ANÁLISE ERGONÔMICA DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO DOS DENTISTAS: UMA COMPARAÇÃO ENTRE A REDE PÚBLICA E O SETOR PRIVADO.
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- Luciano de Figueiredo Arruda
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2 1. Introdução Nos dias atuais é indiscutível a importância de um ambiente ergonomicamente adequado ao desenvolvimento do trabalho, ou seja, um ambiente projetado para se adaptar ao trabalhador de modo a proporcionar conforto e segurança ao mesmo. Um ambiente bem projetado, sob o ponto de vista da ergonomia, não só beneficia o trabalhador, mas traz vantagens às organizações já que eleva o nível de produtividade. Esse fato pode ser estendido a todos os campos e profissões, inclusive aos profissionais da odontologia. Diversos estudiosos vêm abordando temas relacionados com a ergonomia do ambiente de trabalho dos cirurgiões-dentistas, visto as diversas doenças ocupacionais que podem surgir decorrentes de um consultório projetado sem levar em consideração questões ergonômicas e, até mesmo, por causa das próprias atividades dos dentistas que muitas vezes exigem posturas não muito confortáveis. Encontram-se na literatura diversos artigos, dissertações de mestrado e teses de doutorado que apresentam esse tema apontando principalmente as doenças ocupacionais as quais o profissional dessa área está sujeito. Contudo, o que se verifica é uma carência de pesquisas voltadas para identificar se existem diferenças ergonômicas entre consultórios particulares e da rede pública, pois o profissional em questão geralmente trabalha nos dois ambientes. Dessa forma, esse trabalho parte da hipótese de que as condições de trabalho dos consultórios da rede pública são diferentes das condições dos consultórios particulares. E que essa diferença pode trazer danos maiores aos profissionais da rede pública de saúde. Segundo Silva (2001), a diferença entre esses dois tipos de consultórios pode ser observada no número de pacientes a serem atendidos, na disposição dos consultórios, no tipo e no arranjo físico dos equipamentos no local de trabalho, além da disponibilidade de profissionais e auxiliares para o atendimento. Diante desse contexto, esse estudo tem como objetivo analisar as condições de trabalho do cirurgião-dentista de consultórios públicos e particulares sob os aspectos da Análise Ergonômica do Trabalho (AET) e, a partir daí, verificar se há diferenças significativas entre esses dois ambientes de trabalho. 2. Análise ergonômica do trabalho A Análise Ergonômica do Trabalho (AET) é uma metodologia ergonômica que foi desenvolvida por estudiosos franceses com a finalidade da ergonomia de correção, ou seja, tem como objetivo aplicar os conhecimentos da ergonomia para analisar, diagnosticar e corrigir uma situação de trabalho real (IIDA, 2005). A parte de análise é constituída por três fases: análise da demanda, análise da tarefa e análise das atividades. O diagnóstico refere-se a um apanhado geral de tudo o que foi identificado nas três análises apresentando claramente os problemas identificados. A correção diz respeito às possíveis recomendações ergonômicas que podem ser feitas para melhorar o ambiente de trabalho. O presente trabalho tem como foco apenas a parte de análise, por esse motivo será apresentada, mais detalhadamente, nas próximas seções cada tipo de análise do trabalho e como cada um se relaciona com a profissão do odontólogo. 2
3 2.1 Análise da demanda Temos na demanda o início da análise ergonômica do trabalho. Sua utilização está na compreensão da natureza e das dimensões dos problemas apresentados. De acordo com Fialho e Santos (1997), podemos reconhecer três grupos de demanda na intervenção ergonômica: As demandas relacionadas com a implantação de um novo sistema de produção, cujo objetivo é a integração na concepção do projeto inicial do homem à atividade; As demandas relacionadas a resolver inconvenientes ao sistema de produção já implantado, tendo como objetivo o diagnóstico dos problemas e propor melhorias das condições de trabalho; As demandas relacionadas à identificação das novas condicionantes de produção onde se considera fatores que modificaram o sistema; seja por uma nova tecnologia implantada ou devido a alterações no processo produtivo/administrativo. No caso de um consultório odontológico particular o primeiro tipo de demanda apresentado acima pode ser relacionado com um projeto do posto de trabalho direcionado especificamente às condições e medidas que melhor caracterize o dentista ou empresa demandante. No sistema público de saúde esse projeto deve ser bastante flexível, pois não se tem conhecimento prévio dos diferentes biótipos dos profissionais que irão atuar nesse ambiente. Já o segundo tipo de demanda citado, tanto o consultório particular como o público, na maior parte das vezes, já foram estruturados sem considerar conceitos fundamentais da ergonomia aplicada à odontologia. Para o terceiro grupo de demanda uma intervenção ergonômica pode ser aplicada, por exemplo, quando um novo equipo for adotado. É importante enfatizar que o foco desse trabalho partiu de uma análise ergonômica voltada para a identificação dos problemas existentes, o que caracteriza o segundo grupo de demanda citado por Fialho e Santos (1997). 2.2 Análise da tarefa É a obra ou porção de trabalho que o trabalhador deve realizar bem como sua relação com as condições ambientais, técnicas e organizacionais, ou seja, a análise da tarefa consiste basicamente na análise das condições de trabalho da empresa. (FIALHO e SANTOS, 1997). Os profissionais da área de saúde ocupam um ambiente de trabalho bastante vulnerável a inúmeras doenças. Além disso, os métodos utilizados para a realização das tarefas em odontologia, bem como a relação homem-tarefa, dependendo do sistema organizacional, podem acarretar inúmeras queixas demandando uma análise para diagnosticar que condicionantes da tarefa precisam de ajustes. Fialho e Santos (1997) definem homem-tarefa como contexto que engloba não apenas as máquinas e suas condições técnicas de trabalho, mas também as condições organizacionais e ambientais de trabalho. Rasia (2004) em seus estudos sobre a ergonomia aplicada à odontologia, cita que os objetivos e procedimentos clínicos como sendo relevantes a serem organizados racionalmente de forma a prevenir e diminuir possíveis incômodos no trabalho (stress, cansaço, doenças musculares etc.) buscando maior conforto para a equipe e também para o paciente. Os meios colocados à disposição do profissional da odontologia, assim como para outras profissões da área de saúde, sempre dependeram de instrumentos ou aparelhos para a execução dos procedimentos terapêuticos. No entanto, essa função está a cargo da ISO/FDI que colocou à disposição dos profissionais desta área, algumas normas para orientação de como os procedimentos devem ser adotados 3
4 para a odontologia. Essas normas tanto orientam a posição dos profissionais envolvidos (cirurgião-dentista e o pessoal auxiliar) e o paciente, como também a disposição dos equipamentos para o profissional e para o pessoal auxiliar como mostra a Figura 1. Uriarte Neto (1999) denomina essa padronização como conceitos básicos que consultórios odontológicos precisam adotar. Figura 1 Diferentes localizações do cirurgião-dentista com base em um relógio imaginário Um ambiente de trabalho de um cirurgião-dentista é sua sala clínica. O posto de trabalho desse profissional reflete como elemento considerável na acomodação e satisfação dos pacientes e dos que nele trabalham. 2.3 Análise da atividade Dentro da AET pode-se entender atividade como o comportamento do trabalhador na realização de uma tarefa, ou seja, a partir da prescrição da tarefa a análise da atividade consistirá em observar a maneira como o profissional procede para atingir as metas estabelecidas. Em muitos casos a atividade é reconhecida como as possíveis ações que o trabalhador toma diante do trabalho. Essas ações, por sua vez, são consideradas como resultado do processo de adaptação entre os diversos fatores envolvidos no posto de trabalho (IIDA, 2005) Fialho e Santos (1997:24) conceituam atividade dentro do contexto da AET como aquilo que o trabalhador, efetivamente, realiza para executar a tarefa. É a análise do comportamento do homem no trabalho. A profissão do cirurgião-dentista tem como tarefa uma rotina diária de trabalho que exige dos membros superiores e estruturas contíguas uma freqüência de movimentos repetitivos padrão devido suas atividades clínica. (PIETROBON e REGIS FILHO, 2006). Quanto aos aspectos inerentes ao profissional da odontologia o tempo de atuação na área e, conseqüentemente, a idade podem ser considerados fatores de grande influência nas movimentações e posturas adotadas ao longo dos anos de prática nessa área. Outro aspecto importante diz respeito às diversas especialidades da odontologia que exigem movimentos e posturas diferentes que podem prejudicar em menor ou maior grau a saúde do profissional. Com relação aos fatores externos como iluminação, ruído, qualidade e disposição dos equipamentos, dentre outros, podem comprometer e prejudicar os movimentos necessários na execução de suas atividades. 4
5 Nesse trabalho as observações serão direcionadas aos movimentos motores adotados pelo dentista na execução da tarefa. Esse profissional na maioria do tempo executa sua profissão na posição sentada e utiliza praticamente os membros superiores para o trabalho. Além disso, como o acesso ao local a ser trabalhado (boca do paciente) é consideravelmente limitado o profissional acaba por realizar movimentos desconfortáveis para a coluna. 3. Material e métodos Para o desenvolvimento desse trabalho e o cumprimento do objetivo proposto, adotaram-se como base de metodologia ergonômica os princípios da Análise Ergonômica do Trabalho (AET). De acordo com Gil (1991), esta pesquisa caracteriza-se por um estudo exploratório e descritivo com uma abordagem qualitativa dos dados. Estes, por sua vez, foram obtidos através da observação sistemática dos postos de trabalho por meio de fotografias, bem como entrevistas semi-estruturadas gravadas com alguns profissionais de odontologia e seus assistentes tanto do serviço público quanto de clínicas particulares. No caso das entrevistas, o roteiro utilizado foi baseado na lista de verificações de analise ergonômica do posto de trabalho proposto pelos autores Dul & Weerdmeester (2001). Deve-se ressaltar que como se trata de um estudo de caso os resultados obtidos não podem ser estendidos a toda a população (LAKATOS & MARCONI, 1993). 4. Resultados e discussões 4.1 Análise da demanda A demanda desse estudo teve origem a partir de discussões com profissionais da área de odontologia que atuam em três ambientes. O setor público, privado e a universidade. Estes profissionais mostraram os problemas que eles percebem na realização de suas atividades e apontaram como relevante o desenvolvimento de estudos ergonômicos. Em especial, o profissional que atua na universidade se prontificou em ajudar com diversos materiais já que o mesmo possui conhecimento e ministra aulas sobre Orientação Profissional, disciplina esta que abrange conhecimentos sobre ergonomia voltada à odontologia. Contudo, para diferenciar-se de estudos já existentes na ergonomia aplicada à odontologia procurou-se comparar o setor público com o particular. Nesse sentido, foram entrevistados tantos os odontólogos como seus respectivos assistentes. Como resultado das entrevistas no que se refere à demanda, os dentistas do serviço público e do particular são do sexo feminino, especialistas em endodontia, dentro da faixa etária de 35 a 40 anos e com aproximadamente 10 anos de experiência profissional. Estas profissionais possuem uma jornada de trabalho diária de 8 horas. Quanto aos auxiliares também são do sexo feminino do tipo ACD (Atendente de Consultório Dentário), dentro da faixa etária de 30 a 35 anos e com aproximadamente 5 anos de experiência profissional. Estas profissionais possuem uma jornada de trabalho diária por volta de 12 horas. 4.2 Análise da tarefa ambiente físico O ambiente físico é um dos fatores condicionantes na qualidade do atendimento e que pode proporcionar bem estar aos profissionais. A primeira observação realizada nos postos de trabalho, quanto ao ambiente físico, foi a dimensão da sala de atendimento clínico. Segundo Barros (1993), a dimensão deve proporcionar conforto tanto para os profissionais como para os pacientes e para um trabalho a quatro mãos a área mínima ideal deve ser de 9m 2 do tipo 5
6 3x3. Foi identificado que ambos os consultórios não se enquadraram nesta dimensão. Foi questionado na entrevista se o tamanho da sala clínica comprometia a realização do trabalho. Todos os entrevistados responderam que acham a sala pequena, mas que isso não interfere na realização das suas atividades. Ainda segundo Barros (1993), o som, a iluminação e a climatização são fenômenos básicos para um aumento da qualidade do ambiente em que o cirurgião-dentista vive e desenvolve suas tarefas. No tocante ao ruído, os ambientes estudados possuem bom isolamento acústico onde não foi evidenciado, nas entrevistas, desconforto por parte dos profissionais (Odontólogos e ACD s), além dos inerentes presentes na rotina diária. Foi observada, apenas no serviço público, a presença de música ambiente na sala de atendimento clínico sendo considerada, pelos profissionais entrevistados e também por autores como Barbosa et al. (2003), fator que contribui para diminuição do stress e ansiedade durante o atendimento a pacientes com alguma aversão a cadeira do dentista. Uma das dentistas entrevistadas comentou que o trabalho com música é bom porque deixa o paciente mais relaxado. Quanto à iluminação, todos os ambientes foram classificados pelos profissionais como de boa intensidade luminosa, contribuindo para a acuidade do trabalho a ser executado. Em relação à climatização, alguns autores como Barros (1993) afirma que a temperatura afeta o desempenho no trabalho podendo gerar alguns desconfortos. Os entrevistados não apontaram nenhum desconforto térmico tanto no serviço público como no particular. No entanto, na observação do local constatou-se como fator negativo no consultório público a presença de umidade numa região próxima ao aparelho de ar condicionado tipo janela podendo ser caracterizado como infiltração no local, deficiência na instalação ou ainda falta de manutenção/limpeza Materiais e equipamentos No contexto odontológico, os materiais estão relacionados aos itens essências na execução do trabalho e na segurança tanto dos profissionais quanto do paciente. Segundo Jorge (2006), deve-se utilizar equipamentos de proteção individual (EPI) para coibir a contaminação do profissional de saúde e equipe por microrganismos contidos no sangue, fluidos orgânicos, secreções e excreções dos pacientes. São EPI s: luvas descartáveis para cada procedimento, avental impermeável, gorro, máscara e óculos de proteção. Do ponto de vista dos profissionais entrevistados, verifica-se que há disponibilidade de materiais nos dois setores (público e privado), entretanto a diferença percebida por eles está relacionada à qualidade. Em relação aos equipamentos foram analisados três fatores: a disponibilidade dos mesmos para a execução do trabalho, a adaptabilidade ao profissional e a disposição no ambiente físico. Foi verificado por meio das observações e fotos do local, que no setor público e particular existem todos os equipamentos necessários para a execução dos procedimentos a exceção do mocho do assistente. No fator adaptabilidade, foi identificado dois aspectos críticos. O primeiro está relacionado com o mocho do consultório público que apresenta apenas três níveis fixos de regulagem de altura e o seu encosto não possui nenhuma regulagem. Segundo Barros (1993) o mocho deve apresentar uma regulagem ampla e o encosto também deve ser deve ser regulável. Isso pode ser constatado na Figura 2 logo abaixo. 6
7 Figura 2: Mocho do consultório público (à esquerda) e do consultório particular (à direita) O segundo e último ponto crítico diz respeito à mesa de apoio onde foi observado que no público o profissional trabalha com uma mesa auxiliar fixa sem ajuste de altura enquanto que no particular essa mesa já faz parte do equipo podendo movimentar-se livremente. Como ilustrado a seguir na Figura 3. Figura 3: Mesa auxiliar do consultório público (à esquerda) e do consultório particular (à direita) Quando foi questionado na entrevista sobre a limitação de regulagem da mesa auxiliar do consultório público, a dentista comentou que para ela isso não afeta muito, pois atende às necessidades da sua altura. Contudo, a mesma disse que para uma profissional com estatura menor (a exemplo da dentista que trabalha nesse mesmo posto no turno da tarde) a falta de regulagem da mesa poderia dificultar o trabalho e, conseqüentemente, causar danos musculares. Quanto à disposição dos equipamentos dentro do ambiente, verificou-se por meio das fotografias que tanto o consultório público quanto o particular não obedecem às normas estabelecidas pela ISO/FDI em relação ao arranjo do equipo e dos demais móveis (como mostrado na Figura 1). Na Figura 4 pode ser observada uma visão panorâmica dos dois consultórios. Figura 4: Disposição dos equipamentos no consultório público (à esquerda) e do consultório particular (à direita) 7
8 Nas entrevistas a ACD que atua no consultório público reclamou bastante da disposição dos equipamentos fixos e móveis. Segundo essa entrevistada, a má distribuição dificulta seu trabalho, pois tem que buscar equipamentos e materiais em diferentes locais o tempo todo. A profissional entrevistada do setor privado comentou que os equipamentos no seu consultório são melhores projetados, facilitando o acesso ao que for necessário para a execução do trabalho. 4.3 Análise da atividade: as movimentações e posturas A observação direta dos movimentos realizados pelos dentistas no atendimento aos pacientes mostrou que muitas posturas adotadas são inerentes ao próprio trabalho, já que não foram identificadas diferenças significativas entre as posturas assumidas pelos endodontistas do consultório particular e do setor público. Estes profissionais, ao longo do dia, realizam muitos movimentos repetitivos e precisos o que exige bastante acuidade visual. Sua posição de trabalho é praticamente sentada, pouco se alterna entre espaços de tempo sentado e de pé. Quando foi questionado nas entrevistas sobre as movimentações realizadas durante a jornada de trabalho, a ACD do consultório público respondeu que a falta de um mocho próprio e a distribuição irregular dos equipamentos dentro do consultório faz com que ela tenha que andar bastante na sala. Para essa entrevistada, isso faz com que no final do dia sinta grande desconforto nas pernas (cãibras, varizes) alem de cansaço, dores na coluna e nos ombros. Em relação às dentistas, tanto do setor público como do consultório particular, elas responderam nas entrevistas que o movimento repetitivo ao longo dia, visto que elas atendem em média 4 a 5 pacientes durante 4 horas de trabalho, e a curvatura da coluna para realizar o tratamento é o que mais incomoda. As mesmas responderam que não alternam a postura de pé e sentada. Para a dentista do consultório público os movimentos e posturas adotadas no trabalho causam muitas dores nas costas, nos punhos e nas pernas. 5. Conclusões O posto de trabalho do dentista pode ser considerado um ambiente rico e propício para a realização de uma análise ergonômica, pois apresenta uma gama de itens a serem analisados que vão além do que este estudo se propôs. Foi possível, dentro de um estudo de caso, encontrar esclarecimentos para a hipótese formulada no início do estudo de que as condições de trabalho dos consultórios da rede pública são diferentes das condições dos consultórios particulares. A Análise Ergonômica do Trabalho (AET), por meio de ferramentas como observação sistemática, entrevistas semi-estruturadas e fotografias, possibilitou a obtenção de dados importantes para a análise dos fatores que podem afetar as condições de trabalho tanto dos consultórios públicos como dos particulares. Em relação aos fatores correspondentes ao ambiente físico (ruído, climatização, iluminação e o som ambiente), não foi evidenciado, por parte dos entrevistados, nenhuma irregularidade que possa prejudicar a execução do trabalho. Confrontado as respostas das entrevistas percebe-se que não existe diferença relevante entre os dois setores. Contudo, estudos mais aprofundados, utilizando instrumentos de medição (a exemplo de um luxímetro), poderiam apresentar resultados divergentes (ou não) ao qual esse estudo constatou. No tocante a observação dos materiais, a qualidade dos mesmos foi a principal diferença observada entre os dois setores, onde o setor público apresentou matérias de qualidade 8
9 inferior quando comparados aos materiais de clínicas particulares. Esta situação pode ser atribuída ao fato de que no setor público se trabalha na modalidade de licitação para tomada de menor preço, o que não ocorre nos consultórios particulares onde o profissional procura investir em materiais de uma melhor qualidade. No caso dos equipamentos, foram observadas algumas divergências significativas. No setor público, a limitação/falta de regulagem dos equipamentos no consultório, como o mocho e mesa auxiliar, evidenciou que as medidas antropométricas dos diferentes profissionais que atuam no mesmo consultório (sistema de revezamento por turno, característica fundamental deste setor) não são levadas em consideração. Essa realidade observada evidencia que este ambiente não considera os conceitos da ergonomia, pois nesse caso o homem que deverá se ajustar às condições de trabalho e não o contrário. Por fim, a análise da atividade mostrou que a má distribuição dos equipamentos, bem como a limitação de regulagens dos mesmos, pode ser apontada como uma das causas do excesso de movimentação desnecessária, assim como posturas inadequadas. Dentro de um contexto geral, foi observada a inexistência de diferenças entre os dois tipos de consultórios estudados o que demonstra que certos movimentos e posturas, as quais na maior parte das vezes são consideradas ergonomicamente incorretas, são inerentes ao próprio trabalho exercido por esses profissionais. Referências BARBOSA, M. B. C. B. et al. Odontologia em debate: ergonomia e as doenças ocupacionais. Feira de Santana: UEFS, BARROS, O. B. Ergonomia 2: o ambiente físico de trabalho, a produtividade e a qualidade de vida em odontologia. São Paulo: Pancast Editora, DUL, J. & WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. 3. ed. São Paulo: Editora Edgard Blücher, FIALHO, F & SANTOS, N. Manual de análise ergonômica do trabalho. 2 ed. Curitiba: Gênesis, GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, IIDA, I. Ergonomia: projeto e produção. 2. ed. Ver. E ampl. São Paulo: Edgard Blücher, JORGE, A. O. C. Princípios de biossegurança em odontologia. Infection control in dentistry. Disponível em: < Acesso em: 17 de dezembro de LAKATOS, E. M. & MARCONI, M. A. Fundamentos de metodologia científica. São Paulo: Atlas, NARESSI, W. G. Ergonomia em odontologia. O consultório: sua instalação, o ambiente físico de trabalho, o equipamento e a distribuição na sala clínica. Manual da Gnatus. [s.d.] PIETROBON, L. & REGIS FILHO, G. I. Cifoescoliose em cirurgiões-dentistas: uma abordagem ergonômica. XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de RASIA, D. Quando a dor é do dentista! Custo humano do trabalho de endodontistas e indicadores de DORT. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-graduação em psicologia. Brasília, SILVA, C. R. C. Constrangimentos posturais em ergonomia. Uma análise da atividade do endodontista a partir de dois métodos de avaliação. Programa de Pós-graduação em engenharia de produção. Florianópolis, 2001 URIARTE NETO, M. Caracterização do posto de trabalho do profissional de odontologia da cidade de Itajaí, SC. Dissertação de mestrado. Programa de Pós-graduação em engenharia de produção. Florianópolis,
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