Características físicas e funcionais de um ventilador pulmonar mecânico manual
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- Alice Aragão Pinheiro
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1 ARTIGO RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva Características físicas e funcionais de um ventilador pulmonar mecânico manual An evaluation of the physical and functional characteristics of a manually operated pulmonar mechanical ventilator Jefferson Guimarães de Resende* Abstract: Objective: to evaluate the physical and functional characteristics of the CFR, a manually operated pulmonar mechanical ventilator, both models, according with the ASTM F920 standard. Method: the tests were performed using one Respiratory Profile Monitor model CO2SMO Plus DX 8100 connected to an airway compound by a kink of faucet that can change the airway resistance, and a T piece that was used to connect a FiO2 Monitor OXITRACK OX 500. Linked to the airway it has a Lung Simulator LS2000. A compressed air source was produced by an oilless compressor, that was connected to a water filter and to a regulatory valve that permits that the compressed air goes to the flowmeter in a 3.5 Kgf/cm2 pressure. The oxygen was provided by a cylinder, linked to a flowmeter but using a similar regulatory valve that permits to define the gas pressure in 3.5 Kgf/cm2 before going to the flowmeter. The Respiratory Rate, the I/E ratio, the compliance, the airway resistance and the peak inspiratory flow was read at the monitor display after 10 minutes from the beginning of each test. The tests were realized after the devices had been storaged in two different temperatures (22 º C negative and 60 º C positive), had been dropped on a concrete floor, had been deep in water and used with simulated vomitus. Results: During the storage at 22 º C, the pressure monitor broke: the inside safety valve opened, losing its function, and the monitor internal mechanism change and was not possible to be fixed. After the drop on the concrete floor, the neo/ child CFR kneaded the cover of the PIP valve, that cause in it a very little mark, without any change in its structure that could compromise its function. After the use of the vomitus, the CFR works normally; the material goes out through the several holes of the PIP valve. The CFR works well in different conditions of resistance and compliance, in different respiratory rates and gas-afferent flow; it was always possible to achieve the minimal requirements of Vt. Conclusion: According with the realized tests, the CFR performance and the physical characteristics, of both models, were in accordance with the ASTM F920 requirements. Key words: mechanical ventilator manually operated; pulmonary ventilation with intermittent positive pressure; ventilation at resuscitation. *Médico Intensivista Neonatal Assistente da Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul, da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Trabalho realizado em Brasília-DF, em laboratório especialmente montado pelo autor. Endereço para correspondência: Jefferson Guimarães de Resende SHIN QL 10, conjunto 1, casa 14 Lago Norte Brasília-DF Telefone (61) jeffersoncfr@hotmail.com C ertamente a utilização da ventilação pulmonar mecânica ciclada manualmente é a mais freqüente modalidade de assistência ventilatória mecânica. Ela se fez necessária em 8,35% dentre os recém-nascidos em uma maternidade de nível secundário no Estado de São Paulo, Brasil, de acordo com dados de Almeida e cls 1. Este percentual subiu para 46% na série de 89 prematuros nascidos de parto pélvico em estudo de Draque e cls 2. E certamente é utilizada nas salas de emergência, nos centros cirúrgicos, nas ambulâncias, dentre outros. O equipamento de assistência ventilatória manual utilizado na maioria das vezes é a bolsa auto-inflável, inclusive por pessoal para-médico. Estes instrumentos requerem uma elaborada técnica de utilização já que, como serão capazes de permitir a geração de pressão intrapulmonar, bem como serão os veículos para impor um volume de