As melhores escolas de jornalismo nos EUA e na Europa

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1 ASSUNTO em pauta As melhores escolas de jornalismo nos EUA e na Europa Para alguns, ser jornalista depende só de talento. Mas para quem escolhe estudar jornalismo, o processo de aprendizagem pode ser tão gratificante e enriquecedor quanto o futuro sucesso na carreira. P o r Mariana Vasconcellos Aescola de jornalismo, além de estimular o pensamento crítico e o julgamento sobre o que é notícia e como apresentá-la de forma equilibrada, é o campo de treinamento onde o futuro jornalista aprende as ferramentas práticas do dia a dia da profissão. Algumas escolas nos Estados Unidos e na Europa são renomadas pela alta qualidade de ensino e desenvolvimento de laboratórios práticos para os alunos. Outras, pela pesquisa. Aqui está uma seleção das melhores escolas de jornalismo e por que elas se destacam. Centro de Jornalismo da Universidade de Cardiff, Reino Unido (Centre for Journalism at Cardiff University) Que tal uma escola em que os alunos participam de projetos de pesquisa prática encomendados por organizações renomadas, como a BBC? No Centro de Jornalismo da Cardiff University, cerca de 200 km de Londres, a cada ano, 90 alunos pesquisam temas como o desenvolvimento do jornalismo, conflito midiático, política cultural e crianças na mídia. 88 R E V I S T A D A E S P M setembro/outubro de 2010

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3 Cardiff University foi também uma das primeiras escolas europeias a integrar ao currículo um curso sobre segurança no trabalho e como lidar com o estresse na vida profissional. O diploma de mestrado é dividido em Jornalismo e Jornalismo Internacional, este último direcionado aos estudantes estrangeiros. Os currículos combinam experiência prática com estudos acadêmicos e incluem uma dissertação. Todos os alunos passam por um estágio obrigatório de um mês. Recentemente, a escola investiu mais de $ 300 mil na criação de um laboratório de monitoramento da mídia. Além de projetos de pesquisa, a escola se preocupa também com a proficiência digital dos futuros jornalistas. Todas as aulas são realizadas em laboratórios de informática para simular o ambiente de uma redação, explica o diretor do Centro Prof. Richard Tait. Além disso, como parte do currículo obrigatório, todos os alunos recebem treinamento em produção e edição de vídeo, além de jornalismo online. O Centro de Jornalismo da Cardiff University foi também uma das primeiras escolas europeias a integrar ao currículo um curso sobre segurança no trabalho e como lidar com o estresse na vida profissional. O foco da nossa escola é ensinar a ética da mídia e os padrões da profissão, diz Prof. Tait. O ciclo de palestras Reporters and Reported apresenta diretores e editores das principais mídias britânicas. Os professores possuem currículo de alto nível e entre eles está o ex-diretor da BBC News, Ian Hargreaves. Em torno de 60% dos alunos são empregados após 6 meses do término do curso. Escola Superior de Jornalismo de Lille, França (École Supérieure de Journalisme de Lille, ESJ) Fundada em 1924, não é à toa que a ESJ é conhecida como uma das mais fortes escolas de jornalismo na Europa. O curso de dois anos é polimidiático: os alunos se familiarizam com rádio, televisão, imprensa escrita e jornalismo de agência e, ao final, recebem o diploma de Master francês que fica entre a graduação e o mestrado brasileiros (para se qualificar para a prova de admissão, são necessários apenas dois ou três anos de estudos de graduação). Os alunos estrangeiros passam por um curso de três meses antes do início das aulas, para se familiarizarem com a cultura francesa bem como o jornalismo francês. A cada ano, 56 alunos são admitidos. Os principais cursos são Jornalismo Científico e Jornalismo Semanal Regional. Em 2009, uma reforma na escola resultou na criação de um novo centro de