Pecuária na Amazônia Requerimentos para incrementar a sustentabilidade

Transcrição

1 III SIMPÓSIO ABCZ-CNPC DE PECUÁRIA SUSTENTENTÁVEL GASES DO EFEITO ESTUFA NA PECUÁRIA Uberaba-MG, 06 de maio de 2010 Pecuária na Amazônia Requerimentos para incrementar a sustentabilidade Antonio Ocimar Manzi manzi@inpa.gov.br Gerente Executivo do Programa LBA Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia INPA

2 Fatores de sustentabilidade Sociais Econômicos Ambientais

3 Fatores ambientais O crescimento da pecuária na Amazônia está associado com o aumento do desflorestamento, que acarreta: Perda de biodiversidade Erosão do solo Mudança no ciclo hidrológico e na qualidade das águas Altas taxas de emissão de gases de efeito estufa

4 Qual é o papel dos ecossistemas no balanço de água da Amazônia? A evapotranspiração é fonte de umidade para a precipitação regional Seu valor anual é de 50 a 60% da precipitação, em média A Amazônia é uma fonte importante de umidade para o resto do Brasil Além da contribuição da evapotranspiração, a floresta pode contribuir para a formação de chuvas na região fornecendo núcleos de condensação de nuvens (pólen, esporos, fungos, bactérias e especialmente compostos orgânicos voláteis que oxidam na atmosfera e produzem núcleos de condensação de nuvens - NCN) Os desflorestamentos e as queimadas afetam bastante a disponibilidade de NCN na região e influenciam muito as características das nuvens de chuva.

5 A substitução de florestas por pastagem Acarreta aumento da temperatura média e da temperatura máxima diária do ar em mais de 1 grau Celsius e diminuição da umidade do ar. Acarreta diminuição da evapotranspiração anual em torno de 30%, sendo mais acentuada na estação seca (~40%). Entretanto: Não há, ainda, resultados conclusivos sobre modificações nos regimes de chuva nas áreas desflorestadas. Porém: Simulações com modelos climáticos de desflorestamento total da Amazônia indicam, em geral, diminuição de chuvas anuais de até 20%, mas a distribuição não é uniforme. Em geral os modelos produzem redução de chuvas na parte leste e aumento na parte oeste da Amazônia. Os modelos também simulam importantes mudanças no transporte de umidade da Amazônia para a região centro-sul da América do Sul como resultado do desflorestamento em grande escala na Amazônia.

6 Precipitação total anual (cm, GCCP) Por que a Amazônia é importante para o clima da Terra? É porque a Amazônia é a maior fonte continental de energia para o sistema climático da Terra. (na formação das nuvens de chuva há condensação de vapor de água com liberação de energia - calor latente)

7 Biomass carbon increment (t C/ha/yr) Old oxisols Spodosol/psamment Ultisols Younger oxisols Crystalline shield Holocene alluvium Older alluvium Fertilidade crescente do solo inceptisols/andisols No contexto das mudanças climáticas globais a importância da Amazônia aumenta, porque as florestas amazônicas armazenam uma grande quantidade de carbono, da ordem de 10 vezes a emissão anual global de gases de efeito estufa (isso sem considerar o carbono do solo que é da mesma ordem de grandeza da biomassa viva). > 500 MSc. e Drs. SAF em área degradada Floresta formando nuvem/chuva Campanha intensiva LBA

8 Efeito estufa e aquecimento global

9 Lei de Stefan-Boltzmann (relaciona emissão de um corpo com sua temperatura de superfície) Corpos com temperatura T emitem radiação eletromagnética R seguindo a expressão R = ε σt 4 ε emissividade (=1 para um corpo negro) σ constante de Stefan-Boltzmann (5,67 * 10-8 W/m 2 /K 4 ) Ttemperatura em Kelvin (K)

10 Efeito Estufa ~ 5500 o C ~15 o C

11 Os gases interagem de maneira diferente com a radiação eletromagnética

12 Electromagnetic Radiation Absorption of Radiation by Molecules: rotational - vibrational rotational from: Peixoto and Oort: Physics of Climate, Figure 6.2

13 Balanço global de gases de efeito estufa (em gás carbônico equivalente)

14 EMISSÕES GLOBAIS DE GASES DE EFEITO ESTUFA Emissões de gás carbônico equivalente de origem fóssil (principalmente de carvão mineral e petróleo): taxa média anual de 7,2 [6,9 to 7,5] GtC em ( ~ 81,8 % DAS EMISSÕES ANUAIS TOTAIS ) Emissões de gás carbônico equivalente de mudanças de usos da terra (principalmente de desflorestamentos): taxa média anual de 1,6 [0,5 to 2,7] GtC nos anos 90 ( ~ 18,2 % DAS EMISSÕES ANUAIS TOTAIS ) Fonte: Relatório AR4 WGI do IPCC, 2007.

