Proposta de Intervenção de S. Exa. a SEAE no Seminário Energia e Cidadania CIEJD, 23 de Março de 2009
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- Vinícius Alcântara Fernandes
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1 Proposta de Intervenção de S. Exa. a SEAE no Seminário Energia e Cidadania CIEJD, 23 de Março de 2009 A Importância de um esforço colectivo para um paradigma energético sustentável Cumprimentos Como é do conhecimento geral, na génese da criação da então Comunidade Económica Europeia (CEE), esteve a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA) e posteriormente a Comunidade Europeia da Energia Atómica (EURATOM). Para além dos objectivos políticos subjacentes à sua criação (pósguerra), encontravam-se também, com bastante premência, problemas de livre acesso às fontes de produção de energia (carvão), bem como uma tentativa de procura na energia nuclear como um meio para alcançar a independência energética. Volvidos mais de 50 anos, verificamos que a energia continua hoje, tal como esteve nos primórdios da integração europeia, no centro das preocupações não só da União Europeia, mas também a nível global. 1
2 Contudo, a abordagem energética actual deverá ser equacionada em função dos seguintes aspectos: Em primeiro lugar, a procura de energia está a aumentar exponencialmente devido sobretudo ao aumento do consumo de energia das economias emergentes (nomeadamente a China e a Índia). Em segundo lugar, o clima mundial tem vindo a registar alterações notáveis, tendo sofrido nos últimos anos um aumento de temperatura na ordem dos 0,6º, com tendência para aumentar exponencialmente até ao final do século, com consequências relevantes quer para os países desenvolvidos, quer para os países em desenvolvimento. Em terceiro lugar, as reservas mundiais de hidrocarbonetos estão a diminuir e a União Europeia apresenta uma grande dependência externa, importando cerca de 50% das suas necessidades energéticas. A energia e o clima são pois, cada vez mais, domínios indissociáveis, sendo por isso necessário que, ao abordar a temática da sua dependência energética, a UE tenha também presente um dos maiores desafios geopolíticos do nosso tempo: as alterações climáticas. E tratando-se as alterações climáticas de um problema global, a UE deverá liderar o debate a nível internacional associando a energia e o clima. 2
3 O combate às alterações climáticas e a necessidade de se cumprirem as metas quantificadas de redução de emissões de CO2, previstas no Protocolo de Quioto, têm levado os países desenvolvidos a investir em formas de energia mais limpas. Espera-se que o acordo relativo ao próximo período de cumprimento das metas de redução ( ) possa igualmente criar condições de investimento propícias ao sector das energias renováveis. O empenho da União Europeia na conclusão de um acordo internacional, relativo a um novo período de cumprimento (que culminará na Conferência das NU sobre Alterações Climáticas, a realizar em Copenhaga no próximo mês de Dezembro), impeliu-a a assumir o compromisso unilateral de redução de 20% das emissões de gazes com efeito de estufa até 2020, face aos valores de 1990, no Conselho Europeu de Março de 2007 (até 30% caso outros países desenvolvidos e os países em desenvolvimento mais avançados se comprometam a atingir reduções comparáveis). Este compromisso foi posteriormente concretizado através de um pacote de medidas aprovadas no final do ano passado - o chamado pacote , a concretizar até 2020: aumento em 20 % das energias renováveis, diminuição de gases com efeito de estufa em 20% e aumento de 20% da eficiência energética. 3
4 Estas medidas associadas às previstas no Plano de Acção de Segurança Energética e Solidariedade e às que incluem o 3º pacote do Mercado Interno de Energia, avalisadas pelo Conselho Europeu da passada semana, são o reflexo da ambição da UE em prosseguir uma política energética cada vez mais sustentável. Portugal acompanha esta tendência, dando passos firmes no sentido de uma progressiva descarbonização da sua economia, capitalizando este esforço rumo a um desenvolvimento mais sustentável através do investimento em energias renováveis e em medidas de eficiência energética. Assim, as medidas adoptadas e a adoptar em Portugal deverão garantir que, até 2020, 31% do consumo de energia seja proveniente de fontes de energia renováveis. A Estratégia Nacional para a Energia, adoptada em 2005, já antecipava esta preocupação, tendo em conta a extrema dependência do nosso país relativamente aos combustíveis fósseis. Nos últimos quatro anos, Portugal tem feito investimentos significativos no domínio das energias renováveis, especialmente eólica e biomassa, e pretende aumentar a sua capacidade instalada em energia hídrica, através da realização do Plano Nacional de Barragens. Estes investimentos permitirão que Portugal diversifique o seu pacote energético e reforce a eficiência energética, contribuindo 4
5 também para o cumprimento de objectivos de desenvolvimento sustentável, nas suas três vertentes: - ambiental: por se tratarem de energias (mais) limpas, contribuem para minimizar os efeitos danosos no ambiente provocados pela acção humana; - económico: reconhecimento do potencial das renováveis e hídrica, que tem levado à inclusão das mesmas nos planos de recuperação económica; - sociais: as renováveis abrem novas oportunidades em termos de criação de emprego, bem-estar das populações e desenvolvimento potencial de regiões menos desenvolvidas (por exemplo as zonas do interior do país). Refira-se que a população portuguesa tem sido bastante receptiva à introdução das energias renováveis, bem como a medidas que promovam a eficiência energética. Para tal muito contribuiu a aposta e investimento do Governo português, autoridades locais e municípios, através de campanhas de educação e sensibilização comunicação, acções de divulgação, acções pedagógicas, projectos com universidades, projectos de eficiência energética no sector empresarial, etc. - que têm vindo a ser desenvolvidas junto de todas as camadas da população. Há uma obrigação de cada cidadão contribuir, numa perspectiva bottom up, para a diminuição da sua pegada ecológica, não só tendo em vista a melhoria da qualidade de vida em geral, mas 5
6 também tendo por preocupação participar, a título individual, no cumprimento dos objectivos internacionais a que Portugal se comprometeu. A sociedade civil tem também um papel muito importante a desempenhar, quer desenvolvendo esforços para se criarem cidades e ambientes mais limpos, quer como um importante instrumento de escrutínio do cumprimento dos regulamentos e normas ambientais por parte das autoridades e por parte do meio empresarial. A constatação de haver um reconhecimento científico generalizado da relação entre o fenómeno das alterações climáticas e a acção humana sobre o ambiente, implicam que as políticas europeias e nacionais não excluem a importância dos comportamentos dos cidadãos na prossecução desses objectivos. A poupança de energia e a protecção do ambiente devem orientar cada vez mais o comportamento colectivo no que toca à utilização dos recursos energéticos: a utilização de transportes menos poluentes e de equipamentos de baixo consumo energético são exemplos de práticas de cidadania, indispensáveis para uma economia mais forte e sustentável que todos, certamente, procuramos construir. Muito obrigado. 6
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