BRICS Monitor. Especial RIO+20. Os BRICS e a União Européia: antagonismos anunciados para a Rio+20. Outubro de 2011
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1 BRICS Monitor Especial RIO+20 Os BRICS e a União Européia: antagonismos anunciados para a Rio+20 Outubro de 2011 Núcleo de Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade BRICS Policy Center / Centro de Estudos e Pesquisas BRICS
2 BRICS Monitor Especial RIO+20 Os BRICS e a União Européia: antagonismos anunciados para a Rio+20 Outubro de 2011 Núcleo de Desenvolvimento Urbano e Sustentabilidade BRICS Policy Center / Centro de Estudos e Pesquisas BRICS
3 Sérgio Veloso Os BRICS e a União Européia: antagonismos anunciados para a Rio+20 Introdução A Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável Rio+20, a acontecer no ano de 2012, na cidade do Rio de Janeiro, abordará principalmente a economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e um possível quadro institucional multilateral para o desenvolvimento sustentável. No entanto, a transição do modelo tradicional de desenvolvimento sócio-econômico baseado em altas taxas de emissão de gases poluentes e na utilização de recursos não- -renováveis para o paradigma sustentável da economia verde aponta alguns pontos de conflitos fundamentais entre Estados, ameaçando esvaziar a cimeira de resultados concretos. Não há consenso geral tanto no que se refere à maneira que cada país transita de um paradigma para outro, quanto no que diz respeito a uma arquitetura institucional global a fim de garantir e promover a sustentabilidade. Nesse texto, apresentaremos alguns pontos de conflito entre algumas propostas e princípios a serem defendidos pela União Européia no âmbito da Rio+20 e as estratégias de desenvolvimento e crescimento econômico de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Responsabilidades Comuns, mas Diferenciadas O centro do conflito é a maneira como o sétimo princípio da Declaração do Rio de 1992 é interpretado pelos países desenvolvidos e em desenvolvimento. O sétimo princípio versa sobre as responsabilidades comuns, mas diferenciadas, implicando direitos e deveres específicos para cada país a partir do grau de desenvolvimento sócio-econômico e tecnológico em que se encontram 1. Citado pela primeira vez na declaração de 1992, o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas só se tornou um compromisso em 1997, por meio do Protocolo de Kyoto assinado durante a COP 3 2. Na perspectiva dos países BRICS, principal bloco de países em desenvolvimento, os países industrializados, com abundantes recursos financeiros e tecnológicos, deveriam assumir suas responsabilidades históricas e desempenharem ações concretas no sentido de diminuir a emissão per capita de dióxido de carbono em todo o globo. Quanto às responsabilidades dos países em desenvolvimento, o crescimento econômico e a erradicação da pobreza seriam prioridades e absolutas. Nesse contexto, os países desenvolvidos deveriam auxiliar Estados em desenvolvimento, tanto financeira quanto tecnologicamente, a fim de garantir que a transição para paradigmas sustentáveis de desenvolvimento econômico não se converta em grilhões para os planos de crescimento econômico e social. Ao mesmo tempo, todavia, na perspectiva da União Européia, bloco que reúne o 3
4 maior número de países desenvolvidos, o sétimo princípio é interpretado de outra maneira. Os países em desenvolvimento, como os BRICS, afirmam que o gás lançado durante o período da Revolução Industrial permanece acumulado na atmosfera, já que o dióxido de carbono tem vida atmosférica entre 50 e 200 anos 3. Os países desenvolvidos, por sua vez, focam no presente modelo de produção em larga escala orientado para suprir, ao mesmo tempo, as demandas internas e globais. O cenário de conflitos e antagonismos anunciado para a Rio+20 fica ainda mais claro quando abordamos as propostas que a União Européia planeja discutir na cimeira de Emissões de CO2 - BRICS e União Fonte: United Nations Statistics das emissões e evocam o princípio do poluidor- -pagador 4 e da responsabilidade alargada dos produtores 5. Ambos os princípios focam nas emissões de gases poluentes no presente. Essa abordagem fere os interesses e a maneira como os BRICS desempenham suas estratégias de desenvolvimento, já que, como demonstra o gráfico abaixo, os BRICS são grandes emissores de CO2 na atualidade. Tais índices são fruto de um Posição e propostas comuns da União Européia para a Rio+20 Durante um debate preparatório realizado no dia 28 de setembro de 2011, o chefe do comitê de meio-ambiente do parlamento europeu, Jo Leinen, afirmou que a conferência de 1992 foi responsável por disseminar espe- 4
