DETECÇÃO DE MICOBACTÉRIAS EM ÁGUAS SUBTERRÂNEAS QUE ABASTECEM A CIDADE DE SÃO CARLOS SP
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1 313 DETECÇÃO DE MICOBACTÉRIAS EM ÁGUAS SUBTERRÂNEAS QUE ABASTECEM A CIDADE DE SÃO CARLOS SP Hayashi, Luciana Hitomi 1 ; Sueitt, Ana Paula Erbetta 1 e Souza, Clóvis W.O. 1 1 Universidade Federal de São Carlos Rodovia Washington Luís, Km 235, São Carlos SP; Departamento de Morfologia e Patologia; lucyhh@hotmail.com RESUMO Foram analisadas 21 amostras de água de poços artesianos que abastecem a cidade de São Carlos SP, das quais 95,2% apresentaram resultados positivos para contagem de bactérias heterotróficas, 28,6% para a presença de coliformes totais, não sendo encontrada em nenhuma amostra Escherichia coli; para o isolamento de micobactérias as amostras foram descontaminadas com cloreto de cetilpiridínio 0,05% e semeadas nos meios de Löwestein-Jensen e Agar Middlebrook 7H10; obtivemos resultado positivo em 47,6%. ABSTRACT Twenty one water samples from artesian wells that supply the city of São Carlos SP were analyzed: 95.2% of these samples were positive for heterotrophic counting and 28,6% were positive for total coliforms. Escherichia coli was not found in any sample. The water samples were decontaminated with cetylpyridinium chloride 0,05% and cultured in Löwestein-Jensen and Agar Middlebrook 7H10 for the research of mycobacteria; we got positive result in 47,6% of the samples. INTRODUÇÃO/OBJETIVOS Ao mesmo tempo em que a água subterrânea se torna cada vez mais importante como recurso para a grande exigência de água para uso doméstico, agrícola e industrial, sua qualidade está sendo ameaçada; a falta de monitoramento em locais onde há potencial para contaminação, e a ausência de uma análise abrangente da qualidade da água em milhares de poços, não possibilitam uma determinação confiável dos riscos para a saúde da população (FUSCONI, 1999). Sendo a água um importante veículo na disseminação de microorganismos, mantendo-os em permanente contato com o homem (DAILLOUX et al., 1998), quando contaminada ou inadequadamente tratada, pode expor uma grande parcela da população a estes agentes patogênicos a partir do consumo direto, indireto e atividades de recreação (SZEWZYK et al., 2000). A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos e a Organização Mundial da Saúde padronizaram como indicadores da qualidade microbiológica da água o número de coliformes totais e de coliformes fecais, que servem como indicadores de contaminação
2 314 fecal, fornecendo uma medida do risco de saúde associado ao consumo ou contato com a água (USEPA, 2001; WHO, 2004). Entretanto, tais indicadores possuem certas limitações, principalmente à predição do risco de doenças. Por terem um tempo de vida relativamente curto e serem muito suscetíveis aos processos de tratamento de água, estes organismos tornam-se indicadores ineficazes de contaminações da água, por exemplo: micobactérias, protozoários e vírus (SZEWZYK et al., 2000). Os principais objetivos deste trabalho foram: o isolamento de micobactérias e caracterização quanto a velocidade de crescimento e produção de pigmento; e a avaliação da qualidade microbiológica das águas subterrâneas que abastecem a cidade de São Carlos, utilizando para isso a contagem de bactérias heterotróficas, coliformes totais e Escherichia coli. MATERIAIS E MÉTODOS Foram coletadas amostras de 1 L de água in natura de 21 poços artesianos do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de São Carlos, responsáveis pelo abastecimento de algumas regiões da cidade. As amostras foram concentradas em membrana de nitrocelulose de 47 mm de diâmetro e porosidade de 0,45 µm. Após a filtração, a membrana foi macerada em tubo cônico contendo 10 ml de solução tampão fosfato (PBS). A contagem de bactérias heterotróficas foi feita segundo APHA (1998), e a contagem de coliformes, em chromocult coliform Agar foi realizada segundo USEPA (2001). Os tubos contendo o macerado foram centrifugados a 3000 g por 20 minutos, o sobrenadante descartado e com o sedimento, procedeu-se a descontaminação para o isolamento de micobactérias com solução de cloreto de cetilpiridínio 0,05%; em seguida semeado em duplicata em tubos contendo Meio de Löwenstein-Jensen e Meio Middlebrook 7H10 enriquecido com 10% de OADC, e incubado em estufas de 30 C e 37 C durante 90 dias; avaliando-se semanalmente o crescimento de. colônias características de micobactérias, quando verificadas nos meios, foram realizados esfregaços das mesmas seguidas de coloração de Ziehl-Neelsen. A caracterização das micobactérias isoladas foi realizada a partir de análise da velocidade de crescimento e formação de pigmento (GRANUCCI, 2001). RESULTADOS E DISCUSSÃO Conforme mostra a Tabela I, observou-se a presença de coliformes totais em 28,6% das amostras, estas estariam impróprias para o consumo humano segundo a resolução nº 20/86 do Conama, Art.3º (Brasil, 1986). Não foi encontrada em nenhuma amostra analisada a presença de Escherichia coli, indicando, portanto, que a água não apresenta contaminação por bactérias de origem do trato intestinal humano e de outros animais homeotérmicos. Da contagem de bactérias heterotróficas obtiveram-se resultados positivos em 20 (95,2%) das 21 amostras, entre elas, 4 (19,0%) ultrapassaram os valores permitidos sendo inapropriadas para o consumo humano in natura pois podem apresentar riscos para
