SEXUALIDADE NA ESCOLA: AMPLIANDO LIMITES, DESAFIANDO E RECONHECENDO POSSIBILIDADES
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- Gabriel Coradelli Brezinski
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1 SEXUALIDADE NA ESCOLA: AMPLIANDO LIMITES, DESAFIANDO E RECONHECENDO POSSIBILIDADES Resumo Nathália Hernandes Turke1 - UEL Fábio Augusto Joinhas2 - UEL Felipe Tsuzuki3 - UEL Virgínia Iara de Andrade Maistro4 - UEL Grupo de Trabalho - Educação, Complexidade e Transdisciplinaridade Agência Financiadora: CAPES Pesquisas educacionais recentes revelam muitas crianças e adolescentes expostos a assuntos relacionados à sexualidade cotidianamente. Sem a instrução dos pais ou qualquer outra maneira segura para sanar suas dúvidas sobre o tema, estes jovens acabam encontrando respostas em redes midiáticas, como televisão e internet, bem como através de amigos, os quais, muitas vezes, acabam repassando informações equivocadas. Esta pesquisa teve como objetivo averiguar a instrução, o preparo e o conhecimento dos professores para abordar a sexualidade em sala de aula de forma séria e natural. Para tanto, utilizou-se questionários respondidos por vinte e oito professores da rede pública de educação do Paraná compostos por sete perguntas que testavam o conhecimento a priori deles sobre educação sexual e se os mesmos já haviam se envolvido em projetos ou qualquer tipo de atividade curricular ou extracurricular vinculados ao tema. Posteriormente, foi proposta uma tabela em que se relacionavam os temas inclusos na sexualidade, como gravidez, gênero, IST, higiene, corpo humano e assim sucessivamente, com a dificuldade que o professor julgava pertinente (fácil, médio ou difícil de ser falado em sala de aula). Alguns profissionais da educação assumiram que fazem pesquisas independentes, por curiosidade própria e para ajudá-los a sanar dúvidas de seus alunos. Professores que não se julgavam aptos a lecionar a sexualidade (oito) declararam que o tema deveria ser trabalhado na disciplina de ciências/biologia, entretanto a maioria (dezessete) afirmou se tratar de um assunto interdisciplinar. Alguns deles estavam 1 Graduanda do quarto ano de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Londrina (UEL). nathalia.turke@hotmail.com. 2 Graduando do primeiro ano de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Londrina (UEL). fabio.joinhas@gmail.com. 3 Graduando do primeiro ano de Ciências Biológicas da Universidade Estadual de Londrina (UEL). felipe.tsuzuki@outlook.com. 4 Doutora em Ensino de Ciências e Educação Matemática pela UEL. Professora estatuária da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Docente da UEL da disciplina de Metodologia e Prática de Ensino de Ciências Biológicas e do Estágio Supervisionado Obrigatório da Licenciatura em Ciências Biológicas. Participante da comissão de Projetos de Extensão da UEL. Docente do curso de Pós Graduação em Ensino de Ciências Biológicas na disciplina Educação Sexual/Sexualidade. Colaboradora do Programa de Licenciaturas Internacionais (PLI) UEL/Universidade de Coimbra. virginiamaistro@yahoo.com.br. ISSN