gases nos pulmões do paciente, com concentração variável de oxigênio, poderão beneficiar ou causar danos a esse paciente. A literatura nos aponta alguns dados preocupantes. Em uma extensa revisão de Barnes 3 é fácil perceber a diversidade de resultados na geração de volumes pulmonares que serão liberados para os pulmões, a depender do tamanho das mãos do operador, do tempo inspiratório imposto, da utilização de máscaras faciais com ou sem coxim, para citar algumas variáveis que resultariam em bons ou maus resultados para o paciente que está em situação agônica. Em um estudo de Connors 4, fica a preocupação com a qualidade de bolsas auto-infláveis produzidas nos Estados Unidos, aprovados pelo FDA para uso em recém-nascidos, qualidade essa medida por ela à luz de alguns standards internacionais. Existem alguns tipos de equipamentos comercializados no Brasil para promover ventilação pulmonar mecânica, de ciclagem manual. Os mais conhecidos são, evidentemente, as bolsas auto-infláveis. 108
2 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO A legislação brasileira exige que todos tenham Registro no Ministério da Saúde. Para se obter esse registro imagina-se necessário que os equipamentos apresentem performance que demonstre efetividade e segurança. Mas as Normas brasileiras que definem requisitos mínimos de eficácia e segurança somente existem para ventiladores automáticos, com uma fonte eletro-eletrônica de ciclagem 5. Nos Estados Unidos, o FDA (Food and Drug Administration) exige que estes dispositivos de ventilação manual atendam aos requisitos mínimos do ASTM F920, da American Society for Testing and Materials 6. No Brasil, como alternativa às bolsas auto-infláveis e na expectativa de se agregar mais segurança e eficácia, foi desenvolvido o CFR- Continuous Flow Reviver 7, que é um equipamento para ventilação pulmonar mecânica, de ciclagem manual, portátil, pequeno, com modelos para uso em crianças e adultos, que usa fluxo contínuo de gases com até 100% de oxigênio, que permite limitar níveis de pico de pressão de insuflação pulmonar (PIP), permite definir pressão positiva no final da expiração (PEEP), ciclagem com apenas uma das mãos, que permite ser desmontado para proceder limpeza, dentre outras facilidades. Os estudos elaborados no Laboratório de Anestesiologia da Universidade de Brasília 7 que demonstraram, em modelos analógicos, que o CFR é capaz de impor pressão e volume ao paciente de acordo com a regulagem do aparelho, bem como o que demonstrou sua segurança em relação à eliminação de CO 2 8 foram apresentados à comunidade científica nos canais competentes. Este aparelho vem sendo utilizado em praticamente todo o Brasil, já em um número expressivo de serviços. Existem aproximadamente destes aparelhos espalhados pelo país até o início de 2001, de acordo com a empresa que o produz, a Schinköeth Equipamentos Médico-hospitalares Ltda., Brasília, Brasil. O objetivo do presente trabalho é divulgar alguns requerimentos mínimos exigidos pelo ASTM F920, que em suma é a exigência do FDA para estes equipamentos, demonstrar a performance do CFR, tanto o modelo adulto quanto o modelo infantil/neonatal frente a este standard, e chamar a atenção para este importante tópico de segurança no trato com os pacientes que cuidamos em nosso dia a dia, fornecendo elementos que nos permitam analisar melhor os produtos que adquirimos, forçando os fabricantes a produzirem aparelhos que tragam benefícios para os pacientes e não danos evitáveis. ABREVIATURAS UTILIZADAS: PIP= pico de pressão inspiratória; PEEP= pressão positiva no final da expiração; FiO 2 = fração inspirada de oxigênio; FAG= fluxo aferente de gases; PIF= pico de fluxo inspiratório; VC= volume corrente; SARA = Síndrome do Desconforto Respiratório do Adulto. MATERIAL E MÉTODOS Os testes foram feitos utilizando um Monitor de Perfil Respiratório CO 2 SMO+, da Novametrix Medical Systems Inc. que no Brasil, é produzido pela Dixtal Biomédica Ind. e Com. Ltda., São Paulo, modelo CO 2 SMO Plus DX 8100, conectado a uma via aérea composta por um registro que permite