MANDADO DE SEGURANÇA, com PEDIDO LIMINAR

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1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL DA COMARCA DE GOIÂNIA - GOIÁS LAÍS FARIA DE ELIAS BORGES, brasileira, casada, funcionária pública municipal, residente e domiciliada na Rua 1.026, nº 187, apto. 404, Ed. Cézanne, Setor Pedro Ludovico, nesta capital, portadora do RG n SPTC/GO e do CPF n , vem à presença de Vossa Excelência, por meio de seu advogado subscritor desta, com escritório profissional sito na Rua 10, 250, Ed. Trade Center, sala 408, Setor Oeste, Goiânia-GO, onde recebem as intimações de estilo, impetrar MANDADO DE SEGURANÇA, com PEDIDO LIMINAR contra ato omissivo do SECRETÁRIO MUNICIPAL DE ADMINISTRAÇÃO E RECURSOS HUMANOS DE GOIÂNIA, Sr. EDSON ARAÚJO DE LIMA, encontrado para as devidas intimações à Rua 16 esq. Rua 12, nº 97, Ed. Capemi, 5º andar, Setor Central, Goiânia GO, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas: I DOS FATOS O Município de Goiânia, por meio de sua Secretaria de Administração e Recursos Humanos, realizou, no ano de 2006, concurso público para provimento de diversos cargos, dentre os quais o cargo de Analista em Saúde I, especialidade NUTRICIONISTA. 1

2 A impetrante se inscreveu no referido concurso para o cargo de Analista em Saúde I - Nutricionista, realizou todas as etapas e foi aprovada no certame em 17º (décimo sétimo) lugar. Por meio do Edital de Convocação nº 81/2009, publicado no Diário Oficial do Município de Goiânia nº 4.740, de 18 de novembro de 2009, páginas 09 e 10 (em anexo), a impetrante foi convocada a tomar posse no referido cargo para o qual foi aprovada. No dia 01º de dezembro de 2009 a impetrante tomou posse no cargo, conforme comprovante em anexo, e entrou em exercício em 03 de dezembro de 2009, conforme Memorando nº 1062/2009, também em anexo a esta petição. Excelência, nesse período de 3 (três) anos de espera pela convocação para posse a impetrante engravidou, tendo sua filha ANNA ZOE ELIAS BORGES nascido em 25 de agosto de 2009, ou seja, três meses e cinco dias antes da data em que Laís Borges tomou posse no cargo público municipal. Em razão de ainda estar amamentando a filha, que hoje possui um pouco mais de três meses de vida, a impetrante requereu administrativamente licença à gestante/lactante de forma proporcional, a partir da data em que entrou em exercício no cargo, ou seja, a partir de 03 de dezembro de 2009, bem como requereu a manifestação da autoridade responsável no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, tendo em vista a urgência e relevância do pedido, haja vista a alimentação da criança ainda ser, exclusivamente, o leite materno. Ocorre que até a presente data não houve manifestação pela autoridade responsável quanto ao referido pedido de licença, sendo que a impetrante já obteve a informação verbal dos funcionários da Secretaria de que o requerimento por ela feito será indeferido, pelo fato de a mesma ter tomado posse em data posterior ao nascimento da criança. II DO DIREITO 2

3 II.1 DO CABIMENTO DO MANDADO DE SEGURANÇA Dispõe a Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LXIX: Art. 5º LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; dispõe que: Também o artigo 1º da Lei nº , de 07 de agosto de 2009, Art. 1 o Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, sempre que, ilegalmente ou com abuso de poder, qualquer pessoa física ou jurídica sofrer violação ou houver justo receio de sofrê-la por parte de autoridade, seja de que categoria for e sejam quais forem as funções que exerça. (grifo nosso) Trata-se de ato coator praticado pela autoridade impetrada na modalidade omissiva, em razão de até a presente data não haver qualquer resposta por parte da Administração Pública acerca do pedido de licença à gestante/lactante feito pela impetrante, pedido este de suma importância para a saúde da criança que ainda se encontra naquela fase da vida em que a alimentação é feita, exclusivamente, por leite materno. A demora na resposta da Administração Pública viola o direito de a impetrante alimentar sua filha, bem como impede que a criança cresça de forma saudável e com desenvolvimento adequado de seu organismo, pois todos os dias, e durante várias vezes ao dia, o alimento que a criança recebe é o leite materno, e para isso é necessário que nos 6 (seis) primeiros meses de vida a impetrante esteja em dedicação exclusiva à amamentação de sua filha. II.2 DA TEMPESTIVIDADE DO WRIT 3