2 20137 engajados ou trabalhavam com educação sexual, porém foram unânimes ao declarar a necessidade de projetos, palestras, oficinas e aulas sobre sexualidade e suas vertentes na escola em que lecionam. Concluiu-se que se faz necessário inserir a disciplina de educação sexual nas grades curriculares de cursos de licenciatura, pois se torna evidente a necessidade e a importância de trabalhar isto em sala de aula. Palavras-chave: Educação Sexual. Escola. Professores. Introdução Quando se fala em sexualidade, a primeira coisa que passa na cabeça da maioria das pessoas é sexo e órgãos genitais femininos e masculinos, contudo sexualidade é mais do que isso. A etimologia da palavra possui o seguinte significado: identidade sexual do indivíduo, sexualidade é o desejo de contato, o carinho, o amor, o prazer, sua construção e interiorização de sentimentos (FREITAS & DIAS, 2010). Assim, destaca-se que a sexualidade: é uma das dimensões do ser humano que envolve gênero, identidade sexual, orientação sexual, erotismo, envolvimento emocional, amor e reprodução. É experimentada ou expressa em pensamentos, fantasias, desejos, crenças, atitudes, valores, atividades, práticas, papéis e relacionamentos... Sexualidade se refere não somente às capacidades reprodutivas do ser humano, como também ao prazer. Assim, é a própria vida (CASTRO, ABRAMOVAY e SILVA, 2004, p. 29). Nos livros didáticos a sexualidade está relacionada apenas às estruturas biológicas mais exteriores, tais como órgãos sexuais, seios, pomo de adão (no homem), mas tal conceito vai além (TRINDADE; FERREIRA, 2008). Figueiró (2006) infere que a sexualidade é também culturalmente determinada e as informações sobre ela trabalhadas na escola precisam envolver reflexão, tanto individual, quanto coletiva, pois é este exercício que permitirá ao aluno reconhecer-se como sujeito de sua sexualidade. A sexualidade está na escola porque ela faz parte dos sujeitos, ela não é algo que possa ser desligado ou algo do qual alguém possa se despir (LOURO, 1999, p. 81). Ou seja, apesar de muitos professores não se sentirem à vontade para abordar o tema em sala de aula, o mesmo está presente no dia-a-dia escolar, e a partir do momento em que os alunos não encontram espaço para esclarecer suas dúvidas na escola, ou até mesmo em casa, os mesmos vão procurar por informações através de redes midiáticas, como televisão e internet, bem como com os amigos, os quais, na maioria das vezes, acabam repassando informações equivocadas.
3 20138 Figueiró (2009) evidencia o despreparo dos professores para lidar com o tema ao dizer que todo o processo formativo dos professores, tanto no magistério, quanto nas licenciaturas, não os tem preparado para abordar a questão da sexualidade no espaço da escola. A humanidade é fruto de uma sociedade repressora, sexista e discriminatória, pautada em crenças, valores, tabus, preconceitos e falsos moralismos, onde sexo é tachado como pecado, feio, sujo, imoral, promíscuo e proibido, levando os professores e alunos a possuírem certo medo de falar abertamente sobre o assunto. Precisa-se entender que: mitos sexuais existem e podem ser compreendidos como concepções errôneas e/ou inadequadas que podem surgir a partir de rumores, ou mesmo, através de uma educação sexual pouco elaborada e crendices populares. Os tabus sexuais são aspectos da sexualidade que a sociedade, de certa forma, não aceita, como a homossexualidade, a masturbação, a iniciação sexual da mulher antes do casamento, etc. Ainda hoje, quando se fala sobre sexo e sexualidade, muitos remetem a valores e crenças revestidas de preconceitos, tabus, mitos e estereótipos (PICAZIO et al., 1998; FURLANI, 2003; CANAVAL et al., 2006) É necessário pensar que a maior finalidade da educação sexual a qual deve ser tratada de maneira não diretiva e incentivadora, mas sim apenas como fonte de conhecimento é contribuir para que os educandos possam viver bem a sua sexualidade, de forma saudável e feliz, sendo possível concluir que o professor que ensina sobre sexualidade, de forma humanizadora, está sendo mediador de esperanças e de projetos de vida (FGUEIRÓ, 