Sistemas de Comunicações empregados pelo Exército Brasileiro na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH)

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1 Sistemas de Comunicações empregados pelo Exército Brasileiro na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH) Jefferson de Araújo Ayala 1º Ten Centro Integrado de Guerra Eletrônica CIGE Brasília, DF. Resumo Este trabalho tem por objetivo apresentar os sistemas de comunicações empregados pelo Exército Brasileiro na Missão de Paz das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), no ano de 2007, e analisá-los sob a ótica da Guerra Eletrônica. Palavras-chaves Missão de Paz, Tecnologia e Sistemas de Comunicações, Guerra Eletrônica. I. INTRODUÇÃO Antes de adentrar no sistema de comunicações empregado pelo Exército Brasileiro no Haiti, é necessário realizar uma explanação dos fatores históricos e sócio econômicos do Haiti, que contribuiram para a eclosão do conflito que originou a presença de tropas da ONU no território. A ilha Hispaniola, onde se localiza o Haiti, foi descoberta por Cristóvão Colombo em Já no fim do Século XVI, quase toda a população nativa havia desaparecido, escravizada ou morta pelos conquistadores. A parte ocidental da ilha, onde hoje fica o Haiti, foi cedida à França pela Espanha em No Século XVIII, a região foi a mais próspera colônia francesa na América, graças à exportação de açúcar, cacau e café. Da segunda metade do Século XIX ao começo do Século XX, 20 governantes sucederam-se no poder. Tropas dos Estado Unidos ocuparam o Haiti entre 1915 e Em 1946, foi eleito um presidente negro, Dusmarsais Estimé. Após a derrubada de mais duas administrações governamentais, o médico François Duvalier foi eleito presidente, em Duvalier morreu em 1971 e foi substituído por seu filho, Jean-Claude Duvalier. Em 1986, decretou estado de sítio. Os protestos populares se intensificaram e ele fugiu com a família para a França, deixando em seu lugar o General Henri Namphy. Eleições foram convocadas e Leslie Manigat foi eleito, em pleito caracterizado por grande abstenção. Manigat governou de fevereiro a junho de 1988, quando foi deposto por Namphy. Três meses depois, outro golpe pôs no poder o chefe da guarda presidencial, General Prosper Avril. Depois de mais um período de grande conturbação política, foram realizadas eleições presidenciais livres em dezembro de 1990, vencida pelo padre esquerdista Jean-Bertrand Aristide. Em setembro de 1991, Aristide foi deposto num golpe de Estado liderado pelo General Raul Cedras e se exilou nos EUA. A Organização dos Estados Americanos (OEA), a Organização das Nações Unidas (ONU) e os EUA impuseram sanções econômicas ao país para forçar os militares a permitirem a volta de Aristide ao poder. Em julho de 1993, Cedras e Aristide assinaram pacto em Nova York, acordando o retorno do governo constitucional e a reforma das Forças Armadas. Em outubro de 1993, porém, grupos paramilitares impediram o desembarque de soldados norte-americanos, integrantes de uma Força de Paz da ONU. O elevado número de refugiados haitianos que tentavam ingressar nos EUA fez aumentar a pressão americana pela volta de Aristide. Em maio de 1994, o Conselho de Segurança da ONU decretou bloqueio total ao país. A junta militar empossou um civil, Émile Jonassaint, para exercer a presidência até as eleições marcadas para fevereiro de Os EUA denunciaram o ato como ilegal. Em julho, a ONU autorizou uma intervenção militar, liderada pelos EUA. Jonaissant decretou estado de sítio em 1º de agosto. Em setembro de 1994, força multinacional, liderada pelos EUA, entrou no Haiti para reempossar Aristide. Os chefes militares haitianos renunciaram a seus postos e foram anistiados. Jonaissant deixou a presidência em outubro e Aristide reassumiu o País com a economia destroçada pelas convulsões internas. No período de , apesar de avanços como a eleição democrática de dois presidentes, o Haiti viveu mergulhado em crises. Devido à instabilidade, reformas políticas profundas não puderam ser implementadas. A eleição parlamentar e presidencial