Contribuição dos Serviços de Ecossistemas para a Saúde e o Bem-Estar das Pessoas. Sumário
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- Manuel Henriques Figueiredo
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1 CIMSA/1/Doc 3 Original: Inglês Contribuição dos Serviços de Ecossistemas para a Saúde e o Bem-Estar das Pessoas Sumário Nos últimos 25 anos, o sector da saúde pública tem-se esforçado por adoptar uma abordagem mais global, sistémica e ecologicamente saudável. A gestão dos recursos naturais implica, nos nossos dias, considerações de natureza ambiental, social e económica. Em ambos os domínios, tem-se assistido a uma mudança para uma abordagem mais integrada à gestão a abordagem dos ecossistemas saudáveis. Enquadrando a saúde e o bem-estar das pessoas no contexto de uma abordagem aos ecossistemas, reconhece-se que a saúde das pessoas e a saúde do ambiente são indissociáveis. Aproximadamente 60% dos serviços vitais de ecossistemas mundiais já se degradaram ou estão muito pressionados, estando já a sentir-se os efeitos desta situação sobre a saúde, especialmente entre as populações mais pobres e mais vulneráveis de todo o mundo. Na maioria dos países africanos, são ainda inadequadas a avaliação e a monitorização da dinâmica das actividades humanas e seu impacto sobre os ecossistemas locais. A ONU publicou uma actualização sobre os progressos feitos e alguns dos problemas encontrados na consecução dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM). Entre eles, a degradação dos serviços dos ecossistemas constitui um importante obstáculo à consecução desses objectivos. Os governos estão a ser incentivados a reconhecer a interrelação entre ambiente e saúde, na perspectiva dos serviços vitais que os ecossistemas prestam à saúde e ao bem-estar das pessoas, e a promoverem políticas integradas que valorizem esses serviços. As soluções exigem empenhamento político, acções concertadas e responsabilidades partilhadas entre os diferentes sectores governamentais e a sociedade civil. Os países deverão adoptar medidas para minimizar as causas subjacentes à deterioração dos ecossistemas, contribuindo assim para melhorar a saúde dos seres humanos. A colaboração intersectorial entre os departamentos governamentais e a sociedade civil, a formação de capacidades, a divulgação dos conhecimentos e das boas práticas e a acção integrada para a saúde e o ambiente revestem-se de uma importância vital. Contribuição dos Serviços de Ecossistemas para a Saúde das Pessoas CIMSA/1/Doc
2 ÍNDICE Página 1. Antecedentes Problemas e desafios Acções propostas Referências bibliográficas...6 Acrónimos e siglas CSIR IDRC MA ODM UNECA Conselho para a Investigação Científica e Industrial Centro Internacional de Investigação para o Desenvolvimento Relatório de Avaliação dos Ecossistemas do Milénio Objectivos de Desenvolvimento do Milénio Comissão Económica das Nações Unidas para África Contribuição dos Serviços de Ecossistemas para a Saúde das Pessoas CIMSA/1/Doc
3 1. Antecedentes 1. Durante o último quarto de século, os cientistas fizeram progressos significativos na quantificação dos efeitos dos riscos ambientais para a saúde humana. As causas profundas dos riscos ambientais para a saúde encontram-se, muitas vezes, fora do sector da saúde e, no entanto, é este sector que tem de fazer face à escalada das despesas que eles representam para os cuidados e tratamento da saúde, para a sociedade, em virtude das doenças e mortes, e para as economias nacionais, com a perda de produtividade. As experiências dos países desenvolvidos e em desenvolvimento na criação de políticas e estratégias integradas de saúde, ambiente e desenvolvimento, aos níveis nacional e regional, demonstraram que é possível vencer o desafio de colocar o ambiente e a saúde no topo da agenda do desenvolvimento e que os investimentos podem ser planeados mais racionalmente. 2. Durante os últimos 25 anos, o sector da saúde pública esforçou-se por evoluir numa direcção mais global, sistémica e ecologicamente consciente. A gestão dos recursos naturais também progrediu, no sentido de englobar os factores ambientais e sociais, assim como parâmetros económicos. Em ambos os domínios, verificou-se uma tendência para uma abordagem mais integrada à gestão. Estas duas correntes de pensamento deram origem à designação de ecossistemas saudáveis. 