2006, p. 17). Figueiró (2006) fundamenta que há de [...] oportunizar a todos os professores uma formação adequada para que esses profissionais construam em suas escolas um ambiente livre de preconceitos, que privilegie o diálogo, dando aos alunos a oportunidade de expor seus sentimentos, dúvidas e medos. Neste trabalho será apresentado um estudo feito com professores do ensino Fundamental e Médio, tendo como objetivo analisar se eles estão aptos a trabalhar sexualidade com seus alunos, ou melhor, se possuem formação e capacidade para sanar as dúvidas dos jovens quando for necessário, sem deixar que suas crenças interfiram no modo de trabalhar os temas com os educandos. Temas a serem desenvolvidos nas aulas de educação sexual É necessário entender que o termo sexualidade é extremamente abrangente e importante. Ao desenvolver uma aula, uma palestra ou uma oficina, tendo como tema educação sexual, deve-se compreender quais os diferentes temas que precisam ser
4 20139 abordados com os ouvintes, de acordo com a faixa etária de cada um. Sendo que os próprios adolescentes podem fazer uma lista de temas que gostariam que fossem discutidos. Por conta de experiências vivenciadas nas escolas, o que mais os jovens solicitam é que haja uma discussão franca e livre de preconceitos e tabus sobre os mais diversos temas que envolvem a sexualidade. Querem falar sobre seus anseios, angústias e medos, elegendo a gravidez precoce e seus desdobramentos, os métodos contraceptivos, as diversas orientações sexuais, seus desejos, as IST (Infecções Sexualmente Transmissíveis) e, apesar de estarem postos nos livros didáticos, apontam a necessidade de reforçar sobre os órgãos que constituem os aparelhos reprodutores masculino e feminino e suas funções, bem como, higiene íntima e a menstruação. No momento em que se aponta a necessidade de trabalhar estes e outros tantos assuntos, a maioria dos professores de outras áreas do conhecimento aponta que o lugar certo para tais discussões é nas aulas de ciências ou biologia. Compreende-se que a educação sexual deve perpassar todas as disciplinas de maneira transversal, uma vez que a sexualidade está presente em todos os instantes da vida, desde o nascimento até à morte. Diversos são os recursos didáticos que podem ser escolhidos quando se quer e/ou se faz necessário trabalhar sexualidade. É possível utilizar jogos, brincadeiras, textos, vídeos, debates e assim por diante. Porém, a maioria dos professores ainda não se sente aptos em criar espaços de discussões e reflexões sobre o tema com os jovens, por uma série de motivos, que vão desde inibição e vergonha, a educação repressora que tiveram, a religião que professam, por acharem que é de responsabilidade dos pais, até por não terem a formação necessária para tal, e por outros tantos motivos. Diante deste quadro, ainda observa-se enorme carência de profissionais da educação aptos a trabalhar sexualidade com os alunos nas escolas, mas Osório (1992) confirma a necessidade de aplicar educação sexual no ensino fundamental apontando que a adolescência é uma etapa da vida na qual a personalidade está em fase final de estruturação e a sexualidade se insere nesse processo, sobretudo como um elemento estruturador da identidade do adolescente, e Melhado (2008) afirma que a gravidez nesta faixa etária ainda é um dos maiores problemas sociais e de Saúde Pública de alguns países. É possível notar que em muitas escolas existem adolescentes e até crianças grávidas. Isso se dá, em sua maior parte, por conta da falta de informação sobre como praticar sexo seguro e se prevenir contra gravidez e infecções.
