MERCADO DE TRABALHO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO
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- Ivan Quintanilha Madeira
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1 MERCADO DE TRABALHO DO 2017 AGRONEGÓCIO BRASILEIRO
2 Notas Metodológicas do MERCADO DE TRABALHO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO O Boletim Mercado de Trabalho do Agronegócio Brasileiro é uma publicação trimestral, elaborada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), que aborda aspectos da conjuntura e da estrutura do mercado de trabalho do setor. O agronegócio, setor foco deste boletim, é entendido como a soma de quatro segmentos: insumos para a agropecuária, produção agropecuária básica, ou primária, agroindústria (processamento) e agrosserviços. A pesquisa do Cepea utiliza como principal fonte de informações os microdados da PNAD-Contínua e, de forma complementar, dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS-MTE) e de outras pesquisas do IBGE. É importante mencionar que as análises do Cepea baseiam-se na PNAD-Contínua, que não contempla indivíduos que atuam no setor produzindo apenas para próprio consumo. A descrição metodológica do cálculo e o acompanhamento do mercado de trabalho do agronegócio podem ser obtidos mediante solicitação: pibcepea@usp.br. CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA (CEPEA). BOLETIM CEPEA DO MERCADO DE TRABALHO. PIRACICABA, V. 1, N.1, EQUIPE RESPONSÁVEL: Coordenação Geral: Geraldo Sant Ana de Camargo Barros, Ph.D, Pesquisador Chefe/Coordenador Científico do Cepea/ Esalq/USP; Equipe técnica: MSc. Nicole Rennó Castro, MSc. Leandro Gilio, Ana Carolina de Paula Morais, Dr. Alexandre Nunes de Almeida, Marcello Luiz de Souza Junior, Dra. Adriana Ferreira Silva, Dr. Arlei Luiz Fachinello, Msc. Gustavo Ferrarezi Giachini.
3 PIB do Agronegócio Brasil 2017 MERCADO DE TRABALHO EM 2017, PIB CRESCE, MAS AGRONEGÓCIO TEM MENOS OCUPADOS E m 2017, o agronegócio destacou-se no contexto da economia brasileira, com um aumento de produção que foi o grande responsável pelo crescimento do PIB nacional. Naquele ano, diante de condições climáticas favoráveis ao desenvolvimento das safras, o segmento primário do agronegócio alcançou patamares recordes de produtividade e produção. Também a agroindústria, respondendo ao lento processo de recuperação econômica, expandiu sua produção. Em movimento contrário, o número de pessoas trabalhando em atividades do agronegócio diminuiu em 2017: 1,6% frente a 2016, passando de 18,53 para 18,24 milhões de pessoas. Na mesma comparação, o contingente de ocupados no Brasil como um todo ficou praticamente estável, encerrando 2017 com 90,6 milhões de pessoas. Assim, a participação do agronegócio no total de ocupados no Brasil foi de 20,1% em 2017 (Tabela 1). Tabela 1 - Número e variação da população ocupada (PO) no agronegócio, seus segmentos e no Brasil como um todo (2017/2016) Fonte: Cepea/Esalq-USP, a partir de informações dos microdados da PNAD-Contínua e de dados da RAIS % Insumos ,2% Primário ,0% Agroindústria ,4% Agrosserviços ,4% Agronegócio ,6% Brasil ,3% Agronegócio/Brasil 20,5% 20,1% 3
4 PIB do Agronegócio Brasil Avaliando por segmentos, verifica-se que a redução dos ocupados no agronegócio foi influenciada unicamente por seu segmento primário, que teve baixa de 6% no contingente de trabalhadores. Já os empregos nos elos industriais e de serviços aumentaram em 2017 (Tabela 1). Chama a atenção a contradição na agropecuária. Enquanto o PIB desse segmento cresceu cerca de 17,1% em 2017 (consideradas informações até novembro/17), a mão de obra relacionada a essas atividades foi 6% menor. Como apontado em análises anteriores divulgadas pelo Cepea, 2017 foi marcado pela redução da população ocupada (PO) agropecuária, principalmente trabalhadores rurais por conta própria, localizados majoritariamente no Nordeste, e vinculados a atividades de menor importância econômica no que se refere a valor de produção o que explica os movimentos em direções divergentes para