ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO GABINETE DO EXMO. DES. MÁRCIO MURILO DA CUNHA RAMOS

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1 ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO GABINETE DO EXMO. DES. MÁRCIO MURILO DA CUNHA RAMOS ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL N" /001 3d Vara Cível da Comarca de Campina Grande RELATOR: Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos APELANTE: Banco ABN MIRO REAL S. A. ADVOGADA: Vanessa Cristina de Morais Ribeiro APELADOS: Posto de Combustíveis Prata Ltda. e outros ADVOGADOS: Sergiano Xavier Batista de Lucena e bulida Nunes da Silva APELAÇÃO CÍVEL AÇÃO DE REVISÃO DE CONTRATO EMPRÉSTIMOS BANCÁRIOS PROCEDÊNCIA PARCIAL IRRESIGNAÇÃO 1. INAPLICABILIDADE DO CDC ARGUMENTAÇÃO DESFUNDAMENTADA II. APLICAÇÃO DE JUROS REMUNERATÓRIOS ACIMA DE 12% AO ANO SENTENÇA FAVORÁVEL AUSÊNCIA DE INTERESSE III. LEGALIDADE DA CAPITALIZAÇÃO AUSÊNCIA DE PREVISÃO NO CONTRATO IMPOSSIBILIDADE DE INCIDÊNCIA IV. CUMULAÇÃO DE COMISSÃO DE PERMANÊNCIA E JUROS DE MORA IMPOSSIBILIDADE - V. REPETIÇÃO DO INDÉBITO DE FORMA SIMPLES SENTENÇA FAVORÁVEL AUSÊNCIA DE INTERESSE CONHECIMENTO PARCIAL DO APELO E DESPROVIMENTO DA PARTE CONHECIDA. No que se refere aos juros remuneratórios e repetição do indébito de forma simples, equivocou-se o apelante ao recorrer neste tópico. uma vez que a sentença lhe foi favorável. Ausente, pois. interesse processual nessa irresignação, impondo-se o não conhecimento da apelação nessa parte. Aplicam-se, às instituições financeiras, as disposições do Código de Defesa do Consumidor, no que pertine à possibilidade de revisão dos contratos, conforme cada situação específica. Nos contratos firmados m instituições financeiras. posteriormente à edição da MP 63-17/2000, é possível a incidência de capitalização mensal do. juros, desde que pactuada. No caso dos autos, não restou demo strada a previsão contridual acerca da capitalização, portanto in,,dmissível sua incidência. De acordo com o entendimento do STJ. esposado nos mais recentes julgamentos, entende-se que não é admissivel a cobrança de comissão de permanência após - a caracterização da mora do devedor.

2 quando cumulada com juros remuneratórios, correção monetária.,juros moratórios e/ou multa contratual. identificados. VISTOS, RELATADOS E DISCUTIDOS Os presentes autos acima ACORDA a Egrégia Terceira Câmara Cível do Colendo Tribunal de Justiça do Estado. à unanimidade, em conhecer em parte do apelo e, na parte conhecida negar-lhe provimento. RELATÓRIO Trata-se de Apelação Cível interposta pelo Banco ABN AMR0 REAL S.A. contra a sentença (fls. 104/109) que, nos autos da Ação Revisional de Contrato ajuizada pelo Posto de Combustíveis Prata Ltda. e outros, julgou parcialmente procedente o pedido, para "declarar a nulidade das cláusulas contratuais que asseguram: [a] incidência cumulativa de juros renumeratórios com encargos à taxa flutuante, deliberando pela exclusão destes últimos e [b] a cobrança. de forma cumulativa, da comissão de permanência com Os encargos do inadimplemento no Contrato de Empréstimo/Financiamento n De outra senda, declaro a ilegalidade da cobrança de juros sobre juros (anatocismo), assegurando, por consequência, a apuração do valor real devido, compensação e repetição de eventual indébito, em valores a serem apurados em liquidação de sentença por arbitramento". Em suas razões recursais (fls. 111/127), o recorrente alega que os juros aplicados estão dentro dos parâmetros legais e dentro dos índices aplicados pelo mercado financeiro, além do que as taxas aplicadas contratadas pelos autores foram expressamente indicadas nos contratos anexados à peça exordial. Aduz, precisamente, o recorrente: I. Inaplicabilidade do CDC ao caso: II. Legalidade dos juros reinuneratórios: III. Inexistência de capitalização de juros, apesar de ser possível sua aplicação, nos termos da NIP n" /2001, desde que pactuada, como na hipótese dos autos: IV. Con -cia aplicação dos encargos contratuais em virtude de inadimplemento, ou seja, da incidência de juros de mora e de comissão de permanência e V. Impossibilidade de repetição de indébito. Ao final pugna pelo provimento do apelo para julgar totalmente improcedente o pedido inicial. sentença. Contrarrazões apresentadas as fls. 130/134, pela manutenção da A Douta Procuradoria de Justiça. às lis, 140/145, emitiu parecer pelo desprovimento do recurso. É o relatório. VOTO: Infere-se dos 'autos quê- autores, fra recorridos, ajuizaram a presente ação revisional de contrato, sob a alegação/de existênci de abusividade e ilegalidade dos juros aplicados em vários contratos de ei réstimos acorda -junto à instituição financeira promovida, ora apelante (fls. 23/64). Ao recorrer. q Banco defende que, no ato dá contratação. a promovente/apelada teve pleno conhe ento dos juros legais e contratuais que incidiriam sobre as parcelas a serem pagas, além dos encargos pelo inadimplemento, não havendo qualquer ilegalidade nas prestações cobradas. -.-Vej amos ponto -a ponto.