3 315 a saúde publica, conforme a Portaria nº 518/04 (Brasil, 2004) a contagem dessas bactérias não pode exceder 500 UFC/mL. Tabela I - Contagem de bactérias heterotróficas, coliformes totais e isolamento de micobactérias das águas dos poços artesianos de São Carlos, Procedência da amostra Bactérias heterotróficas (UFC/mL) Contagem Coliformes totais (UFC/100 ml) Isolamento de micobactérias Água Vermelha 5, Azulville 9 <1 - Boa Vista 88 <1 + CDHU 1, Cidade Aracy 110 <1 + Cruzeiro do Sul 147 <1 - Distrito Industrial 544 <1 - Douradinho Jockey Clube 54 <1 - Maria Estela Fagá 6 <1 - Nova Estância 354 <1 + Parque Faber Parque Fher 3 <1 + Samambaia 14 <1 + Santa Eudóxia <1 <1 + Santa Felícia 1 <1 - São Carlos III 24 <1 - Trammer Vila Alpes 37 <1 + Vital Brasil (CICA) 18 <1 - Vila Nery ( + ): Positivo; ( - ): Negativo Houve recuperação de micobactérias ambientais em 10 (48%) dos poços analisados. Foram caracterizados 28 isolados de micobactérias, 16 colônias (57,1%) obtidas em Meio LJ e 12 (42,9%) em Meio 7H10, não houve diferença relevante entre os meios utilizados; 5 cresceram apenas em Meio LJ entretanto o Meio 7H10 mostrou um maior número de tipos de isolados por amostra de água. Dessa forma fica difícil a comparação da eficiência dos mesmos; o que ressalta a importância da utilização de mais de um tipo de meio de cultura para obtenção de diferentes espécies. Em relação à temperatura de incubação, as micobactérias isoladas demonstraram um maior crescimento a 37 o C (53,6%) do que a 30 o C (46,4%). Em águas, não há ainda legislação vigente para micobactérias, no entanto, no Standard Methods for the Examination of Water (APHA, 1998), foram propostas metodologias para pesquisa de micobactérias em águas devido ao aumento de infecções em pacientes imunocomprometidos causadas por esses microrganismos.
4 316 A Tabela II mostra os resultados obtidos para os testes de velocidade de crescimento e pigmentação nos meios de cultura e temperatura utilizados; houve predomínio de cepas de crescimento lento, 23 (82,1%) e pigmentadas 21 (75,0%). Tabela II Caracterização das micobactérias isoladas quanto à velocidade de crescimento e pigmentação, nos meios e temperaturas utilizados. Caracterização das Micobactérias MCR Meio L.J. Meio 7H10 30 o C 37 o C 30 o C 37 o C Total Não-cromógenas Escotocromógenas Fotocromógenas MCL Não-cromógenas Escotocromógenas Fotocromógenas Total MCR: Micobactérias de crescimento rápido; MCL: Micobactérias de crecimento lento. CONCLUSÕES A água in natura dos poços artesianos apresentaram contaminação por coliformes totais em 28,6%; nenhuma amostra apresentou contaminação por Escherichia coli; a contaminação das amostras por bactérias heterotróficas foi de 95,2%, das quais 4 (19,0%) apresentavam uma contagem superior ao recomendado pela Portaria n o 518; 47,6% das amostras analisadas foram positivas quanto à presença de micobactérias; das micobactéria isoladas houve predominância de cepas de crescimento lento (82,1%) e pigmentadas (75,0%). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APHA. - Standard methods for the examination of water and wastewater. 1998, 20ed, Baltimore: American Public Helth Association (APHA), American Water Works Association (AWWA) e Water Environment Federation (WEF). BRASIL AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Portaria nº518, de 25 de março de 2004, Brasília. Disponível em Acessado em 12/07/2007. BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução n o 20, de 18 de julho de Publicada no Diário Oficial da União de 30 de julho de 1986, Brasilia. Disponível em Acessado em: 20/08/2008
5 317 DAILLOUX, M.; LAURIAN, C.; WEBER, M.; HARTEMENN, PH. Water and nontuberculous mycobacteria., 1998 Wat. Res. v.33, nº10, p FUSCONI, R.; Isolamento e caracterização de linhagens bacterianas provenientes das águas subterrâneas adjacentes ao antigo aterro controlado da cidade de São Carlos (SP): estudos de linhagens produtoras de exopolissacarídeos., 1999, 143 f. Dissertação (Mestrado em ecologia e recursos naturais) Centro de ciências Biológicas e da Saúde, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos. GRANUCCI, G.F. Estudo das micobactérias veiculadas pelas águas da região de Itápolis SP., 2001, 89f. Dissertação (Mestrado em Microbiologia Aplicada), Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista. Rio Claro. SZEWZYK, U.; SZEWZYK, R.; MANZ, W.; SCHLEIFER, K.H. Microbiological safety of drinking water., 2000, Annu. Rev. Microbiol. 54: USEPA. National Primary Drinking Water Standards., 2001, EPA 816-F Office of Water, U. S. Environmental Protection Agency, Washington D.C. WHO. Guidelines for drinking water quality, 2004, 3ed, vol1. Geneva: World Helth Organization.
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