3. O relatório (OMS, 2005) da Avaliação de Ecossistemas do Milénio (MA) define um ecossistema como um complexo dinâmico de comunidades de plantas, animais e microorganismos e ambiente abiótico circundante, interagindo como uma unidade funcional. O ser humano é parte integrante dos ecossistemas. Enquadrando a saúde e o bem-estar das pessoas no contexto de uma abordagem aos ecossistemas, reconhece-se que as pessoas saudáveis e os ambientes saudáveis são indissociáveis - o relatório da MA descreve os ecossistemas como o sistema de apoio de vida do planeta Terra. 4. É indispensável que o ser humano reconheça os serviços que os ecossistemas prestam na busca da sobrevivência por parte das pessoas, na realização pessoal e segurança futura, assim como o efeito que as acções individuais exercem sobre as várias formas de vida e a sustentabilidade dos ecossistemas. Se assim for, os seres humanos terão de aceitar a responsabilidade da gestão racional dos recursos naturais. 5. O relatório da MA identifica os serviços de ecossistemas como os benefícios que as pessoas obtêm pela (a) prestação de serviços de aprovisionamento em água e alimentos; (b) regulação dos serviços de controlo das cheias, secas, degradação dos solos e doenças; (c) prestação de serviços de apoio, como a formação dos solos e os ciclos de nutrientes; e (d) oferta de serviços culturais, tais como serviços recreativos, espirituais, religiosos e outros benefícios não materiais. Um bom exemplo de serviços de ecossistemas para a saúde humana seria a medicina tradicional; o insucesso dos serviços de ecossistemas pode manifestar-se por uma maior incidência e gravidade das doenças. 6. Existe uma consciência cada vez maior da necessidade de abordar as causas subjacentes aos surtos de doenças e à incapacidade das comunidades africanas as gerirem Contribuição dos Serviços de Ecossistemas para a Saúde das Pessoas CIMSA/1/Doc
4 através das vias tradicionais. Em todo o mundo em desenvolvimento, os medicamentos tradicionais são a principal fonte de cuidados de saúde para cerca de 80% das populações (OMS, 2002). A fonte dos medicamentos tradicionais depende, em grande parte, da integridade dos ecossistemas, tanto numa perspectiva de aprovisionamento como numa perspectiva cultural; isso inclui não apenas as espécies colhidas para uso médico, mas a importância atribuída às paisagens e locais de valor sociocultural, religioso e simbólico (Cunningham et al., 2008, no prelo). As pressões exercidas sobre os ecossistemas, pelo excesso de colheitas, perda de habitat, degradação dos solos e alterações climáticas, não só reduzem a base dos recursos em espécies medicinais, mas também podem mudar a distribuição e os padrões dos vectores das doenças. 7. O acesso aos cuidados de saúde primários continua a ser um importante desafio nos países em desenvolvimento e, especialmente, em África. Tem sido documentado que a emigração está na origem da redução, para valores abaixo dos limites exigidos para a consecução dos ODM relacionados com a saúde, do número de profissionais de saúde devidamente formados, na África Subsariana. 8. O bem-estar das pessoas tem múltiplas componentes, incluindo a saúde, o bem-estar material, a liberdade de escolha e acção, os sistemas de protecção social e a segurança. Bem-estar é antónimo de pobreza, um estado de privação acentuada do bem-estar. As componentes do bem-estar, tal como as pessoas as vivem e entendem, dependem das situações, reflectindo a geografia local, as culturas e as circunstâncias ecológicas. 9. O relatório da MA indica que os avanços actuais no domínio da saúde e do bemestar estão a ser postos em risco pela degradação dos serviços dos ecossistemas. Cerca de 60% dos serviços mundiais vitais dos ecossistemas já se encontram degradados ou sob pressão. O impacto que essa pressão exerce sobre a saúde já se faz sentir, em particular junto das populações mais pobres e mais vulneráveis de todo o mundo, afectadas pela falta de água potável e de saneamento básico, pela redução do fornecimento de combustíveis sólidos, pela poluição do ar, alterações climáticas, envenenamento por metais pesados e aumento do fardo das doenças. 2. Problemas e desafios 10. A evidência científica dos benefícios das intervenções na área da saúde ambiental não foi, no passado, devidamente integrada nas decisões sobre o desenvolvimento. Na maioria dos países africanos, é ainda inadequada a avaliação e a monitorização da dinâmica das actividades humanas e do seu impacto sobre os ecossistemas locais, em grande parte devido à inadequada capacidade técnica para avaliar esses impactos. Esta situação não favorece a elaboração de estratégias localmente apropriadas para adaptar, minimizar os prejuízos e implementar medidas correctivas. 11. A Declaração do Milénio estabeleceu 2015 como a data-limite para a consecução dos ODM. A ONU publicou uma actualização sobre os progressos e os desafios encontrados na consecução desses objectivos. Embora se tenham verificado alguns progressos encorajadores, há sérios desafios que permanecem e exigem uma acção mais Contribuição dos Serviços de Ecossistemas para a Saúde das Pessoas CIMSA/1/Doc