dificultar de modo progressivo a passagem de gases através deste, alterando, portanto, a resistência, por uma peça T em que se adicionou um oxímetro ambiental OXITRACK OX 500, produzido pela Digicare, que usa um sensor de oxigênio Class R 17 MED, Sensor Technologies da Teledyne Analytical Instruments (CA-USA). Ligado à via aérea, foi instalado o simulador pulmonar Lung Simulator LS2000 produzido no Brasil por Intermed Ltda., São Paulo. Usando este monitor e o simulador pulmonar conectado a essa via aérea é possível simular e aferir diversas situações, com diferentes resistências e complacências pulmonares, permitindo, assim, avaliar a performance do CFR diante de diversas situações clínicas. A fonte de ar comprimido era um compressor isento de óleo, conectado a um filtro de água e a uma válvula reguladora de pressão de rede, que permitia que o ar comprimido fosse liberado ao fluxômetro a 3,5 Kgf/cm 2. A fonte de oxigênio, um produto White Martins, São Paulo, Brasil, provinha de um cilindro, ligado a uma válvula reguladora de pressão que, também, permitia que o oxigênio fosse liberado ao fluxômetro a 3,5 Kgf/cm 2. O simulador pulmonar permitia definição de diferentes complacências alterando a tensão de diversas molas. Durante os testes, a freqüência respiratória, a relação I/E, a complacência, a resistência da via aérea, e o PIF eram lidos no display do monitor após 10 minutos do início de cada teste, anotando-se o número mais estável possível. Por exigência do standard, o CFR (ambos os modelos) foi colocado em duas diferentes temperaturas antes dos testes, 22 º C abaixo de zero e 60 º C, dois deles foram deixado cair no chão de concreto de uma altura de um metro (na pior posição possível que pudesse permitir danos ao aparelho), outros dois foram mergulhados em uma 109
3 ARTIGO RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva caixa de água de litros e também foram utilizados após serem invadidos por uma mistura de sopa de bebê aquecida simulando vômito. Foi decidido proceder algumas alterações nos testes, porém sem comprometer a lógica dos mesmos devido impossibilidades operacionais. Por exemplo, para conhecer a resistência inspiratória (item 7.4 a e 7.4 b do standard) não tínhamos um fluxômetro para medir o fluxo de uma fonte de vácuo colocada na saída da via do paciente. Assim, um fluxo aferente era introduzido pela via de entrada normal do CFR, o manômetro era colocado em sua inserção habitual e a via de saída expiratória era hermeticamente fechada de sorte que, com a via do paciente aberta, media-se a pressão acusada no manômetro em diferentes fluxos aferentes de gases, de acordo com o modelo de CFR usado, expressando assim a dificuldade que o gás teria para deixar o CFR pela única via aberta, a via do paciente. Para medir a resistência expiratória a nível da via do paciente (7.3 a e 7.3 b do standard), a válvula PEEP foi mantida aberta o máximo possível, a via de entrada de gases e o orifício de conexão do manômetro foram fechados. O fluxo aferente de gases era imposto na via do paciente e um monitor de pressão era conectado entre a fonte de gases e a via do paciente, de sorte a medir o nível de dificuldade que haveria para o gás passar de fora para dentro do CFR, ou seja, do paciente para dentro do CFR. Para aferir a FiO 2 do gás que deixava o CFR através da via de saída para o paciente, foi utilizado apenas oxigênio como gás aferente (conforme preconiza o standard). Com o instrumental utilizado para executar os testes solicitados pelo ASTM F920 não foi possível alcançar em todas as vezes os valores de complacência ou resistência que o standard definia. Não houve possibilidade técnica para realizar estudos em ambientes com temperaturas controladas de 18 º C e +50 º C. Não conseguimos medir o espaço morto do equipamento com o método solicitado no standard. Em Brasília, local da realização dos testes, a altitude é de metros acima do nível do mar e, à época da realização dos testes, a umidade relativa do ar variou de 33% a 61% e a temperatura variou entre 23 º C a 28 º C. Não tivemos possibilidade de