22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental
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- Maria Vitória Tuschinski Fonseca
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1 22º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 14 a 19 de Setembro Joinville - Santa Catarina I UTILIZAÇÃO DE REJEITOS DE DESSALINIZADORES DE ÁGUA NA IRRIGAÇÃO DA FORRAGEIRA ERVA SAL Fernando Nobre Furtado Mestre em Engenharia Civil, área de concentração em Saneamento Ambiental, pela Universidade Federal do Ceará. Professor da Universidade Estadual do Ceará e da Universidade de Fortaleza. Suetônio Mota(1) Engenheiro Civil e Sanitarista. Doutor em Saúde Ambiental. Professor Titular do Departamento de Engenharia Hidrárulica e Ambiental do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará. Marisete Dantas de Aquino Doutora em Meio Ambiente / Recursos Hídricos. Professora Adjunta do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental do Centro de Tecnologia da Universidade Federal do Ceará. Endereço(1): Avenida Beira Mar, ap. 600 Fortaleza - CE - CEP: Brasil - Tel: (85) suetonio@ufc.br RESUMO O trabalho teve como objetivo estudar o aproveitamento de rejeitos de dessalinizadores, por osmose reversa, na irrigação da Atriplex nummularia Lindl, conhecida como erva sal e classificada como forrageira. O experimento realizou-se no Município de Caucaia, Ceará, integrante da Região Metropolitana de Fortaleza. Foi utilizado um delineamento experimental inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e três repetições. Os tratamentos definidos foram: T1, terreno natural, irrigado com o rejeito do dessalinizador; T2, terreno com adubo orgânico, irrigado com o rejeito do dessalinizador; T3, terreno natural, irrigado com água de cacimba; T4, terreno com adubo orgânico, irrigado com água de cacimba. A produtividade, no tratamento irrigado com o rejeito do dessalinizador, foi superior à obtida nos demais tratamentos, com valor de Kg/ ha de matéria fresca, e diferiu estatisticamente, ao nível de 5%, apenas do tratamento irrigado com água de cacimba e uso de adubo orgânico, que obteve Kg/ ha. A Atriplex teve bom desempenho quando irrigada com rejeito com alto teor salino, o que mostra que pode ser
2 utilizada como forma de evitar os impactos ambientais dos lançamentos de efluentes de dessalinizadores no solo ou em corpos d água. PALAVRAS-CHAVE: Dessalinizador, erva sal, atriplex, osmose reversa, rejeitos salinos. INTRODUÇÃO No semi-árido do nordeste brasileiro é comum obter-se água de poços com alto teor de sal, impossibilitando seu uso para consumo humano, abastecimento animal e para irrigação. Para resolver esse problema, têm sido usados dessalinizadores de água, utilizando o processo conhecido como Osmose Reversa. A utilização desses equipamentos, entretanto, tem causado impactos ambientais, devido à falta de alternativas para a disposição dos rejeitos, constituídos de resíduos líquidos de elevada salinidade. Assim, devem ser encontradas soluções para o problema de geração dos resíduos dos dessalinizadores, de modo a evitar as conseqüências negativas da sua disposição no meio ambiente. Uma das soluções utilizadas para resolver esse problema, é usar-se os rejeitos na irrigação de plantas halófitas (suportam altos níveis de salinidade do complexo solo-água e usam o sal no seu metabolismo), como a Atriplex nummularia Lindl., conhecida como erva sal. A Atriplex nummularia Lindl. é uma espécie forrageira, originária da Austrália, que tem se adaptado muito bem nas regiões áridas e semi-áridas da América do Sul, em particular da Argentina, Chile e Brasil. As características que lhe dão importância são: alta resistência a condições de aridez; fácil propagação; alto poder calorífico; baixa susceptibilidade a pragas e doenças; suporta altos níveis de salinidade do complexo solo-água e, também, acumula significativa quantidade de sais em seus tecidos (FURTADO, 2002). A Atriplex nummularia é um arbusto de origem australiana, de longa vida, que constitui um recurso forrageiro. Cresce especialmente nos meses secos, podendo alcançar alturas superiores a 3 metros. Seu modo de crescer é ereto, mas se ramifica desde a base (FAO, 1996). A Atriplex se adapta bem às precipitações anuais de 100 a 250 mm, não tendo tido problemas de sobrevivência com precipitações de 50 mm/ano. Sobrevive bem em solos rasos, com texturas pesadas (pobres e arenosos), ainda que tenha melhor desenvolvimento e produtividade em solos profundos de texturas médias. É uma planta resistente a altas temperaturas, sendo a faixa de 30 a 35o C ótima para a fotossíntese; resiste às baixas
