Termos para indexação: mata seca, extrativismo, Cerrado, Savana, Minas Gerais
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- Luís Sousa Araújo
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1 DIVERSIDADE E USO POTENCIAL DA COMUNIDADE LENHOSA DE UMA FLORESTA ESTACIONAL COMO SUBSÍDIO PARA A CRIAÇÃO DE RESERVAS EXTRATIVISTAS NA BACIA DO RIO SÃO FRANCISCO Ricardo Flores Haidar 1, Gabriel Damasco do Vale 1, Jeanine Maria Felfili 1, Gustavo Henrique de Oliveira 2, Irving Martins Silveira 1. ricardohaidar@yahoo.com.br. 1 Universidade de Brasília, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília, DF. 2 Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade SCEN Trecho 2 - Ed. Sede - Cx. Postal nº CEP Brasília-DF). Termos para indexação: mata seca, extrativismo, Cerrado, Savana, Minas Gerais Introdução As florestas estacionais, ou matas secas, do Cerrado funcionam como refúgio para espécies arbóreas típicas das regiões secas Neotropicais (Caatinga e Chaco) em meio a matriz de cerrado sensu lato (Prado & Gibbs 1993). Geralmente ocorrem sobre solos ricos em nutrientes e suas principais espécies apresentam diferentes níveis de caducifólia, em função das variações ambientais (clima, solo e relevo) (Felfili 2003). Apesar de conterem tamanha riqueza e endemismo, estas não tem sido contempladas na criação de novas Unidades de Conservação, mesmo sofrendo rápida degradação proporcionada pela produção de carvão e pelas retiradas das valiosas espécies madeireiras de ocorrência restrita a estes ambientes. Juntamente à destruição destas matas é também extinto o saber das comunidades tradicionais, que por gerações vivem da extração de recursos naturais. Buscando sobreviver no atual modelo de desenvolvimento, algumas comunidades tradicionais do médio São Francisco ainda resistem produzindo alimentos e medicamentos nativos como fonte de renda.
2 Este estudo teve como objetivo descrever a riqueza, estrutura, diversidade e o potencial de utilização das espécies arbóreas de uma floresta estacional localizado na área destinada à criação de uma Reserva Extrativista na bacia hidrográfica do rio São Francisco. Material e Métodos A área de estudo situa-se em uma cadeia de serra na região do médio rio São Francisco, no município de Buritizeiro, cujo clima é do tipo Aw (classificação de Köppen), com precipitação média anual de mm e, devido ao alto déficit hídrico durante três meses do ano, o clima tende ao semi-árido (EMBRAPA 2008). Vinte e cinco parcelas de 20m x 20m (400 m²) foram alocadas através do método de amostragem aleatório em duas etapas. Todos os indivíduos lenhosos com diâmetro igual ou superior a 5 cm, tomados a 1,30 m do solo, foram identificados e amostrados conforme a metodologia utilizada em florestas estacionais do bioma Cerrado (Felfili et al. 2005). O material botânico foi identificado por meio de literatura especializada, consulta a especialistas e comparação com exsicatas do herbário da Universidade de Brasília (UB). Utilizouse o sistema do Angiosperm Phylogeny Group II, disponível em Souza & Lorenzi (2005). Para o estudo da estrutura comunitária foram feitas análises fitossociológicas com obtenção do índice de valor de importância (IVI) para cada espécie (Mueller-Dombois & Ellenberg 1974). Foram calculados os índices de diversidade de Shannon (H ), equabilidade de Pielou (J),d e similaridade de Sørensen e Czekanowski através do programa MVSP versão Durante a realização do trabalho, a equipe esteve em contato com agentes da comunidade que relataram usos de algumas espécies amostradas. Estes dados foram complementados pela revisão de informações advinhas de bibliografias. Resultados e Discussão Foram registradas 74 espécies arbóreas, distribuídas em 59 gêneros e 26 famílias botânicas. O número de espécies é superior ao encontrado em florestas estacionais deciduais do
3 Vale do Paranã (Nascimento et al. 2004), embora inferior à riqueza de uma floresta estacional semidecidual do Goiás (Haidar et al. 2008). A família Leguminosae foi a mais rica com 25 espécies e oito gêneros, sendo que a subfamília Papilionoideae apresentou a maior riqueza (15 espécies e 8 gêneros). Bignoniaceae foi a segunda mais rica (6 espécies e 3 gêneros), seguida por Apocynaceae, Malvaceae, Rubiaceae (4 espécies). As demais 15 famílias botânicas foram representadas por apenas uma espécie, perfazendo 20% da riqueza total. O gênero Machaerium foi o mais rico (6 espécies), seguido por Aspidosperma e Tabebuia (4 espécies) e representam 20% da riqueza total. Duas espécies (Aspidosperma sp. e Malpighiaceae) foram recém descobertas em estudos na região do Vale do Paranã de Goiás e estão presentes na área de estudo. Ressalta-se a presença de Sweetia fruticosa, Zeyheria tuberculosa e Aralia exelsa, que são