controlar umidade relativa do ar e nem temperatura ambiente durante os testes. RESULTADOS Usando a definição do standard, número , o CFR-Continuous Flow Reviver (figura 1) é um ressuscitador que gera pressão pela força de uma fonte de gás externa (gas-powered ressuscitator), ciclado manualmente. É de fluxo contínuo, ciclado a tempo, manualmente, e pressão limitado. A conexão do paciente, em ambos os modelos, tem dimensões de 15 mm e 22 mm de diâmetros interno e externo, respectivamente, para se adaptar máscaras faciais e conexão de tubo endotraqueal, de acordo, portanto, com ISO e especificação F 1054, ambas exigências do ASTM F920. A via expiratória do equipamento tem uma válvula PEEP, ou seja, permite impor determinado nível de PEEP, e não é possível instalar nesta via a outra válvula, a de definição de PIP, devido sua dimensão diferente. As máscaras faciais que acompanham o CFR, ambos os modelos, têm, também, conexões de 15mm ou 22 mm de diâmetro, também atendendo as especificações ISO e Um dos monitores de pressão não suportou a temperatura de 22 º C abaixo de zero: a válvula de proteção abriu, perdendo sua função e ocorreu estouro do fole, tornandoo irrecuperável. Após a queda de um metro de altura sobre o piso de concreto, o CFR modelo infantil/ neonatal amassou de leve a borda da tampa da válvula PIP, sem modificar sua função; um dos manômetros desregulou, porém permitiu nova regulagem ao ponto zero através da fenda apropriada. O fato de mergulhar ambos os CFR em água e, de acordo com o standard, sacudi-lo durante 10 segundos antes de realizar os testes, não modificou em nada seu funcionamento. Após introduzir o vômito dentro do CFR, ambos os modelos, a mistura foi expulsa de dentro dos mesmos através dos orifícios da válvula PIP, ao se ocluir a válvula exalatória em um movimento de ciclagem dos aparelhos, havendo apenas uma pequena porção (certamente menor que 0,5 ml) de vômito dentro do pulmão teste; após a limpeza prevista no standard, os equipamentos funcionaram normalmente. Nos testes para se avaliar a resistência inspiratória da via de saída do paciente, seja com 5 l/min, no caso do modelo infantil/neonatal, seja com 50 l/min no modelo adulto, obteve-se resultado zero. Nos testes para avaliar a resistência expiratória, o resultado foi zero, utilizando-se 5 l/min no modelo infantil/neonatal, e um valor maior que zero e menor que 1 cm de H 2 O, utilizando-se 50 l/min no modelo adulto. Um dos testes exige medir o pico de fluxo inspiratório que o modelo adulto é capaz de liberar para o paciente, estando conectado a um fluxômetro com FAG de 40 l/ min, estando o equipamento regulado para promover uma pressão de 110
4 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO distensão de 20 cm de água. O CFR foi capaz de liberar um PIF de 59 litros por min nas condições do teste. Aqui, este PIF seria suficiente para fornecer um VC de 983,33 ml em 1 segundo, certamente suficiente para promover freqüência respiratória de até 20 ciclos por minuto em uma relação 1:2, em um paciente com essa demanda de VC. No teste de trava de válvula de segurança, a válvula PIP não travou após ventilar o modelo adulto com FAG de 30 l/min, complacência de 20 e resistência de 20, em uma freqüência de 12 ciclos/min, produzindo um VC de 629 ml. Foram feitos dois testes com ambos os modelos para se verificar a FiO 2 do gás eferente e, nas quatro situações a FiO 2 foi 100%, situação que motivou deixar de repetir o teste nas outras vezes solicitadas pelo standard. Em outra situação prevista no standard, os aparelhos são montados e remontados sem possibilidade de erro, já que suas conexões proíbem que uma peça se encaixe em local que não sua sede. Os resultados discriminados dos testes julgados mais importantes estão demonstrados nas Tabelas 1, 2 e 3. CONCLUSÕES Os testes para avaliar resistência exalatória, no modelo adulto, resultaram em um número maior que zero, porém menor que 1; certamente dentro do preconizado pelo ASTM, que permite até 5 cmh 2 O. É nossa opinião que a impossibilidade de se atingir exatamente os valores de Complacência