5 20140 Muitos pais e professores acreditam que, ao se trabalhar sexualidade com seus filhos e alunos, poderá despertá-los para os assuntos que remetem a sexo e que, até aquele momento, os jovens não pensavam sobre eles. Porém, é necessário compreender que quando se aborda esse tema com as crianças e adolescentes o enfoque é saúde, responsabilidades, prevenção, respeito, cidadania e conhecimento sobre seu corpo. Não se pode negar que há uma tendência na diminuição da idade da primeira relação sexual (LOPES; MAIA, 1993), ou seja, muitas meninas e meninos de 11,12, 13 anos (ou até menos) já estão transando muitas vezes sem um preparo físico e psicológico para isso, bem como sem informações sobre como se cuidar. Assuntos polêmicos, tais como aborto, diversidade sexual, gênero, são pouco trabalhados em sala de aula. Mesmo em pleno século XXI ainda há preconceito, falta de informação e ignorância sobre estes e outros temas que tratam da sexualidade É necessário e importante abrir espaços de diálogos com os alunos, para que possam compreender e manifestar suas opiniões com respeito e amor ao próximo. Metodologia A pesquisa foi realizada com 28 professores, sendo cinco de uma escola municipal e vinte e três de uma escola estadual, localizadas no norte do Paraná. Foi elaborado um questionário dividido em três partes, onde a primeira abrangeu a apresentação do entrevistado, onde foi perguntado o nome do mesmo havendo a opção de permanecer no anonimato, idade, sexo, área de atuação, formação, religião, período (matutino, vespertino ou noturno) e instituição de ensino em que leciona e faixa etária dos alunos com os quais trabalha. A segunda parte foi constituída por sete perguntas sobre sexualidade, as quais seis foram de opinião pessoal O que você entende por sexualidade? Quais temas devem ser tratados com os alunos quando se fala sobre isso? Em qual disciplina deve ser tratado sexualidade? Por quê? Já ministrou alguma aula que teve como tema educação sexual? Se sim, o que você trabalhou com os alunos e como lidou com isso? Acha natural e necessário falar sobre o tema na escola? A partir de qual faixa etária? Você se considera apto e seguro para trabalhar sexualidade com seus alunos? Por quê? Em sua opinião, a abordagem pedagógica sobre sexualidade deve ser feita através de que? e uma de cunho acadêmico Na escola em que trabalha, já foi desenvolvida alguma atividade, oficina, sobre sexualidade,
6 20141 gênero e/ou orientação sexual? Se sim, qual? Se não, você acha que algo do tipo deveria ser feito? A terceira parte se deu em uma tabela com 15 temas (mudanças físicas e emocionais na puberdade, gravidez na adolescência, higiene íntima, IST, sentimentos, autoestima, homossexualidade/bissexualidade, pedofilia/estupro, masturbação, orgasmo/ejaculação/desempenho sexual, menstruação, feminismo/machismo, transexualidade, virgindade e pornografia) para que os professores marcassem como fácil, médio ou difícil de trabalhar com os alunos, ou como não falaria, onde se está deixando claro que não se sente à vontade para falar sobre determinado assunto em sala de aula. Os questionários foram analisados mediante a questão: Os professores estão aptos para trabalhar sexualidade na escola? Ou é extremamente necessário que haja uma formação acadêmica para isso (através de matérias implantadas na graduação e/ou cursos especializados)? Resultados e Discussão Foi observado que cinco dos vinte e oito professores entrevistados não perceberam que havia frente e verso e acabaram respondendo apenas a primeira parte da folha, a qual consistia na caracterização do entrevistado e nas quatro primeiras perguntas. As respostas dos professores foram analisadas e avaliadas questão por questão. Com relação à religião que professam, dezenove são católicos, quatro não tem religião nem crença definida, dois são evangélicos, dois são espíritas e um é agnóstico. A primeira questão estava associada com o conceito de sexualidade, tendo como objetivo avaliar se sabem do que se trata, bem como os temas que a ela remetem. É possível notar nos exemplos citados a seguir que poucos foram capazes de dar uma resposta completa e satisfatória (professores 1 a 7) a maioria definiu apenas apresentando exemplos de temas associados com a educação sexual, como gravidez, infecções, métodos contraceptivos, gênero e assim por diante. Contudo, alguns professores responderam satisfatoriamente (professores 8 a 11), detalhando o que é sexualidade em sua concepção, sem focar apenas em relação sexual e suas consequências, mas também no desenvolvimento do corpo de cada indivíduo, bem como na presença da sexualidade no dia-a-dia de cada um.