3 L Da Aplicabilidade do CDC Primeiramente, quanto à alegação de não aplicação das normas previstas no Código de Defesa do Consumidor ao contrato em questão. ressalto que as normas consumeristas incidem na relação jurídica estabelecida entre as partes da presente demanda. posto que a instituição financeira enquadra-se na definição de fornecedor, estabelecida no artigo 3, caput e 2, do Código de Defesa do Consumidor, sendo evidente a relação de hipossuficiência que existe entre os participantes daquele contrato. A jurisprudência, inclusive, não diverge quanto à aplicação do CDC às instituições financeiras, encontrando-se a matéria sumulada pelo STJ. Vejamos: BANCÁRIO E PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM GARANTIA FIDUCIÁRIA. REVISÃO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. APLICABILIDADE DO CDC, CAPITALIZAÇÃO DOS JUROS. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. - Rejeitam-se corretamente os embargos declaratórios se ausente omissão. contradição ou obscuridade. - São aplicáveis as disposições do Código de Defesa do Consumidor aos contratos celebrados com as instituições financeiras. Súmula n" 297/STJ. - Inviável o recurso especial quando o tribunal de origem calcou-se, em fundamento constitucional. - É válida a comissão de permanência após o vencimento da cif\ Ida, desde que não cumulada com juros remuneratórios. 'juros moratórios, correção monetária e/ou multa contratual. Precedentes. Agravo no recurso especial a que se nega provimento (AgRg no REsp /DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHL TERCEIRA TURMA. julgado em 07/05/2007. DJ 28/05/2007, p. 340). II. Da Limitação de Juros Remuneratórios e Encargos a Taxa Flutuante No que tange à limitação dos juros. equivocou-se o apelante ao recorrer neste tópico, urna vez que a sentença lhe foi favorável. O MM Juiv a quo afirmou expressamente que "No caso dos amos. não há que se falar em abusividade, unia ve: qu.., as ta.kaç menvais de juros remuneratórios, estipufadas nos percentuais de 3,277% 'fls. 23]; 2.200% U7s. 35 e 541 e 9/67c.c ítls não obstante elevadas, são petfeitamente compatrveis com a média praticada peias insiiliçóe financeim.s nacionais, fato este público e notório- (fl. 106). Logo, a decisão de primeira instância manteve Os juros remuneratórios previstos, não havendo, pois, interesse recursal em neste ponto. Conseqüentemente, não conheço da apelação nesta parte. Agora, é importante ressaltar que a decisão a quo afastou os denominados "encargos a taxa flutuante", que foram fixados cumulativamente com os juros remuneratórios. Considerou o magistrado primevo que a cláusula que previu referidos encargos é nula de pleno direito, por fazer incidir, de forma cumulativa, encargos diversos sobre fato gerador idêntico ao dos juros remun.eratórios. Como o apelante não e os ui signação quanto à retirada desses encargos, demonstrando as bases legais pa a cobrança i taxas flutuantes. dispenso maiores comentários. Assim. como a n14téria não foi devolvida a este juízo ad quem, bem como que a questão não é de ordem púb ica, cujo reconhecimento seria de ofício. impõe-se a manutenção das conclusões da sentença kobre os encargos a taxa flutuante. III. Da Capitalização dos Juros (Anatocismo)