Pulmonar e Resistência na Via Aérea, definidos no standard, em todas as situações, de forma nenhuma invalidam este estudo já que os limites aqui estudados estão em acordo com situações clinicas habitualmente encontradas em pacientes normais ou com patologia das vias respiratórias. Na Tabela 1 observa-se o comportamento dos equipamentos com relação ao PIF, ou seja, se o Pico de Fluxo Inspiratório seria suficiente para atender às de demandas de VC no tempo que o paciente reservar para a inspiração, considerando-se a complacência pulmonar. Por exemplo, com o PIF de 5,1 litros/ min., o paciente conseguiria atingir 20,1 ml de VC em 0,236 segundo, que é o tempo inspiratório mais que suficiente para pacientes do peso previsto (recém-nascidos) em que via de regra se usa tempo inspiratório de 0,5 segundo. Assim, há folga de PIF para atender as demandas de VC. É de se observar, também, que neste caso especifico que estamos analisando, foi utilizada uma complacência de 2, apenas um pouco maior do que a complacência de um recém-nascido prematuro com Doença de Membrana Hialina, que varia de 0,5 a 1 ml/ cmh 2 O 9. Nas outras situações demonstradas na Tabela 1, consi- derando-se o PIF e o VC alcançado, o tempo inspiratório necessário variou de 0,69 a 0,72 segundos, ampliando, como era de se esperar, na medida em que amplia a complacência pulmonar. De toda maneira, como o fluxo de admissão de gases, no CFR, é comandado pelo operador, que detém a possibilidade de aumentar o fluxo no fluxômetro, o tempo inspiratório poderá sempre ser atendido se houver a conjugação de uma alta complacência e necessidade de freqüência respiratória muito elevada. Na Tabela 2 os resultados mostrados em relação ao modelo adulto apontam para um PIF de 44 litros para encher um pulmão com complacência de 50, que é a complacência habitual em um adulto com SARA- 43,48 ml/cmh 2 O a 172,41 ml/cmh 2 O - 10, com 609 ml de VC, indicando um tempo inspiratório de até 0,83 segundos, tempo geralmente menor que o habitual no adulto. Vale lembrar, de novo, que as demandas de fluxo aferente para o paciente poderão Tabela 1 PIF e VC - Modelo infantil/neonatal. Classificação (de acordo com Complacência Complacência VC a complacência desejada conseguida FAG PIF alcançado a utilizar) (ml/ cmh2o) (ml/ cmh2o) (L/min) (L/min) (ml) C , ,5 222 C C , ,4 148,5 C ,1 20,1 Tabela 2 PIF e VC - Modelo adulto Classificação (de acordo com Complacência Complacência VC a complacência desejada conseguida FAG PIF alcançado a utilizar) (ml/ cmh2o) (ml/ cmh2o) (L/min) (L/min) (ml) C C C C
5 ARTIGO RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ser sempre atendidas pelo operador, que será o responsável pela adequação deste fluxo. Por exemplo, se um adulto jovem, com complacência normal, entre 80 e 100 ml/cmh 2 O 11, necessitar fluxo aferente maior na hipótese de necessitar ser ventilado com freqüência respiratória alta, certamente a demanda de fluxo inspiratório se elevarão, sendo suficiente, nesta hipótese, ampliar a oferta de gases através do fluxômetro. Na Tabela 3 está demonstrado, para um paciente hipotético de 40 Kg, complacência de 68 e resistência de 2, ventilando a uma FR de 20, relação I/E 1:2, que se atenderia suas demandas de VC em até 637 ml, Se, no entanto, houvesse necessidade de aumentar-se a FR, a alternativa seria ou aumentar o FAG ou usar uma relação I/E 1:1; ambas, com este equipamento, são situações comandáveis pelo operador. Em ambas as tabelas (1 e 2), observa-se que, à medida que a complacência reduz, há redução também do VC conseguido. Ao se utilizar um equipamento volumétrico, como uma bolsa autoinflável, o operador terá que ampliar a força para conseguir ampliar o volume. Com o CFR o operador poderá aumentar o PIP. Além do mais, como o CFR permite definir um nível de PEEP, a proteção aos pulmões poderá ser melhor conseguida, níveis melhores de oxigenação serem atingidos, com menores necessidades de VC. A Tabela 3 mostra que sempre houve possibilidade de superar os requerimentos mínimos de VC, possibilitando concluir que a performance de ambos os modelos de