TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO AMAZONAS

Transcrição

1 TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO AMAZONAS COMISSÃO DE FISCALIZAÇÃO DA PROPAGANDA ELEITORAL PUBLICAÇÃO EM MURAL ELETRÔNICO Nº 16490/2016 CONTEÚDO DA DECISÃO PEDIDO DE RESPOSTA Nº Classe Rp REQUERENTE(S): ARTHUR VIRGÍLIO DO CARMO RIBEIRO NETO ADVOGADO(S): Daniel Fabio Jacob Nogueira (OAB: 3136), Marco Aurélio de Lima Choy (OAB: 4271), Marcos dos Santos Carmo Filho (OAB: 6818), Ney Bastos Soares Junior (OAB: 4336) REQUERENTE(S): COLIGAÇÃO MAJORITÁRIA "POR UMA SÓ MANAUS" ADVOGADO(S): Daniel Fabio Jacob Nogueira (OAB: 3136), Marco Aurélio de Lima Choy (OAB: 4271), Marcos dos Santos Carmo Filho (OAB: 6818), Ney Bastos Soares Junior (OAB: 4336) REQUERIDO(S): MARCELO RAMOS RODRIGUES ADVOGADO(S): Francisco Augusto Martins da Sillva (OAB: 1753), João Victor Pereira Martins da Silva (OAB: 8726), José Luiz Franco de Moura Mattos Júnior (OAB: 5517), Juliano Luis Cerqueira Mendes (OAB: 3940) RELATOR: Lídia de Abreu Carvalho Frota DECISÃO MONOCRÁTICA Processo n.º Classe 99 PEDIDO DE RESPOSTA Representante: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto. Representante: Coligação Majoritária "Por Uma Só Manaus" - PSDB, PMDB, PP, PTB, PPS, PHS, PV, PSL, PPL, PRP e PTN. Advogado: Daniel Fábio Jacob Nogueira OAB/AM e outros Representado: Marcelo Ramos Rodrigues Advogado: Francisco Augusto Martins da Silva - OAB/AM e outros SADP n.º /2016. SENTENÇA Vistos, etc. Trata-se de pedido de resposta ajuizado por Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto e Coligação Majoritária Por Uma só Manaus em face de Marcelo Ramos Rodrigues. Alega o Representante (02/09) que, no dia 11 de outubro de 2016, foi divulgada postagem do Representado em sua página da rede social Facebook, especificamente no endereço < marceloramosam/posts/ >, na qual foram veiculadas diversas acusações, elencando uma série de fatos sabidamente inverídicos, caluniosos, injuriosos e difamatórios com o propósito de denegrir a imagem dos candidato Representante.

2 Transcrevo a parte que foi destacada da propaganda atacada: "O desespero do meu adversário não têm(sic) limites. Não satisfeito em forjar vídeos, inventar mentiras, achincalhar a vida das pessoas, usar servidores pagos com dinheiro da prefeitura pra ofender a minha honra e da minha família, chantagear servidores simples que dependem de seus empregos na PMM, agora, partiu para agressões e ameaças nos nossos comícios. Agora a pouco no nosso comício do Terra Nova militantes foram contratados para atacar as pessoas e tentar gerar uma grande confusão. (...)" Destaca individualmente as afirmações realizadas contra o Representante, argumentando ao final que todas estas são sabidamente inverídicas e difamatórias. Preliminarmente postula a remoção da propaganda mediante liminar de antecipação de tutela e ao final, requer o deferimento do pedido de Direito de Resposta, a ser exercido por período não inferior ao dobro daquele em que a propaganda ofensiva permanecer disponível, nos mesmos termos da publicação em que foi propalada a ofensa. Liminar deferida às fls. 36/37. Regularmente notificada, o Representado alega (43/50) o descabimento do Direito de Resposta, alegando que o conteúdo da informação deve ser sabidamente inverídico, não podendo ser passível de dúvida, controvérsia ou discussão na esfera política. Argumenta, ainda, que os Representantes não apresentaram, com a inicial, provas que infirmassem taxativamente todo o conteúdo da manifestação, pugnando, ao final, pela improcedência da Representação. representação. Instado se manifestar, o Parquet opinou (54/59) pela procedência da É o relatório. Passo a decidir. Sabe-se que o direito de resposta é uma garantia com fulcro constitucional e, especificamente, na seara eleitoral um instituto que proporciona o equilíbrio entre o direito da personalidade e a liberdade de expressão, mais precisamente durante a propaganda eleitoral. Decerto que o artigo 58 da Lei 9.504/97 trata sobre a matéria, contudo, não a esgota, cabendo à doutrina e jurisprudência delimitarem sua abrangência, bem como estabelecer sua aplicabilidade. Nesse sentido, é cediço que a legislação e jurisprudência apontam no sentido de impedir que ocorram ofensas que extrapolem o debate político-administrativo e penetrem na esfera da honra subjetiva dos candidatos. Nesse sentido: REPRESENTAÇÃO ELEITORAL. PROPAGANDA ELEITORAL GRATUITA. TELEVISÃO. ELEIÇÃO MAJORITÁRIA. ASSOCIAÇÃO. MENSAGEM. DEPRECIATIVA. IMAGEM. CANDIDATO. OFENSA PESSOAL. CARACTERIZAÇÃO. INOVAÇÃO. CONCEITO. PRECEDENTES TSE. REPRIMENDA. CONFIGURAÇÃO. PARCIAL PROCEDÊNCIA. 1. Conforme precedentes do TSE, que inovou no conceito de propaganda eleitoral gratuita, não se pode admitir