5 ranças entre as nações, mas que as tendências atuais ainda indicam que o mundo se desenvolve de maneira não sustentável 6. Nesse contexto, o parlamento europeu avalia que cabe a União Européia tomar a dianteira dos processos de discussão no âmbito da Rio+20, a fim de garantir que sejam tomadas ações concretas em direção ao desenvolvimento sustentável no plano global. Tendo em vista que o mês de novembro é o prazo final para o envio de propostas a serem discutidas na cimeira Rio+20, o parlamento europeu elaborou, em setembro de 2011, um documento que afirma o posicionamento comum de todos os países europeus no âmbito do décimo princípio da Declaração do Rio 7. Tal princípio salienta a necessidade de disponibilizar acesso à informação sobre o ambiente e o direito de todos os cidadãos de participar nos processos de desenvolvimento sócio-econômico, garantindo que esse seja baseado em meios sustentáveis. Por meio desse documento, o parlamento europeu confirma sua intenção em estipular metas globais de sustentabilidade, e pede o fim de subsídios prejudiciais ao meio-ambiente até Além disso, afirma seu desejo de criar um sistema de taxação sobre transações financeiras a fim de gerar recursos para países em desenvolvimento concretizarem sua transição para uma economia verde. No que concernem os pontos de conflitos entre a posição européia e os países BRICS na cimeira de 2012, a proposta mais problemática é a de que se devem estabelecer metas concretas e específicas de sustentabilidade com alcance global. Essas metas se baseariam nos princípios das responsabilidades comuns, mas diferenciadas interpretado não pela vertente histórica das emissões de gases poluentes, mas pelos níveis e tendências atuais, da precaução, do poluidor-pagador e da responsabilidade alargada do produtor. Como forma de aferir a maneira como os países estariam se adequando a tais metas, os europeus sugerem converter o PNUMA numa agência especializada para monitorar níveis de emissões de gases poluentes, utilização de recursos não-renováveis e modos de produção e consumo não sustentáveis. Conclusão Os europeus entendem que as transformações sócio-econômicas e geopolíticas do cenário internacional implicam maiores responsabilidades para países em desenvolvimento. No atual cenário, tais países se converteram em importantes atores políticos e econômicos com poderes e responsabilidades alargadas. Essa avaliação impacta fundamentalmente sobre os BRICS, bloco de países em desenvolvimento que lideram os índices de mobilidade social e diminuição da pobreza por meio de estratégias econômicas baseadas no aumento da capacidade produtiva e de consumo. O princípio da responsabilidade alargada do produtor é um ponto fundamental de conflito entre a posição européia e os interesses dos BRICS, já que países como a China e o Brasil são, respectivamente, líderes em produção de produtos manufaturados e de commodities. Por esse princípio, Brasil e China seriam convertidos em alvos de uma política de controle e restrição. Por mais que não haja um posicionamento comum entre os países BRICS para a Rio+20, existe um cenário de interesses e de- 5
6 mandas comuns entre os cinco países que os estabelece como antagônicos às propostas européias. Uma das características que situam Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul num mesmo patamar é a capacidade de garantir mobilidade social através de uma economia aquecida, movida por investimentos estatais e medidas que atraem fluxos de investimento estrangeiro a fim de sustentar altas taxas de crescimento. Para garantir mobilidade social, esses países sustentam altos níveis de emissão de gases poluentes, desmatamento e utilização de recursos não-renováveis em larga escala. Ainda assim, os BRICS são grandes investidores em tecnologias limpas e em medidas que proporcionem maior sustentabilidade no âmbito global, como, por exemplo, é o caso dos investimentos brasileiros em biocombustível e a ativa atuação chinesa para a criação de um Mercado de Crédito de Carbono. Em outras palavras, os BRICS estruturam suas estratégias de crescimento econômico e mobilidade social em um modelo de desenvolvimento não completamente sustentável, porém têm procurado se adaptar, tanto em termos de políticas quanto em termos de resoluções comuns, ao paradigma da economia verde. Nesse sentido, medidas que visem à criação de um órgão fiscalizador multilateral estruturado sobre metas gerais de sustentabilidade significariam um entrave para os interesses e estratégias de desenvolvimento dos BRICS, já que impossibilitariam que cada país tivesse sua própria estratégia de transição para a economia verde. Notas: 1 A versão integral da Declaração do Rio disponível em: php?ido=conteudo.monta&idestrutura=18&idcont eudo=576 (último acesso em 19/10/2011) 2 cn/90001/90777/90856/ html (último acesso em 19/10/2011) 3 Idem. 4 Por meio do Princípio do Poluidor-Pagador quem poluiu seria obrigado a pagar pela poluição causada ou que pode ser causada. 5 Segundo o conselho da União Européia, o princípio da responsabilidade alargada dos produtores implica a atribuição de uma maior responsabilidade aos produtores e oferece lhes um incentivo financeiro directo para que as preocupações ambientais sejam tidas em conta na concepção dos produtos. Procura integrar os sinais de preços relacionados com as características ambientais dos produtos e os processos de produção em toda a cadeia dos produtos. Trata não apenas da fase de resíduos, mas aborda também questões a montante, em relação com a selecção dos recursos e a concepção dos produtos; encoraja ainda os criadores a seleccionar materiais facilmente recuperáveis para reutilização ou reciclagem. Disponível em: /uedocs/ NewsWord/pt/envir/81371.doc (último acesso em 19/10/2011) 6 content/ sto27432/html/meps-eu-should- -take-lead-at-rio20 (último acesso em 10/10/2011) 7 A íntegra do documento preparado pelo Parlamento Europeu encontra-se disponível em: do?pubref=-//ep//text+motion+b DOC+XML+V0//PT (último acesso em 10/10/2011) 6
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