3 temperaturas, como a faixa entre -8,0 a -1o C, ainda que temperaturas de inverno muito baixas podem causar a morte da plantação. O cultivo de erva-sal tem sido feito como plantio isolado. Todavia, está sendo estudada a possibilidade de seu plantio de forma consorciada com outras plantas halófitas. Não existem informações bibliográficas sobr e estudos de espaçamentos desenvolvidos no semiárido brasileiro. Por ser um arbusto de porte médio, o espaçamento utilizado nesta região tem sido de 3 m entre linhas por 3 m entre plantas. Atriplex nummularia produz sementes, todavia, o processo mais rápido de fazer o plantio é através de mudas produzidas por estacas. Ela é considerada um arbusto perene; quando irrigada, pode-se obter o primeiro corte antes de seis meses (PORTO & ARAÚJO, 1999). MATERIAIS E MÉTODOS O experimento foi realizado no Município de Caucaia, Estado do Ceará, integrante da Região Metropolitana de Fortaleza. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e três repetições. Os tratamentos definidos foram: T1 o terreno natural recebeu irrigação com o rejeito do dessalinizador; T2 o terreno com adubação orgânica (visando simular a situação de uso do rejeito do dessalinizador, oriundo da criação de peixes) recebeu irrigação com o rejeito do dessalinizador; T3 o terreno natural recebeu irrigação com água doce de cacimba; funcionou como o teste em branco para o primeiro tratamento; T4 o terreno com adubação orgânica recebeu irrigação com água de cacimba; funcionou como teste em branco para o segundo tratamento. O número total de parcelas do experimento foi 12. A área útil da parcela foi de 16 m2 e a área útil total de 192 m2. A área cercada foi de 228 m2. Observou-se o espaçamento de 3 metros, entre os tratamentos que usaram o rejeito e os tratamentos que usaram água de cacimba. Utilizou-se um dessalinizador alimentado por dois poços com salinidade entre e mg/l de STD. Os poços, dotados de bombas, se alternaram na alimentação do dessalinizador. O dessalinizador é um modelo PS-14, com uma bomba de alta pressão, 2 (dois) filtros de cartuchos de 5 micrômetros, 1 (um) conjunto de vaso de pressão com 1 (uma) membrana de 100 milímetros de diâmetro por 1 metro de comprimento.
4 O rejeito usado na irrigação da erva sal apresentou, em média, Condutividade Elétrica (CE) de 5660 m S/cm e a água de cacimba, CE de 1032 m S/cm. As plantas foram irrigadas com 10 litros de água por dia, durante sete meses. RESULTADOS Os dados de produção da matéria fresca, peso fresco médio da parte aérea, em kg por planta, são apresentados na Tabela 1 e evidenciaram que a maior produção média foi obtida pelo tratamento 01, cujo solo foi irrigado com rejeito do dessalinizador. Tabela 1: Peso médio, em kg por planta, de folhas, caules finos e caules grossos, cultura com sete meses, espaçamento de 2x2m, para os diversos tipos de tratamentos. Caucaia, Ceará, 2001/2002 TRATAMENTO REPETIÇÕES T1 T2 T3 T4 MÉDIA R1 Folhas
5 6,0 6,5 6,0 3,5 5,5 Caules Finos Caules Grossos 1,6 R2 Folha s 6,5 5,5 7,0
6 3,0 5,5 Caules Finos Caules Grossos 1,0 1,8 R3 Folhas 7,5 6,5 6,5 3,0 5,9
7 Caules Finos 1,0 Caules Grossos 1,0 1,6 Produção média por planta 10 9,7 9,8 5,7 8,8 Produção por tratamento ,4 117,6 68,4 105,6
8 Produção por hectare e por tratamento A Tabela 2 indica a produção total, em kg, das partes aéreas da planta e sua participação percentual na planta inteira (PI). Tabela 2: Produção dos componentes da planta em percentual da planta inteira (PI). Pesquisa sobre utilização do rejeito da dessalinização. Caucaia, Ceará, 2001/2002 Parte da planta Produção de matéria fresca em kg Participação percentual na planta inteira (%) Folhas ,92 Caules Finos 72 17,15 Caules Grossos 80 18,93 Total
9 422* 100 *O cálculo do total levou em consideração 48 plantas. Para o peso total fresco da parte aérea da planta, utilizou-se a soma da folha, caule fino e caule grosso, criando a variável produção total. A análise descritiva encontra-se na Tabela 3. Tabela 3: Análise descritiva da produção total e dos componentes da parte aérea planta em quilo por planta, por tratamento. Pesquisa sobre utilização de rejeito da dessalinização em irrigação. Caucaia, Ceará, 2001/2002 Tratamento Componentes Mínimo Máximo Média do Tratamento Desvio-Padrão do Tratamento 1 Folha 6,0 7,5 6,6667 0,7638 Caule Fino 000
