PROCESSO: RTOrd

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1 PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO Gab Des Luiz Carlos T Bomfim Av. Presidente Antonio Carlos, o. andar - Gab.21 Castelo Rio de Janeiro RJ A C Ó R D Ã O 2ª TURMA PROCESSO: RTOrd ATLETA PROFISSIONAL. RESCISÃO INDIRETA. INADIMPLÊNCIA QUANTO AO RECOLHIMENTO DO FGTS. Consoante o art. 31 da Lei nº 9.615/98, a entidade de prática desportiva empregadora que estiver com pagamento de salário de atleta profissional em atraso, no todo ou em parte, por período igual ou superior a três meses terá o contrato de trabalho daquele atleta rescindido. E continua no 2º do mesmo dispositivo: a mora contumaz será considerada também pelo não recolhimento do FGTS e das contribuições previdenciárias. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de RECURSO ORDINÁRIO, em que são partes como recorrente CLUBE DE REGATAS DO FLAMENGO, sendo recorrido IGOR CARLOS DA SILVA FREIRE. Trata-se de sentença (fls.307/315) que, mantendo a tutela antecipada, julgou o pedido procedente em parte, condenando os réus - CLUBE REGATAS DO FLAMENGO e RIO BRANCO ESPORTE CLUBE - solidariamente, ao pagamento das parcelas de 13º salário proporcional, férias proporcionais acrescidas do terço constitucional, multa do art. 479 e 477 da CLT. Embargos de declaração interpostos pelo 1º réu (fls.318/320) e pelo autor (fls.321/322). Os primeiros foram julgados improcedentes e os do demandante foram providos para sanar a omissão, condenando os réus ao pagamento dos salários de dezembro de 2003 e janeiro de 2004 (fls.333/334). O 1º réu recorre (fls.337/354), pretendendo, preliminarmente, a nulidade do julgado por cerceio de defesa e julgamento extra petita. No mérito, sustenta a impossibilidade da rescisão indireta do contrato de trabalho por culpa do empregador, uma vez que o direito federativo do atleta está vinculado ao 2º réu, que os depósitos no FGTS encontram-se em dia e que não há salários em atraso. Alega, ainda, que o deferimento da antecipação da tutela não preenche os requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora. Em contrarrazões (fls.355/364), o autor sustenta o acerto da sentença a quo

2 É O RELATÓRIO CONHECIMENTO Recurso do réu tempestivo, como se constata pelo cotejo entre a data de publicação da sentença nos embargos de declaração - 18 de janeiro de 2008, sexta-feira (fls.336) - e aquela constante do protocolo aposto na petição de encaminhamento - 25 de janeiro, sexta-feira (fls.337), quinto dia do prazo legal - estando instruído com guias de depósito e de custas (fls.351/352), contendo valores compatíveis com aqueles fixados na r. sentença (fls.315). Satisfeitos os pressupostos de admissibilidade - sucumbência, adequação, regularidade e, como visto, tempestividade - conheço o recurso. NULIDADE DO JULGADO POR CERCEIO DE DEFESA O 1º réu argui a nulidade da sentença por negativa de prestação jurisdicional. Sustenta que foram apresentados embargos de declaração (fls.318/320) apontando omissões no tocante aos depósitos na conta vinculada do FGTS efetuados com atrasos, à inexistência de atraso salarial de mais de 3 (três) meses, à multa do art. 477 da CLT e à indenização compensatória de 40% sobre o saldo do Fundo de Garantia. Aos embargos foi negado provimento (fls.333/334), sob o entendimento de que o recorrente pretendia, na verdade, a revisão da sentença, objetivo incompatível com a natureza dos embargos declaratórios. A questão acerca do alegado foi satisfatoriamente abordada na r. sentença a quo (fls.313/314), não sendo, para tanto, necessário que o mm. juízo se ocupe de cada um dos argumentos aduzidos pelas partes. Nos embargos de declaração o 1º réu pretendia a revisão de fatos e provas, o que lhe é vedado por via de embargos, razão porque seus embargos foram improvidos. Não houve negativa de prestação jurisdicional. Houve sim, escolha de instrumento processual inadequado aos fins desejados pelos recorrentes. Rejeito a arguição. JULGAMENTO EXTRA PETITA O recorrente sustenta que em caso de rescisão antecipada, a indenização está regulada pelo art. 479 da CLT, o que não foi postulado. Extra petita, conforme dicção legal (CPC, Art.460), é a sentença proferida a favor do autor, de natureza diversa da pedida; que extrapola o pedido, conferindo ao autor coisa

