RISCO DAS AGÊNCIAS DE TURISMO NO BRASIL x FUNDO GARANTIDOR DE PORTUGAL.
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- Alfredo Schmidt Leveck
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1 RISCO DAS AGÊNCIAS DE TURISMO NO BRASIL x FUNDO GARANTIDOR DE PORTUGAL. Joandre Antonio Ferraz 1 Desde a entrada em vigor do Código de Defesa do Consumidor, em março de 1991, aumentou o risco da agências de turismo responderem por danos que fornecedores ou fatos de força maior causam a consumidores de serviços por elas intermediados. Ele encerrou um hiato que durou pouco mais de 5 anos antes, desde que o Decreto- Lei nº 2.294/86, ao revogar parte da Lei nº 6.505/77, derrogou o Decreto nº /80, que regulamentava as atividades das agências de turismo. Tal decreto atribuía responsabilidade objetiva (independente de culpa ou dolo) da agência de turismo organizadora e promotora do serviço turístico, (i) principal pela sua prestação efetiva ou (ii) exclusiva, quando realizados no exterior (cf art. 18) Antes dele, o Decreto nº /74 atribuía responsabilidade subjetiva direta às agências de turismo, pelos atos praticados por terceiros por elas selecionados e contratados para a prestação de serviços aos usuários (cf art. 10) Logo, nenhum deles cogitava da responsabilidade solidária que o Código Civil continua considerando não presumível, mas resultando da lei ou da vontade das partes (cf art. 265), conceito não mudado pelo CDC. Mas seus intérpretes a estendem à chamada cadeia de fornecimento expressão que o CDC não adota incluindo a agência de turismo, do que divirjo, com base na Lei nº /2008, que explicita suas quatro funções de mercado (cf art. 27): (i) intermediação na oferta, reserva e venda de passagens, hospedagem e afins; (ii) execução de serviços turísticos; (iii) operação de viagens, abrangendo sua organização, contratação e execução; (iv) recepção a turistas, incluindo transferência e assistência. Logo, sua responsabilidade decorre da função exercida, sendo objetiva pelos danos que causar na intermediação, execução e recepção, e subjetiva na operação, posto que, nesta, é a agência de turismo que escolhe os fornecedores dos serviços. Foi o que sustentei em parecer sobre o Projeto de Lei nº 5.120, de 1991, que dispunha sobre as atividades e responsabilidade das agências de turismo 2, recentemente arquivado, por supostamente prejudicado pela lei acima. Daí vir sendo cogitada a criação do Fundo Garantidor, inspirado em Portugal, que o recém modificou pelo Decreto-Lei nº 199, publicado em 24/8/2012 (abaixo), cujo apoio ( parece não ser geral, como revelam os artigos a seguir de jurista lisboeta, junto com a capa e o sumário de seu último livro, que pode ser adquirido via carlos.torres1@me.com. 1 mestre em Direito Econômico e Financeiro, sócio de Joandre Ferraz Advogados Associados, 2
2 UMA OPORTUNIDADE PERDIDA (*) Carlos Torres Recentemente promulgado pelo Presidente da República, em breve ocorrerá a publicação do diploma que contém as alterações à Lei das Agências de Viagens, uma oportunidade inexplicavelmente perdida pelo Governo para suavizar a difícil situação que atravessa este importante sector da distribuição turística e corrigir quanto possível a insólita solução do fundo de garantia solidário em que subsistem aspectos graves, designadamente obstáculos à livre prestação de serviços e distorção da concorrência. Abandonando-se, sem qualquer explicação, a ideia inicial de uma contribuição anual, em média inferior aos valores actualmente pagos pela caução e proporcional à facturação, o primeiro aspecto negativo respeita à surpreendente criação de uma contribuição única a designação é enganadora - para o fundo de garantia no montante de que é igual para todas as empresas independentemente da sua facturação, ou seja, tanto paga um grande operador turístico que facture 100 milhões ou uma pequena agência cuja facturação não atinja 1 milhão de euros. Para suavizar esta iníqua solução oferece-se o pagamento dos 2500 em prestações durante três anos e meio podendo a sorte bafejá-las se, entretanto, o fundo atingir o limite mínimo (2 milhões ) situação em que deixarão de contribuir. Este esquema de pagamento fraccionado da contribuição única que poderia fazer algum sentido para as pequenas agências é, porém, de aplicação generalizada. Criase, assim, a expectativa de que não vão contribuir por forma a diminuir o coro de críticas. O segundo aspecto respeita à mais que questionável solidariedade do fundo ironicamente associação empresarial e SET são solidárias na sua manutenção - em que as agências saudáveis são chamadas a pagar os erros ou fraudes das suas concorrentes através da denominada contribuição adicional (acresce à contribuição única em consequência da solidariedade). Como se não bastasse esta característica anómala numa economia de mercado (com a particularidade de o CDS/PP defender uma solução colectivista) as agências de pequena dimensão em sede de contribuição adicional pagam proporcionalmente bastante mais que as de grande dimensão. Uma brutalidade nalguns casos: 23 vezes mais se atentarmos no exemplo de uma que facture 49 milhões paga 1500 (30 por milhão facturado) e