Propriedadetodo/inteiro Dimensional Atributiva Conceito ou objeto/propriedade Rel. Lógica
11 Ação/propriedade Matéria-prima e produto Membro-coleção/ conjunto Instrumental Matéria bruta/produto Rel. Lógica Conceito ou objeto/origem Disciplina ou campo/objeto ou profissional Ação/produto ação/alvo Membros de uma coleção de elementos Subconjuntos de conjuntos fração-inteiro Conceito ou objeto/ unidade ou mecanismo de medida componente-sistema Relações funcionais Causa-efeito Causação ou Dependênciafuncional Quadro 02 - Taxonomia de relações proposta (Conclusão). Causalidade Influência Causa/efeito processo/agente Reação Processo/contraagente Formas de associação implícita Implícita Interfaceta Rel. Lógica Rel. Ontológica Rel. Ontológica Inteiro e seu componente funcional Organização e sua "cabeça" (chefe) Inteiro - equipe de funcionários Causa-efeito 11
12 Referências: ALMEIDA, M. B. Um modelo baseado em ontologias para representação da memória organizacional p. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) Escola de Ciência da Informação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Disponível em: Acesso em: 17 jun ANSI/NISO Z 39.19: Guidelines for the construction, format, and management of monolingual controlled vocabularies. Bethesda: NISO Press, p. Disponível em: pdf?CFID= &CFTOKEN= Acesso em: 27 jun AUSTIN, D. The development of PRECIS: a theorical and technical history. Journal of documentation, v. 30, n. 1, p , BITI - Biblioteconomia, Informação e Tecnologia da Informação. Elaboração de tesauros documentários: tutorial. Disponível em: < >. Acesso em: 06 mar CAMPOS, Maria Luiza Almeida. Linguagem Documentária: teorias que fundamentam sua elaboração. Rio de Janeiro: EUFF, COATES, E. J. Some properties in the structure of indexing languages. Journal of documentation, London, v. 29, n. 4, p , Dec CROS, R. C; GARDIN, J. C; LEVY, F. L'Automatisation des recherches documentaires: un modèle général, le Syntol. 2. ed. Paris: Gauthier-Villars, DAHLBERG, I. A referent-oriented analytical concept theory of interconcept, Intern. Classificat., Frankfurt, v. 5, n. 3, p , 1978a. DAHLBERG, I. Futuro das linguagens de indexação. In: CONFERENCIA BRASILEIRA DE CLASSIFICAÇÃO BIBLIOGRÁFICA, 1976, Rio de Janeiro. Anais... Comemorativa do centenário da primeira edição de Classificação Decimal de Dewey. Rio de Janeiro: IBICT; ASSOCIAÇÃO DOS BIBLIOTECARIOS DO DISTRITO FEDERAL p Disponível em: < >. Acesso em: 23 ago DAHLBERG, I. Teoria do conceito. Ciência da Informação, Rio de Janeiro, v. 7, n. 2, p , ELMASRI, R.; NAVATHE, S. B. Sistemas de banco de dados: fundamentos e Aplicações. 4. ed. São Paulo: Editora Addison Wesley, FARRADANE, J. E. L. Concept organization for informational retrieval. Information storage & retrieval, v. 3, p , FARRADANE, J. E. L. Knowledge, information, and information science. Journal of information science, v. 2, p , 1980.
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14 MYAENG, S. H. McHALE, M. L. Toward a relation Hierarchy for information retrieval. In: ASIS SIG/CR CLASSIFICATION RESEARCH WORKSHOP: 2ND: WASHINGTON D.C.; KWASNIK, BARBARA H; FIDEL, RAYA; AMERICAN SOCIETY FOR INFORMATION SCIENCE; AMERICAN SOCIETY FOR INFORMATION SCIENCE. Advances in classification research: volume 2, proceedings of the 2nd ASIS SIG/CR Classification Research Workshop, held at the 54th ASIS Annual Meeting, Washington, D.C., October Medford, N.J.: Learned Information, Inc. for the American Society for Information Science, c1992. p MOSS, R. Categories and relations: origins of two classification teories. American Documentation. v. 15, n. 4, p , Oct MOTTA, Dilza Fonseca da. Método relacional como nova abordagem para a construção de tesauros p. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, QIN, Jian; PALING, Stephen. Converting a controlled vocabulary into an ontology: the case of GEM Information Research, v. 6, n. 2. Disponível em: Acesso em: 20 set SALES, Luana Farias. Ontologias de domínio: estudo das relações conceituais e sua aplicação f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) Universidade Federal Fluminense, Niterói, SAYAO, L. F. Modelos teóricos em Ciência da Informação: abstração e método científico. Ciência da Informação, Brasília: UnB, v. 30, n. 1, p , jan./abr SOERGEL, Dagobert et al. Reengineering Thesauri for New Applications: the AGROVOC Example. Journal of Digital Information, Disponível em: Acesso em: 12 jun SVENONIUS, E. The intellectual foundation of information organization. Cambridge, MA: MIT Press, USCHOLD, M; GRUNINGER, M. Ontologies: Principles, Methods and Applications. The knowledge engineering Review, v.11, n.2, p , uma especificação formal e explícita de uma conceituação compartilhada (GRUBER, 1993, p. 199). 2 Relações semânticas são associações significativas entre dois ou mais conceitos, entidades ou conjunto de entidades [...] Os conceitos/entidades são parte integral da relação como uma relação não pode existir por ela mesma (KHOO e NA, 2006, p.159, tradução nossa). 3 Não encontramos equivalente em Português. Traduzimos por estruturantes e não estruturantes. 4 WUESTER, E. L. L étude scientifique qénérale de la terminologie, zone frontalière entre la linguistique, la logique, l ontologie, L informatique et les sciences des chose. In: RONDEAU, G. ; FELBER, E. (Org.). Textes choisis de Terminologie. Québec: GIRSTERM, p Os autores relatam a estranheza em se afirmar que sussurrar é um tipo de falar (KHOO e NA, 2006, p. 175, tradução nossa). 6 Do inglês: sense-synonyms, near- synonyms e partial-synonyms. 14
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