de 2000 foi marcada pela suspeita de manipulação por Aristide e seu partido. O diálogo entre oposição e governo ficou prejudicado. Em 2003, a oposição passou a clamar pela renúncia de Aristide. A Comunidade do Caribe, Canadá, União Européia, França, Organização dos Estados Americanos e EUA, apresentaramse como mediadores. Entretanto, a oposição refutou as propostas de mediação, aprofundando a crise. Em fevereiro de 2004, conflitos armados eclodiram em Gonaives, espalhando-se por outras cidades nos dias subseqüentes. Gradualmente, os insurgentes assumiram o controle do norte do Haiti. Apesar dos esforços diplomáticos, a oposição armada ameaçou marchar sobre Porto Príncipe. Aristide deixou o País em 29 de fevereiro e asilou-se na África do Sul. De acordo com as regras de sucessão constitucional, o presidente da Suprema Corte, Bonifácio

2 Alexandre, assumiu a presidência, interinamente. Bonifácio requisitou, de imediato, assistência das Nações Unidas para apoiar uma transição política pacífica e constitucional e manter a segurança interna. Nesse sentido, o Conselho de Segurança (CS) aprovou o envio da Força Multinacional Interina (MIF) que, prontamente, iniciou seu desdobramento, liderada pelos EUA. Considerando que a situação no Haiti ainda constitui ameaça para a paz internacional e a segurança na região, o CS decidiu estabelecer a Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (MINUSTAH), que assumiu a autoridade exercida pela MIF em 01 de junho de Para o comando do componente militar da MINUSTAH foi designado o General Augusto Heleno Ribeiro Pereira, do Exército Brasileiro. O Brasil comanda a força militar da missão de paz da ONU no Haiti desde junho de Os militares do Brasil que estão no Haiti formam o maior contingente brasileiro enviado ao exterior desde a 2ª Guerra Mundial. O Conselho de Segurança da ONU autorizou o envio de força militar na missão de paz para garantir a estabilidade no país após a queda do ex-presidente Jean Bertrand Aristide. 01 Pelotão de Polícia 01 Pelotão de Comunicações 01 Pelotão de Manutenção 01 Pelotão de Suprimento 01 Pelotão de Engenharia 01 Pelotão de Saúde Esse grupamento está instalado nas Bases Bravo (Tabarre), Magnólia (Cite Militairie) e Forte Nacional (Bel Aire). Base Magnólia Base do Forte Nacional Base Bravo. Figura 01: Localização do Haiti Figura 02 : Principais bases brasileiras III. SISTEMAS DE COMUNICAÇÕES Níveis tático e estratégico II. COMPOSIÇÃO DO BATALHÃO Os militares brasileiros que participam da Missão de Paz para a Estabilização do Haiti encontram-se distribuídos conforme a organização abaixo: Comando; Estado Maior; 01 Companhia de Comando e Apoio; 03 Companhias de Fuzileiros; 01 Esquadrão de Fuzileiros Mecanizados; 01 Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais; A maior parte do efetivo do Exército Brasileiro empregado na missão de paz em questão compõe a Companhia de Comando e Apoio, que possui a seguinte organização: 01 Cmt 01 SCmt 01 Seção de Comando 01 Pelotão de Comando Os meios de comunicações a serem empregados em uma missão de paz dependem de diversos fatores, tais como condições geográficas da localidade a ser observada, recursos disponibilizados pelo escalão superior, ligações necessárias entre os diversos escalões, especificidades da missão, possibilidades e limitações das tropas envolvidas e presença de elementos de Guerra Eletrônica na área de conflito. Na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, podemos enumerar como sendo dois os níveis a serem atendidos com os sistemas de comunicações, quais sejam, os níveis estratégico e tático. No nível estratégico, podemos verificar a necessidade de estabelecer ligações entre a tropa instalada no Haiti e Ministério da Defesa, Comando do Exército, Comando da Marinha, Comando da Aeronáutica e Comando Militar de Área que cedeu a maior parte do efetivo que compõe o contingente. No nível tático, podemos citar as ligações realizadas com a MINUSTAH, com as subunidades distribuídas na capital