PIB e trabalho. Essas informações podem ser reafirmadas a partir da análise da Tabela 2, que traz mais informações para entender a conjuntura do setor em Tabela 2 - Número e variação na PO do agronegócio por classes de posição na ocupação e categorias de emprego, de níveis de instrução e gênero (2017/2016) Fonte: Cepea, a partir de informações dos microdados da PNAD-Contínua e de dados da RAIS. * completo ou incompleto; ** não inclui a CNAE Categorias % Empregado c/ carteira ,8% Empregado s/ carteira ,9% Posição na ocupação e categorias de emprego Empregador ,4% Conta própria ,9% Níveis de instrução Gênero Outros ,7% Sem instrução ,3% Fundamental* ,8% Médio* ,4% Superior* ,6% Homem** ,9% Mulher** ,2% Quanto às posições na ocupação e categorias de emprego, verifica-se que a redução mais relevante no contingente de ocupados no agronegócio ocorreu para trabalhadores por conta própria (-4,9%, ou mais de 300 mil pessoas), como apontado acima. Ademais, verificou-se aumento no número de empregos sem carteira de trabalho assinada (2,9%), mas queda dos vínculos com carteira assinada (-1,8%) Tabela 2. A análise por segmento permitiu verificar também: o aumento dos empregos sem carteira assinada ocorreu essencialmente na agroindústria e nos agrosserviços, enquanto a redução dos empregos com carteira assinada marcou os segmentos primário, agroindustrial e de agrosserviços. Quanto aos níveis de escolaridade, destaca-se a baixa relevante do número de ocupados sem instrução no agronegócio (-34,3%), com aumentos para todas as demais catego-
5 PIB do Agronegócio Brasil 2017 rias, sobretudo para pessoas com ensino superior grupo para o qual se verificou o aumento relativo mais expressivo (6,6%) Tabela 2. Avaliando-se por gênero, nota-se que a queda nos ocupados do agronegócio foi marcada essencialmente por homens, com o contingente de mão de obra feminina no agronegócio permanecendo praticamente estável frente a 2016 (Tabela 2). As próximas análises dedicam-se a traçar um breve perfil de mão de obra do agronegócio em 2017, resultado tanto das características estruturais do setor quanto da dinâmica vivenciada por este ao longo do ano. A Figura 1 mostra a distribuição da PO do agronegócio entre os segmentos em Figura 1 - Distribuição da PO do agronegócio entre os seus segmentos em 2017 Fonte: Cepea, a partir de informações dos microdados da PNAD-Contínua e de dados da RAIS. Com a queda dos ocupados na agropecuária, a participação desse segmento teve redução na comparação com 2016, passando de 48% para 46% do total (Figura 1). Ainda assim, o segmento se mantém como o mais representativo no contingente de trabalhadores do agronegócio. Em 2017, os agrosserviços, a agroindústria e os insumos responderam por 32%, 21% e 1%, respectivamente, da mão de obra do agronegócio. Como apontado em nossa metodologia, a pesquisa do Cepea baseia-se na PNAD-Contínua. Então, seguindo a definição dessa pesquisa, não contempla indivíduos que atuam no setor produzindo apenas para próprio consumo. Sendo elevado esse contingente de trabalhadores, foram utilizadas informações da PNAD anual de 2015 para estimar a população ocupada no agronegócio sob uma definição mais ampla, que inclui esses trabalhadores de subsistência. Nesse caso, o agronegócio contaria com mão de obra de 22,1 milhões de pessoas, sendo 12,3 milhões envolvidas no segmento primário. A Tabela 3 mostra a distribuição da PO pelas classes de posição na ocupação e categorias de emprego em Como apontado em análises anteriores divulgadas pelo Cepea, o agronegócio como um todo apresenta perfil de distribuição semelhante ao observado para o Brasil em geral, mas com elevada heterogeneidade por segmentos. Destaca-se, então, o ainda elevado número de trabalhadores sem vínculo formal (empregados sem carteira e trabalhadores por conta própria) no segmento primário. 5