7 20142 Em apenas um questionário foi notado certo preconceito ao se falar sobre o tema (professor 12), deixando claro que, na opinião do entrevistado, a relação sexual só deve ser praticada entre um homem e uma mulher. Quadro 1 Respostas dos professores para a primeira pergunta do questionário. Entrevistados Área de atuação (matéria em que leciona) Respostas para a questão: O que você entende por sexualidade? Quais temas devem ser tratados com os alunos quando se fala sobre isso? Professor 01 Matemática Situações que envolvam a sexualidade. Sexo, gravidez, doenças, etc. Professor 02 Física Um tema extenso. Desde quanto ao gênero, escolha de relação quanto ao gênero, até como você vê e prática o sexo. Professor 03 Geografia Tema complexo. A gravidez em idade escolar (precoce). Professor 04 Geografia Reprodução responsável. Paternidade responsável. Orientação sexual e gênero. Professor 05 Português Tudo que se relaciona a mudanças, opções, doenças sexuais. Puberdade, escolhas sexuais, DST, questões de gênero, machismo, etc. Professor 06 Química É o estudo de diversos temas relacionados ao tema principal. Masturbação, homossexualidade, pedofilia e gravidez na adolescência. Professor 07 Matemática Comportamento e atitudes relacionadas ao gênero. Professor 08 Ciências Sexualidade é a parte integrante da personalidade de cada ser humano. Seu desenvolvimento depende da satisfação de necessidades humanas, como desejo de contato, intimidade, expressão emocional, prazer, amor e etc. Diversos são os temas, os quais estão citados na questão 8. Mas deve-se respeitar a faixa etária de cada educando. Professor 09 Ensino Profissionalizante Forma de conhecer o próprio corpo e sua relação com o outro. Temas diversos. Mudanças do corpo, atração sexual, gênero, etc. Professor 10 Português Sexualidade é a força interior que move o ser humano em todas as suas ações e o define como homem e mulher a sexualidade se manifesta em todas as ações da pessoa. Professor 11 Artes Conjunto de sentimentos, comportamentos, atitudes, criatividade, sensações e elaborações sobre as questões relacionadas ao sexo e o assunto deveria ser tratado com os alunos ao máximo. Professor 12 Química Sexualidade é um ato íntimo entre duas pessoas (casal) que mantem uma relação de afinidade e afeto. Fonte Dados organizados pelos autores, com base nas respostas dos professores. Nos questionários observou-se claramente que alguns professores, equivocadamente, acham que educação sexual é um tema a ser trabalhado apenas em ciências e biologia oito professores responderam que é algo a ser falado apenas nessas duas matérias; dois disseram que deve ser tratado em ciências e biologia, porém em filosofia e sociologia também. Apenas um professor respondeu que sexualidade deve ser sim abordada na escola, em todas as matérias, mas é algo que primeiro tem que ser tratado em casa, com a família (professor 13). O restante (17 professores) respondeu que é um tema interdisciplinar e deve ser tratado em todas as disciplinas, principalmente quando surgir alguma dúvida por parte dos alunos. Metade dos professores respondeu que não se consideram aptos e nunca ministrou alguma aula que teve como tema a sexualidade. A outra metade disse que se sente seguro para
8 20143 falar sobre o assunto e que já o trabalhou, mas muitos deixaram explícito que apenas foi citado algo relacionado ao tema quando foi abordado por algum aluno (professores 21 aos 23). Porém, alguns explicaram como e onde foi desenvolvida alguma atividade com os educandos (professores 10, 05 e 13 aos 20). Quadro 2 Respostas dos professores para a terceira pergunta do questionário. Entrevistados Área de atuação (matéria em que leciona) Respostas para a questão: Já ministrou alguma aula que teve como tema educação sexual? Se sim, o que você trabalhou com os alunos e como lidou com isso? Professor 14 Educação Especial Sim, no curso em D.M (deficiência mental), apresentando uma aula sobre educação sexual para alunos P.C (com paralisia