3 que neste tipo de veiculação haja ofensas pessoais a candidatos, restando que se faça alusão propositivas e programáticas em relação as plataformas de governo. 2. Fazer referência a fatos isolados que denotem ser depreciativos a candidato, relacionando-os a sua imagem, enseja a caracterizar situação que possa a embutir no eleitorado qual o melhor candidato a ser votado, devendo ser retirada do 'ar' a propaganda eleitoral gratuita. Procedência parcial da Representação. (TRE-CE - 42: CE, Relator: ANTONIO SALES DE OLIVEIRA, Data de Julgamento: 20/10/2014, Data de Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 20/10/2014). Imperioso reconhecer a proteção constitucional à liberdade de expressão, amplamente defendida pela Representada. Contudo, como bem reconhece, a proteção à realização da crítica não se revela livre de limites, restando delimitada à realização de crítica de natureza político-administrativa, sem ofensas à honra dos candidatos. Sendo assim, cinge-se a controvérsia à existência ou não de discurso cujo conteúdo contenha afirmações caluniosas, injuriosas, difamatórias ou sabidamente inverídicas. Destaco que este Juízo por vezes asseverou o direito à realização de crítica político-administrativa, ainda que de natureza ácida, desde que não fossem voltadas a atingir a honra pessoal de qualquer candidato. Em que pese o Representado arguir que não restou provada a inveracidade do que publicou, verifico que busca uma verdadeira inversão lógica, vez que ao publicar diversas acusações contra o Representante, sem apresentar qualquer comprovação das mesmas, espera transferir a este a necessidade de comprovação da inverdade dos fatos, como se coubesse ao ofendido pelas acusações a comprovação de sua inocência e não o contrário. Como é de conhecimento das partes, informação passível de dúvida, controvérsia ou discussão na esfera política não pode ser considerada informação inverídica. Contudo, o Representado, ao proferir as acusações contra o Representante, não lastreou as mesmas sequer com o mínimo necessário para gerar discussão quanto à sua plausibilidade. Verifico que na parte supratranscrita o discurso do Representado extrapola a crítica política, convertendo-se numa série de acusações contra o Representante, com a utilização de termos injuriosos, difamatórios e caluniosos a permear seu conteúdo. Sobre o tema, colaciono os seguintes julgados: AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. ELEIÇÕES PROPAGANDA ELEITORAL NEGATIVA. INTERNET. MULTA. ASTREINTES. DESPROVIMENTO. 1. Na espécie, a irregularidade consistiu na divulgação, em sitio da internet, de material calunioso e ofensivo à honra e à dignidade do agravado, conteúdo que extrapolou o exercício da liberdade de expressão e de informação. 2. O acórdão recorrido está em consonância com a jurisprudência do TSE, de que a livre manifestação do pensamento, a liberdade de imprensa e o direito de crítica não encerram direitos ou garantias de caráter absoluto, atraindo a sanção da lei eleitoral, a posteriori, no caso de ofensa aos direitos de personalidade. Precedentes: Rp /DF, Rel. Min. Henrique Neves, PSESS de e AgRg-AI , Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe de O pedido de redução do valor da multa não merece provimento, pois a agravante não indicou qualquer elemento que comprove sua desproporcionalidade ou irrazoabilidade. Precedente: AgR-AI