CFR indica sua adequação para ser um instrumento seguro para ventilar pacientes de diversos pesos e condições de complacência e resistência de vias aéreas, pelo menos frente às complacências e resistências conseguidas, nas FR, relação I/E e demais parâmetros utilizados.além disso, é preciso lembrar que o VC poderá ser alterado, para mais ou para menos, nas circunstâncias de complacência e resistências definidas nos testes, pela simples alteração do PIP. Durante os testes foi observado escape pela Válvula que regula o PIP, fluxo esse que não tivemos condições técnicas de medir. O standard admite a possibilidade de ocorrência deste escape. Se no entanto, este escape for expressivo, poderá haver prejuízo do VC. Podemos, no entanto, concluir, observando-se a Tabela 3, que não houve prejuízo no atendimento do VC nas diversas situações simuladas. Foram feitos dois testes com ambos os modelos para se verificar a FiO 2 do gás eferente e, nas quatro situações a FiO 2 foi 100%. A liberação de uma FiO 2 elevada é uma característica de suma importância para os reanimadores pulmonares uma vez que está preconizado que se utilize concentrações o mais próximo possível de 100% de oxigênio durante o tratamento da parada cárdiorespiratória. Não houve possibilidade técnica para realizar estudos em ambientes com temperaturas controladas de 18 º C e +50 º C; não temos como prever o funcionamento dos equipamentos nessas condições extremas. Porém, vale lembrar, os materiais utilizados na construção do CFR, a saber, alumínio, latão, PVC e aço inox, não costumam modificar muito suas características físicas nestes extremos de temperatura. De toda forma, como o CFR é um equipamento que permite regulagem, esta poderá ser feita de acordo com a situação encontrada. Não se conseguiu medir o espaço morto do equipamento com o método solicitado no standard. De toda forma, o espaço morto físico do CFR, ambos os modelos, é de 5 ml e, se utilizado com FAG adequado, não é causa de retenção de CO 2, conforme já demonstrado Tabela 3 VC com alterações na resistência/complacência/fr Os Volumes Corrente conseguidos, usando as condições listadas na Tabela 3, usando os métodos descritos no item A do standard foram: Classificaçã Complacência Resistência, FAG Relação Freqüência VC mínimo VC encontrado CFR -kg desejada/ cmh 2 O/(L/s) (L/min) I/E +/- 20% +/- 10% desejado usado conseguida (ml/ cmh 2 O) <5 10/ : Inf/Neo 5 to / : Inf/Neo / :2 25/ Inf/Neo / : Adult >40 200/ :2 20 > Adult 112
6 RBTI - Revista Brasileira Terapia Intensiva ARTIGO anteriormente para o recémnascido 4. No caso da assistência ventilatória pulmonar mecânica manual para assistência ao recém-nascido na sala de parto, por exemplo, é admitida a utilização tanto das bolsas auto-infláveis, quanto das bolsas fluxo-infláveis (Sistemas de Mapleson) bem como o sistema em T 12. O CFR é um sistema T único, pois, mesmo portátil e de ciclagem manual, tem válvulas para definir não somente a pressão de insuflação pulmonar máxima como também a PEEP. Estudo muito recente 13 feito na Austrália demonstra que há nítida melhora na oxigenação quando se utiliza PEEP durante a ventilação de cordeiros prematuros recém-nascidos. A intenção do presente estudo foi chamar a atenção para a performance do CFR frente ao standard, ao tempo em que se pretendeu divulgar o standard da ASTM. Sugere-se que se analise com profundidade o equipamento que vamos utilizar nos pacientes, pois, conforme demonstra Barnes em seus estudos, muitas vezes não estamos atendendo às demandas de VC para o nosso paciente, que em situação agônica, tem um fim muitas vezes previsível. Por outro lado, fica a sugestão para que o Brasil também adote controles rígidos que permitam que também nossa população seja atendida por equipamentos que atendam padrões mínimos de segurança e eficácia na ventilação pulmonar mecânica manualmente operada. RESUMO Objetivo: avaliar as características físicas e funcionais do CFR, modelo adulto e modelo infantil/ neonatal, frente a requerimentos exigidos pelo ASTM F920. Método: Os testes foram feitos utilizando um Monitor