Busca pela essência: identidades, narração e memória no conto Eduardo e Deus, de Milan Kundera

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1 Busca pela essência: identidades, narração e memória no conto Eduardo e Deus, de Milan Kundera Search for essence: identity narrative and memory in the story Edward and God, by Milan Kundera Rafael Senra Coelho 1 RESUMO: Nesse artigo, nós analisamos o conto de Milan Kundera chamado Eduardo e Deus, que descreve o contexto da Tchecoslováquia comunista. A identidade, o tratamento da memória e a forma "antropológica" na narrativa foram nosso foco de estudo. Palavra-Chave: Identidade, memória, antropologia, narrativa, diáspora. ABSTRACT: In this article, we analysed the Milan Kundera's short story Edward and God, which describes the context of comunist Czechoslovakia. The identity, the treatment of memory and "antropological" form in narrative were our focus of study. Keywords: Identity, memory, anthropology, narrative, diaspora 1 Doutorando do Programa de Pós-graduação em Letras: Estudos Literários da UFJF Universidade Federal de Juiz de Fora, orientando da Profa. Dra. Teresinha V. Zimbrão da Silva. Juiz de Fora. rararafaels@yahoo.com.br

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12 Ao privilegiar a análise dos excluídos, dos marginalizados e das minorias, a história oral ressaltou a importância de memórias subterrâneas que, como parte integrante das culturas minoritárias e dominadas, se opõem à "memória oficial", no caso a memória nacional. Num primeiro momento, essa abordagem faz da empatia com os grupos dominados estudados uma regra metodológica - e reabilita a periferia e a marginalidade. Ao contrário de Maurice Halbwachs, ela acentua o caráter destruidor, uniformizador e opressor da memória coletiva nacional. Por outro lado, essas memórias subterrâneas que prosseguem seu trabalho de subversão no silêncio e de maneira quase imperceptível afloram em momentos de crise em sobressaltos bruscos e exacerbados. A memória entra em disputa. Os objetos de pesquisa são escolhidos de preferência onde existe conflito e competição entre memórias concorrentes (POLLAK, 1989, p.3).

13 O longo silêncio sobre o passado, longe de conduzir ao esquecimento, é a resistência que uma sociedade civil impotente opõe ao excesso de discursos oficiais. Ao mesmo tempo, ela transmite cuidadosamente as lembranças dissidentes nas redes familiares e de amizades, esperando a hora da verdade e da redistribuição das cartas políticas e ideológicas (POLLAK, 1989, p.5).

14 (...) é importante evitar a perspectiva que faz do migrante um subalterno irremediável, sempre frustrado, repelido e humilhado, imerso num mundo hostil que não compreende nem o compreende, e do seu discurso, apenas um longo lamento de desenraizado; mas, igualmente, é importante não cair em esteriótipos puramente celebrativos: também há migrantes instalados no nicho da pobreza absoluta, onde opera a nostalgia sem remédio, a conversão do passado em utópico paraíso perdido ou o desejo de um retorno talvez impossível, embora se deva advertir e isso é decisivo que inclusive o êxito menos discutível não inibe necessariamente os tons do pesar. Em outras palavras: triunfo e nostalgia não são termos contraditórios no discurso do migrante (POLAR, 2000, p.303).

15 Considerações finais Referências Bibliográficas BAUMAN, Zygmunt. Identidade: Entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., BERND, Zilá. Literatura e identidade nacional. Porto Alegre: Editora da Universidade do Rio Grande do Sul, BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, FILHO, Daniel Aarão Reis. As revoluções russas e o socialismo soviético. Coleção Revoluções do Século XX. São Paulo: UNESP, 2003.

16 GEERTZ, Cliford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro: Zahar Editores, KRISTEVA, Júlia. Estrangeiros para nós mesmos. Rio de Janeiro: Rocco, KUNDERA, Milan. Risíveis amores. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. In: Estudos históricos. Rio de Janeiro: vol.2, n o 3, POLAR, Antônio Cornejo. O condor voa: Literatura e cultura latino-americanas. Belo Horizonte: Editora da UFMG, SOUZA, Lynn Mario T. Menezes de. Hibridismo e tradução cultural em Bhabha. In: ABDALLA JÚNIOR, Benjamin (org). Margens da cultura: mestiçagem, hibridismo & outras misturas. São Paulo: Boitempo Editorial, 2004.