4 4224, Rel. Min. Castro Meira, julgado na sessão de Agravo regimental não provido. (TSE - AgR-AI PR; Relator(a): Min. JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, Julgamento: 11/03/2014; Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 57, Data 25/03/2014, Página 54) RECURSO ELEITORAL. ELEIÇÕES REPRESENTAÇÃO. PROPAGANDA ELEITORAL NEGATIVA. VÍDEO. POSTAGENS NA INTERNET. IMPUTAÇÃO DE PRÁTICA DELITIVA A CANDIDATO. EXTRAPOLAÇÃO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO E CRÍTICA. RETIRADA DO VÍDEO. MULTA NÃO APLICÁVEL. 1. É permitida a propaganda eleitoral na internet, a partir de 5 de julho do ano da eleição. Entretanto, não é tolerada divulgações que tenha o objetivo de caluniar, difamar ou injuriar candidato a mandato eleitoral (art. 58 da Lei nº 9.504/97 e art. 243, IX do CE). 2. Os princípios da livre manifestação do pensamento e da liberdade de informação não se prestam a garantir divulgação de ofensas, calúnias e inverdades, durante o período eleitoral, que possuam a clara finalidade de desequilibrar a disputa eletiva, em afronta à higidez e igualdade de oportunidades que devem permear as eleições. 3. Impõe-se a retirada de vídeo postado no Youtube e Facebook, contendo afirmações ofensivas, imputando a candidato possível prática de "compra de votos", denominando-o de "homem da mala preta", caracterizando propaganda eleitoral negativa. 4. Configura-se a responsabilidade da provedora de internet pelo conteúdo indevido, quando, notificada judicialmente, não providenciar sua exclusão no prazo determinado; ou quando houver comprovação de seu prévio conhecimento sobre a propaganda irregular, nos termos do art. 57-F, único, da Lei nº 9.504/ Apesar da ilicitude do conteúdo do vídeo, ficou demonstrado que nenhuma das hipóteses legais de responsabilização das proprietárias dos sites foi configurada no caso em apreço, descabendo a imposição de qualquer penalidade pecuniária. 6. Recursos conhecidos e providos, parcial (1ª recorrente) e integral (2ª recorrente). (TRE-SE - RE SE; Relator(a): CLÉA MONTEIRO ALVES SCHLINGMANN; Julgamento: 29/06/2010; Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 229, Data 12/12/2012) Nesse mesmo sentido, entendimento recentíssimo do colegiado deste Tribunal decidiu que insulto de cunho pessoal enseja o direito pleiteado (AC n.º 497, de 27/09/2016. Rel. Abraham Peixoto Gomes Filho), o que vislumbro nestes autos. Diante de todo o exposto e, em consonância com o Ministério Público Eleitoral, julgo PROCEDENTE o pedido, deferindo o direito de resposta a ser exercido pelo dobro do tempo em que a propaganda ofensiva esteve disponível, nos mesmos termos e com os mesmos elementos de destaque utilizados na publicação em que foi propalada a ofensa, conforme o artigo 58, 3º, II, c da Lei 9.504/97. Expeça-se o necessário imediatamente. Manaus, 21 de outubro de LÍDIA DE ABREU CARVALHO FROTA Juíza Eleitoral MANAUS - AM, 21 de Outubro de 2016

5 (original assinado) DRA. LÍDIA DE ABREU CARVALHO FROTA JUÍZA DE ZONA ELEITORAL Certifico que a(o) presente DECISÃO MONOCRÁTICA, proferido(a) em 21 de Outubro de 2016, foi publicado(a) em Mural Eletrônico, sob nº 16490/2016, com fundamento no(a) Resolução TRE-AM nº 7/2016. Do que eu, GISLEINA MELO DE OLIVEIRA GUIMARAES, lavrei em 23 de Outubro de 2016 às 15:00 horas.