informações iconográficas OURO PRETO FICHA DE INVENTÁRIO 16

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1 OURO PRETO FICHA DE INVENTÁRIO 16 categoria Patrimônio Imaterial sub-categoria Celebrações município Ouro Preto distrito Miguel Burnier designação FESTA DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS históricas iconográficas O Coração de Cristo sempre foi entendido no mundo cristão como símbolo maior de sua compaixão. A devoção a esse ícone esteve presente no imaginário católico desde os primórdios do Cristianismo, desenvolvendo-se ao longo dos séculos mediante a intervenção de diversos santos que viam nele a expressão legítima do Amor Divino. Na Idade Média, referia-se às chagas abertas no peito do Salvador crucificado como o refúgio seguro da redenção dos pecadores, atribuindo ao Coração a alegoria perfeita de seus sentimentos derramados sobre os homens. No século XVII, com a difusão do culto pela Europa, São João Eudes instituiu a primeira festa pública em homenagem ao Sagrado Coração de Jesus. Alguns outros santos também se destacaram pelo trabalho militante em defesa dessa veneração, como, por exemplo, São Boaventura, Santo Alberto Magno, São Francisco de Sales, São Pedro Canísio, Santa Catarina de Sena e Santa Gertrudes. Contudo, foi por meio das revelações a Santa Margarida Maria de Alocoque ( ) que se impulsionou essa adoração por todo o mundo de forma efetiva e prodigiosa. Margarida Maria era uma religiosa da Congregação da Visitação na cidade de Paray-le-Monial, França, e tinha uma especial sensibilidade com a Paixão de Cristo. Em 1673 começou a ter uma série de visões de Jesus mostrando o coração em chamas, rodeado de espinhos e com o sinal da ferida da lança. Foram várias as aparições, sempre insistindo numa maior dedicação dos católicos à Santíssima Eucaristia. O Filho de Deus teria dito: "Eis o coração que tanto tem amado os homens e os cumulou benefícios, e em resposta ao seu amor infinito, em vez de gratidão, encontra esquecimento, frieza e desprezo". Na terceira e mais importante revelação, ocorrida em junho de 1675, foi pedido que se celebrasse uma festa ao seu Sagrado Coração para reparar os sacrilégios sofridos. Em suas aparições, Jesus prometeu muitas indulgências aos pecadores arrependidos, dentre as quais uma foi de tal importância e acolhimento no mundo cristão, que todos a conhecem como a "Grande Promessa". Trata-se da oferta que asseguraria aos seus injuriadores a remissão dos pecados: "Darei a graça da penitência final e dos últimos sacramentos aos que comungarem na primeira sexta-feira de nove meses seguidos". Desde então, fez-se costume na Igreja participar das missas em cada primeira sexta-feira do mês. Para encorajar seus devotos e disseminar o culto, dedicou-se ao Sagrado Coração não apenas estes dias de noves meses seguidos, como também todo o junho, o mês da terceira revelação de Jesus. Adotou-se a segunda sexta-feira depois da solenidade de Corpus Christi como data comemorativa, conforme o pedido feito pelo próprio Senhor a Margarida Maria. Em Miguel Burnier, a festa dedicada ao Sagrado Coração de Jesus é bastante em recente do ponto de vista do tempo histórico. Ela data do início da época de construção da igreja dedicada a ele, inaugurada em No entanto, o distrito de Miguel Burnier é bem antigo. Sua origem remonta ao século XVIII, quando ali estavam instaladas várias fazendas de produção aurífera, tendo em vista a riqueza do solo da região. Originalmente o território levava o nome de Rodeio e o sítio onde está hoje instalada a área central do distrito pertencia à fazenda de propriedade do capitão-mor José Alves Maciel. Nessa propriedade, existia uma capela dedicada a São Julião, nome pelo qual ficou conhecido o distrito, popularmente assim chamado até hoje. O capitão-mor José Alves Maciel teve dois filhos: um homem que levava o seu nome e uma filha casada com o tenente-coronel Francisco de Paula Freire Andrade, chefe do regimento dos dragões da Cavalaria de Vila Rica. O genro e o filho do primeiro José Alves Maciel, foram degredados para Angola, por participação ativa nos episódios da Conjuração Mineira de Por esse motivo a fazenda foi abandonada pela família e começou a ruir. A fazenda de São Julião e outras próximas a ela foram ocupadas no século XIX, por Miguel da Silva Brandão, que prosseguiu os serviços de mineração, a essa altura, em escala irrisória se comparados à produção alcançada no auge do século XVIII. A propriedade foi sendo dividida entre os herdeiros e teve sua dimensão diminuída. Pouco a pouco predominaram as atividades agro-pastoris. Em 1884 é inaugurado o ramal férreo na localidade, que acabou recebendo uma estação ferroviária. A paragem recebeu o nome do diretor da Rede Ferroviária daquele ano, o engenheiro Miguel Noel Nascentes Burnier, Miguel Burnier. Muitos dos trabalhadores envolvidos na construção da ferrovia acabaram por instalar-se na localidade. O povoado em formação desenvolveu-se em conseqüência de sua estação. Já em 1893, foi construída no distrito uma usina de exploração de minério de ferro pelo comendador Carlos Wigg, que, por sua vez, comprou a maior parte das terras da antiga fazenda de São Julião. Próxima à antiga Capela de São Julião, foi erguida uma vila de casas para abrigar os operários da Usina Wigg. A esposa do comendador, Sra. Alice da Silveira Wigg, era bastante religiosa e decidiu levantar uma igreja dedicada à Nossa Senhora Auxiliadora de Calastróis, instituída paróquia em No final da década de 1920, instalouse na região a Beneficência Popular do Coração de Jesus e as irmãs da ordem, intercederam junto à Dona Alice Wigg para a construção de um templo em homenagem ao Sagrado Coração. O pedido foi atendido e em 1934 inaugurou-se o belo templo, em estilo neo-romântico, que até hoje atrai a atenção e a apreciação de quem visita Miguel Burnier. Nesse mesmo ano a primitiva Capela de São Julião foi demolida. As festas dedicadas ao Sagrado Coração de Jesus foram iniciadas desde então, mas sempre dentro de uma atmosfera bastante simples em suas manifestações. Assim como as várias outras comemorações de Miguel Burnier, a festa de seu atual padroeiro não fazia parte do rol das festividades ouropretanas mais expressivas. A remanescente homenagem ao antigo protetor São Julião, a Semana Santa, o Mês de Maria, a festa de Nossa Senhora do Rosário, eram ocasiões festivas que contavam com grande participação e concorriam com a festa do Sagrado Coração. No entanto, o templo foi declarado Santuário do Sagrado Coração de Jesus e um maior público começou a se deslocar até o lugar para as comemorações do novo padroeiro, para agradecer as graças alcançadas e para solicitar a intervenção do Sagrado Coração. A maior participação na festa acabou por dotá-la de uma nova dinâmica, conferindo maior brio e vivacidade ao evento. A proposição fundamental está em considerar que, por meio da contemplação do Coração de Jesus, podese entender melhor a própria vocação cristã. Por isso ele é representado exaltando as conseqüências do pecado, das paixões e da perversão da natureza humana através da Detente, escudo com a imagem do Sagrado Coração criado conforme as visões de Margarida Maria. A grande difusão desse ícone encontra respaldo na máxima do apóstolo São página 98 I 148