cerebral). Trabalhei com revista Veja. Falei sobre casamento. Fiquei um pouco ansiosa/insegura, mas consegui ministrar bem a aula. Professor 10 Português Sim, trabalhei vários conteúdos, principalmente o desenvolvimento do corpo humano, tabu para os adolescentes. Dei de forma natural Professor 13 História Sim, já trabalhei a questão de gênero e identidade em vários períodos e conceitos históricos. Anacronismos de conceitos e história da saúde sexual; prostituição. Professor 15 Artes Desenho e pintura, usando figuras recortadas de revistas com vários tipos humanos, de todas as identidades sexuais. Professor 05 Português Sim, quando se trata de argumentar sobre aborto. Professor 16 Filosofia Na filosofia surge o tema quando debatemos sobre liberdade, direitos humanos, autonomia. A abordagem se dá a partir da constatação da realidade da turma, ampliando a questão e problematizando. Professor 17 Inglês Já sim. Com textos e dados comparando Brasil com outros países. Professor 18 Biologia Durante o bimestre ao tratar de cromatina sexual. Os alunos fizeram perguntas sobre sexualidade. Com os alunos do ano do Ensino Médio, ao falar sobre vírus e bactérias, falei sobre DST. Como o magistério tem muitas grávidas, elas têm muitas perguntas. Professor 19 Geografia Sim. Para adultos em municípios da 17ª. regional de saúde. Faz muito tempo. Professor 20 Sociologia Sim. Trabalhei com uma turma do 1º. ano em Técnico de Administração sobre como ocorre a gravidez, o perigo das doenças (DST). Professor 21 Matemática Nunca consegui achar uma forma de aplicar este assunto na matemática, mas converso com os alunos quando ouço algum comentário. Professor 22 Ciências Não, mas todos os dias me deparo com situações que me obrigam a falar sobre o assunto. Professor 23 Ensino Fundamental Complementar Não, mas às vezes me deparo com essa situação e assim me faço a explicar aos alunos alguns fatos da vida que falam sobre educação sexual. Professor 25 Matemática Não, por não ter nenhuma experiência e nem pesquisado sobre o assunto, mas quando eu entrar em estatística estou pensando em tentar abordar o assunto. Fonte Dados organizados pelos autores, com base nas respostas dos professores. Todos os entrevistados foram unânimes ao falar que é extremamente necessário ministrar esse tema nas escolas, havendo mudança de pensamentos apenas com relação à faixa etária a ser trabalhada. A maioria concorda que é algo a ser conversado em qualquer faixa etária, dependendo da necessidade da sala de aula e das dúvidas que cada aluno possui. Com relação aos que especificaram a idade na qual deve ser começado a discutir sexualidade,
9 20144 disseram, em sua maioria, que a mesma deve ser abordada a partir do ensino fundamental I e II. Quadro 3 Respostas dos professores para a quarta pergunta do questionário. Entrevistados Área de atuação (matéria em que leciona) Respostas para a questão: Acha natural e necessário falar sobre esse tema nas escolas? Professor 16 Filosofia Sim, sem dúvida. Professor 24 Educação Infantil Complementar Sim, nos dias atuais não é mais uma opção; é uma necessidade. Professor 02 Física Sim, faz parte da educação e também é uma questão de saúde. Professor 13 História Pessoalmente sim, mas está sendo complicado frente a essa onda conservadora cristã tratar esse assunto com naturalidade na escola. Professor 20 Sociologia Sim. Observo que no período da tarde já se faz necessário a orientação sexual, por causa dos estímulos sexuais externos existentes na sociedade, como os meios de comunicação em massa, as músicas, entre outros. Professor 08 Ciências Sim, pois surgem várias perguntas referentes a este assunto. Professor 23 Ensino Fundamental Complementar Sim, é necessário. Dependendo da criança e sua vida familiar, procuro conversar a respeito da melhor maneira possível. Fonte Dados organizados pelos autores, com base nas respostas dos professores. Tabela 1 Respostas dos professores sobre a faixa etária a começar a trabalhar sexualidade nas escolas. Educação