15 Emissões Antrópicas _ 2009 CO 2 emissions (PgC y -1 ) Fossil fuel Land use change PgC : Emissões: 8,7 PgC Taxa aumento: 2,0% 1990: +41% Taxa de aumento: 3,4% LUC 12% do total Jean Ometto - INPE

16 Perfil das Emissões Brasileiras Fonte: Jean Ometto - INPE

17 BALANÇO GLOBAL DE CARBONO (GtC/ano em CO2-eq) Atmosfera Superfície Redução das Fontes Aumento dos Sumidouros

18 ESTIMATIVA DE EMISSÕES POR CONVERSÃO DE FLORESTA EM PASTAGEM NA AMAZÔNIA Considerando : a quantidade de carbono da floresta no arco de desmatamento em torno de 150 toneladas por hectare, a taxa média anual de desflorestamento na década em torno de 19 mil quilômetros quadrados (1,9 milhão de hectares por ano), e a percentagem de conversão dos desflorestamentos em pastagens em torno de 70-80% A emissão total no período foi de 150 toneladas * hectares * 0,8 * 10 anos = 2,28 bilhões de toneladas de carbono ou seja, aproximadamente 2,5% das emissões anuais globais. Esse número diminuiu ~40% na média dos últimos 4 anos e ~60% no último

19 Taxa de desmatamento anual na Amazônia Legal Fonte: Jean Ometto - INPE

20 COMPRANDO COM AS EMISSÕES DE METANO PELA PECUÁRIA NA AMAZÔNIA NO MESMO PERÍODO Considerando : o rebanho de 56,5 milhões de animais em média no período , a emissão de 55 kg de metano por ano por animal, e o potencial de aquecimento global do metano equivalente a 25 vezes o do gás carbônico em uma base de 100 anos A emissão total de carbono (em gás carbônico equivalente) no período foi de 56,5 milhões de animais* 0,055 toneladas * 10 anos * 25 vezes / 3,66 = 0,21 bilhões de toneladas de carbono ou seja, aproximadamente 10% das emissões por desflorestamento ( 1 mol de CO2 = 44g; 1 mol de C = 12 g; fator de conversão de CO2 em C: 44g/12g=3,66 )

21 Estima-se que até 50% das pastagens na Amazônia estejam degradadas, em fase de degradação ou já abandonadas E que, portanto, tem sido historicamente pouco sustentável!

22 A recuperação e a intensificação do uso das áreas degradadas é uma alternativa para o aumento da produtividade da pecuária na Amazônia com preservação das florestas

23 Integração Lavoura-Pecuária-Silvicultura Sistemas Agrosilvipastoris para a Amazônia Exemplo: Diagnóstico e modelagem da integração lavourapecuária na região de Paragominas - Pará Embrapa Amazônia Oriental / Belém-PA Paulo Campos C. Fernandes (pauloccf@cpatu.embrapa.br) Marcia Mascarenhas Grise Luís Wagner R. Alves Austrelino Silveira Filho Moacyr B. Dias-Filho

24 Polo Paragominas - PA Municípios de: Paragominas Ulianópolis Dom Eliseu

25 Feijão caupi Terra Alta Feijão Caupi Palha de B. ruziziensis Paragominas Palha de B. humidicola Terra Alta Fonte: Paulo Fernandes, Embrapa

26 Terra Alta PA (10 ha) Segundo ciclo agrícola Mogno africano Teca Feijão Caupi Plantio Direto na Palha Fonte: Paulo Fernandes, Embrapa

27 Fonte: Paulo Fernandes, Embrapa

28

29

30

31 Rendimento da propriedade Ano (Talhões da propriedade) Margem Bruta (Receita - Custo) Agrícola A B C D E F G H R$/ha PP Pastagens Degradadas (66) 2 PP 28 3 PP PP PP PP PP PP Pastagens Perenes Produtivas PP PP PP PP PP PP PP PP Pastagens Perenes Produtivas PP 626 PP = Pastagem Perene Figura 2 - Simulação da recuperação de pastagens degradadas nos talhões da propriedade

