Pró-Reitoria de Pós-Graduação Lato Sensu em Fisiologia do Exercício Trabalho de Conclusão de Curso

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1 1 Pró-Reitoria de Pós-Graduação Lato Sensu em Fisiologia do Exercício Trabalho de Conclusão de Curso Brasília - DF EFEITOS DO TREINAMENTO DE FORÇA EM HORÁRIOS DISTINTOS DE UM MESMO DIA SOBRE A PRESSÃO ARTERIAL DE INDIVÍDUOS SOBREPESADOS Autor: Aislene Brito Barbosa Orientador: Prof. Dr. Jonato Prestes Brasília 2013

2 2 AISLENE BRITO BARBOSA EFEITOS DO TREINAMENTO DE FORÇA EM HORÁRIOS DISTINTOS DE UM MESMO DIA SOBRE A PRESSÃO ARTERIAL DE INDIVÍDUOS SOBREPESADOS Artigo apresentado ao curso de Pós Graduação Lato Sensu em Fisiologia do Exercício da Universidade Católica de Brasília, como requisito principal para obtenção do título de Especialista em Fisiologia do Exercício. Orientador: Prof. Dr. Jonato Prestes Brasília 2013

3 3 AISLENE BRITO BARBOSA EFEITOS DO TREINAMENTO DE FORÇA EM HORÁRIOS DISTINTOS DE UM MESMO DIA SOBRE A PRESSÃO ARTERIAL DE INDIVÍDUOS SOBREPESADOS RESUMO Introdução: A hipertensão é uma doença de causa multifatorial e é conhecida como fator de risco para morbidade e mortalidade precoce causada por doenças cardiovasculares. Dentre as formas de tratamento existentes o exercício físico é considerado uma medida não farmacológica na prevenção do aumento e manutenção da pressão arterial (PA) dentro de valores recomendados. Contudo, pouco se sabe sobre seu efeito hipotensor quando praticado em diferentes horários. Objetivo: Investigar o efeito hipotensor do exercício quando realizado duas vezes no mesmo dia, em horários distintos. Métodos: Participaram desse estudo seis indivíduos sedentários (45,66 ± 6,08 anos) e com sobrepeso (30,18 ± 0,83 kg/m 2 ). Todos realizaram um protocolo de treinamento de força em dois horários distintos no mesmo dia e o efeito hipotensor provocado pelo treinamento foi medido. Resultados: Não foi encontrada diferença (p > 0,05) para a pressão PA sistólica e diastólica entre os turnos. Conclusão: Conclui-se a partir dos dados que não houve diferença na resposta hipotensora entre os turnos. No entanto, sugere-se que em estudos posteriores as observações levantadas no presente estudo sejam levadas em consideração para melhor entendimento e aplicabilidade da hipótese levantada. Palavras-chave: hipotensão, exercício, treinamento de força. INTRODUÇÃO A hipertensão é considerada uma doença de causa multifatorial que atinge grande parte da população mundial. Além disso, é um fator de risco para a morbidade e mortalidade precoce causada por doenças cardiovasculares 1. O tratamento e/ou prevenção da hipertensão pode ser de cunho farmacológico onde o indivíduo utiliza medicamentos para controle dos níveis pressóricos, ou pode ser não farmacológico onde o exercício físico é a principal ferramenta utilizada para a manutenção da pressão arterial (PA) dentro de valores recomendados. Neste sentido, o treinamento de força (TF) tem ganhado ampla aceitação 2. Dentre os efeitos agudos e crônicos proporcionados pelo exercício, à hipotensão pós-exercício (HPE) é uma resposta fisiológica esperada já verificada em indivíduos normotensos e hipertensos, com maior proporção de redução em indivíduos hipertensos 3.