infantil Ensino fundamental I Ensino fundamental II Independente da faixa etária Fonte Dados organizados pelos autores, com base nas respostas dos professores. Não sabe a idade apropriada As duas últimas perguntas possuíam como proposta saber se, na escola em que o professor leciona, teve o desenvolvimento de alguma atividade sobre sexualidade, bem como quais materiais didáticos poderiam ser utilizados no desenvolvimento desses projetos. Cinco professores não responderam, nove docentes afirmaram que não teve algum trabalho na escola e quatorze falou que houve, especificando os mesmos. Quadro 4 Respostas dos professores para a sexta pergunta do questionário. Entrevistados Professor 09 Professor 23 Área de atuação (matéria em que leciona) Ensino Profissionalizante Ensino Fundamental Complementar Respostas para a questão: Na escola em que trabalha, já foi desenvolvida alguma atividade, oficina sobre sexualidade? Se sim, qual? Se não, você acha que algo do tipo deveria ser feito? Não. Deveria ter oficina nas semanas pedagógicas com algumas abordagens sobre o assunto. Sim. Com a psicóloga já faz alguns anos, com crianças de 10 a 14 anos. Eles gostaram, pois algumas coisas que ela passou em vídeo e conversa eles não sabiam. Foi boa a experiência que tive junto com eles e com a psicóloga. Professor 16 Filosofia Muito pontual. A equipe pedagógica incentivou a poucos dias e estou preparando uma abordagem, mas de forma indireta. Professor 17 Inglês Algumas vezes em projetos e trabalhos da semana cultural. Professor 13 História Sim. A professora de ciências trabalhou sobre AIDS, gravidez e
10 20145 DST e foi exposto na semana cultural. Professor 06 Química Não. Acredito que sim. Professor 01 Matemática Sim. A professora de ciências fez maquetes com massinhas, com os órgãos reprodutores. Professor 14 Educação Especial Sim, palestra com aguentes de saúde. É primordial, seria necessário pelo menos uma vez ao mês. Professor 15 Artes Sim, durante o ano existe uma data chamada Rina Rosa e Rina Azul, onde estes temas já foram abordados. Professor 25 Matemática Estou pelo primeiro ano no colégio, mas parece que não foi feito nada a esse respeito. Precisamos, com urgência, de oficinas como estas, uma vez que os alunos têm engravidado e estão com doenças, sem contar as dúvidas. Professor 18 Biologia Como sou professora PSS, ainda não encontrei uma escola que tenha feito este trabalho no ano que eu estive presente. Acredito que seja interessante ter palestras sobre o assunto. Fonte Dados organizados pelos autores, com base nas respostas dos professores. Com relação aos materiais didáticos a serem utilizados, foram citados palestras, discussões de situações reais, práticas, vídeos educativos, conversas, pesquisa sobre o tema, debates, orientações, músicas, noticiários, dinâmicas, leituras de textos e filmes. A última questão teve por objetivo concluir se os professores realmente estão aptos a discutir educação sexual em sala de aula, por conta de abordar diversos temas menos abrangentes, os quais estão contidos na sexualidade. O resultado da seleção dos assuntos pelos docentes foi tabelado para que fosse possível uma melhor observação dos mesmos. Tabela 2 Respostas dos professores sobre os temas propostos. Tema Fácil Médio Difícil Não falaria Mudanças físicas e emocionais na puberdade Gravidez na adolescência Higiene pessoal (íntima) IST (infecções sexualmente transmissíveis) Sentimentos Autoestima Homossexualidade/Bissexualidade Transexualidade Masturbação Orgasmo/Ejaculação/Desempenho sexual Menstruação Feminismo/Machismo Pedofilia/Estupro Virgindade Pornografia Fonte Dados organizados pelos autores, com base nas respostas dos professores. Nota-se que a maioria dos assuntos foram apontados como sendo fáceis de trabalhar com os alunos, todavia visualiza-se uma concordância entre os professores com relação aos temas classificados como difíceis. Dentre os temas que os docentes possuem maior dificuldade para abordar com os alunos estão Homossexualidade, Bissexualidade, Transexualidade, Pedofilia e Estupro. O que chama atenção são os temas que não seriam