4 Sobre a capitalização, o apelante alega que não foi aplicada ao contrato em questão, apesar de sua legalidade, já que o contrato foi pactuado após a edição da. MP n /2000. reeditada sob o- n /2001. O STJ já firmou o entendimento de que. nos contratos firmados por instituições financeiras. posteriormente à edição. da referida Medida Provisói ia, é possível a incidência de capitalização mensal dos juros. desde que expressamente pactuada. Portanto. para sua cobrança, é necessário estar evidenciado que o contrato fora firmado após 31/3/2000 e que o referido encargo tenha sido expressamente pactuado. Nesse sentido: PROCESSUAL CIVIL E BANCÁRIO. AGRAVO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO. CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. NÃO OCORRÊNCIA. TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS. COMPENSAÇÃO DE VALORES. POSSIBILIDADE. HARMONIA ENTRE O ACÓRDÃO RECORRIDO E A JURISPRUDÊNCIA DO ST3. REEX AME DE FATOS. INTERPRETAÇÃO DE CLÁUSULAS CONTRATUAIS. INADMIS SI B ILIDADE. MORA. CARACTERIZAÇÃO. - Por força do art da MP , é possível a capitalização mensal dos juros nas operações realizadas por instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional, desde que pacturda t3os contratos bancários celebrados após 31 de março de 2000, data da publicação da primeira medida provisória com previsão dessa cláusula (art. 5. da MP 1.963/2000). Precedentes. (AgRst no REsp /RS. Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI. TERCEIRA TURMA, julgado em 21/09/2010. DJe 23109/2010) Na hipótese dos autos, os contratos firmados entre as partes foram celebrados após a edição da MP, no entanto, não houve pacto a respeito da capitalização, conforme se conclui do teor dos contratos de fls. 23/64. no qual constam as taxas de juros mensais e anuais. Destarte. Ui casu. a incidência da capitalização mensal configura ilegalidade, pela ausência de previsão. O apelante aduz, ainda, que não há prova, nos autos. de que houve capitalização de juros. No entanto, a apuração das eventuais quantias cobradas a nnn será realizada no momento da liquidação de sentença, aqui está sendo feita a verificação da legalidade, ou não, das cláusulas. Portanto, o pleito do apelante não merece acolhimento. IV. Dos Juros de Mora e da Comissão de Permanência Alega o apelante que não há ilegalidade na aplicaço cumulada da comissão de permanência com os juros moratórios. sendo lícita a cumulação dos encargos. É cediço que, de acord om o ntendimento do ST,I, esposado nos mais recentes julgamentos, entende-se r admiss el a cobrança de comissão de permanência após a caracterização da ora do devedor, desde que não cumulada com juros remuneratórios, correção monet ' ia, juros moratórios e/ou multa contratual. Dispõe o Enu iado da Súmula 294 do STJ, "não é potestativa a cláusula contratual que prevê O comissão de permanência, calculada pela taxa média de mercado apurada pelo Banco Central do Brasil, limitada à taxa do contrato". Inadmissível.

5 como já dito, sua cumulação com jures remuneratórios, correção monetária elou juros e multa moratórios. De fato, é. entendimento pacífico no STJ que a comissão de permanência é inacumulável com qualquer outro encargo de inadimplênciw CIVIL E PROCESSUAL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. CONTRATO DE EMPRÉSTIMO. RECURSO ESPECIAL. JUSTIÇA GRATUITA RECONHECIDA. COMISSÃO DE PERMANÊNCIA. INACUMULABILIDADE COM QUAISQUER OUTROS ENCARGOS REMUNERATÓRIOS OU MORATORIOS. 1. Reconhecida a litigancia sob o pálio da justiça gratuita, resta suspenso o ônus sucumbencial. 11. Segundo o entendimento pacificado na e. 2 Seção (AgRg-RISp n /RS. Relatora Ministra Nancy Andiighi, unânime, RIU de ). a comissão de permanência não pode ser cumulada com quaisquer outros encargos remuneratorios ou moratorios que, previstos para a situação de inadimplência, criam incompatibilidade para o deferimento desta parcela. Constatada a presença dos juros moratários ou da multa contratual para o período de inadimplência. inviável a concessão da 'comissão de permanência conforme contratada. III. Agravo dos devedores provido em parte e regimental da ty:tituição financeira improvido. (AgRe. no REsp /SP, Rel. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR, QUARTA TURMA, julgado em 22/06/2010, DJe 05/08/2010) Assim, não acolho os argumentos do banco apelante. V. Da Repetição do Indébito - Devolução em Dobro Pleiteia o recorrente a modificação da sentença quanto 'a sua condenação na restituição em dobro dós valores pagos a maior. Mais uma vez equivocou-se o apelante ao recorrer neste tópico. uma vez que a sentença lhe foi favorável. Ora, o MM Juiz de primeiro grau apenas condenou o ora recorrente na repetição de eventual indébito, ou seja, de forma simples, não se pronunciando que a devolução seria em dobro. Portanto, também não conheço da apelação nesta parte. Por tais razões, CONHEÇO PARCIALMENTE DA APELAÇÃO E. NA PARTE CONHECIDA, NEGO-LHE PROVIMENTO, mantendo a sentença em todos os seus termos. É como voto. Presidiu a Sessão o Exmo. Sr. Des. Márcio NIurilo da Cunha Ramos. Participaram do julgamento o Exrrio.. Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos, o Exmo. Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides e o Exmo. Des. Genesi Gomes Pereira Filho. Presente ao julgamento o Exmo. Dr. Francisco Paula Ferreira Lavor. Promotor de Justiça convocado. J -- Pessoa, *í 2011 Márc. 10,. #' lo- da Cunha Ramos esembargador

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