Ótica da demanda. Introdução. Consumo, investimento e gastos
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- Márcia di Castro Caires
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1 Ótica da demanda Introdução Nesta aula, você verá alguns conceitos da Macroeconomia, que se dedica ao estudo das políticas econômicas e seus impactos sobre a sociedade por meio do crescimento econômico e da geração da produção de uma economia. Você vai estudar, também, a composição da demanda agregada, uma identidade econômica elaborada a partir de diferentes elementos que compõem a produção total de bens e serviços. Ao final desta aula, você será capaz de: entender o que é e como se forma a demanda agregada; compreender a situação de equilíbrio na qual produto é igual à demanda; identificar os tipos de bens que constituem as exportações e importações e o saldo de transações reais. Consumo, investimento e gastos Você pode verificar que os estudos de Macroeconomia levam em consideração três elementos fundamentais, os agregados macroeconômicos: o produto, a renda e o dispêndio. O produto corresponde à soma de todos os bens e serviços produzidos pelos agentes em certo tempo. A renda, por sua vez, corresponde à remuneração de todos os recursos necessários à fabricação dos bens finais. Já o dispêndio, ou gasto, representa os valores usados pelos agentes para a aquisição dos bens produzidos. Deste modo, pode-se dizer que a renda se iguala à despesa; e que ambas, separadamente, igualam-se ao produto (PAULANI; BRAGA, 2013). Porém, cada agregado é determinado por variáveis específicas. Você poderia citar algumas? Exemplos clássicos são os encontrados no título deste tópico, quais sejam, o consumo, o investimento e os gastos do Governo. Você analisará cada um desses componentes para entender como é composta a chamada demanda agregada (D). O consumo pode ser compreendido como a soma do valor das aquisições pelos agentes econômicos (famílias, indivíduos, empreendedores, dentre outros) de bens que se destinam ao uso desses agentes (BLANCHARD, 2004). Podemos enquadrar estes bens em três categorias: bens de consumo não duráveis, destinados ao uso em curtíssimo e curto prazo, às vezes por uma única vez, como alimentos, produtos derivados do tabaco e combustíveis
2 Figura 1 - Combustíveis são bens de consumo não duráveis Fonte: Anze Bizjan / Shutterstock bens de consumo duráveis, normalmente utilizados por mais de uma pessoa, por mais de uma vez e cujo prazo de deterioração é maior, como eletrodomésticos, eletrônicos e automóveis, por exemplo. FIQUE ATENTO Parte da literatura econômica separa os bens de consumo em outra categoria, a de bens de consumo semiduráveis, que são aqueles a serem consumidos por um agente em curto e médio prazos e que têm prazo de deterioração superior aos bens não duráveis, como calçados e roupas. serviços, atividades que vêm do trabalho humano e prestam-se à satisfação de uma necessidade dos agentes, como consultas médicas, consultorias, trabalhos advocatícios etc
3 SAIBA MAIS Uma investigação a respeito do consumo de bens duráveis e não-duráveis no Brasil entre 1970 e 2003 pode ser encontrada no artigo de Fábio Augusto Reis Gomes, Evolução do consumo de duráveis e não duráveis: existe ajustamento lento no caso brasileiro?, que está disponível no link: < O investimento é uma variável macroeconômica que corresponde ao somatório das despesas, por parte das empresas, em especial (pois, na teoria econômica, são elas, no setor privado, que conduzem o processo de produção) para a aquisição de bens e serviços que tenham por objetivo a realização da produção em longo prazo. Figura 2 - Investimentos envolvem o longo prazo Fonte: Tzido Sun / Shutterstock Veja que essas aquisições podem ser de equipamentos e construção de instalações destinadas à fabricação das mercadorias. Cabe destacar que, na categoria equipamentos, observa-se outro tipo de bens, qual seja: bens de capital, destinados à produção de outros bens e cuja utilização dá-se em médio e longo prazos, de acordo com uma taxa de deterioração (também conhecida como depreciação ou sucateamento)
4 FIQUE ATENTO De modo geral, a taxa de depreciação de um bem de capital é razoavelmente conhecida pela firma e determinada pela evolução tecnológica e intensidade de uso deste bem. O gasto deriva de todas as atividades realizadas pelo Estado para a aquisição de bens e serviços, além da remuneração dos funcionários. Essa variável é um importante instrumento de política econômica à medida que permite aquecer ou desacelerar a atividade econômica através de variações nas despesas do Estado (PAULANI; BRAGA, 2013). FIQUE ATENTO A política econômica que utiliza o gasto do governo para atuar sobre a atividade econômica é denominada política fiscal. Expressamos, assim, através do Consumo, do Investimento e do gasto do governo, as variáveis mais importantes para a determinação da demanda. Neste sentido, precisamos ter em conta que esta demanda por bens pode ser suprida por aqueles produzidos dentro da economia, ou bens domésticos (d), tanto quanto por bens importados (m). SAIBA MAIS Em geral, as economias dos diferentes países mantêm relações com o resto do mundo, de forma que, quase sempre, visualizaremos fluxos de bens e capitais entre essas diferentes nações. Deste modo, podemos, inicialmente, definir o consumo como uma relação entre a aquisição de bens de consumo domésticos e importados. Verifique a equação que segue. Ou seja, o consumo é formado pela aquisição de bens de consumo domésticos (dbc) e importados (mbc)