6 PIB do Agronegócio Brasil 2017 Tabela 3 - Distribuição da PO pelas classes de posição na ocupação e categorias de emprego em 2017 Fonte: Cepea, a partir de informações dos microdados da PNAD-Contínua e de dados da RAIS. 6 Posições na ocupação e categorias de emprego Agronegócio - segmentos Insumos Primário Indústria Serviços Agronegócio total Brasil Emp. c/ carteira 61,8% 16,7% 62,9% 45,4% 36,1% 40,1% Emp. s/ carteira 8,1% 21,4% 10,5% 13,6% 16,5% 19,1% Empregador 2,6% 3,5% 3,7% 6,0% 4,3% 4,7% Conta própria 15,9% 44,6% 20,3% 23,5% 32,5% 25,0% Outros 11,6% 13,7% 2,6% 11,5% 10,6% 11,1% A Tabela 4 mostra a distribuição da PO pelas classes de nível de instrução em Nesse caso, influenciado pelo segmento primário, o perfil do agronegócio destoa bastante do observado para o total do Brasil. No agronegócio, em 2017, 53,4% da mão de obra não tinha ao menos iniciado o Ensino Médio, e no Brasil esse percentual foi de 36,3%. Por outro lado, apenas 13,6% dos trabalhadores do agronegócio tinham ao menos iniciado o Ensino Superior em 2017, enquanto para o Brasil o total era de 24,5%. Como observado na Tabela 4, esse resultado reflete a extremamente baixa qualificação média do segmento primário. Tabela 4 - Distribuição da PO pelas classes de nível de instrução em 2017 Fonte: Cepea, a partir de informações dos microdados da PNAD-Contínua e de dados da RAIS. Nível de instrução Agronegócio - segmentos Agronegócio Insumos Primário Indústria Serviços total Brasil Sem instrução 6,9% 14,6% 3,6% 2,3% 8,3% 4,0% Fundamental* 33,9% 62,4% 38,5% 24,6% 45,1% 32,4% Médio* 35,6% 19,9% 44,1% 44,5% 33,0% 39,1% Superior* 23,7% 3,1% 13,7% 28,6% 13,6% 24,5% Vale mencionar que, diante da redução do total de ocupados sem instrução no segmento primário em 2017, e da variação em sentido oposto no número de ocupados com Ensino Superior, essa distribuição da Tabela 4 passou por alterações importantes frente a Em 2017, 14,6% da mão de obra agropecuária não tinha nenhuma instrução e, em 2016, eram 20,3%. Por outro lado, em 2017, 17,3% da mão de obra tinha ao menos Ensino Médio completo e, para 2016, o percentual era de 15,7.
7 PIB do Agronegócio Brasil 2017 CONSIDERAÇÕES FINAIS O panorama de 2017 trouxe destaque ao descompasso entre a evolução do volume produzido no agronegócio e do número de pessoas ocupadas no setor. Nesse cenário de produção crescente, destacou-se também a redução acentuada das ocupações para trabalhadores relativamente mais vulneráveis, sem instrução, ocupados principalmente no segmento primário e por conta própria. Este quadro traz indícios socialmente preocupantes, que refletem a recente situação de desenvolvimento da agropecuária e do agronegócio em geral. O atual regime de acumulação de riqueza na agropecuária, baseado na lógica tecnológica, traz consigo processos de especialização produtiva, de aumentos de escala de produção e de intensificação da diferenciação social entre produtores rurais¹. Então, de um lado, há um relativamente pequeno número de produtores que caracterizam a agricultura moderna e são altamente produtivos1. Principalmente do dinamismo dessa classe de produtores resulta o destacado desempenho do PIB agropecuário, com efeitos econômicos também positivos sobre o crescimento da economia como um todo, a balança comercial brasileira e mesmo o controle da inflação. De outro lado, há um grande número de pequenos/médios produtores rurais cuja viabilidade econômica do empreendimento fica comprometida nesse ambiente altamente concorrencial imposto pelo padrão dominante da agricultura moderna1. Nesse caso, o cenário é agravado pela maior dificuldade de trabalhadores com baixa dotação de capital humano em se realocarem em outras atividades econômicas, e também das dificuldades locacionais relativas à disponibilidade de oportunidades em diferentes atividades no interior do Brasil. Esse quadro geral impõe desafios a todo o agronegócio e aos formuladores de políticas públicas em termos sociais, e merece atenção e estar em destaque nas pautas dos debates. Ver: BUAINAIN, A.M.; ALVES, E.; SILVEIRA, J.M.; NAVARRO, Z. Sete teses sobre o mundo rural brasileiro. Revista de Política Agrícola, ano XXII, n.2, Abr./Maio/Jun
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