2 caracterização proteção legal Nenhuma descritivas bens relacionados intervenções Paulo: "Se Deus está conosco, quem estará contra nós?" (Rom 8,31). A escultura principal de Miguel Burnier, disposta no altar da matriz, representa Jesus ainda jovem, com cabelos soltos partidos ao meio e caídos sobre os ombros, vestindo túnica longa. Ele está de pé sobre o pedestal, em posição frontal. A mão direita está levemente erguida em sinal de pregação e a esquerda está flexionada para o peito expondo seu coração envolto por uma coroa de espinhos. O coração, ao centro do peito, rodeado de espinhos, simboliza o sofrimento de Cristo pela ingratidão dos homens diante do amor que lhes dedicou. Atualmente a festa do Sagrado Coração de Jesus tem uma configuração bastante simples. Ainda assim, os elementos em torno dos quais a festa acontece são devidamente preparados para a ocasião. A igreja é decorada com flores e as imediações do templo são ornadas com bandeirolas coloridas. Nesse espaço é também montada a fogueira e a barraca de comidas e bebidas, lugares de grande sociabilidade para os participantes da festa. A bandeira do padroeiro recebe cuidado especial da família responsável pelo objeto. Da residência dessa família surge a procissão que leva a flâmula em direção à igreja para ser hasteada no mastro. A casa responsável pela guarda da bandeira recebe decoração com balões e bandeiras. Uma imagem de madeira do Sagrado Coração recebe preparação especial para a procissão. A escultura segue em andor pelas ruas do distrito, coberta de coroa e flores. A coroação de outra efígie, menor e em gesso, é feita por garotos vestidos de anjos que também adornam o padroeiro com um véu. A festa do Sagrado Coração de Jesus tem início com a novena, que acontece nos dias antecedentes ao fim de semana da comemoração. A data referencial para comemorar o Sagrado Coração de Jesus é o dia 27 de junho. A novena ocorre no interior da igreja e é seguida pelos participantes do Apostolado da Oração. Programado para cair na véspera da data da festa, no último dia de reza é quando acontece a procissão com a bandeira, acompanhada pela banda de música local, a Corporação Musical Sagrado Coração de Jesus. A flâmula sempre sai da casa de uma residência da comunidade, em direção ao templo. Após a celebração da novena, tem-se o hasteamento do mastro em frente à Matriz seguido de retreta musical. As atividades continuam com a reunião em volta da fogueira e na barraca, de bebidas e comidas típicas dessa época do ano. Ao som de músicas, o público se diverte noite afora. No dia da festa, há a procissão com a imagem do santo, percorrendo as ruas próximas à igreja, seguida pela banda de música até o retorno ao templo. Na entrada da igreja, a escultura é tocada pelos fiéis que a têm como símbolo máximo para a qual dispensam fé e devoção. Após a procissão celebra-se missa solene em homenagem ao padroeiro e em seguida, rumando para o fim das festividades, os meninos da localidade fazem a coroação da imagem do Sagrado Coração de Jesus. O principal bem relacionado à festa é a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, situada na sede do distrito. A bela construção, em estilo neo-romântico, foi erguida em 1934, por solicitação das irmãs da Beneficência Popular do Sagrado Coração de Jesus, que se instalaram na região na década de A obra foi financiada pela Sra. Alice Silveira Wigg, esposa do comendador Carlos Wigg, à época dono da Usina Wigg, que atuava no distrito. Outro elemento importante para a festa é a majestosa imagem do Sagrado Coração, em mármore e tamanho descomunal, que fica no altar-mor da igreja e é datada da época de inauguração do templo. Duas outras imagens do Sagrado Coração, pertencentes à paróquia, ainda fazem parte do acervo de Miguel Burnier. Uma das imagens, em gesso, e é coroada por crianças