4 4 Considerando que o ciclo circadiano também influencia os valores pressóricos pelas mudanças fisiológicas e hormonais que acontecem durante o período matinal, incluindo, por exemplo, uma maior atividade do sistema nervoso simpático que por sua vez, aumenta a resistência vascular periférica e consequentemente a PA 4,5. Pelo nosso conhecimento, pouco se sabe sobre a influência do exercício físico praticado em distintos horários sobre a HPE em indivíduos com sobrepeso. Considerando que os maiores valores pressóricos ocorrem pela manhã 5. Meramente baseado na regressão de retorno a média que por sua vez entende-se pela tendência de valores extremos de um parâmetro apresentarem posteriormente valores não tão extremos e mais próximos da média de distribuição deste parâmetro 6. A hipótese inicial do estudo foi que a HPE em distintos horários seria diferente. Com maior efeito hipotensor, ocorrendo pela manhã. O presente estudo teve como objetivo comparar o efeito hipotensor do exercício quando realizado duas vezes no mesmo dia, em horários distintos (matutino vs. vespertino). MATERIAIS E MÉTODOS Aprovação da pesquisa O presente estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa para Seres Humanos da Universidade Católica de Brasília respeitando a Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde. Amostra Participaram desse estudo seis indivíduos (45,66 ± 6,08 anos) sendo quatro mulheres e dois homens sedentários, iniciantes no treinamento de força 7 e com sobrepeso (30,18 ± 0,83 kg/m 2 ). Foram adotados os seguintes critérios para inclusão no estudo: 1) responder de forma negativa o PAR-Q (Physical Activity Readiness Questionnarie), 2) não possuir doença osteoarticular, 3) não estar em uso de esteróides anabólicos ou medicamentos que pudessem interferir nos resultados dos testes. Medidas Hemodinâmicas Para medir a PA foi utilizado um monitor braquial de tensão arterial automático Microlife modelo BP 3BT0-A. A frequência cardíaca foi monitorada com um monitor cardíaco modelo FT1 Polar. Para a medida da pressão arterial a metodologia proposta pela VI Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial 8 foi adotada. O indivíduo permanecia em repouso por pelo menos 5 minutos na posição sentada, pernas descruzadas, pés apoiados no chão, dorso encostado na cadeira e relaxado. O braço ficava na altura do coração, livre de roupas, apoiado, com a palma da mão voltada para cima e o cotovelo ligeiramente fletido. Medidas Antropométricas No primeiro dia dos testes foram feitas medidas de estatura, massa corporal, cintura e quadril. Os participantes também responderam o PAR-Q, passaram por uma anamnese geral para coletar informações sobre os hábitos em relação à atividade física a fim de caracterizar no quadro de sedentários.

5 5 Protocolo de treinamento Ainda no primeiro dia foi medida a PA de repouso durante 30 minutos para uma sessão controle e foi feito uma familiarização aos exercícios utilizados no teste, que consistiu de duas séries e 15 repetições com carga considerada leve de acordo com a percepção subjetiva de esforço reportada 9. Os exercícios utilizados foram: leg press horizontal, supino vertical, extensão de joelhos, puxada aberta (Techogym Selection). Após a familiarização, foi realizado o teste de 10 repetições máximas (RM) em cada um dos exercícios citados. Em caso de necessidade de repetição uma pausa de 10 minutos para uma nova tentativa era realizada. O intervalo entre o primeiro e o segundo dia de teste variou entre dois e quatro dias já que nem todos participantes tinham a mesma disponibilidade. No segundo dia foi realizada a medida da PA e FC em repouso e em seguida foi feito um aquecimento específico com 50% da carga de 10RM estimada. Foram feitas duas séries de 10 repetições com 100% de 10RM com intervalo de 1 minuto e 30 segundos entre as séries e de cinco minutos entre os exercícios que foram aplicados na seguinte sequência: leg press horizontal, supino vertical, extensão de joelhos e puxada aberta. Logo após a realização dos exercícios os participantes foram encaminhados a deitar-se em lugar confortável por 30 minutos para que fosse aferida a PA após o TF. Após seis horas e 50 minutos da primeira sessão, a segunda sessão foi realizada, utilizando-se do mesmo protocolo. O primeiro momento foi realizado no turno matutino (momento 1) e o segundo momento foi realizado no turno vespertino (momento 2). ANALÍSE ESTATÍSTICA Para a análise da normalidade dos dados o teste de Shapiro Wilk foi utilizado. Para as variáveis dependentes analisadas a ANOVA de Friedman com correção para os números de testes realizados foi aplicado, aceitando somente como significativo o resultado inferior à alfa dividido pelo número de comparações realizadas (Bonferroni corrections) 10. Nesse estudo tivemos duas comparações para cada variável analisada. PAS = PAS controle 30 minutos PAS momento 1 30 minutos; PAS momento 2 30 minutos PAS momento 1 30 minutos. PAD = PAD controle 30 minutos PAD momento 1 30 minutos; PAD momento 2 30 minutos PAD momento 1 30 minutos. Com isso, foi adotado 0,05/2 (p 0,025) como diferença significativa. O programa estatístico SPSS 18.0 foi utilizado para a análise dos dados. RESULTADOS Não foi encontrada diferença entre os momentos (p > 0,05) para a variável PAD e PAS (Tabela 1). No entanto, em relação ao controle, a PAS 30 minutos e PAD 30 minutos do turno matutino foram significativamente maiores (p = 0,16 e p = 0,16, respectivamente). Para a PAS 30 minutos e PAD 30 minutos do turno vespertino quando comparado com o turno matutino, nenhuma diferença foi encontrada (p = 0,031 e p = 0,078, respectivamente). Tabela 1. Valores hemodinâmicos apresentados em média e desvio padrão.