10 0,0000 Caule Grosso 1,8333 0,2887 Produção total 9,0 11,0 10,0000 1, Folha 5,5 6,5 6,1667 0,5774 Caule Fino 000 0,0000 Caule Grosso
11 000 0,0000 Produção total 9,0 10,0 9,6667 0, Folha 6,0 7,0 6,5000 0,5000 Caule Fino 1,6667 0,2887 Caule Grosso 1,6667
12 0,2887 Produção total 9,0 10,5 9,8334 0, Folha 3,0 3,5 3,1667 0,2887 Caule Fino 1,0 1,3333 0,2887 Caule Grosso 1,0 1,1667 0,2887 Produção total
13 5,0 6,5 5,6667 0,7638 Verificou-se que, em relação à folha, a maior produção foi a do tratamento 01. Em relação ao caule fino, a maior produção foi a do tratamento 03. Já em relação ao caule grosso, a maior produção foi a do tratamento 02. A maior produção total foi a do tratamento 01. Efetuou-se o acompanhamento do desenvolvimento das culturas, através de medição da altura da planta, da copa NS (norte-sul) e da copa LW (leste-oeste). Seguindo a metodologia, realizou-se uma análise descritiva das medidas, em metros, da altura, copa média e desenvolvimento total. Da análise descritiva, resultou a Tabela 4. Tabela 4: Análise descritiva das medidas em metros da altura, copa média e desenvolvimento total da Atriplex nummularia. Pesquisa sobre utilização de rejeito da dessalinização em irrigação. Caucaia, Ceará, 2001/2002 Tratamento Componente Mínimo Máximo Média Desvio-Padrão 1 altura 0,17 1,87
14 0,8491 0,4722 copa média 0,00 1,68 0,5679 0,4880 desenvolvimento total 0,17 3,55 1,4170 0, altura 0,19 1,73 0,7979 0,4492 copa média 0,00 1,65 0,5463 0,4660 desenvolvimento total
15 0,19 3,22 1,3441 0, altura 0,09 1,90 0,9585 0,5295 copa média 0,00 3 0,5554 0,4375 desenvolvimento total 0,09 3, , altura 0,20
16 1,84 0,8069 0,4307 copa média 0,00 1,27 0,4234 0,3376 desenvolvimento total 0,20 3,11 1,2302 0,7520 Verifica-se que, em termos de altura, a maior média é do tratamento 3, seguido do 1, do 4 e, por último, do 2. Em termos de copa média, a maior média é a do tratamento 1, seguida pela do tratamento 3, do 2 e, por último, do 4. A Figura 1 mostra uma vista da área da pesquisa, indicando o bom desenvolvimento da erva sal irrigada com rejeitos do dessalnizador. Firgura 1: Vista da erva sal irrigada com rejeitos do dessalinizador Realizou-se teste de paladar da planta com ovinos, suínos e galinhas. A melhor aceitação da Atriplex ocorreu com os suínos, que, mesmo em concorrência com outras forragens, foi bem consumida. As ovelhas e galinhas tiveram aceitação semelhante, ou seja, consumiram em ausência de outra forrageira e com incentivo de grãos de milho. Uma vez iniciado o consumo, a continuidade do mesmo ocorreu sem necessidade de novas porções de milho.
17 CONCLUSÕES A Atriplex nummularia Lindl. teve bom desenvolvimento quando irrigada com rejeito do dessalinizador, alcançando uma produção de kg/ha de matéria fresca, superior à obtida nos demais tratamentos. A planta é uma alternativa de forragem, seja como pasto natural ou através de poda periódica, para obtenção de feno. Pelas características de resistência às condições de aridez e salinidade, fácil propagação e baixa susceptibilidade a pragas e doenças, é uma ótima opção de planta para o semi-árido, capaz de promover a recuperação da cobertura vegetal de áreas desertificadas. A irrigação de forrageiras como a erva sal, usando rejeitos de dessalinizadores, contribui para minimizar os problemas ambientais decorrentes de seu lançamento no solo e em corpos d água. Assim, deve ser incentivada a irrigação de erva sal com rejeitos de dessalinizadores, no nordeste brasileiro, bem como ser pesquisados outros tipos de plantas halófitas que suportem a irrigação com águas de alto teor salino. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FAO ORGANIZACIÓN DE LAS NACIONES UNIDAS PARA LA AGRICULTURA Y LA ALIMENTACIÓN. Estudios de Caso de Especies Vegetales para las zonas áridas y semiáridas de Chile y México. Santiago, Chile, FURTADO, F.N. Aproveitamento de rejeitos de dessalinizadores de água na irrigação da Atriplex nummularia Lindl. (Erva sal). Dissertação de Mestrado. Fortaleza: Universidade Federal do Ceará, PORTO, E. R.; ARAÚJO, G. G. L. Erva Sal (Atriplex nummularia). EMBRAPA SEMI- ÁRIDO. Instruções Técnicas no 22. Petrolina, PE, 1999.
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