Quadro 1 Descrição das variáveis
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- Vítor Paixão Benke
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1 É SEGURO USAR ÁGUA DE CHUVA PARA BANHO? Eduardo Cohim Prof. Mestre do Curso de Engenharia Ambiental da FTC e Pesquisador da Rede de Tecnologias Limpas UFBA; ecohim@ufba.br Resumo O processo de urbanização tem se exacerbado nas últimas décadas, resultando em pressão sobre os recursos naturais, principalmente a água. A água de chuva é uma alternativa a ser considerada na gestão sustentável da água em ambientes urbanos. Entretanto, em decorrência da natureza aleatória das chuvas, a viabilidade econômica de seu uso depende da freqüência de sua utilização. Apesar disso, a água de chuva tem sido recomendada para usos como irrigação e descarga de vasos sanitários. O banho é responsável por mais de 30% do consumo doméstico de água, além de ser um uso freqüente, o que favorece a viabilidade do aproveitamento de água de chuva. Entretanto, é necessário que se responda à pergunta: é seguro o uso de água de chuva para banho? Esse artigo pretende colaborar para a resposta a essa pergunta, apresentando o resultado da avaliação quantitativa de risco microbiológico para uso de água de chuva para banho Palavras Chave: Captação de água de chuva; usos para água de chuva; água de chuva para banho; avaliação quantitativa de risco microbiológico. Introdução Vivemos a era da urbanização. Em 900, a população mundial era de cerca de,6 bilhões de habitantes e desses, apenas 60 milhões viviam em cidades. Em 2005, esse número era 20 vezes maior: 3,2 bilhões de habitantes, e, conforme previsões da Comissão de População e Desenvolvimento da ONU, em 2030 esse número será de 4,9 bilhões. Desse total, 80% estarão em países menos desenvolvidos [](UN, 2007). Tais concentrações populacionais apresentam grande demanda por água, alimento, bens e serviços, transporte, gestão de resíduos, etc., exercendo pressões crescentes sobre o meio ambiente. Um recurso ambiental sob forte pressão é a água. Uma recomendação para melhorar a sustentabilidade do uso urbano da água é o aproveitamento das águas de chuva como fonte de abastecimento. Mas, diversos trabalhos apontam para a ocorrência de microrganismos nessas águas, resultando na sua indicação para usos menos nobres como descarga de vasos sanitários e irrigação de jardins, limitando a viabilidade econômica do seu uso.
2 Porém, sabe-se que nenhum sistema de abastecimento de água é 00% seguro durante todo o tempo [2](Gould, sd). Admite-se aqui a impropriedade da água de chuva para bebida sem tratamento prévio. Mas, seria adequada para usos não consuntivos como banho, por exemplo? O objetivo deste artigo é avaliar a aptidão da água de chuva, do ponto de vista microbiológico, para banho. Material e Métodos Utilizou-se a metodologia de Avaliação Quantitativa de Risco Microbiológico AQRM. Adotou-se aqui uma abordagem estocástica, utilizando-se o Método de Monte Carlo, o que permite levar em conta a incerteza dos parâmetros utilizados. Para cada um deles, foi gerada uma série de 0 mil valores, que, combinados, configuram número igual de cenários. Adota-se como referência o valor da mediana dos resultados [4](Mara,2006). As etapas da AQRM são descritas a seguir. -A identificação do perigo; 2- A caracterização do perigo; 3- A avaliação da exposição; 4- A caracterização do risco. Foi feita uma revisão de artigos internacionais e nacionais sobre qualidade microbiológica da água de chuva, encontrando-se uma prevalência de 4,4% para Campylobacter spp e,4% para Salmonella spp. A principal fonte de contaminação por microrganismos na água de chuva é a partir de fezes de pássaros e os organismos mais freqüentemente isolados são Salmonela spp e Campylobacter spp [4](Fewtrell e Kay, 2007). Campylobacter spp, foi adotado como organismo de referência neste estudo devido a maior prevalência na água armazenada em cisternas e a menor dose infectiva quando comparada à Salmonella spp. Admitiu-se, de forma conservadora, que as amostras positivas obedecem uma distribuição normal. A freqüência e duração do banho adotada foi a obtida por [5]Wilkes et al. (2005). O volume ingerido foi estimado pelo autor, tomando como referência o valor adotado para ingestão de água durante banho recreativo com imersão total do corpo, de 20 a 50 ml em hora [6] (WHO, 200). As distribuições adotadas e os respectivos valores característicos estão descritos no Quadro.