3 diversa do que ele pediu. O autor requereu emenda da inicial (fls.29) para acrescentar ao pedido o pagamento da indenização prevista no art. 479 da CLT. seu julgamento. extra petita. O mm. juízo a quo, analisando a causa, assim recebeu o pedido e explicitou Não tendo extrapolado os limites do pedido, não incorreu em julgamento Rejeito a arguição. MÉRITO CONTRATO DE CESSÃO TEMPORÁRIA O réu alega que rescindido o contrato secundário de empréstimo, subsiste o contrato principal, celebrado com quem detém o direito federativo do atleta. O contrato de cessão de atleta profissional de futebol encontra amparo jurídico na própria legislação que trata de desporto profissional, Lei nº 9.615/98. Primeiramente, para que exista a intenção de se formalizar uma cessão de atletas existe uma condição: a concordância formal e por escrito do jogador, determinação feita pelo art. 38 da referida lei. Na cessão de atleta existe um contrato de natureza civil entre clubes de futebol, que entre outros direitos e obrigações, ajusta-se que o atleta concorda em suspender os efeitos do contrato de trabalho mantido com a agremiação cedente. O cedente não possui o dever de pagar os salários do atleta. O empréstimo de jogador envolve duas situações distintas: a relação jurídica mantida entre clubes cedentes e cessionário e a relação trabalhista mantida entre clube cessionário e o atleta. Verifica-se nos autos que o autor foi contratado pelo RIO BRANCO ESPORTE CLUBE que firmou um contrato de empréstimo com o CLUBE DE REGATAS DO FLAMENGO em 09 de abril de 2003, através de instrumento particular e de formulário da CBF - Confederação Brasileira de Futebol (fls.125/137). No contrato de cessão está expresso que o clube cessionário é responsável pela remuneração do atleta (verbis): CLÁUSULA TERCEIRA: Durante a cessão temporária ora ajustada, o CESSIONÁRIO, responsabiliza-se pela remuneração ao atleta, que compreenderá, as verbas abaixo indicadas, além de outras que ajustarem na vigência deste instrumento, estando previamente

4 acertados os valores indicados: a) Salários mensais...r$25.000,00 b) Direitos de imagem...a ajustar c) Luvas...prejudicado d) Gratificações...a ajustar e) Outros...a ajustar CLÁUSULA QUARTA: Considerando os termos do disposto na Lei 9.615/98, o CESSIONÁRIO se obriga, até o décimo quinto dia útil de cada mês, no período da presente cessão temporária, e enquanto o atleta permanecer em seus quadros de funcionários/atletas, a remeter ao CEDENTE, cópias autenticadas dos comprovantes de pagamento de todas as verbas de natureza salarial que o atleta fizer jus, assim como dos recolhimentos a título de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e previdenciários. O contrato de cessão temporária é um contrato acessório do principal. A Lei nº 9.615/98, art. 28 dispõe que: Art.28. A atividade do atleta profissional, de todas as modalidades desportivas, é caracterizada por remuneração pactuada em contrato formal de trabalho firmado com entidade de prática desportiva, pessoa jurídica de direito privado, que deverá conter, obrigatoriamente, cláusula penal para as hipóteses de descumprimento, rompimento ou rescisão unilateral. 1º... 2º. O vínculo desportivo do atleta com a entidade desportiva contratante tem natureza acessória ao respectivo vínculo trabalhista, dissolvendo-se, para todos os efeitos legais: I - com o término da vigência do contrato de trabalho desportivo; ou II - com o pagamento da cláusula penal nos termos do caput deste artigo; ou ainda III - com a rescisão decorrente do inadimplemento salarial de responsabilidade da entidade desportiva empregadora prevista nesta Lei. Apesar da existência de contrato de trabalho entre o autor e o 2º réu, este não impede a rescisão indireta quando o clube cessionário (1º réu) não cumprir as obrigações trabalhistas assumidas no contrato de cessão, como ocorreu no caso. Nego provimento. RESCISÃO CONTRATUAL O autor ajuizou ação trabalhista com objetivo de ter declarada a rescisão