3 Porto Príncipe, e ligações com tropas em apoio direto ao batalhão brasileiro. Podemos ainda identificar uma função social, onde observamos a necessidade de estabelecimento de ligações para que os militares possam se comunicar com seus familiares, através de linhas telefônicas e Internet. As ligações realizadas com a MINUSTAH são as seguintes: 04 (quatro) ramais telefônicos exclusivos; Lotus Notes da MINUSTAH; MINUSTAH WEB; Internet; Intranet da MINUSTAH; Equipamentos rádio em HF; Equipamento rádio em UHF; Acesso através dos ramais internos do Batalhão; Telefonia Celular; Telefonia Satelital (NERA e Iridium); Iremos, abaixo, falar sobre as características técnicas de alguns desses sistemas. Sistema IMBEL/GIGACOM: utiliza o satélite Brasilsat 2, Banda X, com transmissão bidirecional de dados, vídeo e voz via satélite, com capacidade full duplex de 5,6Mbit/s; Esse sistema permite às tropas brasileiras a realização de acesso à Internet, com o COTER e CITEX, acesso à EBNET, e permite a realização de vídeo conferência com o Ministério da Defesa, COTER e Comando da Marinha. Possibilita, ainda, o acesso à telefonia pública via Embratel e disponibiliza oito ramais RITEX, sendo um para o comandante do batalhão, um para o subcomandante, um para o G9, um para a Cia E, e quatro ramais para fins de fonia social (contato com familiares no Brasil). SISCOMIS: atende diretamente as ligações entre o Ministério da Defesa e o Comando instalado em Porto Príncipe. Figura 05 : Vídeo Conferência Figura 03. Telefone NERA. Figura 04: Telefone Iridium As ligações estabelecidas com o Brasil, no nível tático e estratégico, utilizavam os seguintes sistemas: Sistema IMBEL/GIGACOM BANDA X SISCOMIS Sistema Embratel BANDA C Telefone NERA; Telefone Iridium; Telefone Celular; Internet local; Equipamento Rádio em HF (Reserva); Figura 06: Cobertura do satélite Brasilsat 1 Sistema Embratel: o Ministério da Defesa contrata, junto à empresa Embratel, um serviço de cobertura via satélite, que utiliza a banda C,e tem a capacidade de prover circuito de Comunicações, via satélite, com capacidade para trafegar dados, voz e imagem, com velocidade de 1.024Kbps. Esse sistema é responsável por interligar a central telefônica do Ministério da Defesa com a central telefônica instalada no Posto de Comando do Batalhão Brasileiro, alem de prover

4 um circuito de 256 Kbps para interligar a central telefônica do Posto de Comando do Batalhão Brasileiro à central telefôncia do Grupamento Operativo de Fuzileiros Navais Internet: o acesso à Internet é possível graças a um link de 2 Mbit/s ao custo de US$ mensais, sendo distribuídos 1 Mbit/s para a Base Bravo, 512Kbps para o Gp Op Fz Nv, 256Kbps para o Forte Nacional e 256Kbps para o Jorbat (Base da 3ª Cia Fuz). IV. LIGAÇOES INTERNAS DO BATALHÃO O Batalhão possui ligações internas, em suas bases, possibilitadas pelo uso de centrais telefônicas automáticas. As ligações internas entre as tropas, entre bases e pontos fortes, e entre as próprias bases, é realizada com redes rádio utilizando se de equipamentos rádio Motorola PRO 5150, Motorola PRO 5100, rádios repetidoras Motorola e rádios Yaesu System 600, equipamentos estes também usados pelo Exército em território nacional. Esses equipamentos são de uso civil, não robustecidos, mas de comprovada eficiência no emprego em ações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Os equipamentos rádio da linha PRO 5100 e 5150 constituem-se no principal meio de comunicações tático empregado. Apesar da eficiência comprovada em operações, possui as desvantagens da disponibilidade de poucas freqüências, e da falta de protocolos de segurança, fazendo com que as transmissões sejam emitidas em claro, sendo alvo fácil para atividades de MAGE (meios de apoio de Guerra Eletrônica). A possibilidade do emprego desses equipamentos no Haiti se dá devido ao fato de as milícias haitianas não disporem, atualmente, de tecnologia necessária para o uso eficaz de meios de Guerra Eletrônica. Figura 07 : Antena para satélite Geoestacionário Telefonia satelital: o uso da telefonia via satélite é de uso restrito do Comando das operações, que se utilizam de telefones Iridium e Nera, e foram bastante utilizados na segurança do pleito eleitoral, realizado no ano de Figura 09 : Equipamentos Motorola e Yaesu System 600 Figura 08 : Equipamentos de conectividade satelital Figura 10 : Sítio de antenas montado em Porto Príncipe