pesquisa sobre a influência do desenvolvimento tecnológico sobre as práticas de jornalismo. Além disso, em conjunto com a Universidade de Laval, no Quebec, a ESJ publica a revista Les Cahiers du Journalise, que apresenta pesquisas e análises sobre a evolução das práticas jornalísticas na França e no mundo. Só em 2009, os ex-alunos da ESJ publicaram mais de 40 livros. Uma grande vantagem para os alunos estrangeiros é que eles possuem os mesmos direitos que os estudantes franceses. A regulamentação francesa garante a todos uma bolsa-moradia e auxílio para colocação profissional, entre outros benefícios. Além de Lille, a ESJ tem campi em Paris, Bondy (subúrbio parisiense) e Montpellier. Escola de Jornalismo da UAM - El Pais em Madrid, Espanha (La Escuela de Periodismo UAM El País) Quem acredita que a voz da experiência é a melhor professora vai concordar que uma escola de jornalismo dentro de um jornal em que os professores são também profissionais atuantes, não é uma má ideia. 90 R E V I S T A D A E S P M setembro/outubro de 2010

4 A Escola de Jornalismo da UAM El País, foi criada numa parceria entre a Escola Autônoma de Madrid (UAM) e o maior grupo midiático espanhol, Prisa, que possui o maior jornal espanhol, El País. O objetivo da escola é proporcionar ao futuro jornalista uma imersão total na profissão em tempo real: quer seja numa redação de jornal, revista, rádio ou online. Todos os professores são atuais jornalistas ou editores em uma das mídias do grupo. A metodologia da escola é inovadora: os 40 alunos selecionados para o mestrado de um ano trabalham em pequenas redações de 10 pessoas. No primeiro semestre, os alunos aprendem como cobrir diversos assuntos, desde cultura a esportes e assuntos internacionais. No segundo semestre, devem trabalhar autonomamente revezando-se nas funções de redatores e editores para produzir uma publicação no estilo do El País que irá ser analisada e criticada pelos professores. Além do tempo em aula, os alunos devem estagiar por dois meses durante o verão em uma das publicações do grupo Prisa, como no próprio jornal El País. Ao terminar o mestrado, muitos alunos são convidados a trabalhar como trainees por um ano e, ao final, são contratados. Escola Alemã de Jornalismo em Munique, Alemanha (Deutsche Jornalistenschule) Não basta saber escrever para entrar numa das escolas de jornalismo mais tradicionais da Alemanha. O vestibular da Escola Alemã de Jornalismo em Munique exige que o aluno saiba, por exemplo, quantos ossos tem o corpo humano ou a distância de um ano-luz. Isso porque acreditase que, para ser um bom jornalista, é preciso ter uma base de conhecimentos gerais, como política, história e geografia sem falar de um impecável domínio da língua alemã. Dos 45 alunos selecionados cada ano para estudar na prestigiada escola da terceira maior cidade alemã, um terço segue o programa de ensino de 16 meses, enquanto 30 alunos completam o programa integral de 18 meses. Nesse tempo, aprendem as técnicas de imprensa escrita, rádio e televisão. Em seguida, fazem dois estágios de três meses, um deles obrigatoriamente em um jornal. Há também aulas de teoria da comunicação. Boa parte dos alunos conseguem estágios em grandes publicações europeias, como a revista GEO, o jornal eletrônico Spiegel e o canal de televisão franco-alemão ARTE. A escola foi fundada em 1949 por Werner Friedman, que se inspirou no curso de jornalismo da escola americana Columbia University. Por aqui, já passaram profissionais renomados, como Stephan Russ-Mohl, atual diretor do Observatório Europeu de Jornalismo. Universidade de Sheffield, Inglaterra (Sheffield University) Pode ser difícil agradar a todos, mas 95% já é um ótimo começo. Há dois anos, é este o índice de satisfação entre os alunos da faculdade de jornalismo da Universidade de Sheffield, de acordo com a Pesquisa Nacional de Estudantes (National Students Survey 2010), realizada pela HEFCE (the Higher Education Funding Council for England) e publicada no site Unistats. O foco da escola é criar jornalistas multimídia, ou seja, que saibam trabalhar em todo tipo de publicação impressa, rádio e sites de informação. O curso de graduação que dura três anos pode ser combinado com o estudo de uma cultura e língua estrangeira: francês, alemão, espanhol ou russo. A escola oferece cursos de mestrado que duram um ano e abordam, entre outros, Comunicação e Política Internacional e Jornalismo Global. Os temas de pesquisas são os mais variados: Marketing político no contexto do sistema político em Ghana; Cobertura midiática da corrupção; Convergência midiática na programação televisiva koreana, entre outros. setembro/outubro de 2010 R E V I S T A D A E S P M 91

5 Recentemente, a ex-aluna Helia Phoenix, atual editora de um site de notícias, tem feito sucesso com o lançamento do seu novo livro Lady Gaga: Just Dance, uma biografia da renomada cantora pop americana. Ela está entre os 75% dos alunos graduados do curso de jornalismo que estão trabalhando na profissão. Universidade de Columbia, Nova York, EUA (The Journalism School, Columbia University) Por aqui passaram os editores e jornalistas das maiores publicações e agências do mundo, como Leonard Apcar, editor do The International Herald Tribune e o ex-diretor executivo da Newsweek, Rick Smith. E é daqui, todos os anos, que são anunciados os ganhadores do Pulitzer, um dos prêmios de jornalismo mais reconhecidos no mundo. A Universidade de Columbia está entre as melhores universidades do mundo e oferece programas de mestrado com duração de 9 e 10 meses, além de PhD em Comunicação. Enquanto no primeiro semestre o programa se baseia em ensinar os elementos básicos da profissão, na segunda metade do curso os alunos se concentram nas áreas de produção que mais lhe interessam. Ao final do programa, cada aluno deve apresentar um projeto de mestrado de jornalismo impresso, digital, de televisão ou rádio. O foco do programa é o jornalismo investigativo e entre os professores estão jornalistas premiados do The New York Times. Alguns alunos da universidade, recentemente, contribuíram para reportagens investigativas que acabaram na primeira página do jornal. Columbia também oferece intercâmbio com duas faculdades no exterior: a Sciences Po, em Paris, e a Universidade de Witwatersrand, na África do Sul. O programa permite obter um diploma duplo. Além das aulas, a faculdade oferece uma boa ajuda para entrar no mercado de trabalho: cada ano, é organizada uma feira na qual representantes das maiores publicações americanas e agências internacionais procuram novos recrutas entre os alunos. Entre os participantes da feira de 2010 estão CNN, NYTimes.com e as agências de notícias AP, AFP, Reuters e Bloomberg. De olho no futuro da profissão, em que os meios eletrônicos de comunicação se tornam cada vez mais populares, a Universidade de Columbia tem planos de lançar em breve um curso de mestrado duplo, com formação em jornalismo e ciências da computação. A ideia é preparar profissionais para serem jornalistas e poderem criar aplicações digitais para inovar a consumação de mídia online. Escola de Jornalismo da Universidade da Califórnia em Berkeley, EUA (Berkeley Graduate School of Journalism) Com o declínio das grandes empresas jornalísticas, o mestrado de dois anos da Berkeley prepara alunos para uma área de jornalismo que está em plena expansão: o jornalismo hiperlocal. O blog Mission: Local, mantido pelos próprios alunos, ganhou o prêmio Webby Awards em 2009 na categoria estudante. O site bilíngue inglês-espanhol é repleto de reportagens, fotos e vídeos que cobrem o bairro Mission em São Francisco. A escola tem também outros dois sites hiperlocais. A maior parte do currículo é voltada para a produção de mídia para várias plataformas impressa e digital. Um dos destaques é um treinamento intensivo de cinco dias, Boot Camp, que vai das nove da manhã às nove da noite, no qual os alunos aprendem as ferramentas básicas de jornalismo multimídia: desde edição de vídeo à fotografia. Ao final da semana, os alunos terão produzido um projeto multimídia. Alguns trabalhos recentes dos alunos foram publicados nos sites da revista Time e do Washington Post. 92 R E V I S T A D A E S P M setembro/outubro de 2010