5 indireta do seu contrato de trabalho por ausência de depósitos na conta vinculada do Fundo de Garantia. O réu alega que a conta vinculada do FGTS do autor estava regularizada no momento da citação e que não houve mora salarial por período igual ou superior a três meses. Os extratos analíticos da movimentação dos depósitos na conta vinculada (fls.18 e 35/37) do autor denotam que até a data do ajuizamento da ação, 04/02/2004, o recorrente efetuou somente os depósitos referentes aos meses de julho, agosto e setembro de Cabe lembrar que o contrato de cessão teve início em 09/04/2003, portanto, não foram efetuados os recolhimentos relativos aos meses de abril, maio, junho, outubro, novembro e dezembro de 2003 e 13º salário de Restou incontroverso nos autos o inadimplemento dos referidos depósitos na conta vinculada do autor. Quantos aos salários, ficou comprovado que o recorrente não pagou os meses de dezembro de 2003, janeiro de 2004 e 13º salário de Além das causas arroladas no art. 483 da CLT, o art. 31 da Lei nº 9.615/98 autoriza o atleta a postular a rescisão indireta de seu contrato de trabalho, ficando inclusive livre para se transferir para outra agremiação, quando o empregador ou o cessionário estiver em atraso com o pagamento de salário, no todo ou em parte, por período igual ou superior a três meses. São considerados salários, para esses efeitos, o abono de férias, o décimo terceiro, as gratificações, os prêmios e demais verbas inclusas no contrato de trabalho. A mora contumaz, ensejadora da rescisão indireta, configurar-se-á também nas hipóteses de não recolhimento do FGTS e das contribuições previdenciárias (Lei nº 9.615/98, art. 31, 2º). No caso, o inadimplemento dos depósitos do FGTS ensejou a rescisão indireta. A matéria era controvertida, mas hoje já está pacificada. Nesse sentido tem se manifestado o TST (verbis): A decisão embargada, mediante a qual a Turma de origem assentou o entendimento de ser a mora contumaz no recolhimento das contribuições previdenciárias e na realização dos depósitos do FGTS hipótese de rescisão indireta, em se tratando de atleta de futebol, não resultou em ofensa ao artigo 5º, inciso II da Constituição da República. O princípio da isonomia, conforme registrado pela Turma de origem, incide sobre as relações jurídicas submetidas às mesmas normas jurídicas, não se podendo, in casu, equiparar o empregado comum, regido pela CLT, ao atleta de futebol, porque em relação a este há hipótese expressa e específica de rescisão indireta, consoante a previsão do art. 31, 2º da Lei nº 9.615/98. Recurso de Embargos de que não se conhece. SE-E- RA-1.574/ Ac.SBDI-1, Rel.Min. João

6 Batista Brito Pereira). Diante das razões expendidas, resta prejudicada a análise quanto ao descabimento da tutela antecipada. Nego provimento. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS E FISCAIS previdenciários. O recorrente se insurge, ainda, quanto à forma dos recolhimentos fiscais e Acolho o entendimento dominante nesta Turma no sentido de que o imposto de renda deve ser retido na fonte pela parte devedora no momento do pagamento ao beneficiário, conforme preceitua o Provimento nº 1/1996 da Corregedoria Geral da Justiça do Trabalho e Art.46 da Lei nº 8.541/92, procedimento pacificado pela Súmula nº 368, II, do colendo Tribunal Superior do Trabalho que dispõe: DESCONTOS PREVIDENCIÁRIOS E FISCAIS. COMPETÊNCIA. RESPONSABILIDADE PELO PAGAMENTO. FORMA DE CÁLCULO. (Conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 32, 141 e 228 da SDI-1 - Res. 129/ DJ Republicada DJ 09/05/2005). I. A Justiça do Trabalho é competente para determinar o recolhimento das contribuições fiscais. A competência da Justiça do Trabalho, quanto à execução das contribuições previdenciárias, limita-se às sentenças condenatórias em pecúnia que proferir e aos valores, objeto de acordo homologado, que integrem o salário-de-contribuição (ex-oj n Inserida em ). II. É do empregador a responsabilidade pelo recolhimento da contribuições previdenciárias e fiscais, resultante de crédito do empregado oriundo de condenação judicial, devendo incidir, em relação aos descontos fiscais, sobre o valor total da condenação, referente às parcelas tributáveis, calculado ao final, nos termos da Lei nº 8.541/1992, art.46 e Provimento da CGJT nº 01/96. (ex-oj nº 32 - Inserida em e OJ nº Inserida em ). III. Em se tratando de descontos previdenciários, o critério de apuração encontra-se disciplinado no art. 276, 4º, do Decreto n /99, que regulamenta a Lei n /91 e determina que a contribuição do empregado, no caso de ações trabalhistas, seja calculada mês a mês, aplicando-se as alíquotas previstas no art. 198, observado o limite máximo do salário de contribuição (ex-oj n Inserida em e OJ Inserida em )

7 Nego provimento. CONCLUSÃO Conheço o recurso e, no mérito, nego-lhe provimento, restando prejudicada a análise quanto ao descabimento da tutela antecipada. A C O R D A M os Desembargadores que compõem a 2ª Turma do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer o recurso e, no mérito, negar-lhe provimento restando prejudicada a análise quanto ao descabimento da tutela antecipada. Rio de Janeiro, 03 de junho de ANGELO GALVÃO ZAMORANO Juiz do Trabalho Convocado fcs