restritas às florestas estacionais do bioma Cerrado. Foi encontrada densidade de ind.ha -1, sendo superior aos valores descritos para algumas florestas estacionais no bioma, e inferiores a estudos em florestas estacionais semideciduais do bioma Atlântico (Jurinitz & Jarenkow 2003) (Tabela 1). O valor encontrado para a área basal (20,09 m².ha -1 ) é similar e por vezes superior aos valores descritos para as florestas estacionais do bioma Cerrado e em geral, inferior às florestas do bioma Atlântico. Tabela 1. Florística, fitossociologia e diversidade alfa em florestas estacionais brasileiras. Densidade = D, Área basal = G, Índice de diversidade de Shannon = H, Índice de equabilidade de Pielou = J. Tipo de formação/ Local/ Diâmetro D G Autores mínimo (cm) (ind. ha -1 ) (m². ha -1 ) Decidual (Monte Alegre - GO) H (nats.ind -1 ) J Total de Total de Total de espécies gêneros famílias Nascimento et al.(2004) ,36 2,99 0, Decidual (São Domingos - GO) Silva & Scariot (2003) ,45 2,99 0, Semidecidual (Fercal - DF) ,72 3,43 0,
4 Haidar (2008) Semidecidual (Viçosa - MG) Souza et al. (2003) ,03 4,25 0, Semidecidual (Serra - RS) Jurinitz & Jarenkow (2003) ,56 3,2 0, Decidual (Buritizeiro - MG) Este estudo ,09 3,3 0, As dez espécies de maior importância na análise fitossociológica são (ordem decrescente): Myracrodruon urundeuva (Aroeira), Anadenanthera colubrina (Angico), Combretum duarteanum (Mufumbu), Machaerium scleroxylum (Pau-ferro-da-mata-seca), Aspidosperma subincanum (Pereira), Tabebuia roseo-alba (Ipê-branco), Machaerium stipitatum (Jacarandá-damata-seca), Aspidosperma pyrifolium (Peroba-rosa), Aralia excelsa e Astronium fraxinifolium (Gonçalo-alves) que perfazem 53% do IVI, 69% da densidade e 63% da dominância total da comunidade. A maioria dessas espécies, entre outras de menor importância na floresta, tem elevado valor no mercado madeireiro, sugerindo a possibilidade de implantação de planos de manejo sustentável, que poderiam ser modelos para outras áreas na região e com isso assegurar a permanência de madeiras nobres no mercado. Espécies como Myracroduon urundeuva (Aroeira) e Astronium fraxinifolium (Gonçalo-alves) registradas em outros remanescentes de floresta estacional do Norte de Minas Gerais (Santos et al. 2007), já estão na lista oficial de espécies ameaçadas do IBAMA, tendo o seu corte proibido denotando a necessidade de planos de manejo para estimular a regeneração natural e de plantios silviculturais. Outras já saíram do mercado madeireiro em função da superexploração como a Amburana cearensis (Cerejeira) que já foi tão valorizada como o mogno. Quanto a produção de frutos, algumas espécies que já são industrializadas e comercializadas como Hymenea stilbocarpa (Jatobá), assim como outras muito apreciadas regionalmente como a castanha de Sterculia striata (Chichá) e a polpa de Pouteria gadineri (Taturubá), agregam valor ao potencial extrativista da área.
5 O valor do índice de Shannon-Wiener (H ), foi de 3,30 nats.ind -1 e equabilidade de Pielou (J ) de 0,76, o que sugere alta diversidade e relativa dominância ecológica, ou seja, populações com tamanhos heterogêneos compondo a comunidade. Esses valores de diversidade alfa são superiores aos obtidos em florestas estacionais do Vale do Paranã (Silva & Scariot 2003), e inferiores aos obtidos em fragmentos do bioma Atlântico (Silva et al. 2004). Entre as parcelas nota-se alta similaridade florística mesmo entre aquelas distantes entre si no espaço geográfico do universo amostral. Como exemplo, as parcelas 3 e 24 que foram alocadas a mais de um quilômetro de distância entre si apresentaram a maior similaridade florística (80%), através do Índice de Sorensen. Por outro lado parcelas próximas, porém dispostas em posições diferenciadas do relevo, apresentaram baixa similaridade florística e estrutural. Dentre as 74 espécies amostradas, 50 espécies apresentaram informações de uso nas bibliografias consultadas, dessas, 36(72%) são indicadas para arborização, paisagismo e ornamentação, 34(68%) para projetos de revegetação, 19(38%) reportadas como de uso medicinal; 8(16%) usadas para curtume, 7(14%) aplicáveis em silvicultura, 6(12%) melíferas. Para uso madeireiro são encontradas informações de 46(92%) espécies, aplicadas em diversos fins. Entretanto, sua utilização associada ao tipo de exploração deve ser adequada para garantir funções ecológicas dos ecossistemas nativos, principalmente em uma Reserva Extrativista. Deve-se atentar para uma extração de baixo impacto somado a práticas de enriquecimento de mudas, direcionando a sucessão ecológica das espécies de interesse. A utilização madeireira com maior destaque na região estudada é a produção de carvão. A maioria das espécies provenientes de florestas estacionais desperta atração pelas madeiras de alta densidade, além do grande porte de algumas árvores. A produção de carvão por meio de espécies tão valorizadas no mercado madeireiro se faz de forma irracional, pois poderiam ser melhor aproveitadas para fins nobres, através de atividades menos impactantes. O uso medicinal também é destaque por suas múltiplas aplicações na medicina popular e farmacêutica. Novas descobertas científicas e a crescente demanda das indústrias vêm