6 2011, a escola irá oferecer o primeiro programa de mestrado em Jornalismo Empresarial. Na área da pesquisa, a participação de alguns alunos do programa de Jornalismo Investigativo da escola já foi destaque de diversos prêmios, entre eles o Pulitzer e Prêmio de Repórteres e Editores Investigativos (Investigative Reporters and Editors Award). Escola de Jornalismo da City University of New York, EUA (CUNY Graduate School of Journalism) Ela pode não aparecer nas listas tradicionais das melhores escolas de jornalismo, mas a escola de Jornalismo da CUNY é uma estrela nascente. Situada ao lado do prédio do The New York Times, ela reúne professores das escolas de jornalismo mais reconhecidas, como a Universidade de Columbia e NYU, além de ter frequentes palestras com jornalistas da New York Times e outras grandes publicações. A vantagem é que, por ser uma instituição pública, o custo do ensino é mais ou menos um quarto do que pode vir a ser em outras universidades renomadas. Desde o primeiro semestre, os 80 alunos selecionados para o programa de um ano e meio aprendem, além das ferramentas básicas do jornalismo, como integrar as diversas linguagens em produções multimídia. Cada aluno é responsável por cobrir um bairro de Nova York ao longo de todo o programa. Em 2009, a escola assumiu o blog, The Local do The New York Times, e os próprios alunos são responsáveis pela cobertura jornalística dos eventos em dois bairros de Brooklyn, além de recrutar novos contribuintes. Todos os anos, os alunos da disciplina de Jornalismo Empresarial concorrem ao prêmio da Fundação McCormick no total de $ 50 mil para financiamento de um projeto inovador de jornalismo. A disciplina é ensinada por Jeff Jarvis, um dos porta-vozes da revolução digital na mídia. Em A agência de notícias online, NY City News Service, com reportagens e produções multimídia realizados pelos alunos, ganhou recentemente um prêmio nacional de melhor site universitário de notícias pela Sociedade de Jornalistas Profissionais (Society of Professional Journalists). O estágio obrigatório de oito semanas antes de voltar para o último semestre de ensino permite aos alunos porem em prática tudo o que aprenderam no primeiro ano e ainda terem mais um semestre para afiar seus conhecimentos. Em torno de 75% dos alunos formados em 2009 trabalham como jornalistas, em publicações como o The Wall Street Journal, na ESPN e no canal de televisão americano NBC. A escola também possui um programa de intercâmbio de um semestre com a Universidade de Paris II. Escola online: NewsU.org Talvez a escola de jornalismo mais adaptada à revolução digital seja aquela que só existe online. O site da NewsU.org foi criado pelo Instituto Poynter em parceria com a Fundação John S. e James L. Knight. Em menos de 5 anos, já atingiu mais de 150 mil usuários registrados. O site oferece mais de 150 cursos gratuitos ou a preço reduzido e explora desde as técnicas básicas de reportagem, como identificar o que é notícia, a edição em Photoshop e reportagem para rádio. As aulas são direcionadas tanto a estudantes quanto a profissionais. Ao criar um perfil, o site destaca cursos recomendados baseados nas áreas de interesse do usuário. Para completar, o certificado de conclusão cai bem ESPM no currículo. MARIANA VASCONCELLOS Jornalista multimídia, graduada pela UFSC e cursando mestrado em Mídia Digital na Universidade de Paris VIII e na CUNY. É freelancer para o The New York Times, em Paris. eu@marianavasconcellos.com setembro/outubro de 2010 R E V I S T A D A E S P M 93