11 20146 falados, em hipótese alguma. Entre eles, destaca-se Masturbação, Orgasmo/Ejaculação/Desempenho sexual e Pornografia. Ao ser conversado com os professores, durante o recolhimento dos questionários aplicados, muitos pediram que atividades focadas nesses temas fossem tratadas, pelos entrevistadores, com os alunos, por conta de acreditarem que não possuem preparo suficiente para abordar o assunto em sala de aula. Considerações Finais Através dessa pesquisa, observou-se que a religião de cada professor não influenciou em suas respostas e que houve enorme discrepância nos resultados enquanto alguns realmente estão aptos a trabalhar educação sexual, outros mal sabem do que se trata sexualidade. Notou-se também que muitos que se consideram capacitados para abordar esse assunto em sala de aula nunca ministrou uma aula específica sobre o tema apenas tirou/tira as dúvidas dos alunos quando os mesmos os abordam, ou trabalhou/trabalha sexualidade nas aulas de corpo humano, em ciências. Mas a dúvida é: será que tratam de outros temas relacionados à sexualidade ou fazem biologismo, achando que as aulas sobre corpo humano são suficientes? Algumas respostas foram realmente interessantes porque foi possível perceber que, apesar de muitos acharem que o tema sexualidade deve ser tratado, em sua maioria, nas aulas de ciências e biologia, diversos professores de outras áreas (História, Filosofia, Inglês e Artes, por exemplo) tentam adequar a temática nos assuntos abordados em sua matéria. Concluiu-se que muitos professores possuem medos, tabus, vergonhas e preconceitos ao falar sobre o tema, por conta da educação familiar que tiveram, pela religião que professam, pela escola que frequentaram não terem oportunizado tais discussões, e outros motivos. Nada obstante, todos foram unânimes ao proferir sobre a necessidade de se falar a respeito de sexualidade nas escolas. E, apesar de alguns professores se sentirem à vontade para falar sobre sexualidade com naturalidade, nem sempre possuem conhecimento para trabalhar detalhadamente um assunto tão complexo e abrangente, fazendo-se necessário a implantação de uma matéria específica sobre educação sexual nos cursos de graduação ligados à licenciatura. Ou, no mínimo, é preciso que os mesmos façam algum curso relacionado com o tema proposto.
12 20147 REFERÊNCIAS CANAVAL, E. G. et al. Salud de los adolescentes y regulación de la fecundidad. Invest Educ Enferm. 2006;24(1): CASTRO, M. G.; ABRAMOVAY, M; SILVA, L. B. Juventudes e sexualidades. Brasília: Unesco, p. FIGUEIRÓ, M. N. D. Formação de Educadores Sexuais: adiar não é mais possível. Campinas, SP: Mercado de Letras; Londrina, PR: Eduel, Educação Sexual: Como ensinar no espaço da Escola. In: Educação Sexual: múltiplos temas, compromissos comuns. Mary Neide Damico Figueiró (org.). Londrina: Eduel, FREITAS, Kelly Ribeiro de; DIAS, Silvana Maria Zarth. Percepções de adolescentes sobre sua sexualidade. Texto contexto - enferm. 2010, vol.19(2). Disponível em: < Acesso em 05 de julho de FURLANI, J. Mitos e Tabus da Sexualidade Humana. 2. ed. Florianópolis: Autêntica LOURO, Guacira Lopes. Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pósestruturalista. 3. ed. Petrópolis: Vozes, LOPES, G.; MAIA, M. Desinformação sexual entre gestantes adolescentes de baixa renda. Rev. Sexol., v. 2, n. 1, p , jan./julho MELHADO. A., SANT ANNA, M. J. C.; PASSARELLI, M. L. B. Veronica. Coates V. Revista Adolescência e Saúde - Gravidez na adolescência: V PDF v.5 n. 2 Abr./Jun OSÓRIO, L.C. Adolescente hoje. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, PICAZIO, C, et al. Sexo secreto: temas polêmicos da sexualidade. São Paulo, Summus, TRINDADE, Wânia Ribeiro e FERREIRA, Márcia de Assunção. Sexualidade feminina: questões do cotidiano das mulheres. Texto contexto - enferm. [online]. 2008, v.17, n(3).
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