6 6 Variáveis Controle Matutino Momento 1 Vespertino Momento 2 Hemodinâmicas PAS repouso (mmhg) 132,83 (7,73) 130,3 (5,31) 127,33 (4,22) PAD repouso (mmhg) 71,66 (7,76) 70,16 (1,60) 67,83 (3,97) PAS 30 minutos (mmhg) 125, 50 (9,24) 130,5 (4,32)* 126,0 (2,45) PAD 30 minutos (mmhg) 64,83 (2,78) 72,5 (7,01)* 67,5 (3,15) Legenda: PAS = pressão arterial sistólica; PAD = pressão arterial diastólica; * diferença significativa entre Matutino momento1 vs. controle (p 0,05). DISCUSSÃO Os resultados encontrados no estudo não corroboraram com a hipótese inicialmente levantada. Nenhuma diferença entre os turnos foi encontrada. Somente os maiores valores de PAS e PAD no turno matutino em relação ao dia controle no momento 30 minutos após o término do protocolo. Analisando criticamente os resultados e o método do estudo, questiona-se se seria possível encontrar diferenças entre os momentos. Dentre as explicações, em um estudo realizado por Pescatello et al, , o efeito hipotensor perdurou por até 12,7 horas após a prática aguda do exercício físico. Como os protocolos foram realizados com uma diferença de seis horas e 50 minutos, questiona-se se o efeito hipotensor no turno vespertino seria uma resposta hipotensora ao protocolo realizado ainda pela manhã, ou se o estímulo do turno vespertino somado ao matutino poderia potencializar esse efeito. É importante citar também que apesar do consenso de que o exercício físico pode reduzir a pressão arterial, muitos estudos ainda falham na documentação desse efeito por causa de considerações metodológicas, como amostra insuficiente (caso do presente estudo), falha ao conduzir uma sessão controle e também falha ao considerar o efeito agudo de exercícios ou atividades físicas recentemente realizadas 3. Por isso, devido à originalidade do presente estudo, novas perguntas e hipóteses são levantadas em relação efeito do exercício físico praticado em diferentes turnos sobre a resposta hipotensora. Principalmente com populações que já apresentam alterações hemodinâmicas e riscos para problemas cardiovasculares como sobrepeso, obesidade, hipertensos, síndrome metabólica e entre outras. CONCLUSÃO Conclui-se a partir dos dados que não houve diferença na resposta hipotensora entre os turnos. No entanto, alguns vieses como tempo entre os protocolos e amostra insuficiente podem ter contribuído para a falta de diferença entre os momentos. Com isso, sugere-se que em estudos posteriores as presentes observações sejam levadas em consideração para melhor entendimento e aplicabilidade da hipótese levantada.

7 7 ABSTRACT Introduction: Hypertension is a multifactorial disease in and is known as a risk factor for morbidity and premature mortality caused by cardiovascular diseases. Among the forms of treatment, exercise is considered a non-pharmacological measure in preventing the increase and maintenance of blood pressure (BP) within recommended values. However, little is known about its hypotensive effect when practiced at different times. Objective: To investigate the hypotensive effect of exercise when performed twice on the same day at different times. Methods: Study participants were six sedentary subjects (45.66 ± 6.08 years) and overweight (30.18 ± 0.83 kg/m2). All patients underwent a protocol of strength training in two different times on the same day and the hypotensive effect caused by training was measured. Results: No difference was found (p> 0.05) for systolic and diastolic pressure between shifts. Conclusion: It is concluded from the data that there was no difference in the hypotensive response between shifts. However, it is suggested that in future studies the observations made in this study are taken into account for better understanding and applicability of the hypothesis. Keywords: hypotension, exercise, strength training. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Messerli FH, Williams B, Ritz E. Essential hypertension. Lancet. Aug ;370(9587): Cornelissen VA, Fagard RH. Effect of resistance training on resting blood pressure: a meta-analysis of randomized controlled trials. J Hypertens. Feb 2005;23(2): Thompson PD, Crouse SF, Goodpaster B, Kelley D, Moyna N, Pescatello L. The acute versus the chronic response to exercise. Med Sci Sports Exerc. Jun 2001;33(6 Suppl):S ; discussion S Polonia J, Carvalho N, Barbosa L, Silva JA. Blood pressure on arising, morning blood pressure surge and blood pressure variability in white coat hypertensives and in matched normotensives and sustained hypertensives. Rev Port Cardiol. Jul-Aug 2006;25(7-8): Dodt C, Breckling U, Derad I, Fehm HL, Born J. Plasma epinephrine and norepinephrine concentrations of healthy humans associated with nighttime sleep and morning arousal. Hypertension. Jul 1997;30(1 Pt 1): Barnett AG, van der Pols JC, Dobson AJ. Regression to the mean: what it is and how to deal with it. Int J Epidemiol. Feb 2005;34(1): American College of Sports Medicine position stand. Progression models in resistance training for healthy adults. Med Sci Sports Exerc. Mar 2009;41(3): CARDIOLOGIA SBD, HIPERTENSÃO SBD, NEFROLOGIA SBD. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 2010;95(1 supl.1): Robertson RJ, Goss FL, Rutkowski J, et al. Concurrent validation of the OMNI perceived exertion scale for resistance exercise. Med Sci Sports Exerc. Feb 2003;35(2):

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