4 O presente mandado de segurança encontra-se tempestivo, tendo em vista não ter havido, ainda, qualquer manifestação por parte da autoridade impetrada acerca do pedido de licença à gestante/lactante, conforme disposição do artigo 23 da Lei nº /2009: Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguirse-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado. II.3 DO MÉRITO Direito à saúde, bem como à proteção à maternidade e a infância são direitos fundamentais garantidos pela nossa Lei Maior, em seu artigo 6º: Art. 6 o São direitos sociais a educação, a saúde, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. A impetrante, ao tomar posse no cargo de Analista em Saúde I - Nutricionista, assumiu responsabilidade pública de grande relevância para a sociedade, mas prevalece o direito de a mesma cuidar da saúde e infância de sua filha, direito este que também é um dever. A criança, sendo uma pessoa absolutamente incapaz, depende exclusivamente dos cuidados da impetrante para sobreviver e para ter um crescimento saudável, sendo este um direito fundamental. Não pode a Administração Pública vedar, impedir que a criança tenha a convivência e o contado direto com a impetrante, de forma integral, durante esses 6 (seis) primeiros meses de vida. Cada dia que se passa sem que a autoridade responsável se manifeste acerca do pedido de licença à gestante/lactante é um prejuízo imensurável à saúde de Anna Zoe Elias Borges, pois a mesma é privada de uma convivência exclusiva de 24 (vinte e quatro) horas com sua mãe, e do mesmo modo, do aleitamento materno, o que prejudicará a formação e o seu desenvolvimento físico, mental, emocional de uma futura cidadã. 4

5 A impetrante, mesmo estando em estágio probatório, possui direito líquido e certo à licença gestante/lactante, conforme disposição do artigo 33 da Lei Complementar nº 11, de 11 de maio de 1992 Estatuto dos Servidores Públicos do Município de Goiânia: Art Durante o período de cumprimento do estágio probatório, o servidor não poderá afastar-se do cargo para qualquer fim, salvo para gozo de licença para tratamento de saúde e por acidente de serviço, licença à gestante, lactante e adotante, licença paternidade, férias, nojo ou gala. 11/92: Também dispõe o artigo 223 da Lei Complementar Municipal nº Art Será concedida licença à servidora gestante, por cento e vinte dias consecutivos, sem prejuízos da remuneração, mediante inspeção médica. O prazo dessa licença à servidora gestante foi alterado para cento e oitenta dias, e prorrogado para as servidores que já estivessem no usufruto da mesma, conforme artigo 1º, caput e 2º da Lei Complementar Municipal nº 197, de 14 de agosto de 2009: Art. 1º O artigo 223, caput, do Estatuto dos Servidores Públicos do Município de Goiânia passa a vigorar com a seguinte redação: Será concedida licença à servidora gestante, por cento e oitenta dias consecutivos, sem prejuízos da remuneração, mediante inspeção médica.... 2º Fica automaticamente prorrogado o período de gozo da licença às servidoras que estejam no usufruto da mesma na data de publicação desta Lei. Excelência, a alteração feita pelo Município de Goiânia em sua legislação para possibilitar que as gestantes tivessem um aumento de dois meses de licença para cuidar de seus filhos, passando o período da licença para cento e oitenta dias, demonstra a extrema relevância desse período de seis meses para que a mãe fique em dedicação exclusiva à amamentação do filho, sem exercer qualquer outra atividade que prejudique a ininterruptividade da alimentação da criança, o que ocorre no cumprimento da jornada de trabalho no serviço público. 5

6 Tanto é importante esse período de seis meses para amamentação da criança, que o 2º da LC Municipal nº 197/2009 acima transcrito prorrogou o período de gozo da licença à gestante para aquelas servidores que já estavam usufruindo da mesma quando da publicação da lei. A impetrante não requer a licença à gestante de forma integral, pois a filha da mesma já contava com mais de três meses de vida quando da data da posse e entrada em exercício no cargo público. Atendendo ao princípio constitucional implícito da proporcionalidade, a impetrante possui direito líquido e certo garantido pela Constituição Federal e pelo Estatuto dos Servidores Públicos Municipais ao restante do período de cento e oitenta dias da licença à gestante/lactante, a contar da data do requerimento administrativo (04 de dezembro de 2009). O fato de a filha da impetrante ter nascido antes da data da posse no cargo público não extingue o direito à licença à gestante, de forma proporcional. Esse é o entendimento do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás: "DUPLO GRAU DE JURISDICAO. MANDADO DE SEGURANCA. CONCURSO PUBLICO. POSSE. LICENCA MATERNIDADE. DIREITO AO BENEFICIO. O FATO DA IMPETRANTE DAR A LUZ AO FILHO ALGUNS DIAS ANTES DA POSSE NO CARGO PUBLICO NAO PODE OBSTAR O DIREITO A LICENCA A GESTANTE, POR SE TRATAR DE INDERROGAVEL GARANTIA SOCIAL DE INDOLE CONSTITUCIONAL (CF, ARTIGO 7º, XVIII), VISANDO PERMITIR QUE A MAE PRESTE ASSISTENCIA A PROLE RECEM-NASCIDA QUE NECESSITA ESPECIALMENTE DE SUA PRESENCA E CUIDADOS NOS PRIMEIROS DIAS DE VIA. SENDO ASSIM NAO TERA ELA PREJUIZO DO EMPREGO E DO SALARIO DURANTE O TEMPO DO AFASTAMENTO. REMESSA OBRIGATORIA CONHECIDA E IMPROVIDA." (TJGO, 4ª Câm. Cív., Rel. Dr. JAIR XAVIER FERRO, Duplo Grau de Jurisdição nº /195, DJ 7 de 11/01/2008) A restrição pela Administração Municipal quanto ao restante do período de cento e oitenta dias de licença à gestante à impetrante mostra-se desnecessária e abusiva, pois lesa um direito fundamental, qual seja, o de a impetrante cuidar da saúde de sua filha, cuidado este que também é dever do Estado. 6