de Perfil Respiratório CO 2 SMO+, conectado a uma via aérea composta por um registro que permite dificultar de modo progressivo a passagem de gases através deste, alterando, portanto, a resistência, por uma peça T em que se adicionou um oxímetro ambiental OXITRACK OX 500. Ligado à via aérea, foi instalado o simulador pulmonar Lung Simulator LS2000. Foi utilizado ar comprimido isento de óleo e oxigênio, ambos com pressão de saída de 3,5 Kgf/cm 2. A FR, a relação I/E, a complacência, a resistência da via aérea e o PIF eram lidos no display do Monitor após 10 minutos do início de cada teste. Os testes foram realizados com os aparelhos previamente colocados nas condições previstas: 22 o C negativos, 60ºC positivos, após queda de 1 metro de altura, após mergulhar em água e após serem preenchidos com material simulando vômito. Resultados: um dos monitores de pressão não suportou a temperatura de 22 o C negativos, ou seja, sua válvula de segurança interna abriu, perdendo sua função, assim como seu mecanismo interno alterou de sorte a ser impossível sua recuperação. Houve um pequeno amassado na válvula do modelo infantil/neonatal após a queda, que não comprometeu a função da válvula. O vômito foi expulso de dentro dos aparelhos sem dificuldade. Nas condições realizadas, ambos os modelos atenderam sempre às demandas de volume corrente. Conclusões: a performance do CFR, ambos os modelos, atende ao estabelecido pelo ASTM F920, tanto do ponto de vista físico quanto funcional, nos testes realizados. Unitermos: Ventilação pulmonar mecânica manual; ventilação com pressão positiva intermitente; ventilação em reanimação. REFERÊNCIAS: 1- Almeida MFB,Yada M, Guinsburg R, e al. Manobras necessárias na reanimação neonatal em sala de parto. Congresso Brasileiro de Perinatologia, 1996, Resumo Draque CM, Carvalho PF, Oliveira ACA, e al. Manobras necessárias na reanimação de recém-nascidos pré-termo pélvico na sala de parto. Congresso Brasileiro de Perinatologia, 1996, Resumo Barnes, TA. Emergency Ventilation Techniques and related equipment. Respiratory Care. 1992;37(7) Connors, R, Kisson N, Tiffin N, Frewer T. An evaluation of the physical and functional characteristics of infant resuscitators. Pediatrics Emergency Care 1993; 9(2) Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR IEC Equipamento eletro-médico Parte 1 Prescrições gerais para segurança, Standard Specification for Minimum Performance and Safety Requirements for Resuscitators Intended for use with Humans. American Society for Testing and Materials, Annual Book of ASTM Standards. F Resende, JG. CFR um novo equipamento para ressuscitação respiratória. J.Pediat (Rio)1994;70(6) Resende, JG, Andrade JMR. Medida da retenção de CO2 em um novo equipamento de assistência ventilatória manual. J.Pediat(Rio)1993;69(4) Carlo, WA e Martin, RJ: Princípios de Ventilação Assistida. Clinicas Pediátricas da América do Norte. 1986; 1: Barbas, CSV e Amato, MBP, Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo, Permanyer Publications, 1998, pag Amato, MBP e Barbas, CSV, Princípios da Ventilação Mecânica, Permanyer Publications, 1998, pag Kattwinkel, J; Niermeyer, S; Nadkarni, V; Tibballs, J; Phillips, B; Zideman, D; Van Reempts, P e Osmond, M, An Advisory Statement from the Pediatric Working Group of the International Liaison Committee on Resuscitation. Pediatrics, Vol. 103(4), Dargaville, PA; Probyn, ME, Hooper, SB; Harding, R; McCallion, N; Morley, CJ; Bag Resuscitation vs Volume Ventilation for Resuscitation in Preterm Lambs Pediatric Academic Societies Annual Meeting, April 28-May 1, 2001, Baltimore Convention Center, Baltimore, Maryland, US, Abstrat 1788,
5 Metodologia. Tabela 4 - Marcas e modelos dos ventiladores avaliados. Ventiladores V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10. Marca I I I I I I II II II II
5 Metodologia Neste capítulo é apresentada a metodologia das medições realizadas nos ventiladores pulmonares avaliados no âmbito do presente trabalho. Foram realizadas avaliações metrológicas em dez (10)
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