5 concertada e sustentada. A degradação dos serviços dos ecossistemas representa uma importante barreira à consecução dos ODM. É de prever que o uso não sustentável dos ecossistemas, em muitas partes de África, provoque alterações ecológicas graves e irreversíveis, privando as populações locais da base de sustentação da sua saúde e bemestar. Algumas dessas alterações estão relacionadas com obstáculos de ordem política, legislativa e institucional à abordagem do ambiente e da saúde, de forma coerente e unificada, especialmente as políticas que têm impacto sobre os serviços dos ecossistemas para a saúde humana 12. Cada vez mais, o sector da saúde está a reconhecer que um cenário económico, social, político e institucional em constante mutação exerce várias formas de impacto sobre o estado de saúde e os serviços de saúde. A globalização das economias, os mandatos dos tratados internacionais e as tecnologias constituem a força motriz por trás dessa mudança. Neste cenário dinâmico, já não é aceitável concentrarmo-nos simplesmente nas melhorias técnicas dos sistemas de saúde - o sector da saúde terá de ser reposicionado, de modo a fazer face a este mundo em mutação. 3. Acções propostas 13. Os governos deverão reconhecer a relação intrínseca entre ambiente e saúde, na perspectiva dos serviços vitais que os ecossistemas prestam à saúde e bem-estar das pessoas e aplicar políticas integradas que reconheçam e protejam esses serviços. 14. Não existem soluções mágicas para reverter a degradação dos ecossistemas e respectivos serviços; as soluções requerem um compromisso político de longo prazo, uma acção concertada e a partilha de responsabilidades dos diferentes sectores governamentais e da sociedade civil. Como recomenda o relatório da MA, os países terão de tomar medidas para aplicar estratégias de minimização, que atenuem as causas subjacentes às alterações verificadas nos ecossistemas, ao mesmo tempo que melhoram a saúde humana. Terão de implementar estratégias de adaptação, para reduzir os efeitos da degradação dos ecossistemas sobre a saúde, que visem o impacto directo, indirecto e de longo prazo. 15. Um pré-requisito será a criação de diálogos transectoriais sobre políticas que resultem em planos estratégicos nacionais que sejam coerentes e beneficiem do apoio dos recursos necessários. As seguintes estratégias do Relatório-Síntese da MA sobre Saúde constitui uma base para enquadrar o diálogo e a acção política dos governos: a) Melhoria da colaboração intersectorial entre os diferentes níveis do governo, os departamentos governamentais e a sociedade civil. b) Iniciativas de formação de capacidades para avaliar as interrelações entre a saúde e o ambiente, usando os conhecimentos adquiridos, para criar respostas políticas nacionais mais eficazes às ameaças ambientais. c) Divulgação dos conhecimentos e boas práticas sobre as conquistas na área da saúde e do ambiente, conseguidas através da formulação de políticas intersectoriais. Contribuição dos Serviços de Ecossistemas para a Saúde das Pessoas CIMSA/1/Doc
6 d) Acção integrada para a saúde e ambiente, nomeadamente avaliações do impacto dos principais projectos, políticas e programas de desenvolvimento e indicadores para a saúde e o desenvolvimento sustentável. 4. Referências bibliográficas Biggs, R, E. Bohensky, P.V. Desanker, et al., A contribution to the Millennium Ecosystem Assessment, CSIR, Pretoria, South Africa ISBN Butler, C.D, and Oluoch-Kosura, W., Linking future ecosystem services and future human wellbeing. Ecology and Society 11: 30. Cunningham, A.B., Shanley, P, and Laird, S., In: Forests and Human Health. Chapter 3: Health, habits and medicinal plants use. (em fase de impressão) IDRC, UNEP Terminal Report for Improved Health Outcomes Through Community-based Ecosystem Management: Building Capacity and Creating Local Knowledge in Community Health and Sustainable Development. WHO, World Health Report. World Health Organization, Geneva. WHO, Ecosystems and human well-being: health synthesis: a report of the Millennium Ecosystem Assessment. World Health Organization, Geneva. Contribuição dos Serviços de Ecossistemas para a Saúde das Pessoas CIMSA/1/Doc
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