6 estimulando o comércio predatório de plantas, principalmente através da pressão do comércio internacional na busca de novos produtos. Políticas governamentais que assegurem preço mínimo, garantia de aquisição do produto extrativo, seguro por perda de colheita e outras que são asseguradas aos produtores agrícolas devem ser estendidas à comunidade extrativista assim como a implementação de programas governamentais que insiram os produtos da biodiversidade na merenda escolar e no menu de órgãos governamentais como hospitais, prisões, coquetéis comemorativos para o estímulo ao consumo de produtos provindos de espécies nativas do bioma Cerrado. Pólos industriais com freezers para polpas, máquinas para quebrar nozes, despolpar, fogões industriais, sistemas para embalagens nas regiões de coleta, com conexões para transporte e inserção no mercado consumidor são fundamentais para estimular o empreendedorismo e virão agregar renda à economia local e das famílias rurais. Ou seja, além de proteger as áreas de coleta são necessárias políticas públicas para inserir a atividade extrativista de modo competitivo na economia rural. Conclusões Espécies com elevado valor comercial no mercado madeireiro predominam na floresta estacional de Buritizeiro como Myracrodruon urundeuva (Aroeira), Anadenanthera colubrina (Angico), Amburana cearensis (Cerejeira), Machaerium scleroxylum (Pau ferro da mata seca), Aspidosperma subincanum (Pereira), Schinopsis brasiliensis (Braúna), Aspidosperma pyrifolium (Peroba-rosa), Tabebuia impetiginosa (Ipê roxo), Tabebuia roseo-alba (Ipê branco), Machaerium stipitatum (Jacarandá da mata seca), Cedrela fissilis (Cedro), Sweetia fruticosa (Sucupiraamarela-da-mata) e Astronium fraxinifolium (Gonçalo Alves) justificando a criação de uma reserva extrativista onde planos de manejo florestal podem ser implementados, considerando a erosão genética destas espécies diante a pressão antrópica atuante em todo o bioma Cerrado. A criação de um pólo extrativista para comercialização de sementes, frutos e fibras, reforçam a proposta de criação dessa unidade de conservação de uso sustentável.
7 Referencias Bibliográficas EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias) Disponível em 12 de março de 2008: FELFILI, J.M Fragmentos de Florestas Estacionais do Brasil Central: diagnóstico e propostas de corredores ecológicos. In Fragmentação Florestal e Alternativas de Desenvolvimento Rural na Região Centro-Oeste. (R.B. Costa, org.) UCDB, Campo Grande. pp FELFILI, J.M., CARVALHO, F.A. & HAIDAR, R.F Manual para o monitoriamento de parcelas permanentes nos biomas Cerrado e Pantanal. Brasília: Universidade de Brasília, Departamento de Engenharia Florestal. 55p. HAIDAR, R.F Fitossociologia, Diversidade e sua Correlação com Variáveis Ambientais em Florestas Estacionais do Bioma Cerrado no Planalto Central e Nordeste do Brasil. Dissertação de Mestrado em Ciências Florestais, Departamento de Engenharia Florestal, Universidade de Brasília, Brasília, DF, 254p. JURINITZ, C.F. & JARENKOW, J.A Estrutura do componente arbóreo de uma floresta estacional na Serra do Sudeste, Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Botânica 26(4): MUELLER-DOMBOIS, D & ELLENBERG, H Aims and methods of vegetation ecology. New York, John Wiley e Sons. 574p. NASCIMENTO, A.R.T., FELFILI, J.M. & MEIRELLES, E.M Florística e estrutura da comunidade arbórea de um remanescente de floresta estacional decidual de encosta, Monte Alegre, GO, Brasil. Acta Botanica Brasilica 18(3): PRADO, D.E. & GIBBS, P.E Patterns of species distributions in the dry seasonal forests of South America. Annals of Missouri Botanic Gardens 80: SANTOS, R.M., VIEIRA, F.A, FAGUNDES, M., NUNES, Y.R.F., GUSMÃO, E Riqueza e Similaridade florística de oito remanescentes florestais no norte de Minas Gerais, Brasil. Revista Árvore, (1): SILVA, L.A. & SCARIOT, A Composição florística e estrutura da comunidade arbórea em uma floresta estacional decidual em afloramento calcário (Fazenda São José, São Domingos, GO, Bacia do Rio Paranã). Acta Botanica Brasilica 17(2): SOUZA, V.C. & LORENZI, H Botânica sistemática: guia ilustrado para a identificação das famílias de angiospermas da flora brasileira, baseado em APG II. Instituto Plantarum, Nova Odessa, SP.
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