outra que factura 0,5 milhão que paga 350 (proporcionalmente 700 ). As alterações que aguardam publicação violam a Resolução da Assembleia da República nº 12/2012, mas têm, no entanto, o apoio da APAVT que não se opôs a este clamoroso erro legislativo e vem reiteradamente louvando a actuação da SET, mas nem por isso deixam de ser merecedoras de críticas designadamente pelo carácter iníquo da contribuição única (2500 independentemente do valor da facturação) e pela obsessão pela solidariedade que cria objectivamente condições para situações de fraudes designadamente pela parte de prestadores de serviços on-line com impactos extremamente negativos na confiança dos consumidores como vem sucedendo nos últimos meses ao nível europeu. Haverá coragem para continuar o peronista discurso dos descamisados quando estes afinal vão pagar proporcionalmente muito mais que os afortunados? (*) Advogado em Lisboa, Especialista em Direito do Turismo, in Publituris de 10 de Agosto de 2012, pág.6, Lex Turistica Nova, 8/10/ :20:00 AM
3 O repatriamento gratuito dos passageiros aéreos de companhias que abram falência e outras soluções como a existência de seguros em caso de insolvência de operadores turísticos ou de companhias aéreas estão a ser estudados e implementados ao nível europeu. Também nós deveríamos seguir esses passos em lugar desta incompreensível solidariedade com o beneplácito associativo num sector que já evidencia um forte grau de protecção do consumidor. Carlos Torres (*) Aproximando-se a publicação do diploma que vai alterar o fundo de garantia de viagens e turismo parece-me importante reflectir sobre o perigo que representa o seu carácter solidário, sobretudo se não forem introduzidos limites individuais de responsabilidade em cada uma das agências de viagens de harmonia com a respectiva contribuição. Basta pensarmos o que será três ou quatro empresas causarem prejuízos na ordem dos aos consumidores ou até que a nova vaga de prestadores de serviços estimulada pela Directiva Bolkestein, que utiliza o canal on-line produzindo significativos prejuízos aos consumidores como sucedeu recentemente, se aperceba das vantagens de aderir ao fundo e com isso ganhar a sua confiança criando condições para aumentar o golpe. Daí que a cada escalão deva, assim, corresponder um limite máximo da responsabilidade individual sem prejuízo do limite máximo anual global de ou outro que o Governo entenda que limitaria consideravelmente os nefastos efeitos da solidariedade evidenciados nas intervenções na Assembleia da República dos deputados Mendes Bota e Hélder Amaral. Escalão Facturação ( ) Contribuição anual ( ) Limite da responsabilidade individual ( ) 1.º 1 milhão º > 1 até 5 milhões º > 5 até 10 milhões º > 10 até 50 milhões º > 50 milhões Limite anual global 1 milhão O critério proposto parte dos limites máximo ( ) e mínimo ( ) relativos à caução apurados com base em 5% do valor de vendas de viagens organizadas. O limite máximo foi, no entanto, ampliado para por se entender que na zona de risco dos grandes operadores turísticos o limite máximo de pode vir a revelar-se insuficiente em termos de protecção do consumidor. Parece também importante que exista um tratamento diferenciado para as empresas existentes que acederam ao mercado na vigência das anteriores LAVT através da figura do licenciamento suportando o elevado custo da taxa do alvará ( ) e as empresas novas, ou seja, as que se constituíram de harmonia com o figurino da mera comunicação prévia e de contribuição para o fundo de garantia (actual LAVT). As empresas novas contribuem para o fundo nos moldes actuais ( ) suprimindo-se a distinção organizadoras/vendedoras porquanto a situação regra é assumirem os dois tipos de actuação. Para além de garantir um maior volume de contribuições para o fundo, tornando-o, assim, mais sustentável do ponto de vista financeiro, garante alguma equidade com as empresas existentes constituídas ao abrigo da anterior LAVT que despenderam com a taxa do alvará. As novas contribuem tão somente com As empresas novas, uma vez realizada a sua contribuição de para o fundo (inicial e as subsequentes), passam para a contribuição anual por escalões de facturação.
4 O limite da responsabilidade individual seria no 1.º ano o correspondente ao esperado volume de negócios resultante da declaração fiscal de início da actividade. Parece-me também importante o facto de o Parlamento Europeu ter recentemente instado a Comissão a reforçar direitos dos passageiros aéreos destacando-se o repatriamento gratuito dos passageiros aéreos de companhias que abram falência. É este tipo de medidas que urge implementar e não agravar ainda mais a responsabilidade das PME s através de incompreensíveis mecanismos como o da solidariedade. Outras soluções, como a existência de seguros em caso de insolvência de operadores turísticos ou de companhias aéreas, estão a ser estudadas por essa Europa. Também nós deveríamos seguir esses passos em lugar desta absurda solidariedade com o beneplácito associativo. (*) in Publituris nº 1213, de 27 de Abril de 2012, p. 6, Lex Turistica Nova, 4/28/ :14:00 PM
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