5 EXEMPLO Se foram produzidos bens no mercado doméstico com o valor de R$ 1 bilhão e os bens importados somaram o valor de R$ 100 milhões, temos que o consumo total desta economia é de R$ 1,1 bilhão. Podemos expandir este conceito para as outras variáveis macroeconômicas que estudamos até agora. O investimento, enquanto se configure por um processo de aquisição de bens de capital (bk), pode ser determinado através da seguinte equação: Da mesma forma, o gasto governamental (G) envolve a compra de bens públicos (bp) que serão disponibilizados à sociedade através do Estado, conforme a equação: Expressando, portanto, as três variáveis que determinam a demanda agregada (D), podemos abri-las a partir da aquisição de bens domésticos e importados, concluindo nosso raciocínio através da seguinte equação: Em equilíbrio: PIB = renda O Produto Interno Bruto (PIB) é a expressão do valor de todos os bens e serviços produzidos em uma economia ao longo de um determinado período de tempo, normalmente correspondente a um ano. Ele é a expressão do produto total, através da equação: Em que C, I e G representam, respectivamente, o consumo, o investimento e os gastos do Governo. (X-M) representa o saldo da balança comercial (através da identidade exportações-importações)
6 Como as operações de consumo, investimento e gasto implicam uso de recursos monetários, você pode observar que esses recursos advêm da renda obtida pelas atividades produtivas no consumo das famílias, no investimento das empresas, no gasto do Governo. Figura 3 - Estado e seus gastos Fonte: Bart Sadowski / Shutterstock Supondo que essa economia seja fechada, ou seja, sem contato com o exterior, temos que o cálculo do Produto Interno Bruto se dá através da relação PIB = C + I + G. Vamos, porém, utilizar o caso de uma economia aberta, que realiza transações com o exterior. Assim, em condições de equilíbrio, observa-se a identidade PIB = Renda; renda esta que, desconsiderando a hipótese de poupança, será correspondente à demanda. Ou seja, nessas condições, o produto se iguala à demanda (PAULANI; BRAGA, 2013). Sabendo-se, portanto, que o PIB se iguala à demanda, temos a seguinte identidade: Neste caso, vamos abrir um pouco mais a identidade que estabelecemos no conjunto de equações da seção anterior. Se o PIB se iguala à demanda, temos que, no cálculo do PIB, são computados todos os bens produzidos, importados e exportados, seja na forma de bens de consumo, capital ou bens públicos. Porém, devemos citar uma quarta categoria de bens, qual seja, os bens intermediários, que são bens que já passaram pelo processo de produção, mas destinam-se à composição da produção de outros bens, como, por exemplo, de chapas de aço para a construção de automóveis
7 Estes bens intermediários (tratados por BI) podem ser exportados ou importados conforme as especificidades da economia, logo, para o cálculo do o saldo dos bens intermediários em uso na economia, temos a seguinte equação: Sabendo, assim, que no cálculo do PIB os bens intermediários também devem ser computados, obtemos a seguinte equação: Logo: Como o PIB se iguala à demanda em condições de equilíbrio, temos que: Deste modo: Retirando-se as variáveis que se eliminam mutuamente, temos que: Assim, PIB D se igualam ao saldo de exportações e importações de bens: - 7 -
8 Exportações, importações e saldo de transações reais Considerando o conjunto de equações apresentado na seção anterior, você pode compreender o resultado da identidade macroeconômica (PIB D) como o saldo de transações reais (ou correntes) de uma economia (com notação STR). Logo, sabendo-se que PIB D = STR, temos que: Ou seja, o saldo em transações reais corresponde aos resultados das transações da economia com o exterior, através dos processos de exportação e importação de produtos (SILVA, 1999). EXEMPLO Se as exportações tiveram um saldo final de R$ 4 bilhões e as importações tiveram saldo de R$ 3 bilhões, temos que o saldo de transações reais é igual a STR = 4-3 = R$ 1 bilhão
9 Figura 4 - Transações correntes: relações de uma economia com o exterior Fonte: Fine Art / Shutterstock PIB = D + (X-M) Tendo explorado o conceito de transações correntes, vamos incorporá-lo ao cálculo da demanda para compreendermos a formação do produto interno bruto, identidade de grande importância macroeconômica. Vamos recuperar a equação - 9 -
10 para o caso de uma economia aberta. Sabendo-se que o consumo, o investimento e o gasto do Governo são expressões da demanda na economia, podemos transformar essa equação em: Ou seja, o produto interno bruto é formado pela demanda adicionada dos saldos das transações no exterior, constituindo, assim, a demanda agregada que se iguala ao produto. Tratamos, então, a demanda como agregada, pois ela não é individualizada, mas sim composta pela soma das atividades dos agentes econômicos. Fechamento Nesta aula, você teve a oportunidade de: entender a natureza e os fatores determinantes de importantes variáveis macroeconômicas, como o consumo, o investimento e o gasto do Governo; verificar que o produto interno bruto se iguala à renda sob condições de equilíbrio; conhecer os instrumentos de relações de uma economia com o exterior através do saldo de transações reais. Referências BLANCHARD, O. Macroeconomia. 3 ed. Rio de Janeiro: Pearson, GOMES, F. A. R. Evolução do consumo de duráveis e não duráveis: existe ajustamento lento no caso brasileiro? In: Economia Aplicada. v. 17, n. 2, p Disponível em: < /a05v17n2.pdf>. Acesso em: 31/12/ PAULANI, L. M; BRAGA, M. B. A nova contabilidade social uma introdução à macroeconomia. 4 ed. São Paulo: Saraiva, ROSSETTI, J. P. Introdução à Economia. 21 ed. São Paulo: Atlas, SILVA, J. C. F. Modelos de análise macroeconômica: um curso completo de macroeconomia. Rio de Janeiro: Campus,
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