32 Rendimento da propriedade Ano (Talhões da propriedade) Margem Bruta (Receita - Custo) Agrícola A B C D E F G H R$/ha Arroz Pastagens Degradadas 50 2 M+PA Arroz Soja M+PA Arroz M+PA Soja M+PA Arroz Soja M+PA Soja M+PA Arroz M+PP Soja M+PA Soja M+PA Arroz M+PP Soja M+PA Soja M+PA Arroz M+PP Soja M+PA Soja M+PA Arroz M+PP Soja M+PA Soja M+PA M+PP Soja M+PA Soja M+PP Soja M+PA Pastagens Perenes Produtivas M+PP Soja M+PA M+PP Soja M+PA M+PA Soja M+PA Soja M+PA Soja M+PA M+PP Soja M+PA Soja M+PA M+PP Soja M+PA Soja M+PA M+PP Soja M+PA Soja M+PA M+PP Soja M+PA Soja M+PA M+PP Soja M+PA Soja Pastagens Perenes Produtivas M+PP Soja M+PA M+PP Soja M+PA M+PP M+PA = Milho + Pastagem Anual em sucessão de culturas; M+PP = Milho + Pastagem Perene Figura 3 - Simulação da rotação e sucessão de culturas nos talhões de propriedade com pastagens degradadas

33 SISTEMAS AGROFLORESTAIS MULTIESTRATIFICADOS Dra. Lucietta Martorano, Embrapa

34 Considerações finais: As mudanças climáticas globais favorecem muitas iniciativas, em especial na pecuária praticada na Amazônia; Os sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta, por exemplo, no contexto de políticas públicas voltadas à produção, têm o potencial de diminuir drasticamente a pressão por novos desflorestamentos, ao mesmo tempo que pode aumentar a produção de carne, leite e madeira na região com sustentabilidade social, econômica e ambiental; O aumento da biomassa no solo e na vegetação, propiciado pelas técnicas modernas de manejo de pasagens, compensa parcialmente as emissões de metano pelo rebanho; A utilização de áreas cedidas pela pecuária e recuperação de áreas degradadas em reflorestamentos, na produção de agro(bio)combustíveis, e na uma agricultura que privilegie o aumento do estoque de carbono das plantas e do solo representa contribuição adicional à mitigação do aquecimento global.

35 Muito obrigado pela atenção! Antonio Ocimar Manzi Gerente Executivo do Programa LBA Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA

36

37

38

39 Rendimento da propriedade Ano (Talhões da propriedade) Margem Bruta (Receita - Custo) Agrícola A B C D E F G H R$/ha PP Pastagens Degradadas (66) 2 PP 28 3 PP PP PP PP PP PP Pastagens Perenes Produtivas PP PP PP PP PP PP PP PP Pastagens Perenes Produtivas PP 626 PP = Pastagem Perene Figura 2 - Simulação da recuperação de pastagens degradadas nos talhões da propriedade

40 Rendimento da propriedade Ano (Talhões da propriedade) Margem Bruta (Receita - Custo) Agrícola A B C D E F G H R$/ha Arroz Pastagens Degradadas 50 2 M+PA Arroz Soja M+PA Arroz M+PA Soja M+PA Arroz Soja M+PA Soja M+PA Arroz M+PP Soja M+PA Soja M+PA Arroz M+PP Soja M+PA Soja M+PA Arroz M+PP Soja M+PA Soja M+PA Arroz M+PP Soja M+PA Soja M+PA M+PP Soja M+PA Soja M+PP Soja M+PA Pastagens Perenes Produtivas M+PP Soja M+PA M+PP Soja M+PA M+PA Soja M+PA Soja M+PA Soja M+PA M+PP Soja M+PA Soja M+PA M+PP Soja M+PA Soja M+PA M+PP Soja M+PA Soja M+PA M+PP Soja M+PA Soja M+PA M+PP Soja M+PA Soja Pastagens Perenes Produtivas M+PP Soja M+PA M+PP Soja M+PA M+PP M+PA = Milho + Pastagem Anual em sucessão de culturas; M+PP = Milho + Pastagem Perene Figura 3 - Simulação da rotação e sucessão de culturas nos talhões de propriedade com pastagens degradadas

41 SISTEMAS AGROFLORESTAIS MULTIESTRATIFICADOS Dra. Lucietta Martorano, Embrapa

42 Considerações finais: As mudanças climáticas globais favorecem muitas iniciativas, em especial na pecuária praticada na Amazônia; Os sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta, por exemplo, no contexto de políticas públicas voltadas à produção, têm o potencial de diminuir drasticamente a pressão por novos desflorestamentos, ao mesmo tempo que pode aumentar a produção de carne, leite e madeira na região com sustentabilidade social, econômica e ambiental; O aumento da biomassa no solo e na vegetação, propiciado pelas técnicas modernas de manejo de pasagens, compensa parcialmente as emissões de metano pelo rebanho; A utilização de áreas cedidas pela pecuária e recuperação de áreas degradadas em reflorestamentos, na produção de agro(bio)combustíveis, e na uma agricultura que privilegie o aumento do estoque de carbono das plantas e do solo representa contribuição adicional à mitigação do aquecimento global.

43 Muito obrigado pela atenção! Antonio Ocimar Manzi Gerente Executivo do Programa LBA Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA