A CONCORDÂNCIA DE NÓS E A GENTE EM ESTRUTURAS PREDICATIVAS NA FALA E NA ESCRITA CARIOCA. por. Juliana Barbosa de Segadas Vianna

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1 A CONCORDÂNCIA DE NÓS E A GENTE EM ESTRUTURAS PREDICATIVAS NA FALA E NA ESCRITA CARIOCA por Juliana Barbosa de Segadas Vianna Rio de Janeiro, agosto de 2006

2 ii EXAME DE DISSERTAÇÃO VIANNA, Juliana Barbosa de Segadas. A concordância de nós e a gente em estruturas predicativas na fala e na escrita carioca. Dissertação de Mestrado em Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras/ UFRJ BANCA EXAMINADORA: ORIENTADORA: Professora Doutora Célia Regina dos Santos Lopes UFRJ Professora Doutora Márcia dos Santos Machado Vieira UFRJ Professora Doutora Maria Maura da Conceição Cezario UFRJ Professora Doutora Silvia Rodrigues Vieira UFRJ Suplente Professora Doutora Ana Maria Stahl Zilles UNISINOS Suplente Examinada a Dissertação Conceito: Em: / / 2006.

3 iii A CONCORDÂNCIA DE NÓS E A GENTE EM ESTRUTURAS PREDICATIVAS NA FALA E NA ESCRITA CARIOCA por Juliana Barbosa de Segadas Vianna Programa de Pós-graduação em Letras Vernáculas Área: Língua Portuguesa Dissertação de Mestrado em Língua Portuguesa apresentada à Coordenação dos Cursos de Pósgraduação da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientadora: Professora Doutora Célia Regina dos Santos Lopes. Rio de Janeiro, agosto de 2006

4 iv À minha mãe, porto seguro contra todas as tormentas, apoio imprescindível de todos os dias, companhia carinhosa nas noites insones.

5 v AGRADECIMENTOS À Professora Célia Regina dos Santos Lopes, minha orientadora querida, que me apresentou à pesquisa científica e vem ampliando meus horizontes acadêmicos nos últimos cinco anos. Acredito que as maiores oportunidades que tive em minha carreira estão ligadas, mesmo que indiretamente, à sua orientação em minha vida profissional. Na minha opinião, as vitórias mais importantes derivam do sim à pergunta que fiz, nos corredores da Letras, em plena greve de Agradeço pela competência e disponibilidade, nas orientações, e também pela amizade, paciência e bom-humor contagiante que me inspiram a trilhar os caminhos tortuosos ainda que gratificantes e reveladores de uma carreira acadêmica. Sem seu apoio, esse trabalho não seria possível! À Carolina Morito Machado e Lucia Rosado Barcia, pela amizade e companheirismo em toda a trajetória comum. Agradeço à Carol, em especial, pela ajuda preciosa nas mais variadas situações durante os cursos, trabalhos finais, concursos, apresentações, etc e pela serenidade com que ouve os meus grandes pequenos problemas. E agradeço à Lucia, minha mais recente grande amiga, por estar sempre tão próxima e me ensinar a importância de zelar por uma amizade. Agradeço também pela excelente dica a respeito do computador; Ao Professor Afrânio Gonçalves, que nunca perde uma piada, embora perca alguns amigos; agradeço pelo bom-humor de sempre ainda que um tanto machista e pela oportunidade de trabalhar na Biblioteca Nacional, catalogando os manuscritos; Ao Professor Jorge dos Santos Nascimento e à Professora Sônia Maria Gouvêa Leite, por cederem tão gentilmente suas turmas para que eu pudesse aplicar os testes, sem os quais esse trabalho não seria possível; À Rosana Terra, pelo apoio e por ajudar na tradução para o Inglês; Às amigas claquianas, Suelen Salles e Michelli Bastos, por transformarem o

6 vi trabalho em algo prazeroso e muitíssimo divertido; Ao Gustavo Barbosa de Segadas Vianna, meu querido irmão, por digitar parte do trabalho e sempre mostrar o lado engraçado dos momentos de desespero, ainda que eu só percebesse a graça depois; À minha amada família de Belo Horizonte Maira, Ian, Aninha, Tio Zé, Simone e Lu, que sempre soube compreender as minhas diversas ausências nos últimos feriados, mas nunca deixou de me apoiar, embora isso significasse um distanciamento; Ao CNPq, pelo apoio financeiro. Por fim, agradeço a todos aqueles que, se não ajudaram, também não atrapalharam a conclusão desse trabalho.

7 vii Houve um momento entre nós Em que a gente não falou. Juntos, estávamos sós. Que bom é assim estar só! Fernando Pessoa A gente não faz amigos, reconhece-os. Vinícius de Moraes O nosso amor a gente inventa pra se distrair E quando acaba, a gente pensa Que ele nunca existiu Cazuza

8 viii SINOPSE O comportamento de nós e a gente, tendo em vista as estratégias de concordância de gênero, número e pessoa. Análise de amostras de fala não-culta e de escrita, entre informantes naturais do Rio de Janeiro. Estudo de cunho variacionista sobre a alternância das formas nós e a gente na escrita de informantes cariocas. Uso da metodologia oferecida pela Teoria da Variação. Aplicação de pressupostos funcionalistas e variacionistas.

9 ix SUMÁRIO ÍNDICE DE QUADROS, TABELAS, GRÁFICOS E FIGURAS ABREVIATURAS E CONVENÇÕES I INTRODUÇÃO... 1 II A DESCRIÇÃO DO OBJETO 2.1 A variação de nós e a gente no português brasileiro: da visão gramatical aos estudos lingüísticos A descrição tradicional Os estudos lingüísticos A entrada de a gente no sistema pronominal como um fenômeno de gramaticalização: resgate da origem histórica e reflexos estruturais A questão da concordância: rediscutindo os traços de pessoa, número e gênero do a gente pronominal Como a gramática tradicional explica o fenômeno? A concordância ideológica ou silepse de gênero Análises lingüísticas da concordância de nós e a gente em estruturas predicativas nas variedades brasileira e européia do português: algumas hipóteses...24 III PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS O fenômeno da gramaticalização A metodologia variacionista e o corpus utilizado O corpus oral...41

10 Sumário x A amostra de escrita: os testes aplicados Grupos de fatores controlados...44 IV ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS As estratégias de concordância de nós e a gente em estruturas predicativas: amostra PEUL A concordância verbal A presença dos traços de gênero e número nos adjetivos predicativos O controle do referente vs. estratégias de concordância: manutenção ou perda do caráter referencial do adjetivo? A variação da concordância de gênero entre as mulheres em um estudo de tendências: a generalização do [masc-sg] com a gente na curta duração A variação nós / a gente nos testes escritos Panorama da freqüência geral de nós e a gente: confronto entre fala e escrita A variação nós / a gente nos testes escritos: fatores selecionados A concordância verbal A concordância de gênero e número O Tempo Verbal A Escolaridade...94 V CONSIDERAÇÕES FINAIS VI BIBLIOGRAFIA...105

11 Sumário x VII ANEXOS: teste escrito aplicado...109

12 xii ÍNDICE DE QUADROS, TABELAS, GRÁFICOS E FIGURAS Quadro 1 Apresentação tradicional das desinências número-pessoais em português...13 Quadro 2 Controle dos traços formais e semânticos de pessoa nos pronomes autênticos...15 Quadro 3 Controle dos traços formais e semânticos de pessoa entre as formas gramaticalizadas a gente e você...16 Quadro 4 Controle dos traços formais e semânticos de número nos pronomes autênticos...17 Quadro 5 Controle dos traços formais e semânticos de gênero nos pronomes autênticos...18 Quadro 6 Síntese da proposta sobre os parâmetros de gramaticalização (Lehmann, 1985)...36 Tabela 1 Estratégias de concordância verbal com nós e a gente: década de 80 vs. década de Tabela 2 Estratégias de concordância de gênero e número com nós e a gente: todos os dados reunidos. Década de 80 vs. Década de Tabela 3 Estratégias de concordância de gênero e número em função do sexo do entrevistado...61 Tabela 4 Controle do referente x estratégias de concordância: Amostra Tabela 5 Controle do referente x estratégias de concordância: Amostra Tabela 6 Controle do referente x estratégias de concordância: todos os dados juntos. Amostra 80 e Amostra Gráfico 1 A presença dos traços de gênero com a gente em estruturas predicativas: amostra PEUL-RJ (Mulheres)...67 Gráfico 2 A presença dos traços de gênero com nós em estruturas predicativas: amostra PEUL-RJ (Mulheres)...68

13 Índice de Quadros, Tabelas, Gráficos e Figuras xiii Tabela 7 Porcentagem geral do uso de nós e a gente em testes de avaliação subjetiva...70 Tabela 8 Porcentagem geral do uso de nós e a gente na fala Amostra Censo/Peul-RJ década de 2000 (Omena, 2003)...71 Tabela 9 Porcentagem geral do uso de nós e a gente na fala Amostra NURC-RJ (Lopes, 1993)...71 Gráfico 3 Confronto entre Fala e Escrita (Amostra Censo/Peul década de 2000 vs. Testes de Avaliação Subjetiva)...73 Tabela 10 Concordância Verbal (valor da aplicação: a gente)...77 Tabela 11 Concordância de Gênero e Número (valor da aplicação: a gente)...85 Tabela 12 Tabela estratégia de concordância vs. Sexo do entrevistado: dados de a gente...87 Tabela 13 Tabela controle do referente vs. estratégia de concordância: dados de a gente...89 Tabela 14 Tempo Verbal (valor da aplicação: a gente)...92 Tabela 15 Escolaridade (valor da aplicação: a gente)...97 Gráfico 4 Estratégias de concordância verbal vs. Faixa Etária...98 Tabela 16 Faixa etária vs. Escolaridade: estratégias de Concordância Verbal com a gente...100

14 Índice de Quadros, Tabelas, Gráficos e Figuras xiii

15 Índice de Quadros, Tabelas, Gráficos e Figuras xiv ABREVIATURAS E CONVENÇÕES CENSO/PEUL Projeto Censo da Variação lingüística no estado do Rio de Janeiro e Programa de Estudos do Uso da Língua CONDIAL-SIN Corpus Dialectal com anotação Sintáctica CRPC Corpus de referência do Português Europeu Contemporâneo NURC-RJ Projeto de Estudos da Norma Lingüística Culta do Rio de Janeiro H1 Homem da primeira faixa etária (de 15 a 25 anos) H2 Homem da segunda faixa etária (de 26 a 49 anos) H3 Homem da terceira faixa etária (50 anos ou mais) M1 Mulher da primeira faixa etária (de 15 a 25 anos) M2 Mulher da segunda faixa etária (de 26 a 49 anos) M3 Mulher da terceira faixa etária (50 anos ou mais) P1 Primeira pessoa do singular P2 Segunda pessoa do singular P3 Terceira pessoa do singular P4 Primeira pessoa do plural P5 Segunda pessoa do plural P6 Terceira pessoa do plural PB Português do Brasil PE Português Europeu [+ eu] traço formal de primeira pessoa (falante) [- eu] traço formal de segunda pessoa (ouvinte) [φ eu] traço formal de terceira pessoa (não-pessoa) [+ EU] traço semântico de primeira pessoa (falante) [- EU] traço semântico de segunda pessoa (ouvinte) [φ EU] traço semântico de terceira pessoa (não-pessoa) [+fem] traço formal feminino [φ fem] traço formal neutro quanto ao gênero [α FEM] traço semântico de gênero subespecificado [+pl ] traço formal de plural [-pl ] traço formal de singular [+PL] traço semântico de plural [-PL] traço semântico de singular TF traço formal TS traço semântico

16 Índice de Quadros, Tabelas, Gráficos e Figuras xiv I INTRODUÇÃO O quadro dos pronomes pessoais continua a ser apresentado pelas gramáticas e livros didáticos como sendo composto exclusivamente pelas formas eu, tu, ele, nós, vós, eles, a despeito das alterações sofridas dentro desse sistema, tanto no português do Brasil quanto no português europeu. Com relação à 1 a pessoa do plural, as gramáticas tradicionais incluem apenas o nós no quadro dos pronomes retos, reservando à forma a gente um status indefinido: ora classificam-na como pronome pessoal, ora como forma de tratamento. Além disso, a implementação da forma inovadora como alternante do pronome nós é registrada apenas na linguagem coloquial, não sendo mencionada para a escrita. De fato, na língua oral, tal fenômeno tem sido bastante estudado por diversos autores (Omena,1986, 2003; Lopes,1993; Machado,1995; entre outros), que apontam para uma variação estável entre as formas. Entretanto, na escrita, ainda são poucos os trabalhos que se debruçaram sobre as questões relativas à variação entre as formas nós e a gente, o que demonstra ser esse um tema ainda não esgotado. Outra questão pouco investigada diz respeito ao comportamento da forma a gente em estruturas predicativas. As gramáticas mencionam de maneira breve o fenômeno da silepse, definida como a concordância que se faz pela idéia e não pela forma do vocábulo (Ribeiro,1992:170), mas pouco discutem ou descrevem sobre o comportamento da forma e as possíveis estratégias de concordância. Com relação a essas questões, a própria pesquisa científica tem sido incipiente, o que demonstra ser esse também um terreno potencialmente fértil para novas investigações. Destaca-se que inúmeros trabalhos anteriores têm analisado o comportamento de a gente como um caso de gramaticalização (cf. Omena e Braga, 1996, 2003; Menon, 1996; Lopes,1999, 2003; Zilles, 2005; entre outros), como permite entrever o trecho abaixo:

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18 2 O nome gente, oriundo do substantivo latino gens, gentis, constitui um SN que nomeia de forma coletiva, indeterminadora, mais ou menos geral, uma agrupamento de seres humanos, identificados entre si por objetivos, idéias, qualidades, nacionalidade ou posição. Determinado pelo artigo feminino a, é a forma originária de a gente que, através de um processo de gramaticalização passou a integrar o sistema de pronomes pessoais do português, concorrendo com nós, forma de primeira pessoa do plural. (Omena, 2003: pág. 64) Com relação a tal processo, é comum considerar-se que as formas gramaticalizadas apresentam, em geral, um comportamento dúbio : não perdem completamente seus traços originais e não assumem de maneira definitiva as propriedades da nova classe da qual passam a fazer parte, criando assim algumas incompatibilidades entre as propriedades formais e as semântico-discursivas (Lopes, 1999, 2003). No que diz respeito ao comportamento do a gente pronominal, isso equivale a dizer, segundo Lopes (2003), que nem todas as propriedades formais do nome gente foram perdidas, assim como não foram assumidas todas as propriedades intrínsecas aos pronomes pessoais. Nesse sentido, uma das maneiras de estipular o controle das propriedades formais e semânticas da forma gramaticalizada consiste na análise do seu comportamento em estruturas predicativas, observando as estratégias de concordância de gênero, número e pessoa, em confronto, principalmente, com o comportamento do pronome autêntico nós. Consideram-se, neste trabalho, como estruturas predicativas as construções nas quais as formas pronominais estabelecem relações de concordância com adjetivos (1) ou particípios (2), como pode ser observado nos exemplos abaixo:

19 3 (1) quando eles sabem que nós somos católico querem converter a gente ali... (dado 184, F3, 1 o grau ) (2)...era uma coisa normal da gente querer fazer... mas a gente era reprimida (dado 191, F3, 2º grau) Focalizando esse tipo de construção, interessava-nos observar os padrões de concordância nominal mais produtivos e freqüentes com nós e a gente, a partir da análise da flexão de gênero e número presente em adjetivos/particípios. Entre os padrões de concordância possíveis com ambas as formas pronominais, localizaram-se quatro estratégias: concordância com o masculino-singular, com o feminino-singular, com o masculino-plural e com o feminino-plural. Além disso, foram controladas as estratégias de concordância verbal estabelecidas com as formas pronominais, a partir da observação das formas verbais presentes nas estruturas predicativas analisadas. Foram localizados cinco padrões de concordância, a saber: a combinação de nós com formas verbais na 1ª pessoa do plural (Ex: nós estamos) ou na 3ª pessoa do singular (Ex: nós está) e a combinação de a gente com formas verbais na 3ª pessoa do singular (Ex: a gente está), na 1ª pessoa do plural (Ex: a gente estamos) ou na 3ª pessoa do plural (Ex: a gente estão). Assim sendo, o presente trabalho de pesquisa tem como objeto de investigação duas questões centrais que serão discutidas no decorrer das análises. A primeira refere-se à concordância da forma gramaticalizada a gente com adjetivos em estruturas predicativas, no confronto, em particular, com o pronome nós. Busca-se analisar, partindo de uma amostra de fala não-culta e de escrita, o comportamento de a gente como pronome tendo em vista os traços de gênero, número e pessoa. Dessa forma, têm-se como objetivos:

20 4 i) Descrever e analisar as diferentes estratégias de concordância das formas nós e a gente, a partir da discussão da aparente incompatibilidade entre os traços formais e semântico-discursivos de formas pronominais que se gramaticalizam; ii) Verificar se o masculino-singular está se generalizando com a gente em estruturas predicativas; e iii) Discutir se a generalização do masculino caracteriza um novo estágio na gramaticalização da forma a gente. A segunda questão diz respeito à análise da variação entre nós e a gente em uma amostra constituída por testes escritos para comparação com os resultados obtidos na língua oral, em pesquisas anteriores. Assim, foram estipulados os seguintes objetivos: iv) observar de que maneira a variação entre nós e a gente, freqüente na fala, processa-se na modalidade escrita; v) identificar que fatores lingüísticos e extralingüísticos impulsionam a escolha de uma ou outra forma; vi) verificar se os fatores identificados em dados de fala, em pesquisas anteriores, mostram-se também relevantes para a escrita. Tendo em vista tais objetivos, o presente trabalho encontra-se dividido em cinco seções. A primeira é dedicada à introdução, que ora se apresenta, na qual são expostos, além dos problemas de ordem descritiva que motivaram a pesquisa, os objetivos principais a serem perseguidos pela investigação empírica. A segunda seção diz respeito à descrição do objeto de estudo, abrangendo a revisão bibliográfica das obras de referência gramáticas e

21 5 estudos lingüísticos sobre o fenômeno de variação entre nós e a gente, além do comportamento da forma gramaticalizada em estruturas predicativas. A terceira, por sua vez, destina-se à explicitação do arcabouço teórico e da metodologia empregada na investigação dos dados. Também são apresentados detalhadamente os corpora utilizados e fatores controlados durante a pesquisa. Na quarta seção, apresentam-se as duas análises efetuadas: a primeira, com base em dados da língua oral, e a segunda, a partir dos dados provenientes da aplicação de testes escritos. Em cada uma delas, além da exposição dos dados, segue-se a interpretação e análise dos resultados aferidos. A última seção é destinada às considerações finais. Por fim, encontra-se, em anexo, um exemplar do teste de avaliação subjetiva aplicado.

22 6 2 A DESCRIÇÃO DO OBJETO 2.1 A variação de nós e a gente no português brasileiro: da visão gramatical aos estudos lingüísticos A descrição tradicional A grande maioria dos livros didáticos, ainda hoje, continua a apresentar o paradigma dos pronomes pessoais sujeito constituído das formas eu, tu, ele, nós, vós, eles, independentemente das mudanças já ocorridas nesse sistema. Com relação à segunda pessoa, tais livros incluem apenas o tu, reservando à forma você o status de pronome de tratamento. Semelhantemente, também parece indevida a classificação do pronome nós como único a designar a primeira pessoa do plural, uma vez que a forma a gente mostra-se igualmente produtiva, tanto no português do Brasil quanto no português europeu. Ao que parece, a postura dos livros didáticos frente às formas inovadoras encontrase calcada nas gramáticas. Nelas, também, a descrição do quadro pronominal exclui tais formas e mantém-se, de maneira geral, o paradigma eu, tu, ele, nós, vós, eles. No que se refere à primeira pessoa do plural, as gramáticas tradicionais são divergentes quanto ao tratamento que dão à expressão a gente: algumas não lhe concedem nenhum espaço, outras consideram-na e classificam-na, ainda que essa classificação não seja a mesma de gramática para gramática. Em Cunha & Cintra (2001:296), por exemplo, a gente é tido como fórmula de representação da 1 a pessoa, uma vez que pode substituir tanto nós (i) quanto eu (ii). (i) Houve um momento entre nós / Em que a gente não falou. (Fernando

23 7 Pessoa) (ii) Você não calcula o que é a gente ser perseguida pelos homens. Todos me olham como se quisessem devorar-me. (Ciro dos Anjos) Bechara (1999:166), do mesmo modo, prevê o uso de a gente em referência a um grupo de pessoas em que se inclui a que fala, ou a esta sozinha. Entretanto, menciona, como Ribeiro (1992:97), o caráter pronominal da expressão. Destacam ainda, ambos os autores, o uso de a gente fora da linguagem cerimoniosa e com verbo flexionado na 3 a pessoa do singular. Rocha Lima (2005), por sua vez, não faz nenhuma menção à forma em sua Gramática normativa da língua portuguesa. Observando as gramáticas supracitadas, constata-se certo pudor por parte dos autores em incluir a forma a gente no quadro dos pronomes pessoais. Mesmo em Bechara (1999) e em Ribeiro (1992), que postulam o valor pronominal da expressão, o paradigma dos pronomes sujeito é apresentado contando com as formas tradicionalmente incluídas: eu, tu, ele, nós, vós, eles. Para esses autores, o caráter pronominal da forma inovadora é considerado sim, mas apenas em notas e observações de final de capítulo. Como é comum na maioria das gramáticas de caráter normativo, observa-se, na análise das obras supracitadas, uma postura prescritiva no que se refere ao uso da forma a gente. Além de não ser incluída no quadro de pronomes pessoais do português, o uso da forma aparece muitas das vezes restrito à linguagem coloquial, não sendo indicado no âmbito da escrita, ainda que muitos exemplos citados provenham de textos literários Os estudos lingüísticos Em contrapartida às descrições tradicionais, pesquisas recentes, principalmente de cunho variacionista, comprovam a freqüente substituição de nós por a gente na língua falada, embora tal processo não constitua ainda uma mudança completamente operada no português do Brasil. Omena (1986, 2003) a partir de um corpus do Projeto Censo/RJ constata que o

24 8 fenômeno de variação entre nós e a gente indica uma mudança lingüística em curso, uma vez que a forma inovadora vai lenta e gradualmente tomando o terreno de sua concorrente. Segundo seus resultados, informantes das faixas etárias mais jovens tendem a preferir o uso do novo pronome, em detrimento da forma-padrão. Entretanto, salienta-se que, com o passar dos anos e a conseqüente mudança de faixa etária, os falantes são submetidos a forças mais conservadoras que propiciariam um maior incremento na freqüência da variante padrão nós devido à ampliação dos seus contatos sociais. Entre os fatores sociais e lingüísticos que estariam impulsionando a escolha da forma inovadora, a autora destaca, além da faixa etária, escolaridade, sexo, renda familiar, exposição à mídia, paralelismo formal, mudança de referência, saliência fônica, tempo verbal, grau de determinação do referente e tamanho do grupo. Demonstra ainda que a variação entre as formas indica um processo de mudança lingüística em andamento, principalmente quando se tem em vista a idade dos falantes. Entre falantes cultos, Lopes (1993) observa que, ainda que seja possível diagnosticar a mudança lingüística em curso, tal processo ocorre com mais vagar, quando se tem em vista falantes com maior nível de escolaridade. Com base na amostra da década de 70 do Arquivo sonoro NURC-Brasil, a partir da análise de três capitais brasileiras Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre, a autora destaca o comportamento de homens e mulheres de meia-idade como responsável por retardar a efetivação da mudança, uma vez tendem a preferir a forma-padrão em função das pressões profissionais a que estão submetidos. No que se refere aos contextos condicionadores das formas, mostraram-se pertinentes os seguintes fatores sociais e lingüísticos: faixa etária, sexo, cidade de origem do entrevistado, paralelismo discursivo, grau de determinação do referente e saliência fônica do verbo. Em estudo mais recente (Callou & Lopes, 2003:73), em que são confrontados dados de duas décadas diferentes com amostras diferenciadas (cultos e não-cultos), são feitas as seguintes considerações:

25 9 Aparentemente, a substituição de nós por a gente se está efetivando progressivamente, seja entre os falantes cultos, seja entre os não-cultos. Na amostra NURC relativa aos anos 70, o uso da forma mais antiga nós suplantava a forma inovadora, mas a nova amostra referente à década de 90, com informantes diferentes, sugere, ao contrário, um uso mais freqüente da forma inovadora, indicando uma aceleração rápida na implantação da substituição de nós por a gente na comunidade. Nos resultados de Omena (2003) -- anos 80 e , no entanto, a comunidade não mudou, pois as proporções no uso das variantes continuam praticamente as mesmas. (...) observa-se que a comunidade apresenta-se instável, se levarmos em conta os falantes cultos, mas quanto aos não-cultos, nota-se uma certa estabilidade no comportamento da comunidade de uma década para outra Com base na fala de comunidades pesqueiras do Norte Fluminense, Machado (1995) constata o predomínio de a gente sobre a forma-padrão. Dentre os contextos lingüísticos examinados, destacam-se fatores de natureza discursiva, semântica e morfossintática, a saber: paralelismo formal, grau de determinação do referente, grau de saliência fônica, tempo verbal, faixa etária e escolaridade, referendando os resultados obtidos em Omena (1986), entre falantes não-cultos cariocas. Por sua vez, Ferreira (2002) propõe-se a discutir a variação nós e a gente na escrita e na fala, a partir da Amostra Discurso & Gramática (1995). Levando-se em consideração que tal corpus se apresenta composto por textos orais e escritos dos mesmos informantes, com idades entre 5 e 46 anos, a autora busca identificar semelhanças e diferenças acerca da implementação da forma inovadora, tendo em vista a modalidade discursiva. De maneira geral, seus resultados apontam que, na fala, os indivíduos preferem a forma inovadora a gente, ao passo que, na escrita, há maior produtividade da formapadrão nós. Adotando uma perspectiva variacionista, observa que, na língua oral, o uso de uma ou outra variante tem como fatores condicionadores: tempo verbal, saliência fônica do verbo e gênero discursivo. Por outro lado, na escrita, a determinação do sujeito, o grau de

26 10 distinção morfológica entre as formas concorrentes e o nível de escolaridade dos entrevistados mostram-se relevantes na variação entre duas formas pronominais. Ferreira (2002) observa, por fim, que parece haver um isomorfismo entre fala e escrita na medida em que são identificados fatores com o mesmo efeito para o emprego das formas alternantes nas duas modalidades. São eles: realização do sujeito, mudança de referência, grau de envolvimento do eu e faixa etária do indivíduo. Outro aspecto importante diz respeito ao estágio em que se encontra o processamento da substituição lingüística em cada uma das modalidades. Segundo a autora, na língua oral, a variação nós e a gente constitui um processo de variação avançado. Diferentemente, na escrita, o fenômeno de variação processa-se de maneira estável, uma vez que, em tal modalidade, tendem a prevalecer o planejamento e o monitoramento lingüísticos, sobrepondo-se às influências da oralidade. Em Zilles (2005), com base em duas amostras do Projeto VARSUL referentes a diferentes décadas (anos 70 vs. anos 90), propõem-se duas abordagens metodológicas: análise em tempo aparente e análise em tempo real, subdivididas em: um estudo de tendências (trendy study), no qual há a comparação de grupos distintos de falantes, e um estudo de painel (panel study), a partir do qual se observa o comportamento dos mesmos indivíduos em diferentes períodos do tempo. Segundo tal trabalho, os condicionamentos lingüísticos e sociais para o processo de substituição de nós por a gente poderiam ser discutidos a partir da perspectiva laboviana para mudança lingüística para cima ou para baixo. A autora observa que, entre os fatores que impulsionam a implementação da forma inovadora e caracterizam o fenômeno como sendo para baixo, destacam-se a atuação da faixa etária e a concordância verbal. De acordo com a análise dos grupos etários, observase que, ainda que o comportamento dos indivíduos seja estável, os indivíduos mais jovens, a cada nova geração, tendem a ampliar as taxas de a gente. Por outro lado, no que se

27 11 refere à concordância verbal, a autora constata que a escolha por a gente se torna uma opção mais segura no sentido de evitar a não-concordância e o estigma social associado a ela. Em síntese, esses estudos feitos a partir de dados de fala e escrita colhidos no Rio de Janeiro, entre tantos outros realizados com amostras diversificadas de outras partes do Brasil, têm demonstrado que a substituição de nós por a gente ainda não constitui uma mudança completamente operada em terras brasileiras, ainda que seja freqüente o emprego de a gente, principalmente na língua oral. Os diversos trabalhos de cunho variacionista (cf. Omena, 1986, 2003; Lopes, 1993; Machado, 1995; entre outros) apontam para uma variação estável entre as formas, embora o emprego de a gente tenha se tornado mais freqüente nas três últimas décadas. Como defendem Callou & Lopes (2003:73), teríamos uma mudança geracional: o indivíduo mantendo-se estável no decorrer de sua vida, mas a comunidade apresentaria comportamento instável. Entre cultos e não-cultos, os estudos mostram que o uso das formas inovadoras, entre os jovens, é quase categórico.

28 A entrada de a gente no sistema pronominal como um fenômeno de gramaticalização: resgate da origem histórica e reflexos estruturais Como mencionado anteriormente, o interesse pelo tema não se restringe ao atual estágio da variação entre nós e a gente em português. O nosso estudo objetiva discutir alguns reflexos estruturais ocasionados com a inserção de a gente no sistema de pronomes do português, principalmente no tocante à concordância de gênero, número e pessoa em estruturas predicativas. Defende-se que a análise das estratégias de concordância com a gente em estruturas predicativas, tendo em vista os três traços postulados, poderia elucidar o estágio de gramaticalização da forma, no sentido de melhor diagnosticar os contextos em que realmente são assumidas propriedades pronominais e outros em que a forma gramaticalizada exibe resquícios de características nominais. Toma-se, como ponto de partida, o trabalho de Lopes (1999, 2003) que remonta o percurso histórico de gente para a gente. A autora fundamenta-se em princípios formais e funcionais, numa tentativa de sistematizar as distinções entre as duas classes nomes e pronomes tendo em vista o controle dos traços formais e semânticos intrínsecos a cada uma delas. Em Lopes (1999, 2003), analisa-se o processo de pronominalização da forma a gente em português. Postula-se que tal processo, iniciado no século XVI, tenha sido lento e gradual, marcado por uma longa fase de ambigüidade interpretativa, em que a forma a gente tanto poderia significar um grupo de seres humanos quanto um grupo de seres humanos, incluindo o falante. A autora observa que, no século XVII, há um incremento progressivo de ocorrências dessa natureza, o que leva a crer ser esse o início do período de transição entre o uso da forma como substantivo coletivo e o emprego como pronome análogo a nós. Ao que parece, a transição perdura entre os séculos XVII e XIX. Apenas, a

29 13 partir do século XX, não são mais registrados casos de interpretação ambígua, indicando uma gramaticalização mais avançada A questão da concordância: rediscutindo os traços de pessoa, número e gênero do a gente pronominal Tradicionalmente, afirma-se que os verbos em português se caracterizam por apresentarem desinência flexional. Tais marcas verbais podem indicar tempo e modo, além de apontar a pessoa do discurso à qual o verbo se refere, acumulando a noção de número. Nos manuais escolares e gramáticas tradicionais, o quadro 1 das chamadas desinências número-pessoais (DNPs) é normalmente apresentado da seguinte forma: Número Pessoas Presente (Indicativo) Pret. Perf. (Indicativo) Fut. Pres. (Indicativo) Futuro (Subjuntivo Outros tempos ) singular 1ª o i i Ø Ø 2ª s ste s es s 3ª Ø u Ø Ø Ø plural 1ª mos mos mos mos mos 2ª is stes is des is 3ª m ram Õ em m Quadro 1: Apresentação tradicional das desinências número-pessoais em português. Observando o quadro descrito pela tradição gramatical, interessa-nos observar a sistematicidade da desinência mos para a chamada primeira pessoa do plural, nos diversos tempos, em formas verbais como seríamos, chegaremos ou descansamos e a desinência zero para a terceira pessoa do singular em formas como será e chegou. As questões centrais que o quadro suscita dentro dos limites desse trabalho já foram objeto de discussão por lingüistas e estudiosos da língua. O primeiro deles refere-se à 1 Há vários aspectos discutíveis no quadro apresentado pela gramática tradicional que não serão tratados por não se relacionarem diretamente ao objeto de estudo deste trabalho. Só para citar alguns teríamos: as marcas desinencias da 3ª pessoa do plural apresentada diferentemente por Camara Jr, o morfe Õ - como desinência de futuro do presente entre tantos outros aspectos.

30 14 noção de pessoa e o segundo ao número em português. Teríamos, como descrito nos manuais escolares, três pessoas gramaticais com oposição entre singular e plural ou seis pessoas distintas como aponta Camara Jr. (1970)? Quais são as legítimas pessoas do discurso? A forma nós pode ser considerada como mero plural do eu? Segundo Câmara Jr. (1970), são seis as pessoas do discurso: o falante ou P1, o falante e mais alguém ou P4, um ouvinte ou P2, mais de um ouvinte ou P5, um ser ou mais de um ser distintos do falante e do ouvinte, respectivamente, P3 e P6. Dentro dessa perspectiva, que remonta Benveniste (1988) entre outros autores, consideram-se três referências, a partir da relação falante-ouvinte, a saber: a pessoa que fala ou emissor e a pessoa que ouve ou receptor. A terceira pessoa, dessa forma, seria considerada como a não-pessoa, uma vez que se encontra fora dessa relação falante-ouvinte (Benveniste, 1988). A forma a gente estabelece, em geral, concordância formal com verbos na terceira pessoa do singular (a gente fala), mas se refere, como variante de nós, ao falante + alguém. Como explicar essa aparente incompatibilidade entre os traços formais e semânticos na concordância verbal com a gente? Adotando a proposta discutida em Lopes (1999, 2003), a especificação semântica de pessoa pode ser estipulada através da atribuição de valores positivo ou negativo ao atributo [EU]. Seguindo tal orientação, no caso de inclusão do falante, como ocorre nos pronomes de 1ª pessoa (eu, nós, a gente), o valor indicado seria positivo [+EU]. Por outro lado, no caso de referência ao ouvinte, como ocorre nas formas de referência à 2ª pessoa (tu, você, vós, vocês), o valor seria negativo [-EU]. Por fim, as formas de 3ª pessoa, uma vez que se encontram fora do eixo falante-ouvinte, caracterizar-se-iam pelo traço neutro [φ eu]. Ainda de acordo com essa proposta, a concordância verbal também pode ser entendida como correlacionada à atribuição de valores positivo ou negativo ao atributo [eu], representando a especificação formal de pessoa. Assim, no caso de concordância verbal com verbos referentes à 1ª pessoa (verbos

31 15 em P1 ou P4), o valor indicado é positivo [+eu], uma vez que tais formas indicam a inclusão do falante, como pode ser observado nos exemplos: canto, falei, cantamos, seríamos. Diferentemente, na combinação com formas verbais de 2ª pessoa (P2 e P5), o valor é negativo [-eu], pois indicam a exclusão do falante e inclusão do ouvinte: cantas, falaste, cantais, seríeis. As formas de 3ª pessoa (verbos em P3 e P6), por sua vez, são caracterizadas pelo traço neutro [φ eu], como nos exemplos canta, fala, cantam, seriam. Sintetizando a proposta de Lopes (1999), no que se refere ao quadro dos pronomes pessoais autênticos, teríamos a atribuição dos seguintes traços semânticos (TS) e formais (TF): Formas REFERÊNCIA À 1ª PESSOA REFERÊNCIA À 2ª PESSOA pronominais EU NÓS TU VÓS Traços de TS TF TS TF TS TF TS TF pessoa [+EU] [+eu] [+EU] [+eu] [-EU] [-eu] [-EU] [-eu] Exemplos Eu fico alegre. Eu estive no Rio. Nós ficamos alegres. Nós estivemos no Rio. Tu ficas alegre. Tu estiveste no Rio. Vós ficais alegres. Vós estivestes no Rio. Quadro 2: Controle dos traços formais e semânticos de pessoa nos pronomes autênticos. Em princípio, é possível observar uma correlação entre traços formais e semânticos a partir da observação dos pronomes pessoais autênticos. Por exemplo, em Eu fico alegre e Nós ficamos alegres, os pronomes de 1ª pessoa (eu e nós) designam a inclusão do falante, recebendo o traço semântico [+EU]. No que se refere ao traço formal, combinam-se com formas verbais de 1ª pessoa, respectivamente; fico (P1) e ficamos (P4). Dessa forma, recebem o traço formal de pessoa [+eu]. De maneira semelhante, há correlação de traços nos pronomes de referência à 2ª pessoa. Nos exemplos Tu ficas alegre e Vós ficais alegres, observa-se a atribuição do traço semântico [-EU] e do traço formal [-eu], uma vez que tais formas prevêem a exclusão do falante e inclusão do ouvinte e combinam-se a formas verbais de 2ª pessoa, respectivamente, P2 e P5. Em síntese, teríamos: eu [+EU, +eu]; nós [+EU, +eu]; tu [-EU, -eu]; vós [-EU, -eu].

32 16 Entretanto, a correlação entre traços semânticos e formais nem sempre ocorre, haja vista o comportamento de formas pronominais como a gente e você. O quadro abaixo ilustra a proposta: Formas pronominais Traços de pessoa Exemplos REFERÊNCIA À 1ª PESSOA REFERÊNCIA À 2ª PESSOA A GENTE VOCÊ TS TF TS TF [+EU] [φ eu] [-EU] [φ eu] A gente ficou inseguro com a alta Você ficou inseguro com a alta dos dos preços. preços. Quadro 3: Controle dos traços formais e semânticos de pessoa entre as formas gramaticalizadas a gente e você. No exemplo A gente ficou inseguro com a alta dos preços, embora haja a interpretação semântico-discursiva de 1ª pessoa [+EU] ao designar o falante + alguém, observa-se a atribuição do traço formal [φ eu], uma vez que ocorre a combinação com verbos em P3 (não-pessoa por excelência). De maneira semelhante, no exemplo Você ficou inseguro com a alta dos preços, ainda que a forma pronominal indique a exclusão do falante e inclusão do ouvinte, assumindo o traço semântico [-EU], há a manutenção do traço formal [φ eu]. Segundo Lopes (1999), a gramaticalização, ou mais especificamente a pronominalização de gente a gente / VM você, acarretou perdas e ganhos em termos das suas propriedades semântico-formais primitivas por conta da mudança categorial de nome para pronome. Assim, nem todas as propriedades formais nominais foram perdidas, assim como não foram assumidas todas as propriedades intrínsecas aos pronomes pessoais, por isso esta ausência de correlação entre traços formais e semânticos para a especificação de pessoa. Em síntese, observa-se: a gente [+EU, φ eu]; você [-EU, φ eu] 2. Além da discussão acerca da especificação de pessoa, propõe-se, em Lopes (1999, 2003), a análise das propriedades de gênero e número, a partir do controle dos 2 Para distinção, os traços ou propriedades semânticas são identificadas em maiúsculas e os formais, em minúsculas.

33 17 traços semânticos e formais presente nos nomes e pronomes pessoais. Na época, a autora buscava testar empiricamente a mudança nos sistemas de traços durante a passagem do nome coletivo gente para o pronome a gente. Seguindo essa orientação, com relação ao número, a estipulação do traço semântico corresponde à atribuição de valores positivos ou negativos ao atributo [PL]. Dessa forma, entende-se que o traço [-PL] acarretaria a idéia de apenas um elemento, ao passo que o traço [+PL] seria indicativo de mais de um elemento. Têm-se, assim, a oposição semântica entre singular e plural. Entre os pronomes pessoais ditos legítimos, postula-se haver uma correlação entre os traços semânticos e os traços formais de número. Para uma forma no singular, a interpretação é, quase sempre, singular, ao passo que, para uma forma plural, a interpretação é, em geral, plural. O quadro abaixo sintetiza a proposta discutida em Lopes (1999, 2003), a partir dos traços semânticos (TS) e dos traços formais (TF), relativos ao atributo de número: Formas REFERÊNCIA À 1ª PESSOA REFERÊNCIA À 2ª PESSOA pronominais EU NÓS TU VÓS Traços de TS TF TS TF TS TF TS TF número [-PL] [-pl] [+PL] [+pl] [-PL] [-pl] [+PL] [+pl] Exemplos Eu estou cansado. Nós estamos cansados Tu estás cansado. Vós estais cansados. Quadro 4: Controle dos traços formais e semânticos de número nos pronomes autênticos. Observando o exemplo Eu estou cansado, percebe-se que ao traço semântico [-PL], inerente à forma pronominal de 1ª pessoa do singular visto que designa apenas o falante correlaciona-se um traço formal [-pl], verificado na concordância com o adjetivo no singular (cansado). A mesma correlação entre traço formal e semântico de número pode ser observada para a segunda pessoa do singular (tu). Assim, têm-se: eu [-PL, -pl], tu [-PL, -pl]. Com relação às formas de 1ª (nós) e 2ª (vós) pessoas do plural (P4 e P5 para Câmara Jr, 1970), também é possível verificar correlação entre traços. Partindo da

34 18 observação do exemplo Nós estamos cansados, observa-se que, paralelo ao traço semântico [+PL] já que tal pronome designa o falante + alguém há um traço formal [+pl], que pode ser verificado na concordância com o adjetivo no plural (cansados). Dessa forma, para os pronomes nós e vós, são designadas as seguintes especificações de número: [+PL, +pl]. Analisando o comportamento da forma a gente, no que se refere ao número, podese depreender uma aparente não-correlação entre traços semânticos e formais. Em uma frase como A gente está preocupado com as chuvas de verão, é possível perceber que, embora a forma pronominal possua um traço semântico [+PL] pois designa o falante + alguém, mantém um traço formal [-pl], ao combinar-se mais comumente a estruturas no singular, como é o caso do verbo e do adjetivo preocupado. No que se refere à especificação de gênero, Lopes (1999) também postula a existência de dois planos: um semântico e um formal, a partir dos quais se consideram os atributos [FEM] e [fem], respectivamente. A autora considera que apenas os pronomes de 3ª pessoa (antigos demonstrativos latinos) teriam gênero formal subspecificado sintaticamente, por conta da possibilidade de termos: ele(s) / ela(s). Os chamados pronomes autênticos ou originais (eu, tu, nós, vós) não teriam atribuição intrínseca de gênero. Nesse caso, é postulado o gênero neutro ou [φ fem]. Semanticamente, no entanto, pode-se considerar a existência de subespecificação do traço: [α FEM], visto que formas pronominais como eu, tu, nós e vós podem se combinar com adjetivos no feminino e/ou masculino, a depender do gênero do referente. O quadro abaixo ilustra a proposta, tendo em vista os traços semânticos (TS) e os traços formais (TF) para o gênero: Formas pronominais Traços de número Exemplos REFERÊNCIA À 1ª PESSOA REFERÊNCIA À 2ª PESSOA EU NÓS TU VÓS TS TF TS TF TS TF TS TF [α FEM ] [φ fem] [α FEM ] [φ fem] [α FEM] [φ fem] [α FEM ] [φ fem] Eu sou bonita. Nós somos bonitas. Tu és bonita. Vós sois bonitas. Eu fiquei rico. Nós ficamos ricos. Tu ficaste rico. Vós ficastes ricos. Quadro 5: Controle dos traços formais e semânticos de gênero nos pronomes autênticos.

35 19 Analisando o exemplo Eu sou bonita, é possível depreender que o pronome eu designa uma mulher, uma vez que o adjetivo bonita encontra-se no feminino. Por outro lado, na frase Eu fiquei rico, tem-se como referência um homem, visto que o adjetivo rico está no masculino. O mesmo tipo de análise pode ser feito nas frases relativas ao pronome tu, com a diferença que este designa o interlocutor e não o falante. Dessa forma, teríamos, em Tu és bonita, a referência a um interlocutor do sexo feminino, ao passo que, em Tu ficaste rico, a referência a um interlocutor do sexo masculino. Tal raciocínio relaciona-se também ao comportamento das formas pronominais nós e vós/vocês. Em Nós somos bonitas, o adjetivo em concordância com o pronome se encontra no feminino e, por isso, depreende-se que o pronome nós refere-se a um grupo composto apenas por indivíduos do sexo feminino, no qual se incluiria, necessariamente, o falante, também um indivíduo do sexo feminino. Diferentemente, em Nós ficamos ricos, a concordância no masculino forma não-marcada em português, indicaria outras possibilidades interpretativas, a saber: um grupo exclusivamente composto por indivíduos do sexo masculino ou um grupo misto, no qual se incluiriam homens e mulheres. No que se refere ao pronome vós/vocês, o mesmo tipo de análise pode ser empreendido, com a diferença que tal forma pronominal designa o interlocutor, na relação falante-ouvinte. A forma a gente apresenta comportamento semelhante aos ditos pronomes primitivos: traços [φ fem, α FEM] para a especificação de gênero 3. Em outras palavras, ainda que não haja uma atribuição intrínseca de gênero formal, pode-se considerar a existência de uma subespecificação para o gênero semântico, visto que tal forma pronominal pode se combinar com adjetivos no masculino e/ou feminino em estrutura predicativa, a depender do referente, como nos exemplos supracitados. Em uma frase como A gente ficou cansado durante aquela viagem à Bahia, a concordância no masculino cansado poderia indicar como referente semântico um 3 O substantivo gente apresentava o traço de gênero formal [+fem], embora semanticamente fosse neutro quanto ao gênero. Quando se diz Toda a gente estava cansada, a concordância se estabelece no feminino, embora possamos estar fazendo referência a um grupo misto ou só de homens. Essas mesmas propriedades de gênero são postuladas para nomes como: pessoa, multidão, vítima, etc. A concordância com o feminino, nesses casos, não aciona uma interpretação semântica de gênero feminino como ocorre em A menina está cansada.

36 20 grupo misto, isto é, composto por homens e mulheres, ou então um grupo exclusivamente composto por homens. Em A gente ficou cansada durante aquela viagem à Bahia, o adjetivo no feminino indicaria um grupo composto exclusivamente por mulheres. Nesse sentido, observa-se, no comportamento de a gente, uma maior integração ao quadro dos pronomes pessoais, uma vez que a concordância no predicativo tenderia a assumir um valor pragmático-discursivo no sentido de indicar o referente, semelhantemente ao que ocorre com os pronomes ditos primitivos: eu, tu, nós, vós. Em síntese, Lopes (1999, 2003) postula que a forma gramaticalizada mantém do nome gente o traço formal de 3 a pessoa ou [φ eu], embora acione uma interpretação semântico-discursiva de 1 a pessoa [+ EU]. Mesmo que o verbo em concordância com a gente permaneça na 3 a pessoa do singular, se pressupõe a existência de um falante + alguém ou [+EU]. Com relação ao número, também se observa uma aparente nãocorrelação entre traços semânticos e formais. Ainda que o a gente pronominal possua um traço semântico [+PL] pois designa o falante + alguém, mantém um traço formal [-pl], visto que tende a se combinar mais comumente com estruturas no singular. No que se refere ao gênero, com a entrada no sistema pronominal da forma gramaticalizada a gente, a especificação positiva de gênero formal [+fem] do substantivo teria se perdido, tornando-se [φfem]. Entretanto, no que diz respeito à interpretação semântica, a forma a gente pronominalizada passaria a ser semanticamente subespecificada [α FEM], tendo uma certa relação com o traço formal presente em predicativos. O fato de a gente, variante de nós, pressupor o falante e mais alguém permitiria várias possibilidades interpretativas ao se estabelecer a concordância com adjetivo em estruturas predicativas como discutiremos mais tarde.

37 Como a gramática tradicional explica o fenômeno? A concordância ideológica ou silepse de gênero As discrepâncias entre o que as gramáticas omitem e o que as pesquisas revelam também são verificadas com relação ao comportamento de a gente em estruturas predicativas: a gente está cansada / a gente está cansado. No que se refere à concordância verbal, prescreve-se o uso do verbo sempre na 3 a pessoa do singular, ainda que a possibilidade de silepse de pessoa (concordância ideológica) seja mencionada. Cunha e Cintra (2001:633) destacam que no português popular, tanto o europeu quanto o do Brasil, a gente pode levar o verbo para a 1 a pessoa do plural. (iii) A gente perdemos sempre, mas nunca desistimos... (Luandino Vieira) Menos afeitos a esse tipo de uso, Bechara (1999: 555) e Ribeiro (1992: 170) consideram a possibilidade de concordância que se faz pela idéia, e não pela forma dos vocábulos; desde que haja relativa distância entre o sujeito coletivo e o verbo no plural. (iv) Faça como eu: lamente as misérias dos homens, e viva com eles, sem participar-lhes os defeitos; porque, meu amigo, se a gente vai a rejeitar as relações das famílias, justa ou injustamente abocanhadas pela maledicência, a poucos passos não temos quem nos receba. (Camilo Castelo Branco)

38 22 Estruturas como a gente falamos não são aceitas como silepse pelos referidos autores, sendo consideradas como erro : a língua moderna impõe apenas uma condição estética, uma vez que soa desagradável ao ouvido a construção do tipo: o povo trabalham ou a gente vamos (Bechara, 1999:555). Com relação à concordância com o adjetivo em estrutura predicativa, as gramáticas mencionam a possibilidade de silepse de gênero para expressões de tratamento como Vossa Senhoria, Vossa Majestade, etc., o que permite pressupor que o mesmo valha para a forma a gente. Ainda que sejam expressões originalmente femininas, como destacam os gramáticos (Bechara,1999; Cunha & Cintra,2001; Ribeiro, 1992), podem ser empregadas para designar uma pessoa do sexo masculino. Nesse caso, então, haveria a possibilidade de concordância ideológica, ou seja, como explica Bechara (1999:544), a palavra determinante pode deixar de concordar com a palavra determinada para levar em consideração, apenas, o sentido em que se aplica. (v) Vossa Excelência é atencioso. (referindo-se a um homem) (vi) Vossa Excelência é atenciosa. (referindo-se a uma mulher) Entretanto, é interessante notar que, embora a maioria dos gramáticos consultados mencione a possibilidade de silepse de gênero para expressões de tratamento e definamna da mesma maneira, fica implícito que alguns consideram a ocorrência do fenômeno apenas quando há concordância com adjetivos no masculino. Em Cunha & Cintra (2001:632), por exemplo, a silepse de gênero é ilustrada com as frases abaixo:

39 23 (vii) Imediatamente, pode Vossa Excelência ficar descansado!... (B. Santareno) (viii) Vossa Excelência parece magoado (C. Drummond de Andrade) Ribeiro (1992:193), por sua vez, mencionando especificamente a expressão a gente, deixa claro esse posicionamento em relação ao fenômeno da silepse. Em sua Gramática aplicada da Língua Portuguesa, prevê a silepse de gênero com a forma pronominal, além de admitir a possibilidade da concordância estritamente gramatical, como pode ser observado em (ix) e (x), respectivamente: (ix) (x) A gente é elogiado a todo instante. A gente é elogiada a todo instante. Ao que parece, de acordo com a maioria das gramáticas consultadas, considera-se para o a gente pronominal a manutenção de um traço formal de gênero feminino, à semelhança do substantivo coletivo gente. Só isso explicaria a análise proposta em Ribeiro (1992), que interpreta apenas a concordância da forma pronominal com adjetivos no masculino como sendo um caso de silepse. Diferentemente, a combinação da forma pronominal com adjetivos no feminino é entendida como concordância estritamente gramatical, ou seja, nesse caso, haveria a concordância que se faz pela forma do vocábulo em questão, e não pelo significado que este designa.

40 Análises lingüísticas da concordância de nós e a gente em estruturas predicativas nas variedades brasileira e européia do português: algumas hipóteses Entre os falantes cultos do português do Brasil, Lopes (1999) identificou, com base no corpus do Projeto Nurc-RJ (Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro), apenas duas possibilidades de concordância de a gente em estruturas predicativas, dependendo do sexo do referente: masculino-singular e/ou feminino-singular, em exemplos, como a gente está cansado e/ou a gente está cansada. A concordância no plural só foi atestada com sujeito nós, pleno ou nulo: nós estamos cansados e/ou nós estamos cansadas. Em Menuzzi (1999, 2000), o comportamento de a gente também é analisado no contexto da oração. Segundo o autor, um fato particularmente interessante no comportamento da forma pronominal diz respeito à não-coincidência entre seus traços gramaticais e semântico-discursivos. Do ponto de vista gramatical, considera-se que tal forma estaria especificada como terceira pessoa do singular feminino, ainda que, em termos semânticos, funcione como um pronome de 1ª pessoa do plural. Adotando uma perspectiva gerativista baseada na Teoria da Verificação dos Traços de Chomsky (1986, 1995), é demonstrado que ambos os traços estão ativos na gramática, sendo que os traços semântico-discursivos de a gente não são completamente irrelevantes do ponto de vista gramatical, uma vez que exercem influência na escolha de formas pronominais co-referentes. Seguindo tal modelo teórico, constata-se que, se o pronome a gente se ligar a um item pronominal no domínio local, a forma selecionada será uma anáfora de 3ª pessoa do singular (Ex: A gente encontrou-se no cinema). Contudo, se a relação de ligação não for local, a forma pronominal escolhida não é de terceira pessoa do singular, mas uma forma que concorda com os traços semântico-discursivos, ou seja, uma forma de primeira pessoa do

41 25 plural (Ex: A gente soube que Mauro nos viu no cinema). Sendo assim, defende-se que não se pode levar apenas em consideração os traços gramaticais para explicar o que acontece em termos de ligação, visto que os traços semântico-discursivos também se mostram relevantes. Dessa forma, o autor estabelece a seguinte generalização: num domínio local, a gente liga formas concordantes em termos gramaticais, e, num domínio não-local, a gente liga formas concordantes em termos semântico-discursivos. Costa et al. (2000), por sua vez, focalizando especificamente o comportamento da forma pronominal em estruturas predicativas com ênfase na variedade européia da língua, questiona a validade da generalização proposta em Menuzzi (1999, 2000). Argumenta-se que uma análise baseada em concordância ou verificação dos traços a nível local não seria sustentável, uma vez que, em princípio, os dois tipos de concordância com a forma a gente são possíveis num domínio local: a concordância com traços gramaticais (Ex: A gente estava cansada) e a concordância com traços semântico-discursivos (Ex: A gente estava cansado /cansados / cansadas). Em tal trabalho, observa-se que mesmo quando há concordância de a gente com formas adjetivais no feminino-singular aparentemente, o único padrão que não se revela problemático para a Teoria da Verificação dos Traços não se pode considerar como um caso de concordância gramatical plena, e sim como um caso de concordância semântica, à semelhança dos demais padrões sentenciais. Segundo os autores, sempre que esse padrão de concordância emerge, o falante é do sexo feminino, o que indicaria a concordância semântico-discursiva parcial com o referente do pronome a gente. Dessa forma, a proposta de análise desenvolvida por Lopes (1999) é referendada pelos autores: Note-se que o mesmo ocorre em PB, o que confirma a hipótese de Lopes (1999), de acordo com a qual o predicativo apresenta traços de gênero variáveis, em virtude de a expressão a gente ser subespecificada relativamente aos traços de gênero (Costa et al, 2000:8). Partindo das considerações feitas em Costa et al. (2000), acerca da ineficácia da Teoria da Verificação dos Traços para explicar os diversos padrões de concordância de a

42 26 gente em estruturas predicativas, Pereira (2001, 2003) propõe uma análise a partir da conjugação de diversos modelos teóricos, entre os quais se destacam a Morfologia Distribuída (Halle & Marantz, 1993) e a Derivação por Fases (Chomsky, 1999). Assim, adotando uma perspectiva gerativista, busca entender por que são possíveis os diferentes padrões de concordância encontrados no português europeu, tendo em vista a análise de diversos corpora. São eles: (1) Amostra de língua oral do Projeto CONDIAL-SIN (Corpus Dialectal com anotação Sintáctica), (2) Amostras do CRPC (Corpus de referência do Português Contemporâneo), englobando diversos tipos de textos de discurso escrito e de discurso oral, (3) Amostras de textos literários ou para-literários, englobando letras de música e/ou poesia musicada, e (4) testes de avaliação subjetiva. A autora observa que, a depender do corpus sob análise, há maior produtividade de uma ou outra estratégia de concordância. Nas fontes de registro oral, observa-se, como padrão predominante, o masculino-singular e, como forma menos freqüente, o femininosingular. Diferentemente, em textos literários e para-literários, houve maior produtividade do feminino-singular que, segundo a autora, seria favorecido pela norma, haja vista que o substantivo gente, gramaticalmente, é um nome feminino. Por sua vez, com base em testes de avaliação subjetiva, nota-se como padrão mais produtivo o uso do masculino-plural, independentemente do sexo do informante. Tendo em vista o português do Brasil, Vianna (2003) confirma, em uma análise preliminar com base em uma amostra de falantes de escolaridade média (Censo/Peul-RJ), os resultados obtidos por Lopes (1999) com falantes cultos (NURC-RJ) no que se refere às estratégias de concordância de gênero e número utilizadas com nós e a gente. Embora tenha localizado as quatro estratégias de concordância com a gente (A gente está animad(a),(o),(as),(os) hoje) e o singular não tenha sido considerado categórico, à semelhança do que ocorre no português europeu (Costa et al, 2000; Pereira, 2001, 2003), os exemplos de concordância no plural são raríssimos e não seriam consideradas estruturas predicativas em sua forma canônica. A maior diferença de comportamento identificada a

43 27 partir da amostra Censo/Peul-RJ, em relação aos resultados com base na amostra NURC- RJ, está no uso do masculino-singular que se generaliza combinando-se com a forma a gente em ambos os sexos. Tal comportamento pode sugerir que o masculino, por ser a forma neutra e não-marcada, tem se generalizado como default, principalmente quando a referência é inespecífica: referente [misto] ou [genérico]. Diante desses resultados, especula-se uma diferença de comportamento entre as duas variedades do português. Pela forte inserção de a gente no paradigma pronominal do português brasileiro, ao contrário do que ocorre na variedade européia, acredita-se que o caráter genérico e indeterminado da forma gramaticalizada esteja condicionando, no Português do Brasil, o uso do masculino-singular nos últimos vinte anos. A confirmação dessa hipótese poderia indicar um novo estágio na gramaticalização da forma em construções predicativas, no qual a função pragmático-discursiva do adjetivo tende a se perder.

44 28 III PRESSUPOSTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS Em sentido lato, a gramaticalização é definida como o processo a partir do qual itens lexicais tornam-se gramaticais, e itens gramaticais tornam-se mais gramaticais. De acordo com essa perspectiva, postula-se que a principal motivação para o processo é a comunicação. A criatividade do falante seria impulsionada pela necessidade de obter sucesso na atividade comunicativa. Para esse fim, uma estratégia possível é utilizar formas lingüísticas de sentido concreto facilmente acessíveis e claramente delimitáveis para a expressão de conceitos mais abstratos menos claramente acessíveis e menos claramente delimitáveis. A inserção da forma a gente no sistema pronominal ilustraria um caso de gramaticalização. Segundo Lopes (1999), a pronominalização ou gramaticalização sofrida pelo substantivo gente foi lenta e gradual: o nome, durante um longo período de transição, sofreu um esvaziamento do seu significado original, sendo reinterpretado, em alguns contextos, de maneira ambígua. Essa ambigüidade tanto poderia significar um grupamento de seres humanos quanto um grupamento de seres humanos, incluindo o falante. A partir do século XX, a forma a gente assume interpretação mais nítida, perdendo propriedades características da forma fonte e assumindo, em função da mudança categorial, características da classe destino. Partindo de outros trabalhos que já se dedicaram à análise da forma a gente como um caso de gramaticalização (cf. Omena e Braga, 1996; Menon, 1996; Lopes,1999 e 2003; Zilles, 2005; entre outros), há dois aspectos centrais que serão analisados neste trabalho. O primeiro refere-se à concordância da forma gramaticalizada a gente, no confronto, em particular, com o pronome nós, com adjetivos em estruturas predicativas. A hipótese norteadora, como aponta Lopes (2003:84-85) é a de que, com a entrada no sistema da forma gramaticalizada a gente, a especificação positiva de gênero formal [+fem]

45 29 do substantivo teria se perdido, tornando-se [φfem]. No que diz respeito à interpretação semântica, a forma a gente passaria a ser semanticamente subespecificada [α FEM], como os outros pronomes pessoais. Tornar-se subespecificado, em termos semânticos, significa dizer que a forma gramaticalizada passou a combinar-se com adjetivos no masculino e/ou feminino a depender do gênero do referente (a gente está animado/animada). Busca-se, pois, analisar, em uma amostra de fala não-culta e de escrita, o comportamento de a gente como pronome tendo em vista os traços de gênero, número e pessoa. O segundo aspecto refere-se à análise da variação entre nós e a gente em uma amostra constituída por testes escritos para comparação com os resultados obtidos com amostras de fala. O intuito é identificar se os fatores de ordem discursivo-pragmática, os de natureza formal e os sociais que favorecem, na fala, o uso de uma ou outra variante são os mesmos que atuam na escrita. Nesse sentido, será adotada a perspectiva variacionista laboviana discutida em Weinreich et alii (1968) e Labov (1994) e os resultados serão analisados à luz de modelos funcionais que discutem o fenômeno da gramaticalização (Hopper, 1991; Heine, 2003; entre outros).

46 O fenômeno da gramaticalização A gramaticalização tem sido normalmente definida como sendo um processo essencialmente unidirecional, levando sempre do léxico para a gramática e de elementos gramaticais para elementos mais gramaticais. Dessa maneira, as formas gramaticalizadas tendem a assumir posições mais fixas na sentença, tornando-se mais previsíveis em termos de uso. Em outras palavras, o item recrutado para cumprir gramaticalização perde a eventualidade criativa do discurso e passa a ser regido por restrições gramaticais. Nos estudos referentes à gramaticalização, é possível encontrar diferentes princípios, tipologias, mecanismos ou fases para o processo. Segundo Hopper (1991), os estágios iniciais do processo poderiam ser observados na aplicação de cinco princípios, a saber: estratificação, divergência, especialização, persistência e decategorização. Diferentemente, Heine (2003), elenca quatro mecanismos que, inter-relacionados, são responsáveis pelo fenômeno: dessemantização, extensão, decategorização e erosão. Lehmann (1985), por sua vez, ao propor uma escala de gramaticalização, refere-se a outros seis processos paradigmatização, obrigatoriedade, condensação, coalescência, fixação e desgaste. Entretanto, embora haja divergência nas terminologias empregadas pelos autores, é possível verificar que as propostas se complementam e, muitas vezes, convergem em princípios comuns. Tanto Heine (2003) quanto Hopper (1991) mencionam o processo de decategorização em suas respectivas propostas. E, semelhantemente, o princípio do desgaste destacado por Lehmann (1985) parece sintetizar os processos de dessemantização e erosão elencados por Heine. As semelhanças e diferenças entre as propostas podem ser melhor discutidas em uma análise mais detalhada. Segundo Hopper (1991), a aplicação de cinco princípios estratificação, divergência, especialização, persistência e decategorização poderia diagnosticar o processo de gramaticalização nos seus primeiros estágios. O princípio de estratificação (Layering) prevê que, dentro de um mesmo domínio

47 31 funcional amplo, novos estratos estão continuamente emergindo. Quando um novo estrato emerge, os antigos não são necessariamente descartados, podendo, pois, permanecer e coexistir com os mais recentes. É postulado que o processo de gramaticalização não ocorre para preencher falhas no domínio funcional e, sendo assim, as formas novas aparecem em competição com outras já existentes no sistema, uma vez que servem para codificar funções similares ou idênticas. O comportamento da forma a gente caracteriza um caso de layering do português falado. Como pronome pessoal, análogo a nós, passa a co-ocorrer com esse item, ocupando espaço dentro do sistema pronominal. Configuram-se, então, duas estratégias diferentes para uma mesma função básica: designar a primeira pessoa do plural ou quarta pessoa gramatical, nos termos de Câmara Jr. (1970) o pronome nós e a forma gramaticalizada a gente. Embora as duas variantes encontrem-se em competição, Omena (1986) observa que a forma inovadora é mais freqüente na língua oral, não tendo a mesma produtividade na escrita. E, mesmo na língua oral, parece haver uma correlação entre a escolha de uma ou outra forma e o grau de formalismo do discurso. A autora aponta que situações menos formais favoreceriam o uso de a gente. O segundo princípio, o da divergência, demonstra que, quando uma classe lexical se gramaticaliza, a forma-fonte original pode permanecer como um item lexical autônomo, sem sofrer mudanças fonológicas. No caso da gramaticalização de a gente, observa-se que o processo determinou alterações no sentido de cristalizar a relação determinantedeterminado. Em conseqüência disso, a versão inovadora que se estratificou não admite outras especificações. O nome gente, por exemplo, admite a intercalação de elementos entre ele e um termo determinante, o pronome, por sua vez, não admite a inserção de qualquer elemento entre a e gente. A expressão se cristalizou como se vê em (xv), por isso (xvi) seria agramatical:

48 32 (xi) A gente da cidade é fresca. [= as pessoas (nome)]. (xii) A bela gente da cidade é fresca [= as pessoas (nome)]. (xiii) A bela e formosa gente da cidade é fresca [ = as pessoas (nome)]. (xvi) *A bela e formosa gente da cidade é fresca [= nós (pronome)] (xv) A gente é fresca [= nós (pronome)] O princípio da especialização refere-se ao estreitamento de opções para se codificar uma determinada categoria, à medida que uma dessas opções começa a ocupar mais espaço por estar mais gramaticalizada. Uma conseqüência, indício, portanto, dessa especialização, é o aumento da freqüência de uso da forma mais adiantada no processo. Isso ocorre porque, em um determinado estágio, as formas que sofrem gramaticalização admitem diferentes possibilidades de interpretação semântica. Com o processo de gramaticalização, ocorre o estreitamento na variedade de escolhas e uma diminuição do número de formas selecionada que admitem significados mais gramaticais. O princípio da persistência diz respeito à manutenção, por parte da forma inovadora, de alguns traços semânticos da forma-fonte. Quando um item lexical em vias de gramaticalização assume uma função mais gramatical, alguns traços do seu significado original tendem a aderir-se ao novo emprego. Dessa forma, detalhes de sua história como item lexical podem se encontrar refletidos no comportamento da forma gramaticalizada. Acerca disso, em Omena & Braga (1996:80), menciona-se que esses traços preservados (da forma-fonte) explicam, muitas vezes, as restrições que a forma gramaticalizada experimenta em sua distribuição. A idéia de coletividade do substantivo gente contribui para uma referência indeterminadora. (...) Há maior probabilidade de se usar a forma a gente na referência a um grupo grande e indeterminado do que a um grupo pequeno e determinado. Com relação a tal princípio, pode-se dizer que a gente mantém um traço semântico de indeterminação que herda do nome gente. Como costuma acontecer nos processos de gramaticalização, apesar do acréscimo de significado da forma que passa a incluir a referência à primeira pessoa, a gente conserva o traço generalizador e passa a ser usado

49 33 mais do que nós em contextos de maior indeterminação e maior número de referentes. Além disso, a persistência do traço indeterminador provoca também certas restrições no seu uso: enquanto o pronome nós permite ser modificado por quantificadores, numerais, especificadores, o mesmo não se dá com a forma a gente: todo, cada um, nenhum podem modificar nós, mas não a gente (Omena & Braga, 1996:81). É possível relacionar a persistência também a aspectos formais. Observa-se que, no seu encaixamento no sistema de pronomes pessoais, a gente só se identifica a nós semanticamente, pois se insere na oração como sujeito concordando com verbos na terceira pessoa gramatical, como seu substantivo de origem. Num exemplo como a gente só vai ao cinema no nosso bairro, ainda que a forma pronominal acione uma interpretação semântico-discursiva de 1ª pessoa [+EU], designando o falante+alguém, verifica-se a manutenção do traço formal de 3 a pessoa ou [Ø eu], nos termos de Lopes (1999). Nesse sentido, entende-se a concordância de a gente com formas verbais de 3ª pessoa como sendo relativa ao princípio de persistência, uma vez que nem todas as propriedades formais da forma-fonte foram perdidas. O princípio de decategorização prevê que formas em processo de gramaticalização tendem a perder ou neutralizar marcas morfológicas e características sintáticas das categorias plenas nomes e verbos e assumir atributos característicos de categorias secundárias. Dessa maneira, o processo de gramaticalização pode envolver a perda de marcas opcionais de categorialidade, ocasionando também a perda da autonomia discursiva dessa forma. Com relação ao fenômeno em estudo, é possível observar que o nome gente mantém a mobilidade de colocação dos substantivos, pode ser modificado por quantificadores, determinantes, possessivos, locuções prepositivas: toda gente, a gente, minha gente, gente de Brasília, etc. Diferentemente, a forma a gente exibe outro comportamento, uma vez que passa a integrar o quadro dos pronomes pessoais. Entre outros aspectos, perde a mobilidade de colocação, aparecendo mais freqüentemente na posição de sujeito e posição pré-verbal, como ocorre com os pronomes pessoais.

50 34 Para Heine (2003), quatro mecanismos inter-relacionados são responsáveis pela gramaticalização. O autor defende que, embora o processo tenha uma dimensão sincrônica e diacrônica, suas bases são diacrônicas por natureza. E, sendo assim, sua proposta tende a adequar-se melhor a estudos diacrônicos. Os mecanismos propostos por Heine podem ser entendidos, a partir da seguinte síntese: 1. Dessemantização (bleaching, redução semântica): perda do conteúdo semântico; 2. Extensão (ou generalização de contextos): uso em novos contextos; 3. Decategorização: perda das propriedades características da forma-fonte, incluindo perda do status de forma independente; 4. Erosão (ou redução fonética): perda da substância fonética, o que torna as formas mais reduzidas. De acordo com o autor, a dessemantização é uma conseqüência do uso de formas designativas de sentidos mais concretos que são interpretadas em contextos mais específicos com sentidos mais abstratos, mais gramaticais. Com isso, as formas inovadoras são usadas em novos contextos (extensão), perdendo características de seus antigos valores (decategorização), além de serem usadas com mais freqüência, tendo alta previsibilidade, o que acarreta perda de substância fonética (erosão). Segundo Heine, cada um desses mecanismos faz ocorrer uma evolução que pode ser descrita em um modelo de três estágios, chamado overlap model: I. Há uma expressão lingüística A, que é recrutada para cumprir gramaticalização;

51 35 II. Essa expressão adquire um segundo padrão de uso, B, que apresenta ambigüidade em relação a A; III. Finalmente, A se perde, ou seja, agora há apenas B (todavia, o autor destaca que nem todo processo atinge o estágio III) No que se refere ao fenômeno em estudo, Lopes (1999, 2003) demonstra que o processo de pronominalização do substantivo gente foi lento e gradual. Há um longo período de transição marcado pela ocorrência de casos de interpretação ambígua, ou seja, exemplos em que a forma a gente tanto poderia significar um grupo de pessoas quanto variante de nós. A autora constata que, apenas no século XX, a forma inovadora assume uma interpretação semântico-discursiva mais nítida, designando o falante + alguém. Em concordância com o modelo de Heine (2003), pode-se inferir que o nome gente, durante um longo período de transição, sofreu um esvaziamento do seu significado original (dessemantização), sendo reinterpretado, em alguns contextos, de maneira ambígua. Essa ambigüidade tanto poderia significar um grupamento de seres humanos em geral quanto um grupamento de seres humanos, incluindo o falante (extensão/ uso em novos contextos). A partir do século XX, assume uma interpretação mais nítida, perdendo as propriedades características da forma fonte (decategorização) e assumindo, em função da mudança categorial, características da classe destino. O mecanismo de erosão, previsto por Heine, embora seja diagnosticado em diversos processos de gramaticalização, não ocorre com a gente. Ao contrário, a estratificação da forma com o artigo definido cristalizou a relação determinante-determinado, ocasionando aumento de substância fonética, e não redução. Diferentemente das propostas anteriores, Lehmann (1985) propõe discutir o conceito de gramaticalização nos eixos sincrônico e diacrônico. Para tanto, elabora uma escala de gramaticalização em forma de um continuum: nome relacional adposição secundária adposição primária afixo de caso aglutinativo afixo de caso funcional.

52 36 Essa ordenação gradual na escala indicaria o grau de gramaticalização de um determinado fenômeno. O autor parte do pressuposto de que quanto mais livre é o signo, mais autônomo ele é. Sendo assim, para medir em que grau o signo está gramaticalizado, deve-se determinar o seu grau de autonomia. Segundo Lehmann, a autonomia de um item pode ser medida tendo em vista três principais aspectos: peso, coesão e variabilidade. Esses aspectos, relacionados às duas principais operações lingüísticas a seleção e a combinação constituem os parâmetros de gramaticalização. São eles: integridade, paradigmaticidade, variabilidade paradigmática, escopo estrutural, conexidade e variabilidade sintagmática. O quadro abaixo sintetiza a proposta: Parâmetro Gramaticalização Fraca Parâmetro Gramaticalização Forte Integridade Conjunto de propriedades semânticas, possivelmente polissilábico Desgaste Poucas propriedades semânticas, monossegmental Paradigmaticidade O item participa escassamente do campo Paradigmaticidade Fortemente integrado ao paradigma semântico Variabilidade Paradigmática Livre escolha de itens, de acordo com as intenções comunicativas Obrigatoriedade Escolha sistematicamente restrita, uso amplamente obrigatório Escopo Estrutural O item se correlaciona com constituintes de Condensação O item modifica palavra ou raiz complexidade arbitrária Conexidade O item é justaposto independentemente Coalescência O item é afixo ou até mesmo suporte de traço fonológico Variabilidade Sintagmática Posição livre nas estruturas Fixação O item ocupa lugares gramaticais fixos Quadro 6: Síntese da proposta sobre os parâmetros de gramaticalização (Lehmann, 1985). A despeito do complexo conjunto de parâmentros de gramaticalização proposto em Lehmann (1985), Traugott (2003) demonstra a ineficácia do modelo para determinados fenômenos.

53 37 Em Constructions in Grammaticalization, a autora questiona o conceito corrente de gramaticalização e propõe a aplicação de uma nova definição: processo a partir do qual lexemas e construções passam a ter, em determinados contextos lingüísticos, funções gramaticais (Hopper & Traugott, 1993) 4, além de abranger também a evolução da forma e significado gramatical de itens lexicais. Tal proposta deriva de uma nova concepção de gramática, na qual se promove a junção de aspectos comunicativos e cognitivos da língua. Para a autora, gramática envolve fonologia, morfossintaxe e semântica, sendo complexa o bastante para permitir a interação entre as habilidades cognitivas, como as envolvidas durante o processo de interação verbal entre emissor e receptor. Em sua proposta, a gramaticalização seria entendida também no contexto de construções. Visando exemplificar suas idéias, a autora faz um breve esboço do surgimento do marcador discursivo endeed (traduzido para o português como de fato ), a partir da gramaticalização do item lexical deed ( fato, em português). Inicialmente, tal forma poderia ser ocasionalmente encontrada em orações iniciais, após posição de complementizador, como um advérbio contrastivo, refutando uma afirmação anterior ou hipótese. Após o século XVII, ainda que continue a figurar em orações iniciais na posição de pré-complementizador, identifica-se na forma um significado diferente, envolvendo elaboração e clarificação do discurso. Em outras palavras, já expressando uma função de marcador discursivo. O desenvolvimento de endeed entre outros marcadores discursivos do inglês, a saber: anyway, instead passa pelos mesmos estágios considerados em outros processos de gramaticalização, como mudança semântica, decategorização, reanálise e generalização. Em todos esses casos, os marcadores discursivos teriam origem em frases em que se observa um significado lexical de nome pleno. Com esses exemplos, Traugott (2003) critica uma adesão restrita à definição tradicional do processo, uma vez que tal postura excluiria muitos fenômenos como é o caso dos marcadores discursivos, para o inglês do domínio da gramaticalização. A autora 4 The process whereby lexemes and constructions come in certain linguistic contexts to serve grammatical functions (Hopper & Traugott, 1993).

54 38 propõe, ainda, um complexo jogo de mudanças relacionadas, que caracterizariam o processo: (i) (ii) decategorização estrutural; passagem da adesão de um grupo relativamente aberto para outro relativamente fechado, no contexto de construção específico; (iii) (iv) apagamento das fronteiras morfológicas dentro da construção; mudança semântica e pragmática do maior para o menor significado referencial Com relação ao fenômeno em estudo, a variação nós e a gente, focalizando mais especificamente as construções predicativas, a proposta apresentada em Traugott (2003), na qual se discute a ampliação do conceito tradicional de gramaticalização, mostra-se bastante pertinente. Vianna (2003), ao verificar a generalização do masculino-singular com a gente entre falantes não-cultos do português do Brasil, hipotetiza que este poderia representar um novo estágio na gramaticalização da forma, no contexto da construção predicativa. Em acordo com a proposta de Traugott (2003), seria possível depreender nesse caso a ocorrência de mudança semântica e pragmática do maior para o menor significado referencial : visto que a função pragmático-discursiva de indicar a referência a partir da concordância no predicativo tenderia a se perder. 3.2 A metodologia variacionista e o corpus utilizado Pressupostos variacionistas A partir dos estudos sociolingüísticos instaurados por Weinreich, Herzog & Labov

55 39 (1968), há uma mudança em relação à concepção de língua e, mais especificamente no que se refere ao objeto de estudo da Lingüística. Parte-se da percepção de que todas as línguas humanas são inerentemente dinâmicas e sujeitas à mudança, o que implica considerar que todas elas se caracterizam pela heterogeneidade. De maneira ampla, pode-se definir a Sociolingüística como uma ciência que investiga a língua em uso em uma determinada comunidade de fala, levando em conta a correlação entre aspectos lingüísticos e sociais. É possível dizer, ainda, que a investigação sociolingüística focaliza essa heterogeneidade no sistema lingüístico, uma vez que tem como objeto de estudo o fenômeno da variação. Em outras palavras, focaliza a existência de formas variantes que se equivalem semanticamente no nível do vocabulário, da sintaxe ou morfossintaxe, do subsistema fonético-fonológico ou no domínio pragmático-discursivo (Mollica & Braga, 2003). O pressuposto básico para tais estudos é o de que a heterogeneidade lingüística não é aleatória, mas governada por um conjunto de regras. Nesse sentido, cabe à Sociolingüística o papel de (1) investigar o grau de estabilidade ou mutabilidade do fenômeno variável, (2) diagnosticar as circunstâncias que promovem ou inibem os usos alternativos, e (3) prever o comportamento sistemático e regular da variação. Para tanto, há de se considerar, na análise lingüística, a inter-relação entre fatores internos e externos ao sistema. Em concordância com os pressupostos básicos da Teoria da Variação, foram desenvolvidos modelos matemáticos que permitem o tratamento estatístico dos dados lingüísticos, no sentido de determinar os fatores mais importantes na análise da variação. Atualmente, utiliza-se o modelo logístico (Rousseau & Sankoff, 1978), que permite calcular os pesos relativos de cada fator em relação à variável dependente, possibilitando a investigação do papel de cada restrição sobre o fenômeno variável. Para a aplicação desse modelo matemático, foi utilizado o programa computacional Goldvarb 2001 (pacote de programas VARBRUL para ambiente Windows), composto por dois arquivos, um executável o programa propriamente dito e um de texto. Esse

56 40 programa executa as mesmas funções do Checktok, Readtok, Makecel (ou Make3000), Ivarb e Crosstab. São elas: (1) preparar os dados para serem submetidos às análises diversas, (2) produzir resultados percentuais os mais diversos, incluindo a preparação dos dados para a análise de pesos relativos, (3) projetar pesos relativos para análises binárias e (4) efetuar a tabulação cruzada de duas variáveis independentes, previamente estabelecidas. Um dos aspectos mais importantes do programa é que ele trabalha com diversos níveis de análises, efetuando comparações sucessivas e progressivas entre as variáveis independentes e projetando pesos relativos para os seus respectivos fatores. Esse método, denominado step up, efetua no nível 1 a comparação de cada uma das variáveis com o input, e trabalha sucessivamente até que todas as variáveis independentes adicionadas não sejam mais selecionadas, isto é, não tenham mais relevância estatística. A seleção de uma determinada variável significa que, do ponto de vista estatístico, ela responde por parte da variação que está sendo estudada. Terminada a seleção de variáveis significativas, o programa passa a funcionar de forma inversa (método step down), iniciando-se pela atribuição de pesos relativos a todos os fatores de todas as variáveis independentes num só nível de análise. A seguir, com retiradas sucessivas e alternantes de cada uma das variáveis independentes, verifica-se se todas as variáveis efetivamente selecionadas não são eliminadas. - Os corpora utilizados Foram levantados dados de nós e a gente, a partir de diferentes tipos de amostra, possibilitando o confronto entre as modalidades oral e escrita da língua.

57 41 O primeiro corpus analisado constituía-se por duas amostras de entrevistas do Projeto Censo/Peul-RJ, coletadas em épocas distintas década de 80 e década de A partir desse material, foi possível investigar o fenômeno em estudo, tendo em vista a língua oral espontânea, bem como efetuar a análise comparativa entre as duas décadas, verificando o comportamento da comunidade na curta duração. Com base nesse material, foram levantados apenas os dados de nós e a gente em estruturas predicativas, uma vez que a análise da variação entre as formas de referência à primeira pessoa do discurso já foi objeto de estudo de Omena (1986, 2003). O segundo conjunto de dados foi constituído a partir da aplicação de testes de avaliação subjetiva entre estudantes de 1º e 2º graus, objetivando analisar a percepção dos indivíduos em fase de escolarização quanto ao uso de estratégias não-previstas pela gramática tradicional. Tais testes evidenciaram não apenas o comportamento do fenômeno na escrita, mas também permitiram a comparação dos resultados aferidos na oralidade. Destaca-se ainda que nos dois corpora analisados focaliza-se apenas o comportamento de indivíduos não-cultos naturais do Rio de Janeiro O corpus oral Analisaram-se dois corpora do Projeto Censo/Peul (Censo da Variação lingüística no estado do Rio de Janeiro e Programa de Estudos do Uso da Língua), coletados em épocas distintas. O primeiro, constituído por entrevistas feitas no início da década de 80, engloba 21 inquéritos, 14 de informantes do sexo feminino e 7 do sexo masculino, distribuídos por diferentes faixas etárias. O segundo conjunto de dados corresponde a novas entrevistas realizadas na década de 2000 e é composto por 36 inquéritos: 19 informantes do sexo feminino e 17 do sexo masculino. Tais corpora são organizados com base em três dimensões de estratificação: sexo (homens e mulheres), faixa etária (15-25 anos, 26-49

58 42 anos e mais de 50 anos) e escolaridade (1 o e 2 o graus). Uma vez que tais amostras dizem respeito a diferentes épocas anos 80 e década de 2000, foi possível estipular um estudo de tendências (trendy study) na curta duração (Labov, 1994). Em tal estudo, comparam-se amostras aleatórias da mesma comunidade de fala, estratificadas de acordo com os mesmos parâmetros, em dois momentos no tempo. Considerando que são entrevistados diferentes indivíduos em cada uma das amostras, escolhidos aleatoriamente, postula-se que os falantes gravados podem ser considerados representativos da comunidade no momento da gravação e o resultado do estudo comparativo das duas amostras de fala será, em termos estatísticos, equivalente ao estudo de toda a comunidade A amostra de escrita: os testes aplicados Em função do número irrisório de estruturas predicativas identificadas na amostra de fala, optou-se pela constituição de um corpus complementar: os testes. A partir desse material, levantaram-se os dados de nós e a gente em estruturas predicativas. A amostra, constituída por 104 testes de avaliação subjetiva 5, foi aplicada a informantes de menor grau de escolaridade: 49 informantes do sexo feminino e 55 informantes do sexo masculino. Organizou-se tal corpus com base em três dimensões de estratificação: sexo (homens e mulheres), faixa etária (15-25 anos, anos e mais de 50 anos) e escolaridade (5ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e 1º e 3º anos do Ensino Médio). A aplicação dos questionários foi efetuada durante o 1º semestre de 2005, na Escola Estadual Presidente João Goulart e na Escola Estadual Edgard Werneck, ambas situadas na Rua Mamoré, no Bairro de Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Tais escolhas foram motivadas por se tratar de um mesmo ambiente no qual foi possível encontrar um grande número de indivíduos que, além de possuírem menor grau de escolaridade, eram moradores 5 Um modelo do teste aplicado encontra-se em anexo.

59 43 de uma mesma região. Além disso, por serem escolas de ensino supletivo, foi possível encontrar entrevistados de diferentes faixas etárias em cada uma das séries pesquisadas, minimizando os efeitos da interação entre os fatores faixa etária e escolaridade. Em todas as situações de aplicação dos testes, buscou-se efetuar os mesmos procedimentos: os alunos recebiam a folha do questionário, efetuavam a leitura dos comandos de preenchimento localizados na parte superior do cabeçalho, e, posteriormente, realizavam a feitura dos mesmos, sempre sob supervisão da pesquisadora. Nessa situação, eram instruídos a não conversarem entre si e, havendo qualquer dúvida, deveriam se dirigir exclusivamente à pesquisadora. Durante a aplicação dos testes, feita sempre em sala de aula, seguia-se uma breve explicação acerca dos objetivos da pesquisa, visando minimizar os efeitos do ambiente escolar sob os alunos. Era explicado às turmas que cada um dos alunos deveria responder às sentenças tentando reproduzir o que falaria em seu dia-a-dia. Dessa forma, os alunos eram levados a crer que o objetivo principal da pesquisa era verificar as preferências estilísticas de cada um na fala cotidiana, independentemente do que apregoa o ensino tradicional. Em tais questionários, o informante produz estruturas predicativas com as formas nós e a gente. Sendo assim, o informante escolhe a forma pronominal que lhe parece mais adequada aos contextos frasais e, posteriormente, flexiona o verbo e o adjetivo/particípio em concordância com o pronome escolhido. Cada um dos testes de avaliação subjetiva contava com 13 itens, sendo que, apenas 8 deles efetivamente diziam respeito ao estudo da variação nós e a gente em estruturas predicativas. Tal estratégia na elaboração do material visou desviar a atenção do aluno do real foco da pesquisa. Por essa razão, o teste contava também com perguntas acerca da utilização dos pronomes tu e você, que foram desconsideradas na análise. No que se refere aos itens relativos à variação de nós e a gente, controlaram-se diversos fatores que poderiam condicionar a escolha de uma ou outra forma pronominal, à semelhança do que apontam diferentes estudos variacionistas. Tal estratégia na elaboração

60 44 dos questionários teve o intuito de confirmar se os mesmos fatores que condicionam a variação na fala são pertinentes também para a modalidade escrita da língua Grupos de fatores controlados Considerando que a variação lingüística não é aleatória, era necessário identificar conjuntos de contextos lingüísticos e sociais que poderiam favorecer ou desfavorecer o uso de uma ou outra variante. Essas restrições são denominadas grupo de fatores ou variáveis independentes e constituem uma maneira de testar hipóteses a respeito dos funcionamentos do fenômeno lingüístico em estudo. Com base em testes de avaliação subjetiva, buscava-se observar a variação entre nós e a gente, a partir do controle dos seguintes grupos de fatores lingüísticos: (i) extensão semântica do referente; (ii) saliência fônica do verbo; (iii) concordância verbal; (iv) tempo verbal e (v) concordância de gênero e número com as formas pronominais. Entre os fatores extralingüísticos, levaram-se em conta (vi) faixa etária, (vii) sexo e (viii) escolaridade do entrevistado. Tal conjunto de fatores permite analisar a variação em seu aspecto social. O controle da variável (i) extensão semântica do referente visa testar da hipótese discutida em diversos estudos (Omena, 1986; Lopes, 1993; Machado, 1995; entre outros) de que a referência a grupos caracterizados pela indeterminação propicia o emprego da forma inovadora a gente, ao passo que a referência a grupos facilmente determinados favorece o emprego da forma conservadora nós. Para tanto, foram considerados quatro tipos de referência, adotando-se a proposta discutida em Lopes (1999, 2003): Referência genérica/abstrata: quando o entrevistado reporta-se a uma categoria generalizada, do tipo os jovens, o povo, etc, ou um grupo indeterminado de pessoas ( Ex 1: Se o salário mínimo fosse reajustado, a gente viveria

61 45 mais realizado. Aqui no Rio, o custo de vida é alto, e a gente fica estressado sem saber se o dinheiro dura até o final do mês); Referente misto, incluindo homens e mulheres: diferentemente do referente genérico ou abstrato, considera-se como misto quando, no contexto discursivo, fica explícito que o entrevistado tinha em mente um grupo de pessoas específico que necessariamente engloba homens e mulheres (Ex 2: Lá no meu bairro, o pessoal é muito unido. Toda hora tem churrasco! Nós compramos a carne, carvão e umas cervejas. É a maior curtição! No final, nós sempre chegamos bêbados em casa.); Referente mulheres-exclusivo: quando o referente inclui apenas pessoas do sexo feminino. Nesse caso, o entrevistado é necessariamente do sexo feminino. (Ex 3: Quando eu era pequena, eu conversava bastante com a minha irmã. Até hoje, nós somos muito amigas); Referente homens-exclusivo: quando o referente inclui apenas pessoas do sexo masculino, nesse caso, o entrevistado é necessariamente do sexo masculino. (Ex 4: Eu tenho um amigo de infância que encontro até hoje. Quando nós éramos pequenos, a brincadeira preferida era pique-esconde.) Partindo desse controle 6, considera-se como referência a grupos indeterminados apenas os casos em que há referente genérico ou abstrato, nos quais o uso de nós ou a gente assumiria efetivamente um caráter indeterminador como no exemplo 1: eu + todos 6 Destaca-se que o teste de avaliação subjetiva contava com perguntas específicas, abrangendo cada uma das referências controladas, como pode ser visto nos exemplos reunidos acima, que simulam respostas possíveis entre os entrevistados. Na análise da língua oral, a determinação do referente para os dados de nós e a gente foi feita a partir da observação do contexto discursivo.

62 46 os cariocas que vivem de salário-mínimo. De maneira oposta, os demais tipos de referente [misto], [mulheres-exclusivo] e [homens-exclusivo] foram considerados determinados, visto que se caracterizavam por apresentar uma referência mais restrita ou definida, como pode ser observado nos exemplos supracitados 2, 3 e 4: eu + os amigos do bairro, eu + minha irmã, eu + meu amigo de infância, respectivamente. As variáveis (ii) saliência fônica, (iii) concordância verbal e (iv) tempo verbal permitem a análise do verbo em combinação com as formas pronominais. Nesse sentido, duas hipóteses, relevantes em estudos de língua oral, merecem destaque. A primeira propõe que níveis de saliência fônica mais baixos propiciam a escolha de a gente, enquanto níveis mais altos de saliência favorecem o emprego de nós (Omena, 1986; Lopes, 1993; Machado, 1995 entre outros). A segunda hipótese, relativa ao tempo verbal, aponta para uma maior tendência ao uso de nós com tempos mais marcados futuro e pretérito perfeito, por exemplo e de a gente com as formas menos marcadas presente e pretérito imperfeito (Omena, 1986; Fernandes & Gorski, 1986; Lopes,1993; entre outros). Entre os padrões de concordância verbal localizados, observa-se um total de cinco estratégias possíveis: a) concordância de a gente com formas verbais na terceira pessoa do singular (Ex 1: a gente vai ao cinema); b) concordância de a gente com formas verbais na primeira pessoa do plural (Ex 2: a gente vamos ao cinema); c) concordância de a gente com formas verbais na terceira pessoa do plural (Ex 3: a gente vão ao cinema); d) concordância de nós com formas verbais na terceira pessoa do singular (Ex 4: nós vai ao cinema);

63 47 e) concordância de nós com formas verbais na primeira pessoa do plural (Ex 5: nós vamos ao cinema). O último fator lingüístico a ser controlado (v) concordância de gênero e número analisa a forma pronominal no contexto da construção predicativa. Tal variável presta-se à operacionalização da hipótese discutida em Vianna (2003), que aponta para a tendência de generalização do masculino-singular combinando-se tanto com nós quanto com a gente. Tal comportamento pode indicar que o masculino, por ser a forma neutra e não-marcada, tem se generalizado como default, principalmente quando a referência é inespecífica: referente genérico. Entre os padrões de concordância localizados em pesquisas anteriores, nas duas variedades do português (Lopes, 1993,1999; Costa et al, 2000, Pereira, 2002, 2003; entre outros), especula-se a possibilidade de quatro padrões sentenciais de concordância com a forma nós e a gente: f) concordância com adjetivos/particípios no feminino-singular (Exs 1: a gente está cansada/ nós estamos cansada) g) concordância com adjetivos/particípios no masculino-singular (Exs 2: a gente está cansado/ nós estamos cansado) h) concordância com adjetivos/particípios no feminino-plural (Exs 3: a gente está cansadas/ nós estamos cansadas) i) concordância com adjetivos/particípios no masculino-plural (Exs 4: a gente está cansados/ nós estamos cansados)

64 48 Com relação ao fenômeno em estudo, o controle da variável (vi) faixa etária visa à investigação da hipótese testada em inúmeros estudos (Omena, 1986; Fernandes & Gorski, 1986, entre outros), de que indivíduos mais jovens privilegiam a forma inovadora a gente, enquanto os mais idosos preferem a forma conservadora nós. No que se refere à variável (vii) gênero, considera-se a discussão proposta por Labov (1990) na qual se observa que as mulheres são mais sensíveis ao prestígio social atribuído pela comunidade de fala aos usos lingüísticos. Assim, quando a mudança ocorre no sentido de implementar na língua uma forma socialmente prestigiada, as mulheres tendem a assumir a liderança no processo. Por outro lado, quando se trata de implementar uma forma socialmente desprestigiada, as mulheres assumem uma postura conservadora e os homens tomam a liderança no processo de mudança. No último fator extralingüístico a ser controlado (viii) variável escolaridade parte-se do pressuposto que o nível de escolarização do indivíduo deve ser compreendido como correlacionado aos mecanismos de promoção ou resistência às mudanças lingüísticas. Entende-se que a escola, em especial o ensino tradicional, está dividida entre as tarefas de aquisição das formas de prestígio e erradicação das formas sem prestígio, com ênfase para as estigmatizadas. Assim, a escola funcionaria, muitas vezes, como preservadora das formas prestigiadas, face às mudanças em curso na sociedade. Considerando a inter-relação entre as variáveis (vii) gênero e (viii) escolaridade uma vez que em ambas é focalizado o prestígio social e/ou estigma atribuídos aos usos lingüísticos pela comunidade de fala, cabe ressaltar que tais grupos foram controlados para um maior conhecimento dos dados. Em princípio, o uso de nós ou a gente não acarretaria estigma e/ou prestígio social, uma vez que são formas relativamente neutras. Além disso, a discussão da substituição de nós por a gente não recebe tratamento sistemático, em nenhum nível de ensino. Em outras palavras, não é um fenômeno muito controlado pela escola.

65 49 No que se refere aos corpora do Projeto Censo-Peul, ainda que tenham sido controladas as mesmas variáveis lingüísticas e extralingüísticas, utilizou-se o programa computacional de regras variáveis, denominado VARBRUL, visando exclusivamente o controle da distribuição do percentual das ocorrências. De maneira diferente do que ocorre com os testes de avaliação subjetiva, na análise da língua oral, não foram levantados todos os dados de nós e a gente, mas apenas aqueles em que as formas pronominais se encontravam em estruturas predicativas. Outrossim, o estudo da variação entre nós e a gente com base nos corpora do Projeto Censo/Peul já foi discutido exaustivamente em estudos anteriores (Omena, 1986,2003). Nos testes escritos, por sua vez, visto que todos os dados de nós e a gente se encontravam em estruturas predicativas, todas as ocorrências de tais formas pronominais foram levantadas e codificadas. Dessa forma, tornou-se possível efetuar uma análise variacionista com base nesta amostra. IV ANÁLISE DOS DADOS E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 4.1 As estratégias de concordância de nós e a gente em estruturas predicativas: amostra PEUL A partir da análise de dois corpora do Projeto Censo/Peul-RJ, foram levantados

66 50 dados de estruturas predicativas com as formas nós e a gente, totalizando 187 ocorrências. Com base na primeira amostra, constituída por entrevistas coletadas na década de 80, localizaram-se 105 dados: 61 deles, com o pronome nós, e 44, com a forma a gente. Tendo em vista segunda amostra, referente a entrevistas efetuadas na década de 2000, foram encontrados, por sua vez, 82 dados de estruturas predicativas. Desse total, observaram-se 40 estruturas com o pronome nós, e 42, com a forma a gente. Considerando que as duas amostras se encontravam separadas por um espaço de vinte anos, optou-se pela análise da cada década separadamente, visando a um maior rigor metodológico. E, sempre que possível, buscou-se apontar semelhanças e dessemelhanças no comportamento da comunidade no espaço de tempo observado. A apresentação dos resultados, que ora se segue, é feita em quatro etapas. Primeiramente, apresenta-se, no item 4.1.1, a análise dos diversos padrões de concordância verbal com as formas nós e a gente. Posteriormente, no item 4.1.2, são discutidos os resultados do controle da concordância de gênero e número com as formas pronominais, observando as estratégias mais produtivas e freqüentes. Segue-se, então, a análise do controle do referente tendo em vista a relação existente entre a referência do pronome e a concordância no predicativo. E, por fim, no item 4.1.4, estipula-se uma análise do comportamento da comunidade, no que se refere às estratégias de concordância de gênero e número com as formas pronominais, observando apenas o comportamento das mulheres A concordância verbal Embora tenhamos levantado apenas dados de estrutura predicativa, foi possível verificar em um total de 86 dados de a gente, 08 ocorrências da concordância com formas verbais na primeira pessoa do plural (P4) e 03 casos de concordância com formas verbais na terceira pessoa do plural (P6), considerando as duas amostras analisadas Amostra 80

67 51 e Amostra Identificaram-se, como pode ser visto na tabela 1, que a forma nós, mesmo que majoritariamente estabeleça relação de concordância com P4 (87 dados, considerandose as duas amostras), pode combinar-se com formas verbais no singular (P3 5 dados, no total), diferente do que Lopes (1999, 2003) observou nos falantes cultos. Os exemplos abaixo ilustram as cinco estratégias encontradas nas duas amostras: (03) Nós + P3 Desde que nós têm quatro filho é casada, né? (dado 22, M4, 1 o grau) (04) Nós + P4 "... nós somos brasileiros." (dado 41, H4, 1 o grau) (05) A gente + P3 "...a gente é obrigada a fazer recuperação" (dado 193,M2, 2 o grau) (06) A gente + P4 "A gente nunca fomos assaltada, não." (dado 89, M2, 1 o grau) (07) A gente + P6...a gente tão se sentindo sufocados, né? (dado 50, H4, 2 o grau) Tabela n o 1 Estratégias de concordância verbal com nós e a gente Confronto entre as décadas de 80 e 2000 Concordância verbal P3 P4 P6 X Pronome Década Nós 2/56 4% 3/36 8% 54/56 96% 33/36 92% Ø Ø

68 52 A gente 36/ % 38/42 91% 5/43 11% 3/42 7% 2/43 5% 1/42 2% Tabela 1- Estratégias de concordância verbal com nós e a gente: década de 80 vs. década de No que se refere ao traço de pessoa, o estudo de tendências realizado com a variável primeira pessoa do plural em estrutura predicativa demonstra que o comportamento da comunidade manteve certa estabilidade, pois não sofreu alterações abruptas em 20 anos. É possível observar maior produtividade da combinação de a gente com formas verbais na terceira pessoa do singular (P3) 36 e 38 dados, respectivamente, 84% e 91%, nas Amostras 80 e Do mesmo modo, com o pronome nós, foi constatada maior produtividade da combinação com formas verbais na primeira pessoa do plural (P4), com uma ligeira predominância da concordância padrão na Amostra de 80 (96%) em oposição aos 92% na década de Com relação às estratégias não-padrão, o comportamento da comunidade também mostra relativa estabilidade no período de tempo analisado. A combinação de a gente com verbo em P4, ainda que pouco produtiva, foi observada nos dois corpora: na Amostra 80, localizaram-se 5 dados, enquanto, na Amostra 2000, foram encontrados 3 dados desse tipo de estratégia. Semelhantemente, a combinação do pronome nós com formas verbais em P3 se mostrou igualmente rara nas duas décadas, figurando em números absolutos bastante próximos nas duas amostras: foram encontrados 2 dados, na Amostra 80, e 3 dados, na Amostra Por fim, a análise das duas décadas parece indicar que a combinação com formas verbais em P6 é exclusivamente feita com a gente, ainda que tal estratégia não se mostre freqüente nas duas amostras analisadas. Foram encontrados 2 dados na Amostra 80 e apenas 1 na Amostra Ainda que tenham sido localizadas 44 estruturas predicativas com a gente na década de 80, a análise das estratégias de concordância verbal só foi efetuada em 43 dados, visto que uma das ocorrências não contava com forma verbal em sua estrutura, como pode ser observado no exemplo a seguir:... a gente <pai> pensa mais com o coração, não é? (dado 226, H4, 2º grau). 8 Embora os percentuais de freqüência sejam distintos com a concordância considerada não-padrão para nós e a gente, os comentários foram feitos com base no número de ocorrências que estão próximos de zero.

69 53 Com base nesses resultados preliminares, pode-se postular que a concordância formal de a gente com verbo em P4 deve-se ao fato de na estrutura conceptual dessa forma gramaticalizada estar inserido necessariamente o falante + alguém ou o traço semântico [+EU]. Os oito exemplos localizados na amostra, citados abaixo, referendariam, nesse caso, a hipótese de certo isomorfismo ou correlação entre as propriedades formais e semânticodiscursivas da forma a gente, entre os falantes com menor grau de escolaridade: (08) "A gente sai, sai sempre, ontem mesmo saímo junto." (dado 1, H2, 1 o grau) (09) "... que a gente fomos até escondido." (dado 28, H3, 1 o grau) (10) "... a gente fomos vagabundo." (dado 30, H3, 1 o grau) (11) "A gente somos amiga mesmo, sabe?" (dado 102, M1, 1 o grau) (12) "... a gente não somos aluno dela... " (dado 105, M1, 1 o grau) (13)... a gente... o pai dele tinha um botequim... namoramos uns seis meses, casamos e vivemos bem, não é? Apesar de estar separado, não tenho queixa não." (dado 114, F4, 1 o grau) (14)... a gente somos tão burro. Que que a gente faz com o petróleo aqui?" (dado 205, H3, 1 o grau) Relacionando tais ocorrências ao princípio da decategorização, pode-se dizer que tais dados referendam o caráter pronominal de a gente, uma vez que ilustram uma maior integração ao quadro dos pronomes pessoais. Segundo tal princípio, as formas gramaticalizadas tendem a assumir características da classe destino em função da mudança categorial sofrida (Hopper, 1991; Heine, 2003). Como foi discutido na seção 2.3., os pronomes pessoais autênticos são caracterizados por apresentar correlação entre os traços semânticos e formais de pessoa: eu [+EU, +eu]; nós [+EU, +eu]; tu [-EU, -eu]; vós [-EU, -eu]. Dessa forma, a combinação de a gente com formas verbais na 1ª pessoa do plural ilustraria a mesma correlação verificada entre os pronomes, visto que, em exemplos como

70 54 a gente fomos, a gente somos, tem-se o traço semântico [+EU] associado ao traço formal [+eu]. Já a concordância do pronome nós com verbo em P3, além de menos produtiva (apenas 05 ocorrências, considerando-se as duas amostras) parece ter sido motivada pelas construções escolhidas pelos falantes. São casos em que há posposição de sujeito em (15), pausa entre o pronome sujeito e o verbo, como pode ser visto em (16) ou presença de quantificadores universais (exemplo 17): possíveis responsáveis pela não-concordância. (15)... ia nós dois, mas agora a grana nem dá (dado 86, M4, 1 o grau) (16)... (nós) não pudemos saltar porque...que era obrigado a tomar injeção para poder saltar (dado 211, H4, 1 o grau) (17) Porque nós é tudo vizinho. (dado 26, M4, 1 o grau) Nas outras 02 ocorrências ilustradas em (18) e (19), a combinação de nós com P3 parece ter sido determinada exclusivamente pela intercambialidade existente entre as formas nós e a gente: (18) Desde que nós têm quatro filho é casada, né? (dado 22, M4, 1 o grau) (19) Então todos nós lá trabalhava... (dado 217, H4, 1 o grau) Apesar do pequeno número de dados, é interessante observar a possibilidade de concordância da forma a gente com verbos na 3 a pessoa do plural (P6), aparentemente motivada pela pluralidade semântica inerente a tal forma pronominal. (20)...a gente tão se sentindo sufocados, né? (dado 50, H4, 2 o grau) (21)...fala que a gente ("são") metida, são orgulhosa... (dado 90, M2, 1 o grau)

71 55 Tais dados poderiam ser relacionados ao que prevê o princípio da persistência semântica, discutido em Hopper (1991), a partir do qual se postula que as formas gramaticalizadas tendem a manter alguns traços semânticos da forma-fonte. Nesse sentido, talvez o a gente pronominal mantenha do substantivo coletivo gente a idéia de um grupamento de seres humanos no qual se incluiriam várias pessoas, o que poderia explicar a possibilidade de concordância, ainda que pouco produtiva, com o plural. Empiricamente, constatou-se que: a) Há a possibilidade de 5 estratégias diferentes de concordância no que se refere à pessoa formal (nós + P4, nós + P3, a gente + P3, a gente + P4, a gente + P6), embora prevaleça a combinação de a gente com verbo em P3 (a gente vai) e de nós com verbo em P4 (nós vamos) A presença dos traços de gênero e número nos adjetivos predicativos Conforme foi discutido na seção 2.3, com a entrada no sistema pronominal da forma gramaticalizada a gente, a especificação positiva de gênero formal [+fem] do substantivo coletivo gente teria se perdido, tornando-se [φfem]. Entretanto, no que diz respeito à interpretação semântica, a forma a gente pronominalizada passaria a ser semanticamente subespecificada [α FEM], tendo certa relação com o traço formal presente

72 56 em predicativos. Em outras palavras, a forma gramaticalizada passou a combinar-se com adjetivos no masculino e/ou feminino a depender do gênero do referente (a gente está animado/animada), à semelhança do que ocorre entre os pronomes pessoais autênticos. Em Lopes (1999), como vimos, estabeleceu-se um controle da combinação de a gente e nós com estruturas predicativas com base em um corpus de falantes cultos. Foram localizados apenas dois padrões de concordância de a gente, dependendo do sexo do referente: masculino-singular e/ou feminino-singular. A concordância no plural só foi verificada com o pronome nós, havendo também variação de gênero: feminino-plural e/ou masculino-plural. Entre falantes com menor escolaridade basicamente 1 o e 2 o graus, embora predomine o singular com a gente e o plural com o pronome nós, além da variação de gênero, é possível verificar outras possibilidades de concordância, principalmente no masculino, como poderá ser visto na tabela 2. Vejamos os exemplos das 4 estratégias encontradas considerando-se a totalidade dos dados nos dois corpora Amostra 80 e Amostra 2000: a) Com a forma a gente: (22) FEM-SG que a gente não sabe... fica atordoada sem saber o que fazer.(dado 49, M4, 1 o grau) (23) FEM-PL a gente... entrava as três juntos. (dado 56, M2, 1 o grau)

73 57 (24) MASC-SG A gente fica irritado (dado 27, H3, 1 o grau) (25) MASC-PL a gente... entrava as três juntos. (dado 57, F2, 1º grau) b) Com a forma nós: (26) FEM-SG que nós somos uma amiga mesmo, sabe? (dado 182, M2, 1 o grau) (27) FEM-PL até andávamos juntas? (dado 58, M2, 1 o grau) (28) MASC-SG nós que tamos vivo, tamo sujeito a tudo? (dado 20, H4, 1 o grau) (29) MASC-PL nós távamos perdidos.? (dado 42, H4, 1 o grau) Tabela n o 2 Estratégias de concordância de gênero e número com nós e a gente Confronto entre as décadas de 80 e 2000 Formas pronominais/ Estratégias de concordância FEM SG FEM PL MASC SG MASC PL

74 58 IV. Década Nós 1/61 2% 1/40 2% 7/61 11% 4/40 10% 25/61 41% 9/40 23% 28/61 46% 26/40 65% A gent 18/44 41% 3/42 7% Ø 1/42 2% 26/44 59% 36/42 86% Ø 2/42 5% e TOTAL 19/187 10% 4/187 2% 7/187 4% 5/187 3% 51/187 27% 45/187 24% 28/187 15% 28/187 15% Tabela 2- Estratégias de concordância de gênero e número com nós e a gente: todos os dados reunidos. Década de 80 vs. Década de De maneira geral, na análise das duas décadas, verifica-se um comportamento semelhante na comunidade, uma vez que os resultados aferidos nas duas amostras equivalem-se à primeira vista. É possível observar que há maior freqüência da concordância no masculino-plural com a forma nós 28 dados (46%), na Amostra 80, e 26 dados (65%), na Amostra Com a forma a gente, por sua vez, nota-se um uso mais relevante do masculino-singular 26 dados (59%), na Amostra 80, e 36 dados (86%), na Amostra Tais resultados podem ser compreendidos haja vista o caráter mais específico do pronome nós e mais genérico da forma a gente. É importante ressaltar ainda que, diferentemente do encontrado entre os falantes cultos, constata-se um uso significativo do masculino-singular combinando-se com o pronome nós, principalmente na década de 80 (41% - 25 dados). Os exemplos abaixo ilustram tal uso: (30) Então, nós é que vamos ser prejudicado (dado 170, H3, 1 o grau) (31)... ficamo preso no quarto com a arma na cabeça do meu filho (dado 48, M3, 1 o grau) (32) E nós fomos todos nascido, criado aqui (dado 25, M4, 1 o grau)

75 59 Diferentemente, na década de 2000, constata-se uma queda na produtividade desse tipo de estratégia. Em toda a amostra, são encontrados apenas 9 dados desse tipo de estrutura (23%) contra 26 dados da combinação de nós com o masculino-plural (65%), o que poderia evidenciar uma mudança de comportamento na comunidade, na passagem dos anos 80 a Com a gente, ainda que haja um grande incremento na produtividade masculinosingular na passagem de uma década à outra 26 dados (59%), na Amostra 80, e 36 dados (86%), na Amostra 2000, o que chama mais atenção na comparação das duas amostras diz respeito à diminuição no uso do feminino-singular combinado à forma pronominal. Na análise da década de 80, foram localizadas 18 ocorrências desse tipo de estrutura (41%), ao passo que, em 2000, esse uso cai substancialmente, sendo registrados apenas 3 casos da combinação de a gente com o feminino-singular (7%). Ainda que seja precipitado qualquer tipo de ilação, haja vista o número restrito de dados em cada uma das amostras analisadas, a comparação das duas décadas parece indicar uma mudança em curso no espaço de 20 anos. Com o pronome nós, observa-se a diminuição no emprego do masculino-singular em estrutura predicativa na passagem de uma década à outra, havendo a preferência pelo uso de estruturas no masculino-plural nos anos Ao que parece, tal comportamento estaria sendo motivado pelo caráter mais específico da forma conservadora. Com a forma a gente, o comportamento é outro. Ainda que o singular seja mais produtivo nas duas décadas em análise, dado o caráter mais genérico da forma, observa-se o incremento das estruturas no masculino, ao passo que se constata queda no uso do feminino-singular. Tal comportamento da comunidade poderia estar evidenciando a perda do caráter referencial do adjetivo em estruturas predicativas com a gente. Nesse sentido, especula-se

76 60 a possibilidade de um novo estágio na gramaticalização da forma, no qual a função pragmático-discursiva da concordância no predicativo tenderia a se perder, diferentemente do que ocorre entre os pronomes autênticos O controle do referente vs. estratégias de concordância: manutenção ou perda do caráter referencial do adjetivo? A partir das constatações supracitadas, resta-nos explicitar que fatores estariam determinando tais escolhas, uma vez que entre os homens é categórico o uso do masculino,

77 61 com variação de número, ao passo que é entre as mulheres que se verifica a possibilidade de variação, como ilustra a tabela 3 que dá um panorama amplo da amostra: Gênero x Estratégias de concordância Homen s Tabela n o 3 Estratégias de concordância de gênero e número em função do sexo do entrevistado FEM SG FEM PL MASC SG MASC PL Ø Ø 72/103 70% 31/103 30% Mulheres 23/84 27% 12/84 14% 24/84 29% 25/84 30% TOTAL 23/187 12% 12/187 7% 96/187 51% 56/187 30% Tabela 3- Estratégias de concordância de gênero e número em função do sexo. Amostra 80 e Amostra 2000 todos os dados. Um dos fatores que pode elucidar a questão é o controle do referente, que foi dividido em 4 tipos, adotando-se a proposta discutida em Lopes (1999, 2003) e descrita detalhadamente no capítulo 3: a) Referência genérica/abstrata b) Referente misto, incluindo homens e mulheres c) Mulheres (exclusivo) d) Homens (exclusivo) As tabelas 4 e 5 sintetizam os resultados absolutos 9 da correlação do controle do referente com as estratégias de concordância utilizadas com a gente e nós nas duas amostras analisadas Amostra 80 e Amostra 2000, apresentadas agora separadamente: 9 Optamos por apresentar nessa tabela apenas os números de ocorrências sem percentuais em função da escassez de dados e a complexidade das correlações estabelecidas.

78 62 Tabela n o 4 Estratégias de concordância de gênero e número em função do controle do referente: Amostra 80 Referente/estratégias FEM- SG FEM- PL MASC- SG MASC- PL de concordância REFERÊNCIA A gente Nós A gente Nós A gente Nós A gente Nós Homens Ø Ø Ø Ø 7 10 Ø 5 (exclusivo) Mulheres 8 1 Ø 7 1 Ø Ø Ø (exclusivo) Misto 5 Ø Ø Ø 7 11 Ø 18 Genérico 5 Ø Ø Ø 11 4 Ø 5 Tabela 4: Controle do referente x estratégias de concordância: Amostra 80 Tabela n o 5 Estratégias de concordância de gênero e número em função do controle do referente: Amostra 2000 Referente/estratégias FEM- SG FEM- PL MASC- SG MASC- PL de concordância REFERÊNCIA A gente Nós A gente Nós A gente Nós A gente Nós Homens Ø Ø Ø Ø 13 2 Ø 5 (exclusivo) Mulheres 2 Ø 1 4 Ø Ø 1 Ø (exclusivo) Misto Ø 1 Ø Ø 15 4 Ø 16 Genérico 1 Ø Ø Ø Tabela 5: Controle do referente x estratégias de concordância: Amostra A comparação das duas tabelas parece demonstrar, em princípio, um comportamento semelhante da comunidade, no intervalo de tempo considerado vinte anos. Nos dois corpora analisados, é possível observar que, quando o referente é homensexclusivo, não há variação de gênero, só de número. Nas duas décadas, observa-se que, com a gente, o singular é categórico. Diferentemente, com o pronome nós, há variação de

79 63 número: na Amostra 80, observa-se maior presença de masculino-singular e, na Amostra 2000, o plural sobrepõe-se como estratégia mais produtiva. Quando o referente é mulheres-exclusivo, há maior produtividade das estratégias no feminino nas duas amostras. Com a gente, prevalece o uso do singular, ao passo que, com nós, o plural é mais produtivo. Quando o referente é misto ou genérico, contata-se maior produtividade das estratégias no masculino, havendo, de maneira geral, preferência pela combinação de a gente no singular e de nós no plural, no intervalo de tempo analisado. A maior diferença entre as duas amostras Amostra 80 e Amostra 2000 parece estar no uso do masculino-singular combinando-se com nós. Na década de 80, observa-se uma maior produtividade desse tipo de estratégia, chegando a suplantar o uso do masculino-plural, quando o referente é homens-exclusivo (10 dados), como pode ser observado na tabela 4. Na década de 2000, diferentemente, constata-se o decréscimo desse tipo de estratégia. Como pode ser observado na tabela 5, quando o referente é misto, genérico ou um grupo exclusivamente composto por homens, ainda que seja possível a variação de número, a combinação de nós com o masculino-plural mostra-se sempre mais produtiva, o que poderia evidenciar uma mudança de comportamento da comunidade, no espaço de 20 anos. Em função do número restrito de dados e da pouca diferença encontrada entre os dois corpora no estudo de tendências, optou-se pela análise da totalidade dos dados, levando-se em conta as duas amostras em conjunto. A tabela abaixo sintetiza os resultados encontrados: Tabela n o 6 Estratégias de concordância de gênero e número em função do controle do referente: Amostra 80 e Amostra 2000 Referente/estratégi FEM- SG FEM- PL MASC- SG MASC- PL as de concordância REFERÊNCIA A gente Nós A gente Nós A gente Nós A gente Nós

80 64 Homens (exclusivo) Ø Ø Ø Ø 20/20 100% Mulheres 10/13 1/12 1/13 11/12 1/13 (exclusivo) 76% 8% 8% 92% 8% Misto 5/27 1/50 Ø Ø 22/27 19% 2% 81% Genérico 6/26 Ø Ø Ø 19/26 23% 73% 12/22 55% Ø 10/22 45% Ø 1/13 Ø 8% 15/50 Ø 34/50 30% 68% 7/17 1/26 10/17 41% 4% 59% Tabela 6: Controle do referente x estratégias de concordância: todos os dados juntos. Amostra 80 e Amostra Quando o referente é homens-exclusivo, nota-se que as estruturas predicativas não variaram quanto ao gênero, somente com relação ao número. Com a gente o singular é categórico, talvez por designar mais comumente um todo abstrato e genérico. Os resultados obtidos confirmam a hipótese de ser a referência conceptual de a gente uma massa indeterminada de pessoas disseminada na coletividade com o eu necessariamente incluído. Sendo assim, o a gente pronominal acarreta mais freqüentemente a combinação com o singular e não com o plural. Tal resultado pode ser relacionado ao princípio da persistência, discutido em Hopper (1991), a partir do qual é previsto que formas gramaticalizadas tendem a manter traços semânticos primitivos da forma-fonte. Assim, ainda que o a gente pronominal pressuponha o falante + alguém, mantém um valor coletivo herdado do nome gente, o que explicaria a maior produtividade da combinação com o singular. Com o pronome nós, entretanto, diferentemente do que foi identificado entre os falantes cultos, ocorre tanto o singular quanto o plural. É interessante observar a alta produtividade das estratégias no masculino-singular (55%) combinando-se com a forma nós, entre falantes com menor nível de escolaridade. Todos os dados encontrados, reproduzidos a seguir, são relativos a falantes do antigo 1 o grau ou ensino fundamental (concluído ou não), o que demonstra haver uma íntima relação entre o nível de escolaridade do falante e a tendência a não-concordância.

81 65 (33) aí ficamos parado, frustrado... (dado 43, H4, 1 o grau) (34) Saímos junto, eu já disse, não é? (dado 166, H2, 1 o grau) (35) Nós, os jogadores, somos preso sob contrato... (dado 172, H4, 1 o grau) (36) E nós fomos jogar prevenido! (dado 174, H4, 1 o grau) (37) Não pudemos saltar porque...que era obrigado a tomar injeção para poder saltar... (dado 211, H4, 1 o grau) (38) Fomos tudo orientado assim, mas tudo sigilosamente, não é? (dado 212, H4, 1 o grau) (39) Ficamos muito amigo e tal... (dado 213, H4, 1 o grau) (40) Nós fomos muito amigo. Então, a gente formamos um trio. (dado 214, H4, 1 o grau) No caso do referente mulheres-exclusivo, verificou-se que com a gente há o predomínio do feminino-singular (76%), ao passo que com o pronome nós prevalece o feminino-plural (92%). Localizou-se apenas um exemplo no masculino-singular e um no masculino-plural, em ambos os casos combinando-se à forma a gente. É importante ressaltar, que as duas ocorrências mencionadas não representam estruturas predicativas canônicas. Em (41), a forma junto pode assumir um valor adverbial neutro, em lugar do valor adjetival que caracteriza a estrutura predicativa. (41)... a gente sempre vinha junto até uma parte do caminho, não é? (dado 175, M2, 1 o grau) (42) a gente... entrava as três juntos. (dado 57, M2, 1 o grau) Quando o referente é misto (incluindo homens e mulheres) ou genérico (grupo indeterminado de pessoas), há o predomínio de estruturas predicativas no masculino devido à sua interpretação neutra. Os resultados mostram-se semelhantes havendo certa distribuição complementar no que se refere ao número:

82 66 com a gente predomina o singular (81% referência mista e 73% referência genérica). com a forma nós prevalece o plural (68% referência mista e 59% referência genérica). Empiricamente, constatou-se que: a) A concordância com o masculino é categórica quando o referente é [homensexclusivo], e altamente produtiva quando o referente é [misto] ou [genérico]. b) A concordância com o feminino é mais produtiva quando o referente é [mulheres-exclusivo], prevalecendo a combinação da forma a gente com o singular e do pronome nós com o plural. c) Com referente [misto] ou [genérico] prevalece o uso de a gente concordando com o masculino-singular e de nós concordando com o masculino-plural. d) Com referente [misto] prevalece o uso de nós, ao passo que com referente [genérico] o uso de a gente é mais freqüente. e) Entre homens e mulheres. a concordância com o masculino singular favorece a gente e com o masculino plural favorece nós A variação da concordância de gênero entre as mulheres em um estudo de tendências: a generalização do [masc-sg] com a gente na curta duração Embora não se possa caracterizar os resultados a seguir como um estudo de tendências stricto sensu, em função da má distribuição da amostra e do número irrisório de

83 67 estruturas predicativas identificadas, foram confrontados os dados da década de 80 e os referentes ao início da década de 2000 com informantes diferentes (mulheres) para análise do comportamento da comunidade. Interessa-nos analisar, principalmente, o comportamento das mulheres porque só elas apresentam variação de gênero, uma vez que podem utilizar a concordância tanto com o feminino quanto com o masculino, como observado na tabela 3. Entre os homens, a concordância com o masculino é categórica. Por essa razão, a título de ilustração, estabelecemos um cruzamento entre o traço de gênero formal e a década para identificar se houve ou não mudança de comportamento das mulheres na curta duração com relação à variação de gênero em estruturas predicativas com nós e a gente. O gráfico 1 apresenta os resultados de concordância com a gente A presença do traço de gênero com "a gente" em estruturas predicativas: amostra PEUL-RJ (Mulheres) Freq Masc-sg 20 Fem-sg 10 0 Anos 80 Anos 2000 Décadas Gráfico 1: A presença dos traços de gênero com a gente em estruturas predicativas: amostra PEUL-RJ (Mulheres) A ascendência do traçado da linha referente ao [masc.-sg.] evidencia uma mudança de comportamento das mulheres na curta duração. Aparentemente há uma inversão, o masculino-singular generaliza-se de uma década para outra como a forma mais produtiva (de 33% nos anos 80 para 60% na década de 2000), suplantando o emprego do [fem.-sg.] que sofre uma queda significativa de 66% para 40% vinte anos depois. O caráter

84 68 genérico de a gente, entendido como uma persistência semântica herdada do nome coletivo gente, talvez tenha impulsionado o emprego do masculino por ser a forma neutra e nãomarcada, que se generaliza como default, no espaço de tempo observado. Nesse sentido, a análise do comportamento da comunidade parece apontar um novo estágio na gramaticalização de a gente: uma vez que a função pragmático-discursiva da concordância no predicativo é perdida dado que o masculino se generaliza, conseqüentemente, tem-se para o a gente pronominal a perda da subespecificação semântica para o gênero [α FEM]. 70 A presença do traço de gênero com "nós" em estruturas predicativas: amostra PEUL-RJ (Mulheres) Freq Masc-sg Masc-pl Fem-sg Fem-pl Anos 80 Anos 2000 Décadas Gráfico 2: A presença dos traços de gênero com nós em estruturas predicativas: amostra PEUL-RJ (Mulheres) Com a forma nós, entretanto, o comportamento é outro como pode ser visto no gráfico 2. Ainda que seja possível observar um aumento na produtividade do masculinoplural (de 44% na década de 80 para 60% na década de 2000) no espaço de 20 anos, de maneira geral, o traçado das linhas nas duas décadas caracteriza um comportamento

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