3 Quadro Descrição das variáveis Variável Campylobacter na água de chuva Frequencia de amostras positivas Frequencia de banho Duração de banho Taxa de ingestão de água durante o banho Unidade NMP/L Lognormal decimal Normal #/dia min Lognormal Lognormal ml/min. Normal Distribuição Mínimo: 0,2 Mediana: Máximo: 45 Média: 0,05 Desvio padrão: 0,0 Mínimo: 0, Média: 0,9 Máximo: 5,0 Mínimo: 0,9 Média: 8,3 Máximo: 44 Média: 0,5 Desvio padrão: 0,2 MODELO BETA-POISSON: P I d N 50 2 (equação ) Onde, P I =risco de infecção em uma exposição; d=número de patógenos ingeridos; N 50 = número de patógenos que infectará 50% da população exposta; α é um parâmetro de ajuste da curva. Para Campylobacter spp, N 50 vale 896 e α, 0,45. O risco anual fica caracterizado pela Equação 2, onde P n é o risco anual e n o número de exposições no ano. P ( ) n P I (equação 2) Uma vez que nem toda pessoa infectada adoece, é necessário que se faça uma estimativa da probabilidade de contrair-se uma doença, PD. PD=PD:I x P I (equação 3) Onde PD= probabilidade de uma pessoa infectada tornar-se doente; PD:I= probabilidade de uma pessoa infectada desenvolver doença clínica, adotando-se o valor de 0,7 [3](Mara, 2006). O impacto causado pela doença é medido por DALY (disability-adjusted life years), adotada e recomendada pela Organização Mundial de Saúde [3](Mara,2006), que leva em conta os anos perdidos por morte prematura e os anos vividos com deficiência, considerando-se a grau de severidade da doença. No caso de campylobacteriose, cada caso de doença representa uma perda (DALY) de 4,6 x 0-6 anos. Resultados e Discussão O gráfico da Figura 0 apresenta os resultados na forma de curva de probabilidade acumulada. n
4 00% DALY 90% 80% 70% 60% 50% Percentil DALY 25,43E ,86E ,65E-06 40% 30% 20% 0% 0%,00E-08,00E-07,00E-06,00E-05,00E-04,00E-03 Figura Distribuição de freqüência acumulada da DALY Observa-se que o risco mediano seria de 2,86 x 0-6 DALY (anos) por pessoa por ano (6,2 x 0-4 casos de doença), o que corresponde a cerca de 90 segundos por pessoa por ano. O número médio de casos de doenças gastrintestinais em países como o Brasil é de 2 por pessoa por ano. O uso da água de chuva para banho representaria um aumento de 0,03% que, segundo [7]Westrell et al. (2004) poderia ser classificado como insignificante, já que inferior a 0,%. O valor encontrado para a DALY é equivalente ao que a OMS recomenda para água de beber, igual a x 0-6 DALY por pessoa por ano. [4]Fewtrell e Kay (2007) elaboraram estudo semelhante para uso de água de chuva para descarga de bacia sanitário em uma comunidade hipotética na Inglaterra e encontraram o valor de,5 x 0-8 DALY por pessoa por ano. Considerando as condições de exposição consideradas, pode-se dizer que o resultado encontrado neste trabalho está coerente. Esse resultado pode ser comparado ainda com o impacto de outros fatores de risco no Brasil, medidos em termos de DALY e mostrados na Quadro 2. Observa-se que o impacto resultante do uso da água de chuva para banho é 30 mil vezes menor que a morte por câncer, 35 mil que homicídio, 4 mil que acidente de trabalho e 23 mil que acidentes de trânsito. Esses números indicam que existem prioridades bem mais urgentes que tratar água de chuva para uso em banho. Quadro 2 - DALY para fatores de risco no Brasil Acidente em Acidente de Homicídio Câncer Transporte Trabalho 6,6E-02,2E-02,0E-0 8,5E-02 Fonte: Elaboração própria a partir de dados do Ministério da Saúde, 2008.
5 [8]Heyworth et al. (2006) realizaram estudos epidemiológicos na Austrália e concluíram que o consumo de água de chuva armazenada em cisternas não aumenta o risco de gastrenterite com relação ao consumo de água do sistema público em crianças de 4 a 6 anos, numa evidencia do baixo risco representado pelo uso dessa fonte de água. Cabe, entretanto, ressaltar que a manutenção de valores baixos de risco para uso de água de chuva para banho, ou mesmo sua redução, requer a operação cuidadosa e o manuseio adequado da água no interior da residência. Nesse sentido, é imprescindível o descarte das primeiras águas e a não introdução de objetos contaminados na cisterna. Conclusões Com base nos resultados, pode-se sugerir que a água de chuva, em condições normais, tem qualidade microbiológica compatível com o uso para banho, desde que se assegure cuidados mínimos na operação do sistema, tais como o descarte das primeiras águas e a limpeza e desinfecção periódica da cisterna Referências Bibliográficas []UN (2007),Tendencias demográficas en el mundo - Informe del Secretario General. [2] GOULD, J. (sd). Is rainwater safe to drink? A review of recent findings. Asal Consultants/ Lincoln University [3]MARA, D. (2006). A guide to the guidelines. A numerical guide to the WHO Guidelines on Wastewater Use in Agriculture and Practical Advice to Transpose them into National Standards. School of Civil Engineering. University of Leeds. [4] FEWTRELL, L. e KAY, D. Quantitative microbial risk assessment with respect to Campylobacter Spp in toilets flushed with harvested rainwater. Water and Environmental Journal vol 2, 2007, pp [5] WILKES, C. R. et al. Probability distributions for showering and bathing water-use behavior forn various U.S. subpopulations. Risk Analysis vol 25, no. 2, pp [6]WHO (200) Bathing Water Quality and Human Health. Outcome of an Expert Consultation. Farnham, UK. [7]WESTRELL, T. et al. (2004). QMRA (quantitative microbial risk assessment) and HACP (hazard analysis critical control points) for management of pathogens in wastewater and sewage sludge treatment and reuse. Water Science and Technology 50(2):
6 [8]HEYWORTH, J. S. et AL (2006) Consumption of untreated tank rainwater and gastroenteritis among young children in South Australia. International Journal of Epidemiology. Vol 35 pp
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