7 A licença à gestante configura-se ato administrativo vinculado, ou seja, a lei estabelece os requisitos e condições para a realização válida do mesmo. O administrador não possui liberdade para escolher e determinar o que seja requisito para a concessão da referida licença. O artigo 223 do Estatuto dos Servidores Públicos do Município de Goiânia, com a redação dada pela LC Municipal nº 197/2009, dispõe que Será concedida licença à servidora gestante, por cento e oitenta dias consecutivos, sem prejuízos da remuneração.... (grifo nosso) O administrador não possui escolha, pois a própria lei já determinou a concessão da licença à gestante, pelo nascimento de filho, mediante o verbo afirmativo será. A lei não dispôs poderá, portanto, não deu opção de escolha à autoridade responsável. Uma servidora municipal que teve um filho nascido em 25 de agosto de 2009 tem direito à licença à gestante até aproximadamente 25 de fevereiro de 2010, e a impetrante, pelo simples fato de ter tomado posse após o nascimento de sua filha, não tem direito à mesma licença, de forma proporcional, pelo tempo restante, ou seja, do dia da entrada em exercício até aproximadamente também 25 de fevereiro de 2010? Então a impetrante, uma mulher casada, deveria ter adiado o sonho de ser mãe por tempo indeterminado, pois não sabia quando, dentro do prazo de validade, o Município de Goiânia lhe convocaria para tomar posse, para que pudesse ter reconhecido seu direito à licença à gestante? Não seria isso uma interferência do Estado na vida de uma família, como se o Estado é que devesse decidir quando é o momento para que um casal tenha ou não um filho? O período de licença à maternidade/gestante no Brasil, após muitas discussões com profissionais da medicina, foi aumentado de 120 (cento e vinte) dias para 180 (cento e oitenta) dias justamente porque o Estado reconheceu a importância desse período de seis meses para que a criança fique em contado direto 7

8 e exclusivo com a mãe, e para que seja possibilitada a alimentação exclusiva pelo leite materno. A amamentação como sendo a única fonte de alimento da criança nos seus primeiros seis meses de vida é de suma importância para o crescimento saudável, para que venha a ser uma futura adulta saudável, o que reduz as possibilidades de gastos do Poder Público no futuro com a saúde dessa criança, uma preocupação social a menos para o Estado. III DO PEDIDO DE LIMINAR O deferimento liminar da segurança, INALDITA ALTERA PARS, se faz necessário ante a ofensa ao direito líquido e certo e o perigo da demora. Presente está o fumus boni iuris pelo direito líquido e certo de a impetrante usufruir da licença à gestante por ser um direito fundamental social, garantido no artigo 6º da Constituição Federal, a saúde e a proteção à maternidade e à infância, usufruto este de forma proporcional, a partir da entrada em exercício da impetrante no cargo público municipal, até a data em que a criança completará cento e oitenta dias de vida. O periculum in mora encontra-se demonstrado no fato da demora da autoridade responsável em apreciar e responder ao pedido de licença à gestante/lactante, sendo que até a presente data não houve qualquer resposta administrativa, e a cada dia que se passa sem o deferimento da referida licença ocorre um prejuízo à saúde física e emocional da filha da impetrante, privada da convivência constante e ininterrupta com a mãe, além da angústia da própria impetrante em estar impedida, proibida de cuidar da forma mais eficaz possível da própria vida da sua filha. A demora na prestação jurisdicional, se a segurança for concedida somente ao final desta ação, ocasionará prejuízos irreparáveis à vida e à 8

9 sobrevivência da criança que está sob os cuidados da impetrante, e que ainda se encontra em fase bastante delicada de formação física, psíquica e emocional de vida. IV DOS PEDIDOS Por todo exposto, requer: IV.1 a concessão liminar da segurança para que V. Ex.ª determine à autoridade impetrada que conceda à impetrante a licença à gestante/lactante, de forma proporcional, pelo período restante a contar do nascimento da filha Anna Zoe Elias Borges, a partir da entrada em exercício no cargo público municipal (03 de dezembro de 2009) até 25 de fevereiro de 2010; IV.2 ao final, requer seja concedia a segurança para que, em definitivo, a Impetrante goze da licença gestante/lactante, pelo período restante a contar do nascimento da filha (até 25 de fevereiro de 2010). IV.3 requer seja notificada autoridade impetrada para que presta as informações que julgar necessárias. Valor da Causa: R$ 200,00. Nestes termos, pede deferimento. Goiânia, 09 de dezembro de MÁRCIO ROBERTO JORGE FILHO OAB/GO