da comunidade no dia da festa. A outra imagem, mais antiga e em madeira, é levada ao adro no dia da procissão. O último dos elementos que fazem parte das festividades dedicadas ao padroeiro é a bandeira do Sagrado Coração de Jesus. Ela é toda ornada para o dia da festa e levantada no mastro, em frente à igreja, no sábado à noite. Contudo, a época de sua confecção é desconhecida pelas pessoas do lugar. A festa do Sagrado Coração de Jesus, por ser recente ocorre desde 1934, tem poucas alterações no seu andamento. A mais importante delas gira em torno dos responsáveis pelo evento: o Apostolado da Oração Sagrado Coração de Jesus de Miguel Burnier organiza as comemorações desde a desativação da Usina Wigg. A esposa do proprietário da mineradora, Sra. Alice Silveira Wigg, foi a financiadora da construção do templo e a usina doava grande quantia para a realização da festa. As festividades ficavam a cargo da Beneficência Popular do Sagrado Coração que se instalou no lugar na década de Após a saída de algumas religiosas de Miguel Burnier, a festa passou a ser promovida por membros da comunidade local, declarados festeiros e mordomos. Ainda hoje, algumas irmãs moram no prédio do antigo Educandário Monsenhor Ordem, atualmente desativado, e participam da elaboração dos festejos. Com o êxodo populacional ocorrido na localidade desde a década de 1970, quando as oportunidades de emprego se desaceleraram, a festa teve sua continuidade, mas parte de suas tradicionais práticas, que hoje a compõem, deixaram de ser feitas. Assim, em alguns anos não se efetivaram a procissão com a bandeira, o levantamento do mastro, a presença da banda, etc. Atualmente, além do Apostolado da Oração, a promoção contínua da festa é de responsabilidade do Conselho Comunitário de Pastorais (CCP), órgão de atuação eclesiástica da paróquia que conta com a participação de moradores locais nos seus quadros. Com o CCP à frente da festa, essa passou a ser feita com recursos do dízimo, pago pelas pessoas da localidade. Um dos patrimônios culturais da localidade é a Guarda de Congado de Nossa Senhora do Rosário e Santa Efigênia, formada entre o final do século XIX e o início do século passado e que hoje em dia, abrilhanta as festividades do Sagrado Coração de Jesus. Porém a intervenção do grupo de Congado é recente, atuando na festa, há cerca de quinze anos. referências Bibliográficas CHAVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alan. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. Rio de Janeiro: José Olympio, FORTES, Solange Sabino Palazzi. Ouro Preto conta Ouro Preto: tradições da Terra do Ouro. Ouro Preto/MG: HOLANDA, Sérgio Buarque. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio, SANTIAGO, Camila Fernanda Guimarães. A Vila em Ricas Festas: celebrações realizadas pela Câmara de Vila Rica ( ). Belo Horizonte: FACE-FUMEC, C/Arte, Documentais LEI Municipal n.º 1085 de 08 de outubro de LEI Municipal n.º 336 de 17 de dezembro de Orais ORIONI, Luiz, Entrevista: Miguel Burnier, 17/12/2005 página 99 I 148

3 SANTOS, Tereza. Entrevista: Miguel Burnier, 17/12/2005 Eletrônicas < < < < < imagens João Paulo Lopes, 17 de dezembro de Programação Igreja do Sagrado Coração de Jesus página 100 I 148

4 Imagens do distrito de Miguel Burnier Estação Ferroviária página 101 I 148

5 Bandeira do Apostolado da Oração Bandeira do padroeiro Imagens do Sagrado Coração de Jesus ficha técnica levantamento Guga Barros (Comunicação) Guilherme Rodrigues (Sociologia) João Paulo Lopes (História) Patrícia Pereira (Arquitetura e Urbanismo) Sandra Fosque Sanches (Diretora de Promoção Cultural da Secretaria Municipal de Cultura e Patrimônio de Ouro Preto) data dez/2005 elaboração Guilherme Rodrigues (Sociologia) João Paulo Lopes (História) data jan/2006 revisão Memória Arquitetura Ltda data jan/2006 página 102 I 148