5 Existe, ainda, uma rede de telefonia celular convencional, onde os oficiais dispõem de um telefone celular. V. SERVIÇO SOCIAL PRESTADO PELO BATALHÃO O Batalhão dispõe de serviços destinados aos militares em missão, que possibilitam que os mesmos estabeleçam contato com seus familiares. As bases dispõesm de canais de televisão via satélite, serviços de telefonia RITEX, ramais de telefonia convencional, além de Internet. no Haiti, sendo pequena a possibilidade de uso de MAGE. Até o presente momento, as tropas brasileiras utilizam sistemas de comunicações, entre as bases, dotado de protocolos eficientes no que se refere à segurança da informação (nível estratégico). Em se tratando das comunicações a nível tático, principalmente nas frações de primeiro escalão, observa-se o uso de grande quantidade de equipamentos Motorola PRO 5100 e PRO 5150, bem como o equipamento Yaesu System 600. Esses equipamentos têm largo emprego civil e militar (seja por parte das Forças Armadas ou forças auxiliares) e não dispõem de tecnologia de segurança na tramitação de informações, sejam essas informações trafegadas via voz ou dados. A oportunidade, neste momento das operações, faz com que o uso de tais equipamentos seja eficaz e atenda às necessidades operacionais da MINUSTAH. A decisão de adotar tal procedimento deve ser continuamente apoiada por informações obtidas pelos canais de inteligência e Guerra Eletrônica, sabidamente multiplicadores do poder de combate, e por elementos das frações em primeiro escalão, para que, no momento em que a segurança suplante a oportunidade, sejam utilizados equipamentos dotados de tecnologias mais eficientes, no que tange ao nível tático. Jefferson de Araújo Ayala Primeiro Tenente de Comunicações do Exército Brasileiro, jefferson_ayala@hotmail.com. Figura 11 : antena receptora de sinal via satélite VI. CONCLUSÕES, SOB A ÓTICA DA GUERRA ELETRÔNICA Inicialmente, podemos afirmar que os sistemas de comunicações implementados nas bases utilizadas pelas tropas brasileiras na cidade de Porto Príncipe são eficientes, sendo que a instalação de grande parte e manutenção dos equipamentos e sistemas é dominada por integrantes do Exército Brasileiro, responsáveis pelo Comando e Controle. Os sistemas que empregam comunicações via satélite, possuem auxílio de suporte técnico contratado pelo Ministério da Defesa junto à empresa Embratel, mas a operação e manutenção é realizada por integrantes do Exército, com cursos realizados na Embratel. O fato de o Exército Brasileiro dominar a instalação de grande parte dos equipamentos, manutenção e operação da totalidade do sistema, com pessoal da própria instituição, faz com que os custos do sistema de comunicações em operação sejam reduzidos. Lembramos ainda que o Exército que domina a tecnologia da informação está dando um passo decisivo para a inserção ou manutenção dentro do grupo de exércitos desenvolvidos. Através de informações obtidas pela própria tropa atuando no Haiti, e pelo serviço de inteligência, pode-se concluir a capacidade tecnológica das forças envolvidas no conflito, qual seja, as milícias haitianas. É sabido,através desses meios de obtenção de informações, que as milícias não dispõem de equipamentos de Guerra Eletrônica eficientes para realizar algum tipo de MAE (meios de apoio de Guerra Eletrônica) no sistema de comunicações empregado pelas tropas brasileiras REFERÊNCIAS [1] Emprego da Guerra Eletrônica. Brasília: Estabelecimento General Gustavo Cordeiro de Farias (EGGCF), [2] Participação do Brasil na Missão de Paz do Haiti. Disponível em:< Acesso em 02 Jul [3] Histórico da Missão para a Estabilização do Haiti. Disponível em: < Acesso em: 01 Jul [4] Batalhão Haiti. Disponível em < haiti.htm>. Acesso em 03 Jul [4] Missão das Nações Unidas para Estabilização no Haiti (MINUSTAH). Disponível em <http: // Acesso em 10 Jul 2007.